domingo, 30 de março de 2014

Portanto, antes de postar, pergunte-se: este comentário é realmente necessário?


Vergonha alheia: Os soldados do machismo são péssimos de argumentação


Blog do Sakamoto


Leonardo Sakamoto

30/03/2014


Todo o barulho causado pelos resultados do estudo do Ipea sobre violência contra mulheres e pela campanha “Eu não mereço ser estuprada” serviu para reforçar outro fato: os soldados do machismo são péssimos nos quesitos “interpretação de texto” e “argumentação”.

Devo confessar que fiquei com uma vergonha alheia forte ao ler algumas coisas que brotaram desse debate. Sensação de “putz, olha lá o cara fazendo cocô de porta aberta!”

Há pessoas que se valem de um contorcionismo maluco para justificar o injustificável. A ponto de, depois de ler uma meia dúzia delas, percebermos porque inteligências extraterrestres mais avançadas nunca quiseram fazer contato conosco…

“Ah, mas foi uma maioria de mulheres que respondeu a pesquisa apontando que uma mulher merece ser atacada por mostrar o corpo.” E daí, amigo? Isso não muda coisa alguma considerando que homens e mulheres são vetores de propagação e manutenção de um sistema machista de valores. Mas, em última instância, são homens que assediam, encoxam, espancam, estupram e matam em nome desse sistema. Se você consegue juntar as peças de um Lego ou consegue usar xampu ao tomar banho, por que tem tanta dificuldade em entender isso?

Diante desses comentários, o primeiro instinto, alheio à razão, tende a ser preconceituoso. A dificuldade de entendimento viria de falhas na educação formal. Mas vendo as intervenções bem escritas e constatando que uma parcela significativa dos dodóis cresceu na base do leite de pera, do berçàrio à faculdade, largo as soluções fáceis e volto-me à conclusão de que imbecilidade realmente não vê escolaridade ou classe social. Da mesma forma que um olho roxo ou uma tentativa de estupro da própria esposa pode ocorrer, sem pudores, nos Jardins ou no Grajaú.

Ou seja, grande quantidade de informação repassada sem reflexão não leva à conscientização. A educação pode funcionar apenas como processo de transmissão dos mesmos valores que mantém homens como cidadãos de primeira classe, ensinando às engrenagens o seu lugar na máquina, ou pode ser libertadora. E, portanto, subversiva, dando ferramentas para reconstruir o sistema. E quando uma tentativa de “insurreição” desponta no horizonte, hordas fazem de tudo para manter tudo como sempre foi.

Pessoal, vocês podem se esconder atrás de argumentos baratos ou aceitar que a imensa maioria de nós, homens e mulheres, fomos programados para propagar o machismo. E é uma luta diária pesada nos livrarmos disso.

Mas tomem cuidado. Quando você posta no Facebook, no Twitter ou em blogs não está tendo uma conversa particular. Pelo contrário, está falando ao megafone. E todo mundo está vendo a porcaria que está fazendo – o que pode ter consequências graves.

Um copiloto da Avianca foi demitido na sexta (28) por conta de comentários preconceituosos contra nordestinos em seu Facebook no dia anterior.
“Para manter o padrão porco, nojento, relaxado, escroto de tudo no Nordeste como sempre”, escreveu sobre o atendimento de um restaurante em João Pessoa (PB), entre outras coisas.

Depois da grande repercussão na rede, ele apagou o comentário e se desculpou. Mas, aí, já era tarde.

Não é a primeira vez que uma empresa demite o empregado por conta de postagens sem-noção em redes sociais. O caso mais famoso dos últimos tempos foi o de uma diretora de comunicação da InterActibe Corp, que publicou uma barbaridade antes de levantar vôo para a África do Sul. Quando pousou, descobriu que havia virado TT. Acabou demitida.

“Indo para a África. Espero não contrair Aids. Brincadeira. Sou branca!”, escreveu. Ela só tinha 200 seguidores no Twitter, mas a informação rodou o mundo.

Depois da eleição de Dima Rousseff, o Twitter amanheceu com uma enxurrada de preconceitos contra moradores da região Nordeste por conta da expressiva votação que a região garantiu a ela. Os microposts foram extremamente ofensivos e degradantes, revelando o que há de mais obscuro na alma das pessoas. Muitas pessoas não imaginavam que suas postagens iam se espalhar tanto. Ou serem alvo de investigação da polícia por discriminação.

Um momento que é transformador – e aterrador – na vida das pessoas é quando elas tem aquele click e percebem que a vida delas não é uma ilha isolada, mas estão conectadas ao mundo inteiro através de suas relações sociais.

Ou seja, aquela abobrinha postada na rede social ou blog do esquerdopata japonês, embaixo do cobertor, para os seus 200 amigos/seguidores, dizendo que “a vagabunda é que estava pedindo” ou que ” uma mulher de bem não seria estuprada porque não se presta a determinado papel” será amplificado e chegará onde você não imagina.

Faça um teste: vá até a conexão das estações Consolação e Paulista do metrô e grite a plenos pulmões aquelas coisas fora da casinha que você costuma gritar na rede. Se ninguém estranhar, publique.

“Ah, mas é diferente, japa.” Sim, é. Na internet, é muito pior do que falar na conexão de um metrô ou em um auditório lotado.

Atravessamos a adolescência da internet, em que as pessoas estão com os hormônios à flor da pele, descobrindo para que servem certas partes do corpo, e fazendo besteira loucamente. Os formadores de opinião têm uma parcela grande de responsabilidade em incendiar o pessoal que não estava acostumado com o debate público. E feito uma criança que nunca viu um gatinho, maltrata o bichinho quando ganha um.

As pessoas ganharam acesso a meios de comunicação que podem atingir multidões, mas não sabem lidar com isso, muito menos com as consequências de suas intervenções. Seria ótimo contar com educação para a mídia, como já fazem algumas escolas, para que possamos entender o que esse maravilhoso mundo novo significa.

Se está postando algo só para desabafar ou se gosta de repetir bobagens ditas por seus ídolos, a chance de dar merda é grande. Pois – guiado pelas emoções mais selvagens – você pode dizer ou reproduzir algo que não diria aconselhado pela racionalidade e o bom senso.

Pois não me espantaria se alguns profissionais que postaram em redes sociais e blogs defendendo a supremacia masculina, com argumentos violentos que fariam corar o Capiroto, recebessem um bilhete azul.

Sabemos do hercúleo esforço que empresas empreendem para construir a credibilidade de suas marcas. Diante do risco de serem associadas à violência de gênero ou racismo, elas vêm preferindo repreender ou eliminar o fator causador do problema do que arcar com campanhas contrárias a elas. Problemas como empregados que usam a hora do expediente para pregar a violência sexual na internet, por exemplo.

Recebi uma série de mensagens de leitoras que reclamaram de seus colegas que usam o computador da firma para postar aberrações. Minha recomendação tem sido: denuncie.

“Ah, japonês censor, você quer criar um clima de terror!” Não, desejo apenas que vocês que agem como crianças mimadas e violentas contra mulheres sejam finalmente responsáveis por suas ações.

Portanto, antes de postar, pergunte-se: este comentário é realmente necessário? Não estou dizendo relevante porque provavelmente não é, tal qual este post. Mas ele é realmente necessário?

sexta-feira, 28 de março de 2014

Tudo para os amigos, nem a lei para os adversários

Poder Judiciário
Entre a justiça e a farsa: decisão do STF sobre Azeredo desnuda mensalão


publicada sexta-feira, 28/03/2014 às 11:26 e atualizada sexta-feira, 28/03/2014 às 11:07

Escrevinhador






Por Paulo Moreira Leite, em seu blog

Ao decidir, por 8 votos a 1, que Eduardo Azeredo deve ser julgado em Minas Gerais pelas denúncias ligadas ao mensalão tucano, o Supremo fez a opção correta entre a farsa e a justiça.

A farsa, como se sabe, consistia em negar a Azeredo o direito de ser julgado em primeira instancia – e depois pedir um segundo julgamento em caso de condenação, como a lei assegura a todo cidadão sem prerrogativa de foro – apenas para manter um teatrinho coerente com a AP 470.

Eduardo Azeredo teve seu direito reconhecido pacificamente, por 8 votos 1, placar tão folgado que desta vez não se ouvirá o coralzinho de quem culpa os “dois ministros da Dilma” por qualquer resultado que não lhe agrada.

Em nome da mitologia em torno do “maior julgamento da história” se poderia querer repetir uma injustiça por toda a história.

Assim: já que nenhum réu ligado ao PT teve direito a um julgamento em primeira instância, o que permite a todo condenado entrar com um recurso para obter um segundo julgamento, era preciso dar o mesmo tratamento a pelo menos um dos réus ligados ao PSDB.

Para esconder um erro, era preciso cometer um segundo – quando todo mundo sabe que isso não produz um acerto, mas apenas dois erros.

Com decisão de ontem ficou um pouquinho mais fácil reconhecer um fato que já é reconhecido por um número crescente de estudiosos, de que a AP 470 foi resolvida como um julgamento de exceção.

Nas fases iniciais das duas ações penais, não custa lembrar, o STF deu sentenças diferentes para situações iguais, o que sempre pareceu escandaloso.

Desmembrou o julgamento dos tucanos. Apenas réus com mandato parla

mentar – Azeredo e o senador Clésio Andrade – ficaram no Supremo.

O mesmo tribunal, no entanto, fez o contrário na AP 470. Todos – parlamentares ou não — foram julgados num processo único, num tribunal único.

Mesmo quem não tinha mandato parlamentar foi mantido no STF, onde as decisões não têm direito a recurso e, apenas em casos muito especiais, é possível, entrar com os embargos infringentes.

Mesmo assim, na AP 470 havia até o risco, como se viu, de negar embargos, não é mesmo?

Ao decidir que o ex-deputado mineiro deve ser julgado nas regras que a Constituição e a jurisprudência sempre asseguraram a todos os réus em situação semelhante – a única exceção foi o notório Natan Donadon, com várias particularidades – o STF coloca outro debate em questão.

Se Eduardo Azeredo terá direito – corretamente — a um segundo julgamento, caso venha a ser condenado, por que os réus da AP 470 não podem fazer o mesmo?

Essa é a pergunta, desde ontem. Se os réus da AP 470 não tiveram direito a um novo julgamento — seja através de uma revisão criminal, seja na Corte Interamericana de Direitos Humanos — teremos a confirmação da farsa dentro da farsa, a exceção dentro da exceção. Tudo para os amigos, nem a lei para os adversários.



Leia outros textos de Plenos Poderes

Essa turma não desiste, até quebrar tudo e... vender!


