Rio Grande do Sul virou Estado perigoso para promotores, procuradores e juízes
O Rio Grande do Sul está vivendo dias de surrealismo político. Talvez surrealismo não seja a palavra mais adequada e sim hiperrealismo. Se o governo Yeda Crusius tivesse algo mais do que alguns meses de vida, a população veria o seguinte quadro: promotores, procuradores da República, jornalistas, policiais e parlamentares presos ou respondendo a processo por terem ousado investigar atos da governadora e de aliados de seu governo. E parlamentares e integrantes do governo flagrados em gravações escabrosas sobre entregas de flores, fotografias, quilos de costela, livros, livres, processando quem ousou dizer que as costelas e as flores não eram costelas e flores. Contemplando esse espetáculo, passivos jornalistas dos grandes veículos de comunicação do Estado trabalhando para descrever tudo com o máximo de isenção. Noticiam algumas coisas, relatam outras, mas nenhuma síntese é feita e a memória é sistematicamente desprezada.
Pois a semana começou com mais um capítulo inacreditável desse processo grotesco e desagradável que acompanha o atual governo gaúcho. O promotor de Justiça, Amílcar Macedo, levou mais de uma hora para conseguir entrar na Casa Militar do governo do Estado. Após uma longa espera, o promotor finalmente foi chamado por nada mais nada menos do que o comandante da Brigada Militar, João Carlos Trindade, que, aparentemente, passou a despachar no Palácio Piratini. Amílcar Macedo queria cumprir uma ordem judicial: verificar dados de veículos do governo do Estado que podem ter sido utilizados para cobrar propinas de proprietários de máquinas caça-níqueis. E a governadora Yeda Crusius, como vem acontecendo desde o início de seu governo, atacou os investigadores. Em notas publicadas no twitter fez acusações genéricas ao Ministério Público Estadual e ao Tribunal de Justiça, sem apontar provas, nem nomes, justamente uma das coisas que critica nas investigações contra seu governo. Yeda escreveu:
“Os abusos de promotores do Ministério Público estadual ou mesmo de agente do Tribunal de Justiça colocam insegurança aos cidadãos. Determinei à Procuradoria Geral do Estado as ações cabíveis para representar contra erros funcionais de agentes do MPE e do TJ”.
O cinismo da governadora parece inesgotável. Até agora, não foi capaz de emitir uma frase sequer condenando os atos de espionagem realizados por integrantes de seu governo contra políticos, jornalistas, filhos de parlamentares e até uma criança. Até agora, não determinou à Procuradoria Geral do Estado qualquer tipo de ação contra seu chefe de gabinete, Ricardo Lied, alvo de uma ação civil pública de responsabilidade por atos de improbidade administrativa. Tampouco determinou qualquer tipo de ação em relação à sua assessora direta, Walna Villarins Meneses, indiciada pela Polícia Federal pelos crimes de corrupção passiva e formação de quadrilha, em um inquérito resultante da Operação Solidária, que investiga fraudes em licitações no Estado.
Yeda garante que é uma vítima de uma conspiração articulada por agentes do Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Tribunal de Justiça, Ministério Público de Contas, juntamente com jornalistas e políticos inescrupulosos. Se isso é verdade, que sejam presos os delegados, promotores, procuradores, policiais, jornalistas e políticos que armaram essa conspiração contra governo tão probo. E que os jardins do Palácio Piratini possam ficar tomados de flores, churrasqueiras com dezenas de quilos de costela, caixas de fotografias espalhadas pelos corredores a simbolizar as marcas desse extraordinário “novo jeito de governar”. Por lá desfilarão os fiadores desse governo, aqueles senhores e senhoras que hoje passam meio envergonhados por perto do Palácio sem fazer questão de entrar.
Os senhores Simon, Padilha, Gerdau, Sirotsky e tantos outros que, seja por ação direta ou cumplicidade passiva são responsáveis pelo fato de o Rio Grande do Sul ter se tornado uma terra perigosa para promotores, procuradores, juízes, policiais e jornalistas. Há dois países, hoje, na América Latina, que apresentam situação similar: México e Colômbia, países onde o crime organizado passou a disputar o poder político e o aparato de Estado diretamente com a sociedade.
Foto 1: Yeda Crusius e sua assessora Walna Villarins: vítimas de uma conspiração???
Foto 2: A governadora e dois de seus principais padrinhos políticos, Pedro Simon e Eliseu Padilha
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