Porque hoje é sábado, Leila Lopes
Fiquei irritado ao chegar em casa.
Ao invés de estudar,
minha filha assistia ao Miss Universo.
Mas vi aquelas cinco
e comecei a achar interessante
torcer pela negra.
O motivo era simples:
ela era a mais bela
e era angolana.
É um país envolvido com o materialismo básico da escola
do hospital, da estrada, do matar a fome, do tirar da miséria.
E ela ostentava (ostenta ainda)
uma cara incrível de brasileira,
pois nosso país — lembram? –
tinha a indignidade de importar gente de lá
que não queria vir para cá,
e que formaram nosso país com o que trouxeram
como o samba, a capoeira, a feijoada e tanta coisa que nem caberia aqui (como não coube).
Estatuinha (Edu Lobo / Gianfrancesco Guarnieri)
Se a mão livre do negro tocar na argila
O que é que vai nascer?
Vai nascer pote pra gente beber
Nasce panela pra gente comer
Nasce vasilha, nasce parede
Nasce estatuinha bonita de se ver
Se a mão livre do negro tocar na onça
O que é que vai nascer?
Vai nascer pele pra cobrir nossas vergonhas
Nasce tapete pra cobrir o nosso chão
Nasce caminha pra se ter nossa ialê
E atabaque pra se ter onde bater
Se a mão livre do negro tocar na palmeira
O que é que vai nascer?
Nasce choupana pra gente morar
E nasce rede pra gente se embalar
Nasce as esteiras pra gente deitar
Nasce os abanos pra gente abanar
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