sábado, 30 de março de 2013

“gente boa”, cidadãos “probos” e de “retidão de caráter”


E a banda empresarial que ajudou na repressão e no terrorismo de Estado durante a ditadura 64/85?


Diário Gauche




Os coniventes

O ex-deputado estadual e ex-marido da Dilma, Carlos Araújo, não é um ex-ativista político, pois recentemente voltou à militância partidária no PDT apesar de limitado pela saúde. Quando militava na resistência à ditadura, foi preso, junto com a Dilma, e os dois foram torturados. Depondo diante da Comissão Nacional da Verdade, esta semana, sobre sua experiência, Araújo lembrou a participação de empresários na repressão, muitas vezes assistindo à ou incentivando a tortura. Que eu saiba, foi a primeira vez que um depoente tocou no assunto nebuloso da cumplicidade do empresariado, através da famigerada Operação Bandeirantes, em São Paulo, ou da iniciativa individual, no terrorismo de Estado.

O assunto é nebuloso porque desapareceu no mesmo silêncio conveniente que se seguiu à queda do Collor e a revelação do esquema montado pelo P. C. Farias para canalizar todos os negócios com o governo através da sua firma, à qual alguns dos maiores empresários do país recorreram sem fazer muitas perguntas. A analogia só é falha porque não há comparação entre o empresário que goza vendo tortura ou julga estar salvando a pátria com sua cumplicidade na repressão selvagem e o empresário que quer apenas fazer bons negócios e se submete ao esquema de corrupção vigente. Mas a impunidade é comparável: o Collor foi derrubado, o P. C. Farias foi assassinado, mas nunca se ficou sabendo o nome dos empresários que participaram do esquema. Nunca se fez a CPI, não dos corruptos, mas dos corruptores, como cansou, literalmente, de pedir o senador Pedro Simon. No caso da repressão, talvez se chegue à punição ou, no mínimo, à identificação, de militares torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a tal Comissão da Verdade siga a sugestão do Araújo e jogue um pouco de luz nessa direção também.

A comparação nossa com a Argentina é quase uma fatalidade geográfica, somos os dois maiores países da América do Sul com pretensões e vaidades parecidas. Lá, o terrorismo de Estado foi mais terrível do que aqui, e sua expiação – com a condenação dos generais da repressão – está sendo mais rápida. Mas a rede de cumplicidade com a ditadura foi maior, incluindo a da Igreja, e dificilmente será julgada. Olha aí, pelo menos nessa podemos ganhar deles.



Artigo de Luis Fernando Veríssimo, publicado em diversos jornais do Brasil, hoje (21/3/13).


........................................................


A meu ver, a Comissão Nacional da Verdade está por demais tímida. O ex-deputado Carlos Araújo em depoimento à Comissão, segunda-feira passada em Porto Alegre, deu informações precisas e nominadas sobre a participação de empresários nas sessões de tortura a que foi submetido nas dependências da Operação Bandeirantes em São Paulo.


O coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro, um notório tucano, desconversou. Disse que “a Comissão está investigando os financiadores civis do Doi-Codi e da Oban”. Mais não disse, porque não interessa chafurdar nesse tema que pode pegar muita “gente boa”, cidadãos “probos” e de “retidão de caráter”. “Homens de bem”, como se autodenominam os bandalhos da direita em situação de risco e suspeita de seus atos e feitos públicos.


A propósito do tema, quero recomendar vivamente a leitura de uma reportagem que passou desapercebida (por motivos óbvios). Trata-se de uma longa entrevista concedida pelo ex-repressor, delegado José Paulo Bonchristiano, do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo, entre 1964 e 1983, à repórter Marina Amaral (Agência Pública) em fevereiro de 2012.

O delegado, hoje com 81 anos, “entrega” alguns figurões como Roberto Marinho (“este passava pessoalmente no Dops, toda a vez que vinha a São Paulo, pra ver se a gente não estava precisando de alguma coisa”), o “publisher” (como se autointitulava) Octávio Frias (Grupo Folha), que era instado por Marinho para auxiliar os delegados da repressão da Operação Bandeirantes, bem como o dono e fundador do Bradesco, Amador Aguiar, que segundo Bonchristiano, mandou tudo para mobiliar o Dops, “até máquina de escrever”. O velho delegado ainda conta detalhes da participação e dos cursinhos de capacitação ministrados pela CIA aos oficiais da repressão brasileira.


Leia matéria aqui. Está imperdível.



Fotografia: o delegado Bonchristiano e o jovem cantor Roberto Carlos. Delegados do DOPS faziam a "segurança" do programa de RC na antiga TV Record, década de '60. O "rei", hoje, poderia esclarecer essa sua preocupação primeva pela questão da "segurança".

fim do Viomundo


Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa


publicado em 29 de março de 2013 às 20:32

por Luiz Carlos Azenha no Viomundo

Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.

Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.

Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.

Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.

Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.

Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.

Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.

Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.

Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.

Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.

No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.

Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.

Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.

Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.

Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.

Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.

Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.

O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.

Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.

Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?

O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.

Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.

Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.

Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão — entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.

Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.

E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.

Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.

Eu os vejo por aí.

PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.

PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.

Leia também:

Justiça conclui que Ali Kamel não manda na Globo

quarta-feira, 27 de março de 2013

triste sociedade...


CQC submete Genoino a sessão de tortura psicológica

Posted by eduguim on 26/03/13 • Blog da Cidadania






O humor deveria servir para elevar o espírito do homem. Não sei se o humorismo é uma criação divina ou se alguém, algum dia, inventou essa verdadeira forma de arte. Seja quem for que o inventou, porém, não foi pensando em humilhar ou torturar ou em oferecer um instrumento de vingança aos pobres de espírito.

Alguns, como os “humoristas” do programa da TV Bandeirantes CQC, confundem ridicularizar pessoas com fazer humor. Ridicularia e humorismo, porém, não são a mesma coisa. Contudo, antes de abordar a tortura psicológica que eles vêm impondo a um ser humano, farei uma digressão inevitável.

Houve época em que os condenados por aquilo que diziam ser “justiça” – mas que, muitas vezes, não passava de instrumento de tortura usado por um grupo político, social, religioso ou étnico contra outro –, além de ir para o cárcere eram exibidos em praça pública em sessões de humilhação.

No momento em que escrevo, tenho na mente uma canção, “Geni e o Zepelim”, composta e cantada por Chico Buarque. Fez parte do musical Ópera do Malandro, do mesmo autor, lançado em 1978, e do álbum, de 1979, bem como do filme, de 1986 – todos com o mesmo nome.

A Ópera do Malandro conta, entre outras, a história de Geni, um travesti hostilizado na cidade.

O comandante de um dirigível (Zepelin) militar investe contra aquela cidade e decide destruí-la. Porém, apaixona-se por Geni. Sabendo disso, a mesma cidade que fustigava o travesti passa a lhe pedir que interceda por ela junto ao agressor.

Geni, então, usa de seu poder recém-adquirido sobre o militar e salva a cidade, que, na volta à rotina, volta a insultar e a humilhar quem a salvou.

A canção de Chico Buarque eclodiu durante a ditadura militar e teve tal relevância que seu refrão “Joga pedra na Geni” passou a ser usado contra pessoas ou ideias que, em determinadas circunstâncias políticas, viram alvo de execração pública.

A civilização, porém, acabou com as torturas (físicas ou morais) contra aqueles que infringem as leis. Em sociedades civilizadas, a pena de restrição de liberdade e de direitos vários se basta.

A tortura psicológica, a execração pública a que está sendo submetido um homem que entregou sua vida à causa da democracia e que por ela foi torturado fisicamente, portanto, não se coaduna com sociedades civilizadas, mas coaduna-se com o juízo farsesco que condenou José Genoino por “corrupção ativa”.

Só em um país em que pessoas são mandadas para a cadeia sem provas uma tortura mental como a do CQC pode ser aceita.

