Zero Hora desinforma sobre código florestal
Fora o fato de ter colocado o código florestal no caderno Dinheiro – porque, para eles, é só disso que se trata -, a Zero Hora fez uma reportagem ardilosa (continua aqui), que foi para a capa da edição de domingo. Em linhas gerais, é possível perceber, ainda na chamada de capa, que é adotada a estratégia do deputado Aldo Rebelo de colocar as alterações que interessam aos grandes ruralistas na boca dos pequenos agricultores. Ou seja, usar a agricultura familiar como desculpa para justificar alterações que beneficiam principalmente aos fazendeiros de grandes extensões de terra.
Agricultura familiar e reserva legal
Diversos movimentos de pequenos agricultores, como Fetraf-Sul e Via Campesina, concordam que o agricultor sabe a importância de preservar o meio ambiente, pois a degradação lhe trará prejuízos futuros, podendo afetar sua produção e sua renda. Por isso, não são contra a reserva legal, mas defendem a compensação financeira para quem preservar uma parte de sua terra (é possível ver essa posição aqui, por exemplo). Afinal, o agricultor preserva em prol de toda a sociedade e não é justo que pague sozinho por isso. Portanto, não é possível afirmar que “tanto a agricultura empresarial quanto a familiar se movem para conservar ao máximo a parcela destinada à produção nas propriedades. É verdade que os pequenos já têm uma área muito reduzida e qualquer restrição lhe dificulta a vida, por isso pedem a compensação, para garantir sua renda sem correr o risco de prejuízos futuros com a perda da produção por desabamento de morros, por exemplo.
Da mesma forma, não é correto dizer, que “a proposta do substitutivo de Rebelo [de não exigir reserva legal em propriedades de até quatro módulos - medida que varia de acordo com a região] é uma reivindicação da agricultura familiar, mas os ambientalistas insistem em manter a exigência para qualquer propriedade”. Em primeiro lugar, é sabido que essa proposta é de interesse dos ruralistas, que já começam a desmembrar suas terras para não precisar preservar nenhum hectare. E, em segundo lugar, o jornal rotula os participantes da discussão, fazendo-se valer do já amplamente alimentado preconceito contra os defensores do meio ambiente – os “xiitas” – para descaracterizar esse lado do debate.
Anistia
O mesmo acontece no ponto que trata da anistia a multas de quem já desmatou ilegalmente, apresentado como de desagrado dos “ambientalistas”. Os agricultores familiares não são citados, embora eles também se sintam lesados pela injustiça de ver criminosos isentos de punição da mesma forma que eles, que cumpriram a lei e preservaram.
Seguindo a lógica de tratar o tema como exclusivamente econômico, a Zero Hora levanta os prejuízos ao PIB gaúcho de manter a reserva legal em 20%, como manda o atual código florestal e diz a proposta do governo federal. Ignora, no entanto, que os danos ambientais causados pela diminuição da preservação também trarão prejuízos econômicos, além, é claro, da ameaça à vida de forma direta e indireta, atual e futura. Mas isso seria pedir demais ao jornal…
Quem pede e por quê?
Por fim, um último quadro diz “O que ainda pedem no RS”. O leitor mais atento procura no início e no fim do texto, nas letrinhas menores no canto, na legenda da foto, mas não encontra quem pede o que segue. E o que segue é um amontoado de ideias que não necessariamente vêm de uma mesma origem, mas são abordadas dessa forma genérica, como se se tratassem de reivindicações de todos os gaúchos, para o leitor desavisado. Um dos itens diz, por exemplo, que as Áreas de Preservação Permanente (APPs) seriam incluídas no cálculo da reserva legal, que deveria diminuir de 20% para 10% do tamanho do terreno.
Detalhe é que as APPs também não poderiam ultrapassar esses 10%. Tudo isso está dentro do item “Agricultura familiar”, donde subentende-se que se trata de uma proposta dos movimentos de pequenos agricultores. Mas quem acompanha de perto o debate sabe que a redução da reserva legal não é consenso entre eles e muito menos a limitação das APPs. Áreas de Preservação Permanente são, afinal de preservação, oras. Matas ciliares, encostas de morros, nascentes e banhados são enquadradas como APPs porque é preciso preservá-las para garantir um mínimo de sustentabilidade. Será que nunca se questionaram que isso não é por acaso?