NASSIF: CERRA É
O “PAI” DA CPI


É como dizia o Ciro: ele é capaz de passar com um trator por cima da cabeça de quem, mesmo ?

Conversa Afiada





Saiu no Blog do Nassif, que nutre especial admiração pelo Padim Pade Cerra:



DEPUTADO LIGADO A SERRA ARTICULOU DENÚNCIAS CONTRA PETROBRAS


Luis Nassif

Em 2012, o deputado baiano Antônio Imbassahy – estreitamente ligado a José Serra – foi autor de quase vinte requerimentos de pedidos de informações à Petrobras.

Recebeu informações inéditas sobre as refinarias Pasadena, Okinawa, Abreu de Lima e SBM Offshore, contratos para encomendas de navios e plataformas pelo estaleiro Atlântico Sul, e também sobre reformas de refinarias, como a Repar, do Paraná.

Os documentos foram preservados, aguardando o período eleitoral.

Jutahi Magalhaes, José Serra e Imbassahy





Foram justamente esses documentos – secretos – que serviram de base para as reportagens dos últimos dias que deram pretexto para a criação da CPI.

Informações reservadas, fornecidas pela Petrobras ao Congresso, estão sendo utilizadas eleitoralmente, expondo a companhia à execração pública.

Ontem, a Folha publicou a matéria “Documento sobre Pasadena enviado ao Congresso foi violado” (clique aqui)

Dizia que documento reservado encaminhado em dezembro de 2012 pela Petrobras – com informações sobre a compra da refinaria Pasadena – teria chegado violado ao seu destino.

A denúncia partiu do próprio deputado Imbassahy em 18 de dezembro daquele ano. Ontem – segundo o jornal – Imbassahy foi procurado, confirmou o episódio “mas não quis dar detalhes”.


Clique aqui para ler “Conheça os que querem afundar a Petrobras”.

E aqui para ler “CPI tem dez traíras”.




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adendo do baitasar para algumas reflexões.





quinta-feira, 27 de março de 2014

quem viveu viu, não deu em nada... esse carapááálida é f...!


PSDB DESMORALIZA O STF.
AZEREDO ESCAPOU


Supremo não ousa chegar perto de tucano. Viva o Brasil !

Conversa Afiada






Saiu no G1:

MAIORIA NO STF VOTA PARA ENVIAR AÇÃO CONTRA AZEREDO À PRIMEIRA INSTÂNCIA




Supremo discute se julga ex-deputado tucano, que renunciou em fevereiro. Para ministros, Azeredo perdeu foro privilegiado no Supremo ao renunciar.



A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votou nesta quinta-feira (27) para enviar para a primeira instância da Justiça Federal de Minas Gerais a ação penal contra o ex-deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) pelo caso conhecido como mensalão tucano.

Dos 9 ministros da Corte presentes, os seis que votaram até a publicação desta reportagem opinaram pela remessa do processo para a primeira instância – o relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli e Gilmar Mendes.


(…)



Clique aqui para ler “Governador Aécio rasgou a Constituição. Presidente …”

contar esta história construindo algo em seu lugar


A ditadura se foi, a palavra ficou

Blog do Miro

Por Virgínia Barros, no sítio Vermelho:

Não há como lutar no movimento estudantil, em 2014, sem lembrar aquele incêndio da madrugada de 1º de abril de 1964 na sede da União Nacional dos Estudantes, na Praia do Flamengo, e principalmente aqueles que sobreviveram e não se abalaram. A ditadura não queria queimar somente a sede da UNE, e, sim, o espírito transformador dos estudantes brasileiros há exatamente 50 anos, o Brasil era empurrado para um dos momentos mais sombrios de sua história.

Com a violência de uma ação militar obscura, construída e apoiada por setores conservadores e poderosos da sociedade civil, a democracia foi ao chão, deixando a vitória parcial da incerteza, da irracionalidade, da exceção. O ano de 1964 tornou-se o marco de um golpe, um ataque, a punhalada que criou uma ferida profunda, com cicatrizes ainda visíveis. Há 50 anos o sol se escondia e a clareza perdia a batalha para a longa noite da nossa ditadura militar, o evento mais fatal da história brasileira durante o século 20.

Sem dúvida, a juventude foi a principal atingida por esse evento histórico, que escolheu os jovens e seus sonhos como a sua maior ameaça, como o inimigo a ser combatido, aniquilado. A grande evidência dessa escolha está na primeira ação organizada desse grupo, logo assim que roubou o poder, naquela fatídica noite entre o dia 31 de março e 1º de abril: o incêndio e fuzilamento da sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), na Praia do Flamengo, 132, no Rio de Janeiro.

Esse regime, que se estendeu por décadas, terminou há quase 30 anos, com a redemocratização em 1985. Ainda assim, “ditadura” é uma das palavras mais recorrentes no debate político dos movimentos sociais e da juventude brasileira. A aura daquele tempo de trevas ainda é referência para explicar as mais variadas situações, para efeitos comparativos diversos, para justificar uma série de lutas da sociedade organizada, para explicitar, didaticamente, o que não queremos repetir. Há 50 anos começava a ditadura militar e, há 29, ela cessava. A ditadura se foi, mas a palavra ficou. Por quê?

Nos últimos anos, cresceu no Brasil o movimento pela apuração lúcida e justa dos crimes e violações de direitos dessa época, principalmente com a criação das comissões da verdade. Esse foi o resultado da pressão popular e de entidades, como a UNE, ao longo de muitos anos, pela abertura dos arquivos do regime e pelo esclarecimento de tudo o que aconteceu sob a égide de um Estado opaco e violento. Apesar da chamada Lei de Anistia, promulgada ainda durante o período militar, e das iniciativas de reparação simbólica do Estado às vidas e aos direitos retirados, falta ainda vencer a escuridão daqueles anos, trazer a verdade à tona, investigar, retirar as máscaras e as trancas, apesar da estridência inútil daqueles que apoiaram e participaram da barbárie.

A necessidade de prosseguir investigando e esclarecendo o que houve na ditadura civil-militar é uma das justificativas para que continuemos, sim, falando bastante dela. Além de representar um marco de reafirmação da democracia e da justiça, o movimento de abertura dos arquivos do regime e das comissões da verdade traz em si uma espécie de vacina, um dispositivo de segurança para que aquilo não mais aconteça. Sob essa perspectiva, a presença da imagem da ditadura entre nós, 50 anos depois de sua chegada, é como um remédio amargo, porém necessário.

Não há como negar que tal período foi de grande resistência, bravura e sublimação dos jovens e estudantes brasileiros no seu processo de intervenção e construção do Brasil. Ainda que a UNE e a juventude estejam sempre entre os personagens principais da história brasileira, fato observado desde a década de 1930 e a 2ª Guerra Mundial – quando representaram o contraponto aos ideais e a influência nazi-fascista no país –, nem sempre houve uma geração tão marcante e exemplar como aquela que lutou entre 1964 e 1985. Apesar dos ataques, incêndios, torturas, censuras, mortes e outras violências, os estudantes souberam resistir e não desistir dos seus sonhos, mantendo acesa – ainda que sob duras penas – a chama de sua rebeldia e otimismo por dias melhores. Foi esse o espírito que enfraqueceu e derrubou o regime.

Ainda falamos da ditadura hoje, em 2014, porque em nossas lutas há grande inspiração por aqueles e aquelas que estavam lá, a partir de 1964. Cinquenta anos depois, nossa realidade objetiva é outra, mais democrática, com a garantia da livre organização, da expressão e com cada vez mais novos espaços de participação e mobilização. Tenha-se como exemplo a volumosa e importante militância jovem que tem crescido na internet e nas redes sociais, somando-se aos movimentos das ruas. Apesar de não enfrentarmos uma ditadura estabelecida – como aquela –, tentamos pegar emprestado daqueles e daquelas jovens sua retidão, sua convicção inabalável e sua maturidade para se organizarem e fazerem a diferença.

Não há como lutar no movimento estudantil, em 2014, sem lembrar aquele incêndio na Praia do Flamengo, e principalmente aqueles que sobreviveram e não se abalaram. A ditadura não queria queimar somente a sede da UNE, e, sim, o espírito transformador dos estudantes brasileiros. Ali naquele espaço ensaiava-se o projeto de um novo país – que ainda queremos meio século depois – com igualdade social, integração, fim dos preconceitos, liberdade e amor para transformação da sociedade.

O ataque era direcionado não somente às lideranças políticas da UNE, mas ao conjunto de ideais formado ali por iniciativas como o Centro Popular de Cultura (CPC), que reunia artistas, intelectuais e outros jovens personagens progressistas do Rio de Janeiro e do Brasil, como Ferreira Gullar, Cacá Diegues, Oduvaldo Vianna Filho, Carlos Lyra, Silvio Tendler, Eduardo Coutinho e tantos outros. Destruir a sede da UNE era como destruir a personalidade, a criatividade, o espírito daqueles jovens – mas o fogo e as balas não foram suficientes.

Nos anos seguintes, a UNE foi posta na ilegalidade pela ditadura, ampliando de forma institucional uma violência física já em curso. A perseguição estendia-se a todos os grupos organizados de jovens, a repressão aumentava. Ainda assim, no ano de 1966, o movimento estudantil estava mobilizado e preparado, a ponto de realizar um ousado Congresso da UNE na cidade de Belo Horizonte, de forma clandestina. O encontro aconteceu nos porões de uma igreja, com a eleição de José Luis Guedes para a presidência da entidade.

A partir dali, a luta cresceu e os estudantes esboçaram sua primeira grande resposta ao regime. Movimentos se organizavam por todo o país, manifestações eram frequentes e a juventude estava nas ruas, principalmente contra o acordo MEC-USAID, que tinha como objetivo implementar uma reforma conservadora no ensino brasileiro, atendendo aos interesses dos EUA. Ainda hoje traços dessa reforma permanecem na cultura pedagógica brasileira. Foi exatamente nesse cenário, no ano de 1968, em um protesto estudantil na cidade do Rio de Janeiro, que o jovem Édson Luís perdeu sua vida e tornou-se símbolo para a vida de muitos outros. Édson foi baleado por um soldado durante as manifestações contra o aumento no preço da refeição de um restaurante estudantil. Seu corpo foi levado pelas ruas do Rio por colegas que entoavam: “Mataram um estudante, podia ser seu filho”.

A enorme comoção em torno da morte de Édson Luís levou multidões a protestarem. A maior e mais conhecida resposta ao assassinato do jovem foi a Passeata dos Cem Mil, que reuniu esse surpreendente número de pessoas na capital fluminense, incluindo artistas, escritores, jornalistas e formadores de opinião diversos. Com inteligência e ousadia, os estudantes continuaram se organizando durante esse período.

