A economia arrumada e a surra dos fatos
Nos anos 70, o Brasil crescia num ritmo que hoje qualificaríamos como “chinês”. Só que não distribuía renda. Sob ditadura militar, os czares da economia (como o professor Delfim Neto) diziam que era preciso “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Na oposição, a turma de economistas do MDB (Maria Conceição Tavares e Celso Furtado eram as bússolas dessa turma) dizia que era possível, sim, crescer e distribuir renda – ao mesmo tempo. Não foram ouvidos.
O modelo de concentração dos militares deixou o Brasil mais injusto, e ainda nos legou a hiperinflação, que explodiu no colo de Sarney. Quando o MDB chegou ao poder, a casa estava tão desarrumada que eles não conseguiram dar jeito: Planos Cruzado 1 e 2, Bresser… E nada. O caldo entornou, e o liberalismo à moda Margareth Tatcher parecia a única receita à mão.
Nos anos 90, sob FHC, o Brasil controlou a inflação mas esqueceu de crescer. Limitações estruturais, diziam os tucanos, impediam o país de ter uma economia equilibrada e forte ao mesmo tempo. Parecia maldição.
Sob Lula, finalmente, a equação fechou. Hoje, temos crescimento semelhante ao da época da ditadura, distribuição de renda e inflação sob controle. Não é à toa que Conceição Tavares (que também foi professora de Serra) escolheu votar em Dilma. O governo petista botou em prática a receita dos economistas do MDB. Lula expandiu o mercado interno, transformou o capitalismo para poucos (marca brasileira) num capitalismo para muitos. É um governo social-democrata, com tinturas brasileiras. Mercado relativamente livre, mas com a mão do Estado sempre pronta para agir. Estado democrático, aberto e plural – diga-se, nesse momento em que os tucanos desesperados apelam e tentam vender a imagem de que o país caminha para a ditadura. Só rindo muito…
O Banco Central acaba de sinalizar que os juros devem voltar a cair no Brasil. O “Estadão” até deu um tempo nas manchetes sobre o “escândalo” da receita, para reconhecer o óbvio. E por que os juros caem? Porque a inflação voltou pra perto de zero (pelo terceiro mês seguido). No acumulado de 12 meses, a taxa está abaixo da meta de 4,5%. Ao mesmo tempo, a economia cresce em torno de 7% a 8%. E a miséria se reduz.
Ah, o Lula tem sorte, diziam meus amigos tucanos durante o primeiro mandato. “Ele não pegou crises bravas, como o FHC”.
Aí veio 2008, os EUA desmancharam (a tal ponto que brasileiros compram até o Burger King), e a Europa ameaçou ruir…
E o Brasil?
O Brasil cresce, com inflação sob controle e distribuição de renda. Isso é sorte? Ou é escolha e ação?
Quando a crise veio, há dois anos, os “consultores” liberais diziam que Mantega/Lula estavam errados por expandir o gasto público e usar os bancos estatais na reação ao tumulto financeiro mundial. A velha receita dos consultores e economistas atucanados era: apertar o cinto, reduzir gastos. Isso teria lançado o Brasil numa espiral invertida, de estagnação e desemprego. Confiram o que estou falando nesse ótimo vídeo.
Lula/Mantega fizeram a escolha oposta: gastar, e colocar os bancos estatais pra emprestar. Ajudaram a economia a reagir, não com dinheiro público a fundo perdido na mão de banqueiros e empresário privados (como fizeram Obama e Merkel, por exemplo). Mas com empréstimos, que serão pagos.
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