#2BlogProg amadurece e encontra a união nas diferenças
Somos andando
Cristina Rodrigues
A percepção do papel da blogosfera na disputa contra-hegemônica pela informação no Brasil é o grande ganho deste um ano de debates intensos e acontecimentos extremamente marcantes. Entre o I e o II BlogProg, houve uma campanha eleitoral de baixo nível e pouco debate político, que pôde manter um mínimo de coerência e respeito ao eleitor (através do respeito à informação) muito em função da participação dos comunicadores digitais, através de blogs e redes sociais.
Muita coisa aconteceu neste meio tempo, e a consciência de seu papel intensificou-se na blogosfera. Ao mesmo tempo, questionamentos surgiram e problemas de outra natureza apareceram. De repente, os blogs progressistas viraram governistas para alguns dos militantes, que sequer se deram ao trabalho de compreender o significado e o motivo da sua crítica. Já faz tempo que me causa certo estranhamento esta visão distorcida sobra a identificação ideológica com algum partido que componha o governo. Afinal, o governo não é governo por acaso, essa conquista foi fruto de muita militância, da qual se deve ter orgulho. E orgulho, inclusive, pelo fato de ter conseguido eleger um projeto político diferente. O que, claro, não impede uma visão crítica, sempre presente entre os blogueiros progressistas.
Mas esse é tema secundário no debate. Até porque em nenhum momento os questionamentos desse e de outros tipos ofuscaram o BlogProg. Amadurecemos politicamente e o que poderia ser mais temerário não aconteceu: não rompemos, não ameaçamos nossa unidade em torno da luta comum. Mantemos nossas divergências pontuais, extremamente ricas para o debate, mas sabemos que estamos reunidos em torno de uma mesma causa. Que a democratização da comunicação é um ideal comum, independentemente de divergirmos acerca de alguns caminhos para chegar a ela.
Em agosto de 2010, boa parte de nós – eu incluída – não sabia muito bem o que representava a união dessa blogosfera. Sequer tinha noção de diversos problemas que já apareciam, como a Lei Azeredo, ou sobre debates também políticos mas mais tecnológicos, a exemplo da neutralidade da rede. O BlogProg contribui também aí, para a troca de informações e a denúncia das ameaças, que nos ajudam a orientar a resistência.
Os acontecimentos destes quase 12 meses entre o primeiro e o segundo encontro legitimaram a existência de um movimento de ativistas digitais, a ponto de, já na segunda edição, um ex-presidente – e não qualquer um! – e o ministro das Comunicações estarem na abertura do BlogProg, garantindo-lhe reconhecimento e credibilidade.
Crescemos, pois, conceitualmente e enquanto militância. Adquirimos conteúdo, trocamos ideias e fortalecemos nossa presença no cenário da comunicação brasileira. Compreendemos a unicidade conservadora da nossa imprensa tradicional e nos organizamos para pluralizá-la. A reunião de blogueiros no BlogProg faz sentido muito além do debate que se estabelece a cada mesa, mas pelo fato de marcarmos presença na agenda política das comunicações. Tornou-se um evento que não mais pode ser ignorado, que incomoda.
Mas o BlogProg faz sentido também pela reunião presencial de pessoas “virtuais”. Como disse Renato Rovai e eu cansei de registrar a cada encontro de que participei, fortalecemo-nos ao nos conhecermos.
Tornamo-nos amigos. Conhecemos como somos além do que escrevemos. Entendemos que temos diferenças, mas elas se dissolvem, porque não são assim tão grandes. Vemos que temos muito mais em comum e que estamos juntos. Crescemos mais ainda. E, bem, ganhamos amigos, oras.
Somos, afinal, um fraterno movimento de esquerda em defesa de mais espaço para cada um de nós, a tal da democratização da comunicação. E fazemos isso por entendermos que todos temos o que dizer. Que todos podemos produzir conteúdo.
Continuemos, pois, fortalecendo-nos nas diferenças.
Fotos: Cíntia Barenho