Dessa forma, foi realizado, de maneira ainda mais clandestina, outro Congresso da UNE, na cidade de Ibiúna (SP), no mesmo ano de 1968. Com extrema articulação e capacidade, o movimento estudantil buscava formas de manter-se vivo, já sabendo que era um dos poucos grupos da sociedade capaz de resistir à ditadura. Apesar de todo o esforço, o congresso terminou com a invasão do Exército e todos os estudantes presos.

Na sequência desses episódios, a ditadura apertaria mais ainda suas mãos de ferro, com a promulgação do Ato Institucional nº 5, no ano de 1968, decretando abertamente o fim das liberdades individuais e dando início ao período de maior terror do regime – e talvez de todo o século 20 no Brasil. Foi o momento de maior açoite e truculência em direção à juventude brasileira, com sequências de torturas, assassinatos e outros crimes do Estado, por baixo dos tétricos e inescrupulosos panos de propaganda que pintavam um país em progresso. O sangue de jovens como Bergson Gurjão, Helenira Resende, Alexandre Vanucchi Leme, Fernando Santa Cruz e tantos outros manchou a outra face desse tecido.

Entre esses, Honestino Guimarães, eleito vice-presidente da UNE durante o Congresso de Ibiúna, assumindo depois a presidência interina da entidade a partir da prisão de Jean Marc van der Weid. Em setembro de 1971 foi reconduzido à presidência da UNE no 31º Congresso, realizado clandestinamente na baixada fluminense. No dia 10 de outubro de 1973, Honestino foi sequestrado no Rio de Janeiro por agentes do Centro de Informações da Marinha (Cenimar), tornando-se um dos desaparecidos políticos do país. Sua sensibilidade política é até hoje maior inspiração para o movimento estudantil.

Ainda assim, a certeza e a esperança dos bons os mantiveram no caminho. Mesmo perseguidos pela máquina bestial e covarde em seu encalço, a juventude resistiu durante aquela década de 1970, a ponto de conseguir a reconstrução da UNE em 1979, no histórico congresso da entidade em Salvador. Em clima tenso e incerto, cercados pelas forças de repressão, enfrentando dificuldades de toda sorte, milhares de estudantes reconduziram uma parte importante da história para os trilhos. Eles ainda veriam, com grande tristeza, a ditadura já enfraquecida derrubar o prédio da sede da UNE na Praia do Flamengo, no início dos anos 1980.

Porém, motivados pela própria história, inspirados em si mesmos e naqueles que foram derrubados no percurso, aquela geração do final da ditadura foi capaz de marcar presença fundamental no processo das Diretas Já, no ano de 1984. O espírito dessa juventude manteve-se forte o suficiente para, quase dez anos depois, outra geração tomar as ruas e ocupar a linha de frente nos rumos da nação, durante a campanha do Fora Collor, em 1992. A partir de então, uma série de lutas continuou a brotar e a se multiplicar, como em uma reação em cadeia: a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, o combate às privatizações, a reforma universitária.

Com 29 anos de reabertura política e 25 anos de governos nacionais democraticamente eleitos, o legado daqueles que enfrentaram a ditadura militar continua sendo um norte. Não é mais necessário dispor da própria vida ou enfrentar violentamente nenhum regime, mas é preciso – como foi para aquela geração – ter certeza e vontade inabaláveis para transformar o país, deixando também a nossa contribuição para os próximos. Além disso, é também válido relembrar a ditadura e os jovens que a derrubaram para buscar sabedoria no combate às suas tristes heranças.

Se é verdade que as torturas e prisões políticas diminuíram verticalmente, é também certo que torturadores, em quase todas as prisões ou delegacias do país, cometem tal crime contra a população pobre, vulnerável e, na maior parte das vezes, jovem e negra.

Se há como dizer que a liberdade de imprensa e de expressão foi revitalizada com o fim do regime, não há como escapar do fato de que, assim como na ditadura, pouquíssimos grupos econômicos e famílias detêm o monopólio das comunicações, ainda que boa parte dos veículos atue a partir de uma concessão pública, mas ainda não-democratizada.

Se é garantido o direito de livre manifestação, não há como conceber e aceitar abusos de uma polícia desnecessariamente militarizada, que na maioria das vezes aposta na truculência contra manifestantes, prendendo inclusive diretores da UNE, como há pouco aconteceu de forma deliberada, injustificada e inaceitável. Vale lembrar que os procedimentos brutais contra as manifestações são ainda muito menores do que aqueles praticados pela polícia militar em vilas, favelas e outras comunidades pobres.

Se a educação libertou-se da tutela controladora de um regime ditatorial, que impunha sua ideologia a qualquer custo – o que incluiu a presença de tanques de guerra em universidades –, é também verdade que a universidade brasileira continua distante de uma organização democrática, com direitos equilibrados e participação igualitária de toda a comunidade acadêmica. A ditadura acabou, mas algumas instituições do país, como a Universidade de São Paulo (USP), mantêm as mesmas regras criadas pelo regime para a eleição de seus reitores e diretores.

Cinquenta anos depois do golpe, a lembrança da ditadura militar dói, mas é necessária para seguirmos resistindo. O país que esperamos ainda está bem além do que temos hoje, apesar de alguns avanços e da nossa vontade transformadora. É inaceitável que nem mesmo as garantias fundamentais e constitucionais da sociedade, principalmente as da educação pública e gratuita de qualidade, sejam possíveis. A luta de hoje segue em inúmeras frentes e encontra muito mais possibilidades e alternativas para atingir os seus objetivos.

No ano em que o golpe completa meio século, nos lembraremos dele, mas também nos lembraremos de muito mais coisas. O ano de 2014 será aquele em que a UNE lutará pela aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), sua pauta mais urgente no Congresso Nacional; pela reforma política no Brasil, com transparência do sistema e o fim do financiamento de empresas a campanhas; pela melhoria nos transportes e o passe livre nas grandes cidades do país; pela criação de novas e mais abrangentes políticas públicas para a juventude, em especial a mais pobre; por mais vagas nas universidades públicas; pela urgente regulamentação do ensino privado e o fim da mercantilização do ensino.

Estamos em 2014, 50 anos depois. É preciso contar esta história para as novas gerações, mas seguir construindo algo em seu lugar. Reforçar a luta contra a repressão e em favor das reformas democráticas irá acelerar a transição ainda inconclusa rumo a uma sociedade verdadeiramente democrática. Varrer os resquícios de autoritarismo que restam em nosso país é tarefa da juventude que segue incansável nas ruas lutando pelo país de nossos sonhos. Estamos, agora, mais próximos deste novo Brasil.

* Virgínia Barros é estudante de Letras da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE)

O preço da “ajuda financeira”

Internacional
Ucranianos começam a pagar a conta: gás 50% mais caro


publicada quinta-feira, 27/03/2014 às 10:30 e atualizada quinta-feira, 27/03/2014 às 13:32


Escrevinhador




Do Opera Mundi

O preço da “ajuda financeira” do FMI (Fundo Monetário Internacional) à Ucrânia deve sair caro. O governo do país irá aumentar em 50% o preço do gás à população a partir do dia 1º de maio, uma medida exigida pelo FMI para fornecer o pacote de empréstimo a Kiev, revelou nesta quarta-feira (26/03) o operador de gás nacional.

Para os industriais, o aumento será de 40% e se aplicará a partir de 1º de junho, informou Yuri Kolbuchin, um dos diretores da companhia de gás nacional Naftogaz, no momento em que o governo espera firmar ainda nesta quarta-feira um acordo com o fundo de entre 15 e 20 bilhões de dólares. Além disso, disse Kolbuchin, haverá aumentos adicionais de forma progressiva até 2018.

No domingo (23/03), a diretora do FMI, Christine Lagarde, disse esperar que o acordo seja finalizado em “nos próximos dias”. Em declarações dadas em Pequim, na China, Lagarde afirmou que o plano é necessário para “estabilizar” a economia da Ucrânia, mas não deu detalhes sobre o empréstimo.

“Nós temos que ter certeza de que a Ucrânia, economicamente, não irá tombar … Meu maior medo agora é o estado da economia e da necessidade de todos nós oferecermos o apoio que eles precisam”, disse a chefe de diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton em evento organizado pela organização German Marshall Fund no final de semana.

Economia

O novo governo da Ucrânia, que tomou o poder quando o presidente Viktor Yanukovich foi deposto depois de meses de protestos de rua, disse que precisa desesperadamente de dinheiro para cobrir as despesas, incluindo as importações de gás e evitar um possível default da dívida.

No ano passado, a economia ucrania registrou um crescimento nulo, enquanto em 2012, o PIB (Produto Interno Bruto) havia crescido apenas 0,2%. No final de novembro, Yanukovich disse que as condições “draconianas” do FMI para outorgar um novo crédito foram a gota d’água para que ele suspendesse a assinatura do Acordo de Associação com a União Europeia.



Leia outros textos de Geral, Vasto Mundo

GISCreuza e o xaveco de são paulo


O mais novo “xaveco” de Alckmin sobre o metrô

Posted by eduguim on 26/03/14 • Blog da Cidadania





Na tarde da última terça-feira, uma notícia estarreceu São Paulo. Entre outros grandes portais de internet, o do jornal O Estado de São Paulo veiculou matéria dando conta de que uma inserção publicitária sobre o Metrô de São Paulo na Rádio Transamérica afirmou que trem lotado seria “Bom para xavecar [seduzir] a mulherada”

A matéria do Estadão sobre o caso informou que esse texto inacreditável foi lido pelo personagem “Gavião”, do programa humorístico Papo de Craque, daquela rádio. O texto foi lido como se esse personagem estivesse confidenciando sua própria história ao ouvinte.

A propaganda, segundo o jornal, destacou obras em execução na rede do metrô paulistano e informou que o personagem “Gavião”, propositalmente, cometeu sete erros de concordância como “os trem” e “as estação” ao dizer que a superlotação do sistema sobre trilhos seria “normal” em metrôs de “grandes metrópoles” do mundo inteiro.

Aliás, vale comentar que os erros de português do usuário fictício do metrô fazem uma suposição muito clara sobre o nível do público real que utiliza essa modalidade de transporte público.

Abaixo, o texto da propaganda.