Pobre Genoino. É um homem sem posses. Tudo o que amealhou em termos de bens pessoais em sua vida parlamentar – atividade na qual a quase totalidade de seus pares no Congresso que o detratam, enriqueceram a olhos vistos – foi uma casa modesta num bairro modesto em São Paulo.

Condenado por “corrupção ativa”. Pobre Genoino. É de revirar o estômago.

Mas admiro a coragem dele. Poderia se recolher ao recesso do lar, à espera da execução da pena que poderá ter que cumprir porque, neste país de homens e mulheres avessos a se sacrificarem por uma causa, poucos entre os que enxergam a injustiça que está sendo cometida ao menos dirão publicamente que se recusam a aceita-la.

Sou dos que não aceitam e, mesmo sem ter como fazer alguma coisa, faço questão de dizer, em alto e bom som, que o que está sendo feito contra Genoino é uma ignominia.

E nem me refiro à condenação injusta e revoltante que lhe foi imposta pelo Supremo Tribunal Federal sob provas “tênues”. Refiro-me à tortura característica de regimes ditatoriais e medievais a que vem sendo submetido por seres amorais como os torturadores da Band.

Solidarizo-me com Genoino pelo linchamento moral que sofreu. Antes de tudo, ele é um ser humano que, mesmo condenado pela justiça, a civilização deveria impedir que fosse torturado, sendo a penalização exclusiva na forma da lei a única admissível. Força, portanto, companheiro. Você não está só.

*

PS: o CQC usou uma criança para humilhar Genoino. Que grande exemplo de cidadania esse menino recebeu. Aprendeu a tripudiar, a humilhar, a mentir e a ignorar os direitos e os sentimentos de um semelhante. Terá uma longa carreira na mídia que gerou a ditadura anterior, a qual não se limitou a torturar Genoino psicologicamente como fez o CQC.

*

Se tiver estômago, assista, abaixo, a uma legítima sessão de tortura. A uma punição extrajudicial que se choca com o próprio conceito de civilização. Do contrário, pule o vídeo e, logo abaixo, poderá ouvir a obra imorredoura de Chico Buarque: “Geni e o Zepelin”.

