Um diálogo estratégico
Cristina Rodrigues no Somos andando
Um dos desafios do Fórum Internacional de Software Livre (Fisl) e da comunidade do software livre de um modo geral é abrir seu nicho, ampliar o debate e o conhecimento para o público em geral. A filosofia do código aberto, do livre compartilhamento de dados, é bonita pelo seu caráter de solidariedade. Mas a parte técnica assusta um pouco o público não acostumado com sua linguagem e sua complexidade.
Participei do Fisl pela primeira vez este ano, em sua 12ª edição, que acontece de 29 de junho a 2 de julho em Porto Alegre. Confesso que este não é exatamente meu chão. Não conheço programação e não domino nenhum tipo de formato e linguagem de desenvolvimento de software. Como blogueira participante de encontros de blogueir@s e militante pela democratização da comunicação, tenho sentido falta de me apropriar um pouco do conhecimento e do debate da ideologia e da tecnologia do software livre. As atividades – blogs e desenvolvimento de software livre – se complementam, dialogam entre si; ou pelo menos deveriam.
Na prática, os públicos, salvo algumas exceções, são bem diferentes, e os debates, também. Mas os objetivos sociais são semelhantes. Ambos partem da – e para a – mesma concepção de pluralidade e transparência. Mas os debates de blogueiros abordam um conteúdo mais político, até porque criar e manter um blog não exige nenhum conhecimento técnico específico muito aprofundado, é mais fácil; o blog se baseia essencialmente no conteúdo.
O debate do software livre, por outro lado, foca mais na plataforma, no que está por trás do conteúdo. Também há um fundo político no que se discute. Afinal, há a ideologia da liberdade e da solidariedade que o sustenta. Mas o debate é muito mais técnico e específico; por isso, apesar de reunir milhares de pessoas e ter uma militância bastante forte, sinto que há dificuldade em dialogar.
Em nenhum momento coloco em lados opostos os movimentos de blogueiros e de hackers do software livre. Não crio uma rivalidade – que não existe – nem critico um ou outro. Eles são diferentes, mas não se contrapõem. Ambos são importantes e complementares; por isso devem dialogar.
Meu objetivo, ao participar do Fisl, não é de virar programadora ou dominar o conteúdo debatido aqui. Até porque é um conteúdo muito especializado, e não é com a participação em um evento que vou me apropriar dele. Aliás, devo dizer que admiro a capacidade do pessoal que está aqui. Minha tentativa é tentar compreender um pouco este mundo para pouco a pouco aproximá-lo do meu – ou vice-versa.
Aproximando-nos, podemos ajudar a ampliar o debate, dos dois lados, e torna-lo mais atraente para quem vê de fora. A ideia é construir uma ponte para um debate comum, respeitando as especificidades de cada um, que fortaleça a luta pela democratização da comunicação e pela liberdade do conhecimento.
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Obs.: Espero não ter errado nenhum termo.
P.S.: Espero em breve conseguir comentar o ótimo debate do Governo Escuta durante o primeiro dia de Fisl.