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“Nos horários de pico, é normal trem e metrô ficar lotado. É assim também nas grandes metrópole espalhada pelo mundo. Pra falar a verdade, até gosto do trem lotado, é bom pra xavecar a mulherada, né, mano? Foi assim que eu conheci a Giscreuza. Muito já foi feito, e o governo sabe que ainda tem muito pra fazer”

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E prossegue a matéria do Estadão:

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“(…) Desde o começo do ano 23 pessoas foram presas por abuso sexual no metrô e nos trens da CPTM de São Paulo.

O spot [da rádio Transamérica] levou passageiros inconformados com o material a questionar o Metrô pelo Twitter. Em sua conta oficial no microblog, a empresa, que é controlada pelo governo estadual, informou que, ‘assim que tomou conhecimento do referido comercial, totalmente inapropriado, o Metrô consultou a agência responsável pela publicidade e foi informado de que seu conteúdo não só estava em desacordo com o briefing (resumo) passado como também não fora aprovado – nem pela agência e tampouco pelo Metrô’.

Segundo a companhia, a Rádio Transamérica FM, cuja ‘produção desse infeliz comercial é de sua inteira responsabilidade’, foi advertida e retirou o comercial do ar.

O Metrô nega a autorização para veiculação da mensagem publicitária. Em uma segunda nota enviada ao Estado, a empresa disse que ‘o briefing transmitido à rádio era (para) mostrar a modernidade do Metrô de São Paulo e explicar que a lotação nos horários de pico acontece em todas as grandes cidades do mundo. Além disso, deveriam ser anunciadas as obras de expansão em andamento’

No começo da tarde, a Assessoria de Imprensa da Rádio Transamérica FM informou, por telefone, que ‘toda propaganda que a rádio veicula é aprovada pelo contratante’ (…)”

—–

Em uma segunda matéria sobre o caso, agora publicada no fim da noite do mesmo dia, o Estadão informou que o Metrô negou que tenha autorizado a rádio Transamérica a veicular o anúncio. A rádio, por sua vez, reiterou ao Estadão que a inserção teria autorização prévia do Metrô.

Nos últimos anos, as falhas no Metrô de São Paulo vêm se agravando. Tem sido comum os telejornais mostrarem passageiros caminhando pelos trilhos. Em todas as vezes que isso aconteceu o governador Geraldo Alckmin e certa imprensa que o defende atribuem as falhas a “sabotagens”.

A ex-subprefeita de São Paulo Soninha Francine, blogueiros da Veja e outros tucanos avulsos chegam acusar frontalmente o PT de “sabotar” o metrô paulistano para indispor o governo Alckmin com a população. Até hoje, Alckmin e seus bate-paus jamais reconheceram que as constantes falhas são decorrentes do nível de sobrecarga da rede metroviária.

Com essa propaganda inacreditável supracitada, o Metrô paulistano passa a ter um novo tipo de “acidente”.

A propaganda procura, claramente, fazer crer ao usuário que o nível de superlotação do Metrô de São Paulo seria “normal” em qualquer grande metrópole, mas é mentira. Recentemente, a Comissão de Metrôs da América Latina (Capot) considerou o metrô da capital paulista como o mais lotado do mundo.

O conceito internacional sobre lotação aceitável – porém não ideal – de trens de metrô e de subúrbio é de seis passageiros por metro quadrado; o metrô de São Paulo tem hoje entre 7 e 8 passageiros por metro quadrado. E nos trens de subúrbio (CPTM) a situação é bem pior.

Não existe outra linha de metrô tão lotada no planeta Terra.

Em um quadro como esse, normal mesmo é que acidentes aconteçam. Aliás, chega a ser surpreendente que com tal nível de sobrecarga em seus pouco mais de 70 km de linhas o Metrô paulistano ainda não tenha tido uma grande tragédia, pois como o intervalo entre os trens que aportam nas plataformas teve que ser muito reduzido o tráfego já se aproxima, perigosamente, de situação em que choques entre as composições possam ocorrer.

Ainda assim, o governo Alckmin teima em chamar de “sabotagem” qualquer problema que ocorra no caótico sistema metroviário que administra. Aliás, um sistema sobre o qual denúncias de corrupção explicam muito melhor a causa dessa situação.

Agora, porém, a prática de tentar culpar terceiros pela inépcia do Metrô atingiu o impensável. O governo tucano parece querer fazer as vítimas do sistema de transporte que administra acreditarem que a rádio Transamérica decidiu sabotar seu maravilhoso governo.

Seria hilário, se não fosse trágico. Como pode uma empresa do porte do Metrô, ainda mais sendo pública, pagar para que sejam veiculadas propagandas sem vê-las e aprová-las previamente? Se fosse verdade, haveria, aí, uma incompetência ainda maior dos que administram essa empresa.

A versão de que a rádio Transamérica inventaria e veicularia uma peça publicitária tão absurda, concebida exclusivamente para certo tipo de homem que se dá a “xavecar” mulheres no transporte público ou para mulheres que “adoram” ser molestadas enquanto estão indo para ou voltando do batente, é para lá de fantástica.

Aliás, se essa rádio é tão repleta de pessoas com tão graves problemas mentais e de gosto tão inacreditavelmente duvidoso, por que, diabos, o Metrô enfia dinheiro público nela?

A cada ano, a cada mês, a cada semana, a cada dia, a cada ano – e, em breve, talvez a cada hora – vai ficando mais claro por que o Metrô e os trens de subúrbio de São Paulo são esse inferno que tanto maltrata a população. Não se trata apenas de corrupção, mas de um nível de incompetência que chega a flertar com a ficção.

Para completar, só falta Alckmin ou seus bate-paus na imprensa e na internet dizerem que o PT “aparelhou” a rádio Transamérica para que praticasse o que só poderia ser sabotagem deliberada, pois nenhuma empresa de comunicação conhecida veicula propaganda para um cliente tão importante sem que ele saiba muito bem o que será veiculado.


*

Se você ainda não ouviu essa propaganda para lá de “criativa”, eis, abaixo, a sua chance.


quarta-feira, 26 de março de 2014

os mesmos que ontem queriam vender a Petrobrás, ainda querem! e ocê vai votá neles? puxa! qui coragem...

Disputa política
Petroleiros reagem: Oposição e velha mídia tentam desmoralizar Petrobrás


publicada quarta-feira, 26/03/2014 às 11:21 e atualizada quarta-feira, 26/03/2014 às 11:44


Escrevinhador





Nota da direção da Federação Única dos Petroleiros- FUP
Não deixaremos sangrar a Petrobrás no ringue das disputas eleitorais

Mais uma vez, a Petrobrás volta a ser palanque de disputas políticas em ano eleitoral. Foi assim no governo Lula, foi assim em 2010 e não seria diferente esse ano, quando as pesquisas eleitorais refletem o apoio popular ao governo Dilma. Tensionada, a oposição, em conluio com a velha mídia, mira na Petrobrás para tentar desmoralizar a gestão pública da maior empresa brasileira.

Os mesmos PSDB e DEM, que quando governaram o país fizeram de tudo para privatizar a Petrobrás, trazem de volta à cena política antigas denúncias sobre refinarias adquiridas pela empresa no exterior e tornam a atacar as que estão em fase final de construção no Brasil. Quem acompanha a nossa indústria de petróleo sabe da urgência de reestruturação do parque de refino da Petrobrás, que, durante o governo do PSDB/DEM, foi sucateado e estagnado, assim como os demais setores da empresa.

Quando exercia o papel de governista (dos anos 90 até 2002), a oposição demo-tucana quebrou o monopólio estatal da Petrobrás, escancarou a terceirização, privatizou alguns setores e unidades da empresa, reduziu drasticamente os efetivos próprios, estagnou investimentos em exploração, produção e refino e ainda tentou mudar o nome da Petrobrás para Petrobrax. Foi nessa época que a empresa protagonizou alguns dos maiores acidentes ambientais do país e o afundamento da P-36.

São os mesmos neoliberais que insistem em atacar a gestão estatal que desde 2003 iniciou o processo que fará da Petrobrás uma empresa verdadeiramente pública e voltada para os interesses nacionais.

Vamos aos fatos: em 2002, a Petrobrás valia R$ 30 bilhões, sua receita era de R$ 69,2 bilhões, o lucro líquido de R$ 8,1 bilhões e os investimentos não passavam de R$ 18,9 bilhões. Uma década depois, em 2012, o valor de mercado da Petrobrás passou a ser de R$ 260 bilhões, a receita subiu para R$ 281,3 bilhões, o lucro líquido para R$ 21,1 bilhão e os investimentos foram multiplicados para R$ 84,1 bilhão.

Antes do governo Lula, a Petrobrás contava em 2002 com um efetivo de 46 mil trabalhadores próprios, produzia 1 bilhão e 500 mil barris de petróleo por dia e tinha uma reserva provada de 11 bilhões de barris de óleo. Após o governo Lula, em 2012, a Petrobrás quase que dobrou o seu efetivo para 85 mil trabalhadores, passou a produzir 2 bilhões de barris de óleo por dia e aumentou a reserva provada para 15,7 bilhões de barris de petróleo.

Apesar da crise econômica internacional e da metralhadora giratória da mídia partidária da oposição, a Petrobrás descobriu uma nova fronteira petrolífera, passou a produzir no pré-sal e caminha a passos largos para se tornar uma das maiores gigantes de energia do planeta. Não aceitamos, portanto, que esse processo seja estancado por grupos políticos que no passado tentaram privatizar a empresa e hoje, fortalecidos por novos aliados, continuam com o mesmo propósito.

Se confirmados erros e irregularidades na gestão da Petrobrás, exigiremos que sejam devidamente apurados pelos órgãos de controle do Estado e pela Justiça. A FUP e seus sindicatos acompanharão de perto esse processo, cobrando transparência na investigação e responsabilização de qualquer desvio que possa ter ocorrido. No entanto, não permitiremos que sangrem a Petrobrás em um ringue de disputas políticas partidárias eleitorais, como querem os defensores da CPI. Reagiremos à altura contra qualquer retrocesso que possa ser imposto à maior empresa brasileira, alavanca do desenvolvimento do país.

DIREÇÃO COLEGIADA DA FUP

Rio de Janeiro, 25 de março de 2014



Leia outros textos de Geral, Plenos Poderes

segunda-feira, 24 de março de 2014

quem viver verá!


Aécio escapará do mensalão tucano?

Blog do Miro

Por Altamiro Borges

O Supremo Tribunal Federal decide nesta semana se o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) será julgado pelo plenário da Corte por seu envolvimento no chamado mensalão tucano – que a mídia “privada” insiste em rotular de mensalão mineiro. Segundo o Estadão, “apesar do processo estar praticamente pronto para julgamento, há chances de a ação ser transferida à Justiça de Minas Gerais, porque Azeredo renunciou ao mandato de deputado federal em fevereiro”. Esta é a torcida da mídia amiga. Com isso, o processo seria remetido à primeira instância, com sério risco de sua prescrição, e Aécio Neves ficaria livre da dor de cabeça em pleno ano de sucessão presidencial.