*

A tortura de Genoino pelo CQC



Geni e o Zepelin

domingo, 24 de março de 2013

revolução socialista bolivariana em marcha


Há sim uma revolução em curso na Venezuela, senhor Ferreira Gullar

Por Max Altman no SUL 21
Existe um expressão comum no mundo político da Venezuela – “saltar la talanquera” – que poderia ser traduzido por ‘pular sobre a barricada’ e que significa passar para o outro lado. Muita gente que na sua juventude, e por largos anos, abraçou os ideais do socialismo, resolveu “saltar la talanquera’, renegando, sob os mais variados pretextos, tudo o que pensava e defendia, e muda de lado, de mala e cuia. Como necessitam ser bem recebidos pelos novos correligionários, mostram-se crescentemente mais realistas que o rei. Ou seja, homens com uma história de esquerda passam a defender algumas das teses mais caras à direita. Mudar de lado não é um ato gratuito. Há que se pagar pedágio sempre – e ele é caro e exigente -, demonstrando por atos e palavras que são leais à nova trincheira e aos seus valores. É o caso de Arnaldo Jabor, Roberto Freire, Marcelo Madureira, Alberto Goldman e tantos outros. E do poeta e cronista Ferreira Gullar.
Gullar publicou na Folha de domingo, 17 de março, artigo sob o título “A revolução que não houve”. Não vou refutar suas posições ideológicas ou políticas. Eles tem as deles, nós, as nossas, e assim vamos travando a batalha de idéias. O que quero rebater são suas inverdades e distorções – e até um grave vilipêndio – acerca de fatos concretos. O poeta Gullar não pode alegar desconhecimento, pois é jornalista, nem ignorância, posto que é intelectual.
O articulista afirma que Hugo Chávez “não só fechou emissoras de televisão como criou as Milícias Bolivarianas, que, a exemplo da conhecida juventude nazista, inviabilizava pela força as manifestações políticas dos adversários do governo”. O sinal eletro-eletrônico, lá como aqui, é de propriedade do Estado. A concessão de transmissão por sinal aberto da RCTV – e este foi um caso único – deixou de ser renovada, entre muitas outras razões, pelo fato da emissora ter tramado e liderado o Golpe de Estado de abril de 2002 contra o presidente Chávez, fato cabalmente demonstrado no documentário “A Revolução Não Será Televisionada”. Nos Estados Unidos, por exemplo, esta ocorrência levaria os donos da estação a uma condenação severíssima. O sinal fechado da RCTV continua funcionando normalmente. À parte a odiosa e absurda comparação com as milícias hitleristas, a Lei Orgânica da Força Armada Bolivariana da Venezuela (FABV) estabelece que a Milícia Bolivariana, subordinada ao Comando Estratégico Operacional da Força Armada Bolivariana da Venezuela, tem como missão treinar, preparar e organizar o povo para a defesa integral com o fim de complementar o nível de prontidão operacional da FANB, contribuir para a manutenção da ordem interna, segurança, defesa e desenvolvimento integral da Nação com o propósito de coadjuvar e independência, soberania e integridade do espaço geográfico da Nação. Repto o Sr. Gullar ou qualquer outro a mencionar um só caso em que a Milícia Bolivariana tenha sido utilizada para inviabilizar, pela força ou não, qualquer manifestação política ou de outra ordem da oposição.
Diz mais o cronista: “O azar dele foi o câncer que o acometeu e que ele tentou encobrir. Quando não pode mais, lançou mão da teoria conspiratória, segundo a qual seu câncer foi obra dos norte-americanos.” Agora mesmo estamos assistindo à autorização da família do ex-presidente João Goulart para a sua exumação, 37 anos após o falecimento, porque há forte suspeita que ele tenha sido envenenado para induzir o ataque cardíaco pela Operação Condor, sabidamente apoiada e orientada pela CIA. Foi possível com Jango, porque não poderá ser com Chávez. A ciência provavelmente irá dirimir a dúvida em ambos os casos.
“De qualquer modo, tinha que se curar e foi tratar-se em Cuba, claro, para que ninguém soubesse da gravidade da doença…” Não é nada claro, Sr. Gullar. Vindo do Equador e do Brasil desce Chávez em Havana, caminhando com dificuldade e apoiado numa muleta. Foi estar com Fidel e com ele se queixou das dores. Fidel lhe fez uma enxurrada de perguntas e o convenceu a passar imediatamente por uma bateria de exames no melhor hospital de Havana. Foi nesse momento que se descobriu que carregava na região pélvica um tumor “do tamanho de uma bola de beisebol.” E lá mesmo passou pela primeira das quatro operações cirúrgicas. A Venezuela e o mundo todo souberam imediatamente da gravidade da doença e com algum detalhe. Razões de Estado sempre cercam enfermidades de chefes de Estado e de governo. Não obstante, no caso de Chávez foram 27 comunicados públicos ao longo dos quase dois anos, feitos por ele mesmo ou por ministros do governo. François Mitterrand passou dois setenatos carregando um câncer de próstata, que o acabou matando, sem que a opinião pública soubesse de algo. Antes dele, o presidente Georges Pompidou morreu no exercício do cargo, inesperadamente, de Macroglobulinemia de Waldenström e ninguém soube de nada, salvo alguns jornalistas que suspeitaram de seu súbito inchaço.
Gullar omite e distorce quando diz que “Para culminar, (Chávez) fez mudarem a Constituição para tornar possível sua reeleição sem limites. Aliás, é uma característica dos regimes ditos revolucionários não admitir a alternância no poder.” Na verdade, Chávez fez questão que a emenda constitucional permitindo a postulação indefinida passasse por referendo popular e não simplesmente aprovada pela Assembleia Nacional onde detinha praticamente a totalidade das cadeiras. (A oposição se recusara a concorrer às eleições legislativas.) Houve ampla e livre campanha e o SI ganhou por boa margem. O povo assim decidiu. A propósito, nos Estados Unidos havia uma tradição de apenas dois mandatos de quatro anos mas nada na Constituição impedia a postulação indefinida. Roosevelt foi eleito em 1932, reeleito em 1936, novamente eleito em 1940 e outra vez eleito em 1944. Faleceu em abril de 1945 com apenas 63 anos. Seria facilmente reeleito pela 5ª, 6ª e 7ª vez, pois saíra vitorioso da Segunda Guerra Mundial e os Estados Unidos confirmavam a condição de super-potência. Alguém tisnou de anti-democrático a contínua reeleição de Roosevelt ? Essa possibilidade foi revogada posteriormente por uma eventual maioria republicana.
O articulista envereda sibilina e maliciosamente pelo terreno jurídico. “Contra a Constituição, Nicolás Maduro … assume o governo, embora já não gozasse, de fato, da condição de vice-presidente, já que o mandato do próprio Chávez terminara.” E mais adiante “Mas, na Venezuela de hoje, a lei e a lógica não valem. Por isso mesmo, o próprio Tribunal Supremo de Justiça – de maioria chavista, claro – legitimou a fraude, e a farsa prosseguiu até a morte de Chávez; morte essa que ninguém sabe quando, de fato, ocorreu.” O sr. Gullar nunca se referiu ao nosso STF como de maioria tucana, claro, em especial durante o julgamento midiático da AP 470. Os membros da Suprema Corte na Venezuela, que devem ser cidadãos de reconhecida honorabilidade e juristas de notória competência, gozar de boa reputação e ter exercido a advocacia ou o magistério em ciências sociais por pelo menos 15 anos, e possuir reconhecido prestígio no desempenho de suas funções, são eleitos por um período único de 12 anos. Postulam-se ou são postulados ante o Comitê de Postulações Judiciais. O comitê, ouvida a comunidade jurídica, envia uma pré-seleção ao Poder Cidadão, que, por sua vez, faz uma nova pré-seleção e a envia à Assembleia Nacional que fará a seleção definitiva. (arts. 263 e 264 da Constituição Bolivariana). Cabe, por outro lado, à Sala Constitucional do Tribunal Supremo da Venezuela (art. 266) exercer a jurisdição constitucional, como única intérprete da Constituição. E ela considerou, em decisão articulada e bem fundamentada, que: a) pelo fato de estar ainda em curso a licença concedida pela Assembleia Nacional ao presidente Chávez; b) que havia uma continuidade administrativa pois Chávez havia sido reeleito; a posse poderia se dar em outro momento e ante o TSJ, fato também previsto na Constituição e que Nicol ás Maduro poderia continuar exercendo a vice-presidência executiva. (Na Venezuela o vice-presidente é indicado pelo presidente e não eleito conjuntamente.) Com a morte de Chávez, aplicou-se o art. 233, passando Maduro a exercer o cargo de Presidente Encarregado, obrigando-se a convocar eleições em 30 dias, o que foi feito.
E onde reside o vilipêndio, a ignomínia de Ferreira Gullar ? Repetindo maquinalmente o que a extrema-direita golpista e corrupta da Venezuela alardeou, afirma que a farsa prosseguiu até a morte de Chávez, que ninguém sabe quando de fato ocorreu. Isto é uma grave ofensa antes de mais nada à dignidade dos pais, irmãos e filhos de Hugo Chávez, porquanto afirmar que ninguém sabe quando ocorreu a morte é imputar à família do presidente participação numa farsa. As filhas de Chávez em discursos emocionados, num e noutro momento, repeliram a rancorosa e covarde acusação, reafirmando que Chávez faleceu, quase diante de seus olhos, no dia 5 de março no hospital militar de Caracas, exatamente às 16 h25.
E por quê afirmo no título que há uma revolução socialista bolivariana em marcha ? Evidentes êxitos dos programas sociais do governo Chávez não a caracterizaria. Esta proeza pode ser alcançada por países em regime capitalista. Há, porém, um dado da realidade na Venezuela: a massa pobre e de trabalhadores alcançou um bom nível de consciência política e ideológica e está organizada. Vale-se do Partido Socialista Unido da Venezuela para a sua mobilização. E dispõe-se a respaldar o governo a fim de levar adiante o “Plano Socialista da Nação – 2013-2019”, programa histórico de cinco objetivos fundamentais, que tem por lema ‘desenvolvimento, progresso, independência, socialismo’.
Sempre com fundamento na Constituição que estabelece que a soberania reside intransferivelmente no povo que a exerce diretamente na forma prevista na Carta Magna e nas leis e indiretamente, mediante o sufrágio direto e secreto, Chávez liderou a expansão da democracia participativa, diminuiu o peso do empresariado, dos meios comerciais de comunicação e das casamatas mais retrógadas do aparelho estatal, especialmente no sistema judiciário. Criou com isso a base social que permite agora avançar na transformação socialista em curso, trazendo a Força Armada para dela lealmente participar.
Uma das mais relevantes medidas de transferência de poder ao povo é a criação e o desenvolvimento do poder comunal. Trata-se de pequenas áreas geográficas, distritos ou bairros, que funcionam como instituições políticas e que também podem organizar seus próprios serviços públicos, constituir empresas para diferentes atividades e receber financiamento direto do governo nacional. Busca-se, assim, esvaziar os estamentos burocráticos ainda controlados ou corrompidos pelos antigos senhores.
Ao contrário de outras experiências de identidade socialista, a ampliação da democracia direta não foi acompanhada pela redução de liberdades, mesmo daqueles setores que participaram do golpe de Estado em 2002 ou que insistem na oposição golpista. Não se tolheu a liberdade de expressão nem a liberdade de imprensa. Partidos de cariz neoliberal, de direita, sociais-democratas ou ultra-esquerdistas continuam a funcionar normalmente com ampla liberdade de organização e manifestação pacífica.
Dois fortes sinais indicam que a revolução socialista bolivariana está atingindo um ponto de não retorno. O primeiro foi o extraordinário comportamento do povo venezuelano diante da morte de seu comandante-presidente. Milhões saíram às ruas para homenageá-lo. Embora comovido, mostrou-se sereno, pacífico, responsável e democrático. Isto permitiu que o governo funcionasse e, principalmente, a estabilidade institucional fosse garantida. Não caiu nas provocações alimentadas por setores raivosos da direita. Reagiu com senso civilizado extraordinário, com dignidade. No entanto, como se pôde assistir, disposto a qualquer coisa para defender o legado de Hugo Chávez, o progresso e as conquistas sociais, o desenvolvimento da economia, a soberania e a independência da pátria, a consolidação da integração regional latino-americana.
O segundo sinal está por vir e será a confirmação desta vontade popular. No dia 14 de abril serão realizadas eleições livres, justas e transparentes, como garante o Conselho Nacional Eleitoral, para presidente da Venezuela. A vitória de Nicolás Maduro constituirá um marco histórico e dará início a uma nova etapa da revolução socialista bolivariana.
Max Altman é membro do coletivo da Secretaria de Relações Internacionais do PT

sábado, 23 de março de 2013

Nunca teve tanto pobre na Universidade e comida na mesa... longa vida a Dilma!


A pedido de leitor: Dilma, a imbatível

Postado por Juremir em 23 de março de 2013 - Correio do Povo


Quem é mais sábio: o povo, que julga pelo real, ou a mídia, que julga pelo ideal? Quem é mais interesseiro: a massa, que avalia pelos benefícios que recebe, bolsa-família, ProUni, Minha Casa Minha Vida, cotas e outros do mesmo gênero, ou o empresariado e a turma dos camarotes, que só gostam de quem reduz impostos e empresta dinheiro barato? Essas questões aparecem com a divulgação da pesquisa sobre a popularidade da presidente Dilma.

