sábado, 25 de junho de 2011

foi em Sum Paulum, mas poderia ser nos arredores daqui? ou mais adiante?

Médica denuncia hospital em São Sebastião

Ricardo Kotscho do Balaio do Kotscho


Caros leitores,
no dia em que o Balaio completa seu primeiro mês no ar aqui no portal R7, agradeço ao pessoal da Agência África a renovação do contrato de patrocínio da Vale, até o final do ano.
Nesta manhã de quinta-feira, dia 23, viajo daqui a pouco para a Serra da Moeda, em Minas Gerais, onde vou encontrar os outros grupos de oração para o nosso retiro ecumênico anual de reflexão e meditação. Volto no domingo.
Bom feriadão a todos.
Abraços,
Ricardo Kotscho

***


Gosto muito da internet, entre outros motivos, por causa disso: até a família ajuda.

Recebi,  agora há pouco, e pelejei para copiar e colar aqui no blog, com a ajuda da minha mulher, Mara, um texto enviado pelo meu irmão, Ronaldo Kotscho, o popular Alemão, da ESPN, também velho jornalista.
Ele me mandou e pediu para publicar aqui no Balaio um corajoso desabafo da médica  Janete Martinez Peres (CRM 56515), do Hospital das Clínicas de São Sebastião, cidade histórica do litoral norte de São Paulo, onde ele mora atualmente.

Na semana em que o governo paulista descobriu que tem 50 médicos do serviço público ganhando sem trabalhar, incluindo o ex-Secretário de Esporte, Lazer e Juventude, o neurocirurgião Jorge Pagura, e mandou fazer uma investigação, com prazo de 60 dias, para descobrir o que está acontecendo nos nossos hospitais, reproduzo abaixo, sem nenhum comentário, por desnecessário, o testemunho da médica Janete Peres, publicado no jornal "Imprensa Livre".

Desabafo

"Há 22 anos, tomei uma grande decisão. Deixei São Paulo e vim morar no Litoral Norte. Estudei muito e fiz residência em saúde geral comunitária, pois sabia que viria para uma região que necessitava de profissional médico com vivências em todas as áreas básicas, embora ginecologia e obstetrícia fosse a minha melhor formação.

Acertei na decisão. Aqui conheci meu marido _  estamos juntos há 18 anos _, fiz minha casa, ganhei uma filha linda, tenho grandes amigos e conquistei meu espaço profissional.

Nestes 22 anos, muitas coisas mudaram para melhor: o acesso ao litoral, nossas estradas, a travessia da balsa, praias urbanizadas, novas escolas, entretenimento, shows, eventos gastronômicos e culturais _  ainda temos muitos problemas, mas, sem dúvida, viver aqui é bom.

Sinto, porém, que a beleza do mar, toda a natureza exuberante que nos cerca e o preparo constante para a “temporada”, tem nos tornado apáticos, indiferentes e paralisados diante de um grande problema.
Posso afirmar, sem medo de ser injusta, que São Sebastião encontra hoje, no seu único hospital, um “desserviço” à população, pois ali está sua única saída numa emergência ou num procedimento médico qualquer. Reajam, cidadãos de São Sebastião!

Não é possível que uma cidade maravilhosa como esta, com um dos maiores orçamentos do maior e mais rico Estado da nação, que recebe turistas de todos os níveis, tenha como única estrutura hospitalar o Hospital de Clínicas de São Sebastião.

Trata-se de um prédio construído há mais ou  menos 80 anos, com acomodações arcaicas, onde as enfermarias mais parecem um deposito humano (grandes salões com várias camas e um único banheiro), contrariando todas as normas técnicas sanitárias e de privacidade do paciente e seus familiares.

Nestes 22 anos que aqui estou, e há 18 anos trabalhando neste hospital, vejo a cada dia sua decadência, sua degeneração e seu atraso a passos largos.

A UTI, que foi o grande e último avanço, hoje está sucateada, trabalhando sempre em sua capacidade máxima. Apesar do esforço de seus profissionais, que, vez ou outra, perdem seu mentor, o médico que a montou, por ser uma pessoa polêmica, está demitido por fofocas e maledicências, nunca levando em consideração a perda da qualidade do serviço.

Saiu a Solus, saiu a Acqua, deixando um rastro de calote. O PSF não recebe salário (abril ainda não foi pago), a Solus não entrega nossa declaração de rendimentos, atrasa o faturamento do hospital, não se credenciou nos convênios, atrasou os repasses aos médicos. Não investiu em nada no hospital (fui passar visita num apartamento e o marido da minha paciente que pagou pelo parto estava dormindo no chão), temos serviço de hotelaria zero.

Agora temos um interventor e um secretário de saúde que assumiram o hospital. São  amigos de longos anos, companheiros. O secretário é meu colega, mas percebemos que não têm autonomia, não dispõe de recursos, não consegue implantar uma linha de gestão.

Cenário de um plantão meu na maternidade: não havia luvas, faltavam fios, tesouras que não cortam, pinças que não pinçam, médico-obstetra fazendo 11 cesáreas num dia,ultrapassando todos os limites de desrespeito ao atendimento materno-fetal.

No dia 15, dia de pagamento dos médicos, recebi $ 400 por um mês de trabalho porque os repasses do governo federal dos partos e cirurgias que fiz não chegaram à conta de quem trabalhou duro.

Conclamo: vamos reagir! Vereadores, comerciantes, estudantes, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, todos enfim, cidadãos de São Sebastião: vamos exigir uma solução técnica, decente e imediata para o nosso único hospital. Pergunto diariamente: afinal quem manda, quem decide neste hospital?
Dra. Janete Martinez Peres (CRM 56515)".

Com a palavra, o governo do Estado de São Paulo.

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