O “implacável” Joaquim Barbosa, presidente do STF, até já poderia ter decidido pelo julgamento do caso – mais antigo do que o “mensalão petista” –, mas preferiu repassar o “pepino” para os outros dez ministros da casa. Isto apesar das provas contundentes contra o ex-governador mineiro, que tornam desnecessário até o uso da esdruxula tese do “domínio do fato”. Em documento enviado ao STF, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou elementos que confirmam a participação de Eduardo Azeredo no desvio de dinheiro público e sugeriu ao tribunal uma pena de 22 anos de cadeia. Temendo a prisão e rifado pelo PSDB, o atual deputado mineiro renunciou ao mandato!

A renúncia e a protelação do STF servem também salvar os tucanos de maiores danos políticos, principalmente num ano eleitoral. Em entrevista concedida à Folha, em setembro de 2007, o próprio Eduardo Azeredo garantiu que o esquema do Caixa-2 montado em Minas Gerais ajudou na campanha pela reeleição de FHC, em 1998. Naquele mesmo ano, Aécio Neves foi eleito, numa campanha milionária, o deputado mais votado do PSDB no estado e no país, com 185 mil votos. Como a mídia amiga parece que se esqueceu da confissão bombástica, vale reproduzir a entrevista feita pela repórter Andreza Matais:

*****

Folha: A Polícia Federal diz que houve caixa dois na sua campanha...

Eduardo Azeredo: Tivemos problemas na prestação de contas da campanha, que não era minha só, mas de partidos coligados, que envolvia outros cargos, até mesmo de presidente da República.

Que "problemas"?

Essas prestações de contas no passado eram mais uma formalidade, é hipocrisia negar isso, não existia rigor. O que se conclui é que no caso de Minas, a minha [prestação] foi a mais alta naquele ano, foi ela que se aproximou mais da realidade. E se concluiu que houve recursos a mais que não chegaram a ser formalizados.

O sr. acha que sua campanha custou quanto na verdade?

Os R$ 8,5 milhões que informamos e alguma coisa a mais que teve do empréstimo que eu não autorizei. Mas nunca perto dos R$ 100 milhões que estão falando.

Qual foi a participação do Walfrido [Mares Guia, já beneficiado com a prescrição do caso] na campanha do sr.?

Ele não foi coordenador [da campanha], o coordenador foi o ex-deputado Carlos Eloy, mas é evidente que o Walfrido participou da campanha ao meu lado ativamente.

De que forma? Na parte política ou na captação de recursos?

Participou da campanha como um todo.

A PF achou papéis em que o ministro fez anotações de valores arrecadados. Ele tem conhecimento dos valores não contabilizados?

Acho que ele é quem deve explicar. Cabe a mim dizer que ele participou da campanha, mas não era coordenador.

Mas o senhor disse que ele participou de toda a campanha, o que me faz concluir que também da parte de arrecadação de dinheiro.

É evidente que ele tinha relações com pessoas que podiam apoiar a campanha.

Com relação ao empréstimo que o ministro Walfrido disse que pagou em seu nome por dívidas de campanha. O sr. pediu para ele?

Como não tinha e não tenho até hoje posses que me garantam tirar empréstimo bancário maior, o Walfrido é que tirou o empréstimo, com meu aval para quitar a dívida.

O sr. vai pagar o ministro?

Não. É uma dívida que foi quitada porque ele é meu amigo, continua sendo e tem condições de poder arcar com uma dívida dessas.

Com relação ao PSDB, o governador José Serra não quis comentar sobre o senhor.

Sempre tive apoio do partido e tenho total confiança de que terei o apoio necessário no momento necessário. Serra me deu não só solidariedade, mas apoio também.

O dinheiro da sua campanha financiou a de FHC em Minas?

Sim, parte dos custos foram bancados pela minha campanha. Fernando Henrique não foi a Minas na campanha por causa do Itamar Franco, que era meu adversário, mas tinha comitês bancados pela minha campanha.

Por que o senhor acha que esse assunto voltou à tona agora?

O PT colocou esse assunto no seu congresso porque não está satisfeito com a presença de um ministro [Walfrido] que não seja do seu partido e como compensação para o desgaste que o partido sofreu pela aceitação do STF de abertura do processo do mensalão.

*****

Diante das evidências do envolvimento de vários caciques tucanos no esquema de Caixa-2 de Minas Gerais, há dúvidas sobre qual será o comportamento do STF nesta semana. Alguns ministros temem que a decisão de remeter o caso à primeira instância desgaste ainda mais a imagem do Supremo. Ficaria comprovada a sua seletividade e parcialidade. “Dois mensalões”, dois pesos e duas medidas. Caso decida julgar agora o escândalo, com transmissão ao vivo na véspera da campanha eleitoral, a tendência é que voe pena de tucanos para todos os cantos. O efeito para Aécio Neves, o cambaleante presidenciável do PSDB, será pior do que o do bafômetro nas badaladas noitadas cariocas.

A mídia amiga já detectou o problema. Em matéria de 10 de março, a Folha alertou que o julgamento será explorado nas eleições e deverá causar forte ressaca ao mineiro. Segundo a reportagem, a missão de desgaste ficaria “a cargo de um exército na internet e da infantaria do PT no Congresso. ‘Mais que tucano, Aécio é mineiro, e como mineiro suas relações com o caso vão ser esmiuçadas’, diz o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR). A oposição ao tucano em Minas desembarcou no final do mês passado na capital federal munida de documentos e pedidos de investigação. ‘O mensalão está na testa do Aécio, só não vê quem não quer’, diz o deputado estadual Rogério Correa (PT-MG)”.

Entre os documentos já disponíveis está uma lista em que Aécio Neves aparece como beneficiário de R$ 110 mil do Caixa-2 que abasteceu a campanha de Eduardo Azeredo em 1998. O texto é atribuído ao então tesoureiro da campanha tucana, Cláudio Mourão, que nega sua autoria. O PSDB garante que a lista é falsa, mas a Polícia Federal e a Procuradoria reconheceram a autenticidade da assinatura do ex-tesoureiro e afirma não haver indícios de montagem. Outro ponto que será explorado na campanha são os contratos firmados pelo ex-governador Aécio Neves com as agências de Marcos Valério. Em 2004 e 2005, a SMP&B e a DNA receberam R$ 27,2 milhões em contratos de publicidade.


*****

Leia também:

- O "mensalão tucano" subiu no telhado

- Valério é condenado; tucanos escampam

- Azeredo vai pagar o pato do "mensalão tucano"?

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- "Mensalão tucano" comprou a Veja?
- Barbosa, a mídia e o mensalão tucano

- A tristeza seletiva de Joaquim Barbosa

se ocê antes de politicar quer se informar, vem comigo!


A história de Pasadena que a mídia não contou

20/03/2014


Já que o assunto do momento é Pasadena, fomos pesquisar a origem da refinaria, e tentar esclarecer algumas confusões.

A nossa mídia, como de praxe, está muito mais interessada em produzir uma crise política do que em esclarecer a sociedade.

A refinaria de Pasadena foi fundada em 1920, pela Crown Central Petroleum, uma das companhias remanescentes do império Rockfeller, cujo grupo Standard Oil havia chegado a controlar 88% do refino de petróleo nos EUA.

Em 1911, a Suprema Corte americana valida uma lei anti-truste defendida pelo governo (Sherman Antitrust Act) e a Standard é dividida em 34 empresas. Uma delas, será a Standard Oil of Indiana, que depois será renomeada para Amoco, a qual, por sua vez, dará origem a Crown Central Petroleum.

Os herdeiros mais conhecidos da Crown, os Rosenberg, decidiram, no início dos anos 2000, vender os ativos da companhia, incluindo a refinaria de Pasadena.

Não foi uma venda fácil. Em 2003, um artigo no Baltimore Sun explicava porque se tratava de um negócio complexo. Construir uma nova refinaria igual àquela custaria mais de US$ 1 bilhão, estimava o autor da matéria, Jay Hancock. Nos livros contábeis da Crown, ela vinha avaliada em US$ 270 milhões, mas operadores do mercado diziam que os Rosenberg teriam sorte se conseguissem US$ 100 milhões por ela.

Ao cabo, a refinaria foi vendida para Astra Holding USA, uma subsidiária da Astra Oil, sediada na California, e que por sua vez é controlada pela belga Transcor Astra Group.

Nunca se soube o preço final da refinaria. A imprensa tem repetido que a Astra adquiriu a refinaria em 2005 por US$ 42 milhões. Mas eu ainda não consegui encontrar esse valor em lugar nenhum. É preciso verificar qual era o estado da refinaria antes da compra pela Astra, e que melhorias, exatamente, foram feitas. O que eu sei é que a refinaria vinha enfrentando, há décadas, uma dura oposição da comunidade local, por causa da poluição emitida, e que a justiça havia tomado decisões, mais ou menos na época da venda, que obrigavam a refinaria a se adaptar às novas exigências ambientais do governo.

Está claro que a Astra, logo após a compra, fez uma série de investimentos na refinaria. Aí entra a primeira grande confusão: compara-se o preço de compra pela Astra em 2005, com o preço pago pela Petrobrás, em 2006. São negócios diferentes. A Astra compra uma refinaria que há anos não era modernizada. No momento da compra, o novo presidente da refinaria, Chuck Dunlap, declara que a Astra investiria US$ 40 milhões nas instalações, preparando-as para processar outros tipo de petróleo e fabricar mais variedades de derivados. “Nós temos grandes planos”, asseverou um animado Dunlap à imprensa local.

Uma refinaria moderna é altamente tecnificada, com poucos funcionários. Seu principal ativo são os equipamentos e a tecnologia usada, mas a localização é fundamental, naturalmente. A refinaria de Pasadena, por exemplo, fica bem no coração do “Houston Ship Channel”, uma espécie de eixo no porto de Houston, aberto para o Golfo do México (onde ficam os principais poços de petróleo em operação nos EUA) e com ligações modais para todo os EUA.

Em 2006, a Petrobrás pagou US$ 360 milhões para entrar no negócio, sendo US$ 190 milhões por 50% das ações e US$ 170 milhões pelos estoques da refinaria. No balanço da Petrobrás de 2006, o valor total para a aquisição da refinaria de Pasadena, incluindo despesas tributárias, ficou estabelecido em US$ 415,8 milhões.