O “poste” de Lula venceu o criador. Nem o ex-presidente petista nem FHC alcançaram 63% de bom e ótimo na avaliação das pessoas depois de dois anos de governo.

Os críticos de Dilma comparam o Brasil com um ideal jamais atingido ou com um mundo desenvolvido perfeito que também não existe mais. A população, com os pés no chão, compara o Brasil com o Brasil de antes. As suas conclusões são irrefutáveis: apesar dos problemas e do atoleiro econômico, nunca teve tanto pobre na universidade, jamais se teve uma classe C tão encorpada e nunca a maioria teve comida na mesa como agora. Os críticos de Hugo Chávez comparavam o governo dele com uma democracia ideal que nunca existiu no país. A plebe que adorava o Comandante e elegerá Maduro compara a Venezuela de hoje com a Venezuela de antes de Chávez. Por exemplo, a Venezuela da época de Carlos Andrés Perez. Só isso.

– Somos pragmáticos – foi o que me disse um pedreiro.

Achei que ele poderia fazer parte do Instituto Millenium. Esperei que me dissesse também que as ideologias acabaram e que não há mais direita e esquerda.

– Para nós, o pobrerio, a esquerda é que tem feito o que interessa. A nossa vida mudou depois de Lula e Dilma.

A dificuldade de entender Chávez, Lula e Dilma, para quem julga pelo ideal, cresce com a questão das prioridades. Os antecessores de Chávez, diante da falta de recursos para cobrir todas as necessidades, optavam por favorecer os mais ricos. O dinheiro do petróleo deveria ir primeiro para o “andar de cima”. A massa que esperasse o bolo crescer. Chávez inverteu a receita. Lula e Dilma também. Sempre que essa inversão acontece, quem perde grossas fatias passa a valorizar o que antes era visto como acessório: o formalismo da “democracia”. Os adeptos da ditadura de Pinochet não se preocupavam com a democracia por considerarem o crescimento econômico, distribuído em primeiro lugar para a parte de cima da tabela, um valor maior. O mesmo, pelo lado inverso, acontece na Venezuela. A população que finalmente passou a comer considera isso determinante. Melhor é o ideal.

Na falta do ideal, joga-se com o real. Dilma Rousseff tem dado um baile de gestão dentro das condições possíveis e dos limites da economia nacional atrelada à conjuntura internacional e mais a massa miojo e o hino do Palmeiras no meio da redação. Se a eleição fosse hoje, ela ganharia, por mérito e astúcia do eleitor, já no primeiro turno. Bateria Aécio, Serra, Marina, Eduardo Campos e até o pai do Badanha, que não concorrerá por não ser bobo e preferir um cargo no segundo escalão. Aceitaria também, em nome da governabilidade e dos altos interesses da nação, ser ministro.

Dilma está imbatível.

meus alunos da escola pública estão na Universidade... longa vida ao Lula!


Agora eles tentam derrubar Lula da ex-Presidência da República

Posted by eduguim on 23/03/13 • Blog da Cidadania




A frase que intitula este texto deriva de brincadeira que tomou as redes sociais na internet na última sexta-feira por conta de mais uma “denúncia” do jornal Folha de São Paulo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – sobre palestras que ele dá no exterior.

A tal “denúncia” virou motivo de piada porque pretendeu negar a um cidadão em pleno exercício de seus direitos constitucionais a prerrogativa de todo ex-presidente da República de ter apoio do Estado ao fim de seu mandato e o direito a atividades estritamente privadas que a outros ex-presidentes jamais foram negadas.

Aqui e em muitos outros países democráticos – como nos Estados Unidos, por exemplo – ex-presidentes se tornam instituições nacionais. Além de direito a segurança e a proventos, quase todos eles se tornam palestrantes e são remunerados por isso – com maior ou menor êxito.

De Bill Clinton a Fernando Henrique Cardoso, ex-presidentes fundam institutos que levam seus nomes e que reúnem acervos contando a história de suas passagens pela Presidência, além de desenvolverem estudos políticos, econômicos e sociais.

Outro ex-presidente norte-americano que têm um instituto que atua fortemente em consonância com seu patrono é o prêmio Nobel da Paz Jimmy Carter, que atua em direitos humanos e até em fiscalização de eleições em várias partes do mundo, além de o próprio Carter ser um renomado palestrante.

FHC deu muita palestra remunerada, tem direito a todos os benefícios do Estado concedidos a Lula, inclusive suporte em missões no exterior, pois não se imagina que quando um ex-presidente visita outro país a representação diplomática desse país o trate como qualquer um.

No entanto, no dia seguinte à denúncia da Folha de que Lula faz o que tantos outros ex-presidentes fazem em termos de palestrar no exterior com despesas e até honorários pagos pelos anfitriões, o jornal voltou à carga “denunciando” que as representações diplomáticas brasileiras lhe dão suporte quando visita os países em que estão sediadas.

Nunca se viu isso em relação a nenhum outro ex-presidente. Até uma doação de quase meio milhão de reais de dinheiro público ao ex-presidente FHC não mereceu da própria Folha mais do que uma notinha escondida nas páginas internas – e que após ser publicada nunca mais foi notícia.

A “denúncia” contra Lula, porém, além de ganhar destaque principal na primeira página do jornal na sexta-feira continuou sendo martelada no sábado, agora sob a “revelação bombástica” de que a visita de um ex-presidente a outros países gera custos às representações diplomáticas brasileiras sediadas neles.

Eis por que faz todo sentido a piada que surgiu na internet. O jornal em questão, bem como alguns outros veículos da imprensa escrita e eletrônica, passaram anos tentando derrubar Lula da Presidência da República e, agora, querem derrubá-lo da condição de ex-presidente.

Nesse ponto, vale uma reflexão: o que a última pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial de 2014 e a mais nova “denúncia” contra o ex-presidente têm a ver uma com a outra? Na opinião deste que escreve, pesquisa e denúncia têm tudo a ver.

As duas iniciativas de uma das quatro cabeças da hidra reacionária e despótica que há 500 anos aterroriza o Brasil decorrem da mesma obsessão da direita midiática em derrotar Lula através da arma mais poderosa de que ela sempre dispôs: a difamação.

E impedir a reeleição de Dilma Rousseff não passa de outro capítulo dessa odisseia reacionária, pois seu governo é produto do respeito, da admiração e da confiança que a maioria massacrante do povo brasileiro concedeu e continua concedendo ao ex-presidente.

A tal “principal arma” da dita “imprensa” que atua como partido político de oposição perdeu a eficácia contra Lula e não foi por acaso. Isso porque esses veículos ainda acreditam que podem inventar um cenário para o país e fazê-lo virar realidade.

Um dos fenômenos administrativos mais comentados é a preservação da condição de vida dos brasileiros em um momento em que o mundo padece sob a crise econômica mais grave da história. Contudo, a oposição brasileira e sua mídia insistem em tentar pintar uma realidade totalmente diferente.

Oposicionistas queridinhos da mídia vivem dizendo que o país “está em frangalhos” apesar de a qualidade de vida no Brasil ser hoje a melhor em toda sua história, com pleno emprego, crescimento e distribuição de renda a todo vapor. E a mídia endossa tal premissa oposicionista.

Sempre digo que quem votou em Lula em 2006 e em sua indicada em 2010 apesar da tempestade de acusações contra ele e ela durante aqueles processos eleitorais – e que hoje está sendo recompensado por isso –, dificilmente mudará de opinião.

Não existe nenhuma acusação a Lula hoje que não tenha sido feita até 2010, ano em que colheu sua terceira estrondosa vitória eleitoral consecutiva sobre seus inimigos políticos, que há muito deixaram de ser adversários.

