Carta à Liberdade - Por Sofia Cavedon
Vereadora Sofia CavedonArtigo publicado na edição desta quinta-feira (30) no jornal Zero Hora
Os poucos dias à frente da Prefeitura Municipal, momentos em que ficam aguçados os sentidos, aumentado ainda mais o senso de responsabilidade com o mandato concedido pelo povo, são como se tudo se tornasse urgente e contundente
Desta vez, a Vila liberdade pediu socorro. Desta vez, não, mais uma vez! Ciente de que uma das pautas era a falta de água, chamei o DMAE e fomos visitá-la. Seguindo o “mangueirão”- por onde a água supostamente chega às casas - como o fio de Ariadne, fomos entrando no labirinto inescrutável da capacidade de sobrevivência humana.
foto ricardo giusti/pmpa |
O “mangueirão” nos leva a incontáveis maneiras de lavar e secar roupas, tarefa que valorosas mulheres teimam em fazer, sem uma nesga de sol, em exíguos espaços. Pelos acessos estreitos pisamos no esgoto e no barro, driblados com tapetes velhos, lixo, tábuas, mas só vamos enxergar a verdadeira dimensão desta umidade e contaminação quando espiamos embaixo dos assoalhos – de quem os tem – e ali há muito mais!
foto ricardo giusti/pmpa |
“A palavra arrasta o povo” dizia Nejar. A certeza dos direitos, naquela vila que chamaram Liberdade, arrasta a esperança que eles mantem viva com a luta. Lá, eles vencem um Minotauro por dia, o difícil é sair do labirinto da absoluta falta de investimento, da desigualdade perpetuada pela materialidade da vida.
O dístico “minha casa, minha vida” nunca ganhou tanta significação, tanta urgência, tanta denúncia! É o sonho que faz com que o fio da luta não se parta e leve finalmente à saída do labirinto. Mas o insaciável Minotauro derrotado por Teseu, com suas novas faces contemporâneas e sua capacidade de reinvenção, não está assombrando só na Liberdade. Terá que ser derrotado pela coragem e teimosia dos que não se acomodam apenas alimentando o monstro!
Sofia Cavedon – Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre
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BAITASAR
OProfessor pede a palavra, peço silêncio na redação, fico calado (eu sou a redação)
"baitasar, concordo com a nossa vereadora Cavedon, os miseráveis estão na volta, basta abrir as vistas que desejarem enxergar."
Tento argumentar que a corrida do dia-a-dia
"merda, essa corrida... desculpa esfarrapada, não só para os políticos, todos e todas nós."
Ele está com a cuia na mão, penso em lembrar que a água esfria, mas acho que não é o momento
"guri, para os políticos transcrevo essa frase do Olívio
'Política não é profissão, mas uma missão transitória que deve ser assumida com responsabilidade'
e para os civis da política (que se dizem imunes e insujáveis) um pouquinho mais de atenção e discernimento, a vida vai nos fixando no egoísmo e na indiferença, e se você aceita... termina gostando."
OProfessor estende o braço e me oferece o chimarrão.
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