Isso tudo aconteceu no início de 2006.

Ao final do mesmo ano, o negócio foi abalado com a descoberta do pré-sal no Brasil.

Até então a Petrobrás tinha planos de investir na refinaria de Pasadena para adaptá-la ao refino de óleo pesado vindo do Brasil. A companhia planejava abocanhar um pedacinho do mercado de refino dos EUA, de longe o maior do mundo.

Com a descoberta do pré-sal, houve uma revolução nos planos da Petrobrás. Todo o capital da empresa teve de ser imediatamente remanejado para o desenvolvimento de exploração em águas profundas e prospecção nas áreas adjacentes às primeiras descobertas. A refinaria de Pasadena teria que esperar.

Aí veio 2008, e a crise financeira que fez evaporar os créditos no mundo inteiro. A Astra, provavelmente já aborrecida porque a Petrobrás havia deixado Pasadena de lado, e espremida pelo aperto financeiro que asfixiava empresas em todo mundo, decide sair do negócio. E obtém uma vitória judicial espetacular na Corte Americana, obrigando a Petrobrás a pagar US$ 296 milhões pelos 50% da Astra, mais US$ 170 milhões de sua parcela no estoque.

Esses estoques de petróleo e derivados, sempre é bom lembrar, não constituíram prejuízo à Petrobrás, porque foram consumidos e vendidos.

A esse montante foram acrescidos mais US$ 173 milhões, correspondente a garantias bancárias, juros, honorários e despesas processuais.

Com isso, o total a ser pago pela Petrobrás elevou-se a US$ 639 milhões. Como a Petrobrás recorreu, naturalmente, a decisão final saiu apenas em junho de 2012, após acordo extrajudicial. O total, agora acrescido de mais juros e mais custos legais, ficou em US$ 820 milhões.

A refinaria continua lá, funcionando. É um ativo da Petrobrás. A presidente da Petrobrás relatou a ministros do TCU que teria recebido propostas de venda da refinaria de US$ 200 milhões, mas rejeitou as ofertas. O momento não é bom para vender. Neste momento deve ter um monte de gente esfregando as mãos e querendo explorar a “crise política” para comprar Pasadena a preço de banana. O valor das refinarias nos EUA voltou a subir bem rápido, na esteira da recuperação da economia americana e talvez, ao cabo, a Petrobras consiga vendê-la por um preço vantajoso ou então converte-la numa refinaria mais lucrativa. Se me permitem um palpite talvez infeliz, eu acho que a Petrobras não deveria vender a refinaria de Pasadena, porque ela pode a se tornar estratégica para o escoamento dos derivados do presal no mercado norte-americano.

A descoberta sucessiva de novos campos do pré-sal demandam cada vez mais capital da Petrobrás, a qual não pode, por isso, desviar nenhum recurso para investir na refinaria de Pasadena, cuja capacidade de refino permanece em torno de 100 a 120 mil barris por dia. Mas quando o presal começar a jorrar, daqui a poucos anos, o dinheiro deixará de ser um problema para a Petrobrás, que precisará de bons lugares para investir, e nada melhor que uma refinaria que ela já tem, no coração do maior mercado do mundo.

O problema principal da refinaria de Pasadena, portanto, foi a descoberta do pré-sal, conforme a própria Petrobrás respondeu, em fevereiro de 2013. Só que esse problema também será a solução.




Refinaria de Pasadena (Fonte da foto).

e ocê pagando essa mídia que não quer esclarecer... apenas politicar


Alguns esclarecimentos importantes sobre Pasadena


23 de março de 2014 | 17:53 

Autor: Miguel do Rosário




Agora as coisas ficaram mais claras. Os brasileiros foram enganados mais uma vez pela mídia. As notícias sobre a refinaria de Pasadena trazem informações vergonhosamente manipuladas.

O assunto foi politizado com fins eleitorais, de maneira que o PT tem a obrigação de vencer o seu medo já patológico da mídia e enfrentá-lo de cabeça erguida. Até porque está em jogo aqui muito mais do que o PT. Estão jogando contra a Petrobrás e, portanto, contra a nossa soberania econômica.

Mais que isso, estão tentando passar a perna nos brasileiros e matar vários coelhos com uma só pancada. Desgastar a presidente, tirando-lhe e votos, e de bucha forçar a Petrobrás a vender por alguns trocados uma refinaria que, para ser construída novamente, num lugar tão estratégico como o canal de Houston, custaria talvez mais de 2 bilhões de dólares. Talvez muito mais que isso.

Eu tiro esse valor de várias fontes. Em 2003, em sua coluna no Baltimore Sun, o jornalista Jay Hancock estima que construir uma refinaria igual à de Pasadena custaria mais de 1 bilhão. O New York Times, por sua vez,informa que a estimativa inicial do governo do Paquistão para construir uma refinaria de petróleo com capacidade para 40 mil barris por dia, é de 600 milhões de dólares. A construção da Abreu Lima, em Pernambuco, com capacidade de 230 mil barris por dia, está custando US$ 17 bilhões. Qual o objetivo em nos fazer acreditar que uma refinaria situada no coração do corredor petrolífero dos EUA, funcionando a pleno vapor, com capacidade para processar até 120 mil barris por dia, não vale os US$ 1 bilhão pagos pela Petrobrás? Sem contar que, neste bilhão estão incluídos estoques e milionários custos processuais. O preço efetivamente pago pela refinaria foi a metade disso.

Pasadena, aliás, vale mais que dinheiro. Como tudo que envolve segurança energética, ela também possui um valor estratégico e político.

Para adaptar-se às novas exigências ambientais, a refinaria de Pasadena passou a adotar, a partir de 2005, um sistema que reduz drasticamente a emissão de gases poluentes na atmosfera.

A implantação dessa tecnologia pela Astra foi um dos motivos que fizeram seu preço subir tanto de 2005 para 2006.

Uma coisa é comprar uma refinaria com gravíssimos problemas ambientais, trabalhistas e logísticos.

Outra coisa é comprar uma refinaria que investiu mais de US$ 100 milhõespara se adaptar às rígidas exigências ambientais vigentes hoje nos Estados Unidos, e que também resolveu suas outras pendências.

A mídia repete que a Petrobrás pagou US$ 360 milhões por uma refinaria que tinha sido vendida por apenas US$ 42 milhões no ano anterior. E aí houve uma incompetência incrível por parte da comunicação da Petrobrás e do governo. O próprio Gabrielli confundiu a opinião pública ao dar a informação, até hoje não confirmada, aliás, por nenhum documento, nem mesmo por um mísero link para alguma reportagem, sem contextualizá-la adequadamente.

Fica parecendo que estamos falando de um carro que alguém compra por 42 mil reais e depois revende por 360 mil.

Refinaria não é carro.

O valor de uma refinaria é medido pelo seu posicionamento estratégico (no caso de Pasadena, ela está localizada no coração do principal “corredor” energético da maior potência do planeta), pelo maquinário usado, assim como pela existência ou não de pendências tributárias, trabalhistas e ambientais.

A Astra comprou uma refinaria cheia de problemas. Pasadena tinha vivido, a partir de meados dos anos 90, a maior greve da história da indústria petrolífera, a qual apenas foi resolvida em 2002.

A poderosa OCW, o principal sindicato de trabalhadores da indústria petrolífera dos EUA, vinha lutando há muitos anos contra a Crown Central Petroleum (nome da refinaria antes de ser comprada pela Astra, em 2005). A Crown era acusada de violar direitos humanos, racismo, poluição, falta de segurança, entre outros problemas.

Em 1999, a estatal petrolífera da Noruega informa que não iria mais trabalhar com a Crown Central Petroleum enquanto ela não respondesse às denúncias.

Todos pareciam odiar a refinaria, e com razão.

A empresa, então controlada por Henry Rosenberg, era acusada de racismo contra trabalhadores afrodescendentes, e de não tomar cuidado para evitar a poluição jogada sobre a vizinhança pobre, a maior parte composta de latino-americanos.

Para piorar, uma série de explosões vinham causando transtornos à refinaria. Só em 2001, foram três.

É preciso considerar todos esses fatores quando se analisa o negócio feito pela Astra no início de 2005.

Sob a nova direção, todos esses problemas seriam resolvidos.

Astra ainda ganharia a sorte grande, na forma de uma tragédia, ocorrida no mesmo ano. Os furacões Katrina e Rita causaram danos a inúmeras refinarias do Texas. Pasadena sofreu alguns danos, mas poucos. Entretanto, com a redução da oferta causada pela paralisação de dezenas de refinarias da região, as cotações do produto refinado disparariam, aumentando exponencialmente o faturamento daquelas que permaneceram em atividade.

E aí entra a Petrobrás na história. O ano é 2006 e o seu presidente era Sérgio Gabrielli.

A Petrobrás ainda vivia a era anterior à descoberta do pré-sal. Mas já tinha planos ambiciosos de expansão internacional.

Quer dizer, à luz dos projetos atuais da estatal, de centenas de bilhões de dólares, o plano de investimento da Petrobrás em 2006, para o período 2007 a 2011, parece até tímido. Em 2006, Gabrielli viaja à Londres, Nova York e Boston para apresentar o novo plano de investimento da empresa.

Segundo esta apresentação, a empresa pretendia investir US$ 75 bilhões no período, sendo US$ 12 bilhões fora do país




Grande parte desses investimentos internacionais seria feito na exploração de petróleo no golfo do México. A empresa esperava aplicar, fora do Brasil, o seu know how de prospecção e exploração em águas profundas. Deu certo. De 2001 a 2005, a Petrobrás vinha anunciando várias descobertas no Golfo.

Comprar uma refinaria nos EUA era um sonho da companhia desde 1999. Com sua entrada no golfo do México, a ideia agora parecia ainda melhor. A razão é simples. A Petrobrás exploraria petróleo no golfo e usaria a refinaria de Pasadena para processar o óleo cru e vendê-lo ao consumidor norte-americano.



Negócios com refinaria, como qualquer outro do setor de petróleo, sofrem com as variações bruscas de preço. Naquele momento, o preço dos derivados vinha subindo rapidamente, e as perspectivas eram excelentes.

É muito fácil, hoje, criticar Gabrielli e o Conselho de Administração por decisões feitas em 2006. Os anos de 2006 a 2007 foram férteis em decisões que se revelaram, no mínimo, questionáveis, ou mesmo desastrosas, nos anos seguintes. Em 2008, algumas das melhores e mais tradicionais empresas do mundo, como a General Motors e a Lehman Brothers, declaram-se à beira da falência. A primeira é praticamente estatizada pelo governo americano, em mais uma prova de que a ideologia neoliberal é um dogma apenas para economistas subdesenvolvidos. A secular Lehman, por sua vez, vai pro saco.