Note-se que o período mais fértil para tais inimigos lograrem desmoralizá-lo e inflarem o anti-Lula da vez foi entre 2008 e 2009, quando o desemprego aumentou e a renda das famílias sofreu alguma queda devido à crise internacional.

Todavia, nem quando aquele período crítico lambeu a condição de vida dos brasileiros Lula sofreu perda de popularidade. Isso ocorreu porque ficou claro para a sociedade que o que ocorria era conjuntural e que o governo saberia reverter a situação, como de fato reverteu.

E é claro que as medidas populares que Dilma vem tomando, como reduzir os juros, o preço da energia elétrica, os impostos da cesta básica e tudo mais que vem fazendo em benefício da população, ajudam a aumentar ainda mais a aprovação da presidente.

Assim, ao menos mais da metade do eleitorado brasileiro está convencido de que a dita “grande imprensa” é inimiga de Lula e Dilma e aliada de seus opositores e, por conta disso, não leva em conta seus ataques a eles.

Não é pouca coisa que em plena tempestade de “notícias ruins” exageradas ou inventadas que a mídia oposicionista tenta contrapor à realidade concomitantemente com a glamourização de possíveis adversários de Dilma no ano que vem, que ela e Lula apareçam como virtualmente eleitos em primeiro turno naquele pleito.

E o que é mais: os adversários dos petistas que vêm sendo incensados por esses veículos – quais sejam, Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves, sem falar do imorredouro amor midiático por José Serra, que já virou obsessão – em vez de se beneficiarem da artilharia midiática antipetista, perderam votos.

O fato, portanto, é que uma crescente maioria dos brasileiros sabe direitinho que há em curso uma conspiração dos mais ricos contra os avanços sociais que a maioria empobrecida ou remediada vem experimentando.

É óbvio que não se pode cantar vitória antes do tempo, até porque golpes de última hora continuarão sendo engendrados até o fechamento das urnas em 2014. Contudo, está claro que a estratégia de inventar uma realidade sobre o país ou difamar Lula e Dilma, não vai funcionar.

Mas a pior notícia para a oposição vem agora: só como exercício, venho tentando engendrar uma estratégia mais inteligente contra os petistas e a conclusão a que chego é a de que a estratégia em curso é a única possível, a despeito de seus defeitos insanáveis.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Uma luta virtual? Uma luta real? Uma luta desigual?


Caio Lustosa: “As margens do Guaíba não podem ser privatizadas”

Mar 19th, 2013 by Marco Aurélio Weissheimer no RS Urgente




Na próxima quinta-feira (21), às 14 horas, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul vai julgar o recurso impetrado pelos autores de uma ação popular contra a privatização da área do antigo Estaleiro Só, na Ponta do Melo, Zona Sul de Porto Alegre. Esse recurso contesta a decisão da juíza da Vara Ambiental do Fórum da Tristeza, que em agosto do ano passado extinguiu a ação por julgar ilegítimos os seus autores. O relator, desembargador Carlos Eduardo Duro, mais dois de seus pares vão julgar em preliminar se os autores têm ou não legitimidade e direito de entrar com a ação popular.

Se o Tribunal se achar competente e informado para julgar o mérito com as provas apresentadas no processo, poderá apreciar a questão que está posta: quem é dono das margens do Guaíba e se existiu a caducidade do aforamento da área após a falência do Estaleiro Só.

O advogado e ambientalista Caio Lustosa, um dos impetrantes da ação popular, considera que a decisão da juíza é absurda, porque entrar com uma ação popular é um direito fundamental do cidadão, basta que atenda três requisitos: ser brasileiro, ser eleitor e juntar prova. “Foi contra essa decisão que nós recorremos e esperamos solução no dia 21.”

Caio diz que é preciso esclarecer a população sobre quem é o legítimo proprietário da área. “Sustentamos no processo que o legítimo proprietário é o Estado do Rio Grande do Sul, porque, desde as constituições de 1934, as margens de rios estaduais (e o Guaíba é um rio estadual) são de domínio público do estado e, portanto não podem ser privatizadas.

A história do caso
Em 1949, houve uma concessão do Município com apoio do Estado ao Estaleiro Só para que instalasse sua indústria naval na Ponta do Melo. Essa indústria teve seu apogeu na década de 1970, chegando a ter três mil funcionários, mas entrou em declínio na década de 1980. Quando ocorreu a falência, em 1995, foi promovido um leilão de seus bens sob a alegação de que era necessário arrecadar fundos para indenizar os operários.

Mas o terreno tinha apenas sido cedido ao Estaleiro, não fazia parte dos bens. Com a falência, o aforamento caiu por terra, e a área deveria ter voltado ao patrimônio do Estado, alegam os autores da ação popular. Para eles, desde 2005, o município passou a agir com desvio de poder, referendando a transferência da área – adquirida por R$ 7,2 milhões – apoiada em leis votadas pela Câmara de Vereadores. A constitucionalidade dessas leis foi contestada, mas uma consulta popular com menos de dez mil participantes foi usada para referendar e sacramentar essas irregularidades. Caio diz que essa consulta foi uma farsa. Os autores da ação convidam a população a acompanhar o julgamento que será realizado na avenida Borges de Medeiros, 1565:

“Se a comunidade se mobiliza em defesa de um bem ambiental, são maiores as possibilidades de vitória. Foi assim em 1986, quando se evitou a privatização da área do Parque da Harmonia, onde queriam construir um shopping e um hotel de luxo, com a concordância da Câmara de Vereadores. Houve uma grande mobilização, com subida à chaminé da Usina e abraço simbólico ao Guaíba. Outro exemplo de como funciona a mobilização popular ocorreu recentemente: o clamor público conseguiu sustar, por enquanto, o corte de árvores no entorno da Usina. Os juízes têm que valorizar os anseios da sociedade e não os interesses de um grupo minoritário”.

terça-feira, 19 de março de 2013

“A única verdade é a realidade”