O objetivo é confundir o leitor, que termina a leitura sem clareza sobre o que é defendido por quem e, principalmente, por quê. Isso tudo em um jornal de ampla circulação estadual, um veículo de “informação”…
Fora o fato de ter colocado o código florestal no caderno Dinheiro – porque, para eles, é só disso que se trata -, a Zero Hora fez uma reportagem ardilosa (continua aqui), que foi para a capa da edição de domingo. Em linhas gerais, é possível perceber, ainda na chamada de capa, que é adotada a estratégia do deputado Aldo Rebelo de colocar as alterações que interessam aos grandes ruralistas na boca dos pequenos agricultores. Ou seja, usar a agricultura familiar como desculpa para justificar alterações que beneficiam principalmente aos fazendeiros de grandes extensões de terra.
Agricultura familiar e reserva legal
Diversos movimentos de pequenos agricultores, como Fetraf-Sul e Via Campesina, concordam que o agricultor sabe a importância de preservar o meio ambiente, pois a degradação lhe trará prejuízos futuros, podendo afetar sua produção e sua renda. Por isso, não são contra a reserva legal, mas defendem a compensação financeira para quem preservar uma parte de sua terra (é possível ver essa posição aqui, por exemplo). Afinal, o agricultor preserva em prol de toda a sociedade e não é justo que pague sozinho por isso. Portanto, não é possível afirmar que “tanto a agricultura empresarial quanto a familiar se movem para conservar ao máximo a parcela destinada à produção nas propriedades. É verdade que os pequenos já têm uma área muito reduzida e qualquer restrição lhe dificulta a vida, por isso pedem a compensação, para garantir sua renda sem correr o risco de prejuízos futuros com a perda da produção por desabamento de morros, por exemplo.
Da mesma forma, não é correto dizer, que “a proposta do substitutivo de Rebelo [de não exigir reserva legal em propriedades de até quatro módulos - medida que varia de acordo com a região] é uma reivindicação da agricultura familiar, mas os ambientalistas insistem em manter a exigência para qualquer propriedade”. Em primeiro lugar, é sabido que essa proposta é de interesse dos ruralistas, que já começam a desmembrar suas terras para não precisar preservar nenhum hectare. E, em segundo lugar, o jornal rotula os participantes da discussão, fazendo-se valer do já amplamente alimentado preconceito contra os defensores do meio ambiente – os “xiitas” – para descaracterizar esse lado do debate.
Anistia
O mesmo acontece no ponto que trata da anistia a multas de quem já desmatou ilegalmente, apresentado como de desagrado dos “ambientalistas”. Os agricultores familiares não são citados, embora eles também se sintam lesados pela injustiça de ver criminosos isentos de punição da mesma forma que eles, que cumpriram a lei e preservaram.
Seguindo a lógica de tratar o tema como exclusivamente econômico, a Zero Hora levanta os prejuízos ao PIB gaúcho de manter a reserva legal em 20%, como manda o atual código florestal e diz a proposta do governo federal. Ignora, no entanto, que os danos ambientais causados pela diminuição da preservação também trarão prejuízos econômicos, além, é claro, da ameaça à vida de forma direta e indireta, atual e futura. Mas isso seria pedir demais ao jornal…
Quem pede e por quê?
Por fim, um último quadro diz “O que ainda pedem no RS”. O leitor mais atento procura no início e no fim do texto, nas letrinhas menores no canto, na legenda da foto, mas não encontra quem pede o que segue. E o que segue é um amontoado de ideias que não necessariamente vêm de uma mesma origem, mas são abordadas dessa forma genérica, como se se tratassem de reivindicações de todos os gaúchos, para o leitor desavisado. Um dos itens diz, por exemplo, que as Áreas de Preservação Permanente (APPs) seriam incluídas no cálculo da reserva legal, que deveria diminuir de 20% para 10% do tamanho do terreno.
Detalhe é que as APPs também não poderiam ultrapassar esses 10%. Tudo isso está dentro do item “Agricultura familiar”, donde subentende-se que se trata de uma proposta dos movimentos de pequenos agricultores. Mas quem acompanha de perto o debate sabe que a redução da reserva legal não é consenso entre eles e muito menos a limitação das APPs. Áreas de Preservação Permanente são, afinal de preservação, oras. Matas ciliares, encostas de morros, nascentes e banhados são enquadradas como APPs porque é preciso preservá-las para garantir um mínimo de sustentabilidade. Será que nunca se questionaram que isso não é por acaso?
O objetivo é confundir o leitor, que termina a leitura sem clareza sobre o que é defendido por quem e, principalmente, por quê. Isso tudo em um jornal de ampla circulação estadual, um veículo de “informação”…