A utopia hegemônica pós-queda do muro de Berlim, de que um mundo regido pelas leis do mercado e pela competência da iniciativa privada traria uma longa e estável prosperidade, terminou em pesadelo. Governos do mundo desenvolvido tiveram que torrar trilhões de dólares para tampar o buraco deixado pela má-gestão temerária de até então respeitadas corporações privadas.

Em 2008, a crise financeira mundial faz o preço dos derivados de petróleo despencarem, reduzindo a lucratividade das refinarias. É neste momento que a Petrobrás, que vinha descobrindo, sucessivamente, novas reservas gigantes de petróleo em águas ultraprofundas da costa brasileira, decide suspender, por tempo indefinido, seus planos de investir na refinaria de Pasadena. Até então, a Petrobrás planejava investir quase US$ 2 bilhões em Pasadena para dobrar a sua capacidade de refino, dos então 100 ou 120 mil barris para algo próximo de 200 mil barris/dia. O projeto previa a construção de uma nova unidade processadora, dentro da refinaria, voltada para óleos pesados, como é o petróleo brasileiro até hoje extraído nas áreas do pós-sal. Desistiu disso, por enquanto. Paradoxalmente, o pré-sal trouxe um grave problema de caixa à Petrobrás. Para que a empresa possa converter aquele óleo sujo e malcheiroso, situado a milhares de metros abaixo da superfície marinha, em dinheiro para aplicarmos em educação, ela antes tem que investir dezenas ou mesmo centenas de bilhões de dólares em maquinários, plataformas, tecnologia e mão-de-obra. A empresa está numa caça alucinada por recursos, vendendo seus ativos no mundo inteiro, numa tentativa de fazer caixa e focar investimentos nas novas reservas descobertas. Está vendendo inclusive alguns ativos que possuía no Golfo do México.

No momento, a Petrobrás parece não saber o que fazer com a refinaria de Pasadena. Vender agora não valeria a pena, porque não conseguiria o preço que deseja.

Desde 2012, entretanto, o mercado de refino tem melhorado, elevando a lucratividade das refinarias. Em outubro de 2012, o New York Timespublicou um artigo cujo título, traduzido livremente por mim, significa: “Refino de petróleo volta a criar fortunas”.

A descoberta de novos campos de gás e petróleo no golfo e no Texas trouxe vida nova às refinarias da região, onde também se localiza a de Pasadena, porque lhes deu competitividade sobre suas concorrentes no exterior. Ao invés de pagar altos preços por petróleo importado do oriente médio, as refinarias texanas agora podem se beneficiar de novos campos descobertos no sul do estado, que lhe fornecem matéria-prima a um custo muito menor. Segundo o New York Times, o lucro das refinarias da região cresceu 400% de 2008 a 2012.

Em julho do ano passado, o site especializado Oil Price fez uma entrevistacom Fadel Gheit, diretor e analista sênior de uma respeitada empresa do setor, na qual Gheit afirma que o negócio com refinarias, que durante tanto tempo foi o patinho feio da indústria do petróleo, agora estava se tornando num lindo cisne. O título da matéria vai direto ao ponto: “O negócio com refinaria nos EUA serão a gema da indústria do petróleo”. Repare bem o que ele disse: refinarias nos EUA.

É preciso muito cuidado, portanto, para evitar que interesses obscuros utilizem o momento eleitoral para pressionar a Petrobrás a vender uma refinaria estratégica, situada no centro do cinturão petrolífero do país mais rico do mundo.



domingo, 23 de março de 2014

mas a gente não brigou tanto para não ter exército no poder?


Marcha da Família e os 'amigos' do blog


Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:

Participei do jubileu de ouro da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, nesta tarde de sábado (22), entre as Praças da República e da Sé, no Centro de São Paulo.

Agradeço, portanto, à organização do ato, pois ele foi histórico. Afinal de contas, nunca imaginei que os brasileiros teriam coragem de fazer isso de novo.

Devo confessar, contudo, que fui guiado não pelo nobre interesse jornalístico, mas sim por uma mórbida curiosidade. Qual seria a outra oportunidade que teria de conhecer a parte barulhenta dos comentaristas deste blog? A parte que acha que sou o demônio e transforma este espaço em algo divertidíssimo. A parte que não acredita em democracia.

Como esse naco social extremamente conservador vai para o céu quando morrer e eu, que não creio, habitarei o limbo pela eternidade, não poderia deixar de ver seus rostos, sentir seu cheiro, ouvir suas ideias, olho no olho, pelo menos uma vez na vida.

Primeiramente, fico feliz que eles – vencendo o preconceito e o medo – tenham saído do armário. Porque, apesar de sempre existirem, suas ideias eram sussurradas no âmbito privado e, portanto, estavam alheias à possibilidade de debate público. Viva, pois, a maldita democracia!

O tamanho da lista de pautas dos manifestantes rivalizava com demandas de sindicatos em greve ou estudantes em paralisação. Pedem ajuda para as FFAA (Forças Armadas) a fim de uma intervenção militar já. Querem Lula e Dilma na cadeia. Suplicam pelo fim da ameaça comunista e /ou socialista no país (antes fosse, gente… se o PT é comunista, eu sou mico de circo). E são contrários ao julgamento de militares por crimes contra os direitos humanos durante a ditadura. Louvaram, ainda, a polícia, criticando as propostas de sua desmilitarização.

Ah, e no carro de som, gritava-se algo como “se o Brasil não é comunista, por que querem a aprovação do Marco Civil da internet?''

Em determinado momento, um grupo que estava à frente da marcha também reivindicou uma parte querida do corpo deste blogueiro, entoando em uníssino: “Ei, Sakamoto, vai tomar no cu!'' Detalhe que havia, entre eles, uma imagem de Nossa Senhora.

Mas não posso me furtar a questionar: com base nas leituras reacionárias do livro sagrado do cristianismo, intepretações usadas para espancar gays, lésbicas, transexuais, pergunto se o pedido que me fizeram não seria – diante dos olhos de Deus que, segundo os organizadores, estava junto com a marcha - uma “abominação''.

Acho que se existe um Deus, ele estava curtindo a marcha antifascista, realizada simultaneamente a esta e que reuniu mais gente, caminhando entre a Praça da Sé e o antigo prédio do Departamento de Ordem Política e Social, local de torturas durante a ditadura, na região da Luz.

Provavelmente pelo fato de estarem pouco acostumados a irem às ruas e conviverem com a diferença, havia um clima de tensão no ar. De desconfiança com o ambiente, sabe? Um skinhead aqui e outro ali olhando torto, uma tentativa de calar alguém que discordava da natureza do ato, pressão para abaixar faixas que não estivessem de acordo com o coletivo e elogios à grande “imprensa comunista mentirosa'' ali presente.

E falando em imprensa, creio que havia em torno de 100 jornalistas trabalhando por lá, para algo em torno de 400 manifestantes (a grande maioria de homens e de uma faixa etária bem superior às das manifestações que se tornaram corriqueiras por aqui), além de uma quantidade enorme de policiais fazendo cordão para acompanhar o povo.

Um colega, jornalista das antigas, já tinha me sugerido que ir de “black bloc'' era mais seguro que ir de “Sakamoto''. E não é que ele estava certo! Fui procurar meus leitores, mas meus leitores me acharam primeiro.

De tempos em tempos, um grupo deles me reconhecia. Começa a gritar, chegava perto, apontava o dedo, gravava em vídeo, xingava, vociferava, me chamando de “comunista''. Será que eles não sabem que tenho um MacBook e gosto de caviar? Um manifestante passou por mim várias vezes, dando leves ombradas, no melhor estilo de provocações escolares, sempre que chegava perto. Logo no braço que a LER/Dort mais ataca. Podia ser no outro, não?

Agradeço aos colegas da imprensa que me tiraram de perto nas vezes em que a chapa esquentou (valeu, galera!).

Não é mérito nenhum meu, é claro. Sobrou para todo mundo. Incluindo um grupo de jovens, vestidos de preto, que estava indo provavelmente para o show do Metallica e foram xingados por manifestantes perto do metrô Anhangabaú.

Enfim, apesar de tudo isso, achei a manifestação pedagógica.

Porque todas as visões de mundo têm direito a se manifestar.

Porque o número de pessoas que bradam por uma intervenção militar é menor ainda do que eu esperava.

Porque muitos dos curiosos que paravam para ver e que tive a oportunidade de conversar, de vendedores ambulantes a engravatados, quando informados do conteúdo das reivindicações, franziam a testa e perguntavam: mas a gente não brigou tanto para não ter exército no poder?

E porque conversas e atitudes de muitos manifestantes mostravam que um desconhecimento grande da história do Brasil justificava uma visão de mundo totalitária. Ou seja, há esperança de que, com educação de qualidade e muito debate político, a gente chega lá. Ô se chega!

Que marchem, mas não ousem tocar suas mãos sujas em nossa democracia

A ditadura e seus psicopatas de ontem e de hoje


22/03/2014



Antonio Lassance


Quem marcha em defesa do golpe é gente que esbofeteia cada um dos milhões de brasileiros que foram privados da liberdade por mais de duas décadas neste país.


A ditadura valeu-se de psicopatas. Assim manifestou-se a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para expressar o impacto do depoimento prestado por um coronel do Exército à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro.

O coronel é Paulo Malhães, especialista em tortura e desaparecimento de corpos durante a ditadura instaurada em 1964.

Em seu depoimento, esse guardião dos infernos mostrou como todo o sistema repressivo montado tinha autorização dos ministros das Forças Armadas, que davam as ordens no país - de forma mais absurda e terrorista entre 1968 e 1974.

Os generais, brigadeiros e comandantes não só tomaram conhecimento como ordenaram que os procedimentos ganhassem escala.

Mandaram construir e custear os aparelhos, como a Casa da Morte, em Petrópolis, e comprar os instrumentos de tortura. Trouxeram torturadores de outros países para treinar seus subordinados a usar requintes de crueldade.

Ao fim e ao cabo, condecoraram uma legião de psicopatas com medalhas e outras honrarias que já deveriam ter sido cassadas.

Onde quer que estejam, e a dúvida é apenas que parte do inferno lhes foi reservada, as mãos e os nomes dos chefes de todos os sádicos permanecerão eternamente tão sujos quanto os dos que decapitaram, arrancaram as arcadas dentárias, deceparam as falanges dos dedos e praticaram tantas outras atrocidades mórbidas com o intuito de desaparecer com corpos de militantes de esquerda que lutavam contra a ditadura.