A política e o presente das coisas passadas

O tempo e a política

Marco Weissheimer

Começo hoje um novo desafio: uma coluna política aqui no Sul21. Inicialmente, ela será publicada três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas, sempre por volta das 8 horas da manhã. Dizer que é um desafio não é um mero artifício retórico por uma dupla razão. Em primeiro lugar, sustentar uma coluna regular com informação e análise de qualidade não é tarefa fácil ou simples. E será a minha primeira experiência nesta seara. Em segundo, esse espaço terá a pretensão de escapar de algumas das armadilhas que espreitam tais iniciativas, ainda mais em se tratando de política: escapar das picuinhas, das fofocas, de pequenas intrigas plantadas e de outras mesquinharias do gênero. A ideia é tratar da Política com “p” maiúsculo, reconhecendo, é claro, que a política diária é recheada de “pes” minúsculos. Justamente por isso – pela ampla proliferação e circulação dos minúsculos -, e pela ampla cobertura negativa da atividade política, esse espaço se propõe a mostrar que, diariamente, ocorrem coisas extraordinárias e de grande interesse público que são resultados da Política.
Falar é fácil, dizem. Na verdade, não é tão fácil. Cada vez menos, neste mundo virtual saturado de palavras, opiniões e imagens que, muitas vezes, atuam mais como ruídos bloqueadores do sentido e da reflexão do que qualquer outra coisa. Enfim, a ideia é tratar a Política como uma atividade digna, criativa e necessária para a construção de uma democracia comprometida com o interesse público e os bens comuns necessários à vida. Cabe observar que essa Política não se encontra apenas nos espaços tradicionais de governos e mandatos. Cada vez mais, ela é feita também em outros territórios da sociedade com conexões e realizações que nem sempre têm a visibilidade que merecem.
Este espaço, é importante assinalar, desde logo, não pretende ser isento ou imparcial. Ao contrário, assume compromissos com alguns temas que julga essenciais e urgentes: a defesa do aprofundamento da democracia, da prioridade do interesse público sobre interesses privados, da subordinação do direito à propriedade ao direito à vida, da defesa do meio ambiente diante da fúria enlouquecida das hostes de empreendedores de todas as matizes, a crítica à violação de direitos em cascata – direitos humanos, sociais, trabalhistas, ambientais e culturais -, a defesa de uma comunicação pública crítica e de qualidade, e, por fim, mas não menos importante, a defesa da memória como elemento construtor de um presente não alienado e de um futuro prenhe de esperança.
Santo Agostinho (Ordem dos Agostianos -www.agustinosrecoletos.com )
 A lição de Santo Agostinho sobre o tempo
Este não é um detalhe menor. Santo Agostinho tratou, nasConfissões, do conceito de tempo segundo três perspectivas. Segundo ele, nós só vivemos no presente, mas este presente tem várias dimensões: “o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes e o presente das coisas futuras”. O tratamento que se pretende dar à Política aqui reivindica essa tripla dimensão temporal. É impossível falar, com sentido, do presente das coisas presentes do Estado do Rio Grande do Sul sem olhar para o presente das coisas passadas e sem apontar para o presente das coisas futuras. E, no que diz respeito à conjuntura política do Rio Grande do Sul e do Brasil, de modo geral, o falar do presente das coisas passadas é uma tarefa urgente, dada a sistemática cultura do esquecimento em relação a escolhas que foram feitas e que ainda repercutem no presente e cercam o próprio futuro. Bem, essa é a declaração de intenções básica deste espaço. Ao trabalho.
Comissão da Verdade: as escolhas da ditadura ainda ecoam
Falando da importância do presente das coisas passadas, é de grande importância a audiência pública da Comissão Nacional da Verdade, marcada para esta segunda-feira (18), em Porto Alegre (no auditório da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, rua Celeste Gobato, 81). Além da apresentação de relatos e documentos sobre violações de Direitos Humanos ocorridas no Estado durante a ditadura, a audiência pública também debaterá as suspeitas que ainda cercam a morte do ex-presidente João Goulart e a Operação Condor.
Não se trata aqui, absolutamente, de debater um passado distante e enterrado, como incrivelmente ainda querem alguns. Muitos dos problemas estruturais que a população do Rio Grande do Sul enfrenta hoje, em seu dia a dia, são tributários de escolhas feitas naquele período. Escolhas relacionadas a um modelo de desenvolvimento e de organização política e social. O esquecimento em relação a essas escolhas só interessa aos seus protagonistas que ainda pontificam entre nós, alguns deles apresentando-se, sem ruborizar, como paladinos da democracia.
Se a comunicação fosse tratada como uma área de interesse público como ocorre com a saúde, a educação e a segurança pública, um encontro como este deveria ser transmitido ao vivo para a população, com ampla cobertura. A sonegação dessa história e o ocultamento de seus laços com o presente não são o melhor caminho para aperfeiçoar a nossa democracia e para enfrentar os nossos problemas.
Há um extraordinário – e muito pouco divulgado – trabalho a respeito: A Ditadura de Segurança Nacional no Rio Grande do Sul (1964-1985)”, uma publicação em quatro volumes organizada por Enrique Serra Padrós, Vânia M. Barbosa, Vanessa Albertinence Lopez e Ananda Simões Fernandes, resultado de uma parceria da Escola do Legislativo da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul com o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2009. Essa é uma daquelas iniciativas apoiadas por um poder político, mencionadas acima, que são praticamente ignoradas pelo sistema midiático tradicional e que acabam ficando distantes (muito distantes) da população.
Horácio Verbitsky | Foto: Página/12
 Verbitsky: “A única verdade é a realidade”
O trabalho de cultivar permanentemente o presente das coisas passadas adquire maior importância neste momento em que se debate a atuação do novo líder da Igreja Católica, Jorge Bergoglio, durante a ditadura argentina. Há quem queira sepultar esse debate, reduzi-lo a um suposto revanchismo de uma “esquerda anticlerical”, como disse o Vaticano, e transformá-lo em mais um espetáculo midiático que transforma atores sociais em celebridades a-históricas. Para quem não se satisfaz com esse tipo de abordagem, fica aqui uma sugestão: a leitura dos artigos do jornalista Horácio Verbitsky, do Página/12, um dos principais pesquisadores dos crimes da(s) ditadura (s) em seu país e em outras terras da América Latina. Após ser atacado diretamente pelo Vaticano, Verbitsky publica neste domingo no Página/12 a sua resposta. O título é auto-explicativo: “A única verdade é a realidade”.
“A atitude de Jorge Bergoglio durante a ditadura surge de testemunhos dos sacerdotes sequestrados, de seus familiares e de outros protagonistas, assim como de documentos oficiais e da Igreja, e não como parte de uma campanha anticlerical, como afirmou o porta-voz do Vaticano”, diz Verbitsky, que divulga um documento, assinado por Bergoglio, imputando a sacerdotes jesuítas (que seriam presos e torturados pela ditadura) contato com guerrilheiros. Para quem quiser ler, segue o link da íntegra do artigo.

sábado, 16 de março de 2013

Vem aí a Privataria Tucana II... afundar a Petrobrás para flutuar a PetrobraX


Privataria tucana ressuscita e quer entregar o pré-sal

Posted by eduguim on 16/03/13 • Blog da Cidadania







Nos anos 1990, o governo Fernando Henrique Cardoso vendeu por cerca de cem bilhões de dólares um portfólio de patrimônio público que, à época, valia, no mínimo, o triplo. Para que se possa mensurar o tamanho do roubo de patrimônio, a mineradora então chamada Vale do Rio Doce foi vendida a estrangeiros por cerca de um ano de faturamento.

Esse processo de entrega do patrimônio público a grupos econômicos estrangeiros a preço vil ficou conhecido como A Privataria Tucana e virou um livro que relata o rápido enriquecimento do condutor das privatizações, o tucano José Serra.

O resultado da Privataria Tucana foi tão desastroso para o país que a maioria dos brasileiros (62%) acabou rejeitando a privatização de serviços públicos, segundo apontou pesquisa realizada pelo jornal O Estado de São Paulo em parceria com o instituto Ipsos.

Segundo a pesquisa, apenas 25% dos brasileiros aprovam as privatizações da era FHC. A percepção é a de que elas pioraram os serviços prestados à população nos setores de telefonia, estradas, energia elétrica, água e esgoto. As mais altas taxas de rejeição (73%) estão no segmento de nível superior e nas classes A e B.

No início do processo, em dezembro de 1994 (ano em que FHC se elegeu presidente pela primeira vez), pesquisa Ibope sobre privatização mostrou que 57% eram a favor e só 31% eram contrários. Em março de 1995, outra pesquisa Ibope atestou que 43% dos brasileiros eram a favor das privatizações e 34% eram contrários.

A mudança de opinião dos brasileiros sobre as privatizações ocorreu a partir da década passada, lá pelo fim do governo FHC (2002), quando o resultado da venda a qualquer preço do patrimônio público se mostrou um desastre.

Hoje, graças aos contratos que o ex-presidente tucano assinou, temos, por exemplo, a telefonia e a energia elétrica entre as mais caras do mundo.

Desde a eleição presidencial de 2002 (que escolheu o sucessor de FHC), o PSDB já foi derrotado três vezes e tais derrotas tiveram íntima relação com o que ficou conhecido como Privataria Tucana, que até hoje inferniza o país com os maus negócios que os tucanos fizeram ao venderem patrimônio público a qualquer preço e de forma açodada nos anos 1990 sob a alegação de que os recursos oriundos daquelas vendas nos dariam educação, saúde etc. de “Primeiro Mundo”.

Além de isso não ter ocorrido o dinheiro da Privataria Tucana virou pó, pois até hoje ninguém sabe onde foi parar apesar de existir muita suspeita (inclusive documentada) sobre seu destino.

Corte para o presente. Em recente ato político organizado pelo PSDB para criticar a gestão da Petrobras nos governos petistas que sucederam os de seu partido, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) defendeu mudanças no modelo adotado para explorar as reservas de petróleo do pré-sal que foi estabelecido pelo governo Lula e continuado pelo governo Dilma Rousseff.

Aécio quer a volta do modelo de exploração do governo FHC, que afirma ser “muito mais eficiente”.

Em 1997, os tucanos acabaram como o monopólio brasileiro na exploração de campos de petróleo, venderam grande parte da Petrobrás e adotaram o regime de concessão para a exploração, obrigando a empresa brasileira a competir com grupos estrangeiros para ter acesso a novas reservas.

Após o governo Lula investir e recuperar a Petrobrás, que durante o governo FHC perdeu muito valor por conta do modelo de concessão e pela perda do monopólio, em 2006 a empresa anunciou que descobrira uma reserva gigantesca no mar territorial sudeste do Brasil.

Apenas com a descoberta dos três primeiros campos do pré-sal – Tupi, Iara e Parque das Baleias –, as reservas brasileiras comprovadas, que eram de 14 bilhões de barris, aumentaram para 33 bilhões de barris. Além disso, as reservas possíveis e prováveis seriam de 50 a 100 bilhões de barris, o que deve fazer do Brasil um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com todas as condições de integrar a Opep, se quiser.

Em 2010, o ex-presidente Lula propôs um novo modelo para ampliar o controle brasileiro sobre o pré-sal. O novo regime foi chamado de “partilha” porque permite que o governo fique com a maior parte dos lucros obtidos com o petróleo e torna obrigatória a participação da Petrobras na exploração de todos os campos.

Devido ao gigantismo da descoberta da “nova” Petrobrás, agora fortalecida por Lula, foi criada a empresa Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), a fim de gerir os contratos de partilha de produção celebrados pelo Ministério de Minas e Energia e a gestão dos contratos para a comercialização de petróleo.

O regime de partilha na exploração dessa riqueza imensa que os investimentos da década passada permitiram que a Petrobrás localizasse sob o leito do mar em águas profundas é impositivo, pois além de o Estado – e, portanto, o povo brasileiro – ficar com quase todo o lucro advindo da exploração, nesse regime é possível dosar a extração da riqueza.

O regime de concessão foi implantado pelo governo FHC porque a Petrobrás não recebia investimentos, estava exposta à concorrência predatória das mega empresas petrolíferas estrangeiras e, assim, não tinha como prospectar novas reservas de petróleo.

Assim, áreas que a empresa brasileira acreditava ser produtivas eram entregues à iniciativa privada sob regime de concessão, ou seja, quem explorava era dono do petróleo encontrado, se fosse encontrado, e ficava com quase todo o lucro, pagando apenas um percentual ao país e levando o resto embora.

Em 2009, agora com as mega reservas de petróleo confirmadas, não havia sentido em entrega-las a empresas estrangeiras e privadas sob regime de concessão porque não havia risco de perfurarem e não encontrarem nada.

Com as reservas do pré-sal confirmadas, seria um crime entrega-las a empresas privadas, a maioria estrangeiras, que só teriam que ir lá, perfurar e extrair o petróleo sem correr risco de gastar dinheiro com a prospecção e não encontrar nada.

A argumentação do PSDB e, mais especificamente, de seu provável candidato a presidente na eleição do ano que vem é a de que “Nenhum leilão para a exploração do pré-sal foi realizado desde a mudança das regras, e nos últimos anos surgiram dúvidas sobre a capacidade da Petrobras de financiar os investimentos exigidos pelo novo regime.”

Vale um parênteses: o primeiro leilão do pré-sal está marcado para novembro deste ano.

Retomando. O tucano ainda afirma que “A partilha estagnou a produção, afugentou investidores e descapitalizou a empresa” e que “O que parecia ser um bom negócio hoje é um ônus para a Petrobras.”

Aécio ainda defendeu o fim da obrigatoriedade da participação da Petrobras nos futuros campos. “Descapitalizada, a Petrobras vai ter de buscar dinheiro no mercado com juros cada vez maiores”, afirmou.

Não existe o menor sentido nessas premissas. Descapitalizada a empresa brasileira estava quando o PSDB governou.

A Petrobrás é uma das empresas mais capitalizadas do planeta. Ano passado, por conta da paralisação de algumas plataformas marítimas de exploração a fim de passarem por manutenção, seu lucro caiu de cerca de 30 bilhões de reais para cerca de 20 bilhões – no último ano do governo FHC, o lucro da empresa foi de 7 bilhões.

A premissa de que a Petrobrás terá que ir buscar recursos no mercado internacional a juros altos é uma falácia. Mesmo que tenha que recorrer ao mercado internacional, as empresas brasileiras têm acesso hoje aos financiamentos internacionais mais baratos do mundo, mais até do que países ricos como a Itália, pois o conceito do Brasil pelas agências de classificação de risco é o de “investment grade”, ou “grau de investimento”.

Além disso, só faria sentido buscar uma rápida exploração do pré-sal se houvesse risco de evaporar o petróleo que o Brasil tem sob seu mar territorial. O regime de partilha determinado pelo governo Lula, aliás, pretende justamente controlar o ritmo da exploração para que não seja muito rápido, ou predatório.

As grandes petrolíferas estrangeiras estão salivando pelo pré-sal brasileiro. Não foi por outra razão que se reuniram com José Serra durante a campanha eleitoral de 2010, quando lhes prometeu que, se fosse eleito, reverteria a política nacionalista do governo Lula.

Em verdade, a eleição de um tucano para entregar o pré-sal faz salivar até o grande empresariado brasileiro, que, como o estrangeiro, também está de olho nos grandes negócios com altíssima rentabilidade que a exploração predatória daquelas reservas propiciaria.

Aliás, os setores da imprensa alinhados com o PSDB já falam até em privatizar a Petrobrás – e não só ela – de uma vez, sem mais delongas. Artigo do comentarista de economia de O Globo Carlos Alberto Sardemberg publicado na semana que finda prega exatamente isso. Abaixo, um trecho do texto:

—–

“Não é por nada, não, mas se a gente pensar seriamente na história recente da Petrobras, sem paixões e sem provocações, vai acabar caindo na hipótese maldita, a privatização. (…) Não há como garantir uma gestão eficiente das estatais — e sem falar de corrupção. Logo…”

—–

Ao longo do texto, Sardemberg se desmancha em elogios à política do PSDB que fez a Petrobrás chegar ao último ano do governo FHC com receita de 60 bilhões de reais contra os 280 bilhões de 2012. É um dos analistas econômicos da grande mídia mais identificados com as teorias do PSDB.

A gestão da Petrobrás pelo PSDB foi um desastre. Sem investimentos do Estado e exposta à concorrência predatória das petrolíferas gigantes internacionais, a empresa começou a sofrer com desastres como o naufrágio da plataforma P36, que custou 700 milhões de reais ao país.

A P-36 foi a maior plataforma de produção de petróleo no mundo antes de seu afundamento em março de 2001. A plataforma custou 350 milhões de dólares ao país. Além da perda financeira, 11 pessoas morreram em um desastre causado, exclusivamente, por falta da manutenção que a Petrobrás fez no ano passado em suas plataformas e que reduziu seu lucro.

No total, os desastres em campos de exploração da Petrobrás durante o governo FHC, causados pela forte descapitalização da empresa que os tucanos lhe impuseram, geraram prejuízos ao país da ordem de 1,5 bilhão de reais.