Cada ministro das Forças Armadas era sempre rigorosamente informado. Todos eles sabiam quem era preso, qual o método empregado e o resultado dos interrogatórios, por meio de relatórios – onde estarão esses relatórios? Quem os terá queimado ou escondido?

Trechos desse depoimento foram publicados pelo jornal O Globo – um veículo que certamente tem muito a dizer sobre aquele período.

O depoimento dado pelo coronel à Comissão Estadual da Verdade do Rio foi, por sua vez, “dado” com exclusividade por alguém dessa Comissão ao referido jornal. Seria bom que a Comissão depois explicasse seu critério de “doação” de informações públicas para o uso exclusivo por uma empresa privada.

De todo modo, diz o coronel:

"Levamos a ideia do CIE para o Burnier (brigadeiro João Paulo Burnier). Ele mostrou para o ministro (da Aeronáutica, Márcio de Souza Melo), que disse: ‘Poxa, que troço! Então funciona’. Aí, fundou o Cisa (Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica. Tanto é que recebi a medalha de Mérito da Aeronáutica. Eu até me senti muito orgulhoso, foi o dia em que eu fiquei mais vaidoso” - disse o coronel.

Os detalhes contados são preciosos:

“O DOI (Destacamento de Informações de Operações) é o primeiro degrau. Você entra ali, voando. Aí, se brutaliza, passa a ser igual aos outros, mas depois vai raciocinando e se estruturando”.

“Houve uma mudança da porrada para o choque. Você pode dizer: foi uma mudança ruim - foi não. Não deixava trauma, não deixava marca, não deixava nada. Já foi uma evolução. Aí, você vai caminhando, aprende de outros lugares, também de outros países, como é feita a coisa. Então, você se torna um outro personagem, um outro cara e, por causa disto, você é guindado a um órgão superior por ser um cara diferente e agir diferente. Tem muito mais amplitude, tem um universo muito maior, aí você se torna um expert em informações.”

"Aprendi que um homem que apanha na cara não fala mais nada. Você dá uma bofetada e ele se tranca. Você passa a ser o maior ofensor dele e o maior inimigo dele. A rigidez é o volume de voz, apertar ele psicologicamente, sobre o que ele é, quais são as consequências. Isto sim. Tudo isto é psicológico. Principalmente quando houve outros casos, né? Fulano foi preso e sumiu. Ele não é preso em uma unidade militar, ele vai para um lugar completamente estranho, civil, vamos dizer assim, uma casa. Ninguém sabe que ele está lá. Não há registro.”

Remorso? Nenhum:

“Poxa, não. Só perdi noite de sono estudando [as organizações de esquerda]. Até hoje, estudo.”

Até hoje? Bem, talvez hoje o coronel esteja então na reedição da Marcha da Família pela Liberdade, um nome hipócrita para uma reunião pública de defensores de um regime de psicopatas.

Enquanto permanecer existindo um único desaparecido político no país, qualquer um que apoie esse tipo de marcha golpista, seja lá que nome de fantasia ostentar, patrocina um desfile em desrespeito a qualquer família, não só as que choram seus parentes sem lápide.

Os que marcham em defesa do golpe são gente que fede a religião, mas não acredita em Deus – como diria Mário de Andrade.

É gente que esbofeteia cada um dos milhões de brasileiros que foram privados da liberdade por mais de duas décadas neste país.

Que marchem, mas não ousem tocar suas mãos sujas em nossa democracia, nem pisar sobre nossas consciências.


(*) Antonio Lassance é cientista político.

“atendendo a um pedido do Chefe”

O tamanho da corrupção na ditadura

23 de março de 2014


Nunca é demais refrescar a memória dos renitentes.

Tortura corrompe. Mas os que dizem não ter havido corrupção na ditadura, na medida em que a imprensa era proibida de divulgá-la, só se importam com patrimônio. Para eles, corrupção é apropriação indébita. Matar e torturar seriam pecadilhos.

A corrupção durante o regime militar foi uma constante. O historiador Carlos Fico, em “Como eles agiam”, mostra que a ação contra a suposta “crise moral” foi o mote dos militares. Sempre que a expressão “dissolução de costumes” se espalha, tem autoritarismo no ar. Os ditadores queriam acabar com a corrupção, que viam como um traço cultural muito “característico do brasileiro”.

O ministro Armando Falcão, pilar da ditadura, chegou a dizer: “O problema mais grave no Brasil não é a subversão. É a corrupção, muito mais difícil de caracterizar, punir e erradicar”. Com o AI-5, de 1968, a ditadura dotou-se de mecanismo mais contundente para confiscar bens de corruptos. A Comissão Geral de Investigações, de 17 de dezembro de 1968, propunha-se a “promover investigações sumárias para o confisco de bens de todos quanto tenham enriquecido ilicitamente, no exercício do cargo ou função pública”. A roubalheira correu solta durante todo o regime militar. Carlos Fico conta que, entre 1968 e 1973, auge da ditadura, a CGI analisou 1.153 processos de corrupção. Aprovou 41 confiscos de um total de 58 pedidos. Entre os investigados ou condenados, “mais de 41% dos atingidos eram políticos (prefeitos e parlamentares) e aproximadamente 36% eram funcionários públicos. Num único ato, em 1973, chegaram ao Sistema CGI cerca de 400 representações ou denúncias”. Seria o caso de dizer: nunca se roubou tanto no país quanto em 1973.

O alto comando militar do país, quando confrontado com a roubalheira, exclamava: “Não sabíamos”.

E explicava: “Estamos investigando. Vamos punir”.

Carlos Fico pergunta: “Por que, então, fracassou a iniciativa de ‘combate à corrupção’ do regime militar pós- AI-5?”. A resposta vai enfurecer os adeptos da nostalgia: “Em primeiro lugar, a impossibilidade de manter os militares num compartimento estanque, imunes à corrupção, notadamente quando já ocupavam tantos cargos importantes da estrutura administrativa federal. Não terão sido pouco os casos de processos interrompidos por causa da identificação de envolvimento de afiliados ao regime”. Fico sabe do que fala. Foi um dos primeiros a ter acesso a arquivos com material sigiloso do regime. Examinou todos os processos de confisco no Arquivo Nacional. Cláudio Guerra, no recente “Memórias de uma guerra suja”, afirma que o regime financiou a repressão, na sua fase final, com dinheiro do jogo do bicho. Cita empresários, como o dono da Itapemirim, que receberam vantagens oficiais pelos bons serviços à repressão.

Uma determinação do Ministério da Justiça orientava a mídia: “É vedada a descrição minuciosa do modo de cometimento de delitos”. Não foi possível divulgar a descoberta de uma carga de drogas no quartel da Barra Mansa. O ministro do Trabalho, o gaúcho Arnaldo Prieto, em 1974, censurou as notícias sobre sua desastrada política salarial. Foram censuradas também as “gravuras eróticas de Picasso”. O consumo de drogas era considerado parte do “variado arsenal do movimento comunista internacional”.




Ainda a Corrupção e a Ditadura Militar
por JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu

O assunto sobre a corrupção e Ditadura Militar ainda não está esgotado. A imprensa, escrita e falada, afirma que a corrupção atual é a maior da História do Brasil. Com essa crítica, uma pequena parte de brasileiros, decepcionada, deseja a Ditadura Militar com a finalidade de combater os corruptos. No entanto, a corrupção no tempo da Ditadura Militar era infinitamente superior, como irei mostrar.

O jornalista e escritor J. Carlos de Assis escreveu três livros, no final da Ditadura Militar, em 1984, mostrando os escândalos desse período. Um deles, o mais famoso, “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/83”, revela essa corrupção. Alguns capítulos: Caso Halles, Caso BUC, Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin, Caso TAA. Cada “Caso” é um capítulo. Por este motivo, é impossível detalhar esses escândalos financeiros, que trouxeram prejuízos inimagináveis à Economia daquela época!

Em outro livro, “A dupla face da Corrupção”, também em 1984, J. Carlos de Assis revela: “A censura (sic) da era Médici manteve o submundo da economia tão longe da curiosidade pública como as masmorras sombrias da repressão política. (,,,) Esta era uma atmosfera particularmente favorável ao apaniguamento (sic) e à proteção econômica e administrativa dos amigos do regime (…) Foi à sombra desse período obscurantista que a maioria dos arrivistas e aventureiros do mercado, esgueirando-se por essas omissões originais da lei ou pelos espaços abertos por sua deformação propositada (sic), penetrou no sistema financeiro e nele engordou seus conglomerados fraudulentos (sic), para explodir posteriormente em escândalos”, acrescentando: “Vários grupos de aventureiros e de gangsters de gravata (sic) foram postos na engorda junto aos cofres públicos (sic), com total contemporização e cumplicidade da autoridade administrativa”.

Adiante o escritor comenta o escândalo da Corretora Laureano, em 1976, fazendo essa estarrecedora denúncia: “Seu dono, contudo, precavidamente, havia lastreado suas ousadas operações num ativo intangível de valor incalculável nas circunstâncias: a amizade com o Ministro-chefe da Casa Civil, o condestável do governo Geisel, General Golbery do Couto e Silva. A relação estava selada, além disso, por um contrato de trabalho do filho de Golbery como diretor da Corretora (sic). E o General não tinha maiores constrangimentos éticos (sic) em encaminhar seu amigo às boas graças de algum colega de Ministério, em especial o que detinha as chaves dos cofres públicos, o Ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen”. Na página 85, outra denúncia grave: a compra pela Coroa-Brastel (uma empresa que também fazia parte do escândalo financeiro) da Metalúrgica Castor: “A Metalúrgica era propriedade do banqueiro de bicho Castor de Andrade, em sociedade com Osório Pais Lopes da Costa, sogro do Johnny Figueiredo, filho mais velho do Presidente da República (na época em que o livro foi publicado, 1984, o General João Figueiredo era o Presidente).

No ambíguo depoimento, Paim [dono da Coroa-Brastel] relata que foi contatado por Álvaro Leal em outubro de 1982. O consultor lhe teria dito que a Metalúrgica estava para quebrar e lhe sugeria comprar a empresa. “atendendo a um pedido do Chefe” (sic) – o próprio Presidente, no caso. Ele receberia por isso as “compensações devidas” , através do Banco do Brasil (sic)”. Era uma empresa suspeita comprando outra falida “atendendo o pedido do Chefe”! O escritor foi corajoso ao fazer essa denúncia contra o General-Presidente em plena Ditadura Militar, mesmo que nesse ano, 1984, o regime estava mais brando!

Existem outras denúncias de corrupção no período ditatorial, mas ficam para outro artigo.