Ano que vem, o Brasil correrá de novo o risco de ver essa praga de gafanhotos chamada PSDB ter chance de retomar o Poder a fim de saquear o país de novo. E depois acusam este blogueiro de ser “muito governista”. Enquanto esses piratas ameaçarem o país com sua eleição todo cidadão consciente tem que ser “muito governista”, a fim de impedir a Privataria Tucana II.

"Violada a verdade, tudo é permitido"


A unidade dos direitos e suas fronteiras ameaçadas

Mar 12th, 2013 by Marco Aurélio Weissheimer no RS Urgente




O jornalista Bernardo Kucinski disse certa vez que a primeira vítima do neoliberalismo é a verdade. Violada a verdade, tudo é permitido. Há indícios preocupantes de que se espalha hoje pelo mundo uma onda de violação de direitos em cascata: direitos humanos, sociais, trabalhistas, ambientais e culturais.

Uma das consequências mais danosas do neoliberalismo é a precarização e supressão de direitos. Quantos direitos foram precarizados ou simplesmente suprimidos nas últimas décadas? Ninguém deve ter feito essa contabilidade, mas o número certamente é impressionante. Um número, aliás, que não para de crescer, uma vez que se trata de um fenômeno que segue se repetindo no presente. A crise econômica que atingiu em cheio a Europa e os Estados Unidos a partir de 2007-2008 é um terreno fértil para a extinção de direitos. A ideologia da austeridade que varre a Europa tem como pilares centrais a demissão de servidores públicos, a diminuição de salários, o corte de direitos sociais e trabalhistas e a repressão a lutas por direitos humanos fundamentais. Direitos estes que foram conquistas de décadas de luta e que tiveram a Europa como um de seus palcos centrais.

Empresas e governos legam dificuldades econômicas para cortar ou precarizar direitos, invocando a necessidade de sacrifícios de quem vive do mundo do trabalho. E esses sacrifícios estão sendo impostos, aceite-se ou não. Uma das faces mais perversas e dramáticas desse processo pode ser vista hoje na Espanha com o alto número de suicídios de pessoas que estão perdendo suas casas por não poderem pagar financiamentos imobiliários. Neste caso, não se trata apenas de precarização ou perda de direitos, mas da supressão da própria dignidade, uma condição da própria vida. O retrocesso conceitual, do ponto de vista da luta por direitos humanos e sociais, é enorme. Assistimos a uma naturalização do discurso que prega a necessidade da supressão de direitos para resolver determinados problemas econômicos e sociais. Os direitos, segundo esse discurso, tornam-se entraves para a economia e para a sociedade. Teríamos, em vários casos, um “excesso de direitos”, um exagero a ser corrigido. E, de preferência, corrigidos rapidamente.

A supressão de direitos atinge também as relações de consumo. Não é um acaso que planos de saúde, operadoras de telefonia e de televisão a cabo liderem os rankings de reclamações de consumidores. A diferença entre o que é prometido na propaganda e o que é oferecido na prática é bem conhecida por parte dos “usuários”. No setor da alimentação, a situação é ainda mais grave, pois envolve a saúde e a vida das pessoas. A quantidade de porcarias que são vendidas sem o mínimo controle ou pudor, com o apoio de uma máquina publicitária que não poupa sequer as crianças, ou, pior ainda, as tem como alvo privilegiado, é uma realidade diária.

O que ameaça a liberdade de expressão

Outro traço dessa realidade de supressão de direitos é a progressiva redução do jornalismo em atividade submissa a interesses privados. A transformação dos meios de comunicação em grandes corporações com tendências monopolistas e interesses econômicos em outras áreas que não exclusivamente a midiática uniformizou as pautas e as orientações editoriais. Apesar do discurso em favor da liberdade de expressão, o que menos se vê nestes veículos é diversidade de informação e de opinião. A aversão que as grandes empresas brasileiras de mídia têm ao debate sobre um novo marco regulatório para o setor é um exemplo do espírito reacionário e atrasado que as anima.

Esse cenário implica outra violação de direito, a saber, a supressão do direito a uma comunicação de qualidade e a serviço do interesse público. O fato de boa parte das notícias e suas respectivas abordagens serem praticamente as mesmas todos os dias deveria nos dizer algo a respeito do que significa liberdade de expressão e diversidade de opinião. Se você fica restrito ao circuito da grande mídia comercial jamais ficará sabendo, por exemplo, que está em curso nos Estados Unidos uma mobilização nacional pela retomada o compromisso com a ideia de que direitos trabalhistas são direitos humanos. Quem quiser informações sobre esse movimento pode encontrá-las neste artigo de John Nichols, no The Nation. Encontrará aí também a íntegra do premiado documentário We Are Wisconsin, que mostra a mobilização de estudantes, professores, profissionais da saúde e de outros setores, em 2010, contra a política de demissões e cortes de direitos de servidores públicos levada a cabo pelo governador Republicano, Scott Walker.

Violada a verdade, tudo é permitido

O que se viu nos Estados Unidos, a partir do estouro da bolha imobiliária de 2007-2008, e também na Europa, serve para mostrar que, assim como o sistema de direitos forma uma unidade (fruto de décadas de lutas sociais), o processo de supressão e precarização de direitos também compõe uma unidade. Ou seja, a violação de um determinado tipo de direito nunca é isolada, ela se propaga também para outros direitos. O jornalista Bernardo Kucinski disse certa vez que a primeira vítima do neoliberalismo é a verdade. Violada a verdade, tudo é permitido. Há indícios preocupantes de que se espalha hoje pelo mundo uma onda de violação de direitos em cascata: direitos humanos, sociais, trabalhistas, ambientais e culturais. Esse tema, por si só, já é suficiente para compor uma agenda e desmentir aqueles que repetem ladainhas sobre o suposto fim da distinção entre esquerda e direito, ou entre o capital e o trabalho. Essas distinções sofreram mudanças qualitativas, mas estão aí para quem quiser ver.

O Brasil e a maioria dos países da América Latina viveram nos últimos anos um processo de retomada ou mesmo de instauração de direitos até então inexistentes, graças a uma geração de governos com um DNA distinto daquele que governou a região nas décadas anteriores. Neste sentido, caminharam no sentido inverso daquele visto na Europa e nos Estados Unidos. Mas é justamente o que sê vê agora nestes países que serve de advertência eloquente a respeito dos riscos de retrocesso. A melhor maneira de alimentar esses riscos é achar que estamos livres deles, em um mundo paralelo. Os cidadãos espanhóis que decidiram por um fim à própria vida, num gesto de desesperança total, simbolizam mais que tragédias pessoais. O pano de fundo desse gesto de desespero é um mundo onde o direito à vida é subordinado ao direito de propriedade.

Há fenômenos que, tomados isoladamente, podem ter um significado circunscrito à sua própria ocorrência, mas que, vistos num contexto mais amplo, podem ser indicadores de movimentos ainda subterrâneos na sociedade. A crise na revista Caros Amigos, com greve na redação e demissão dos jornalistas grevistas, a escolha do pastor Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara Federal, e a do ruralista Blairo Maggi para a Comissão de Meio Ambiente da mesma Câmara indicam um contexto político de grave relativização e banalização de valores e princípios que não deveriam ser relativizados e muito menos banalizados.

E esses são apenas três eventos recentes. Há vários outros como, por exemplo, as ameaças a comunidades indígenas e urbanas que têm suas vidas viradas ao avesso e ameaçadas por grandes obras. Mesmo considerando as exigências de uma certa dose de pragmatismo na política, há linhas que não deveriam ser ultrapassadas. Ao ultrapassá-las, em nome de razões pragmáticas ou de um simples desprezo pela sua importância, estamos entrando num território estranho e perigoso. E esse território, definitivamente, não é o mundo dos direitos e do Direito.

quinta-feira, 14 de março de 2013

eles conseguem deixar pior... e tanto faz a cor da fumaça...


O novo Papa e a ditadura militar argentina

Milton Ribeiro no SUL 21
Algumas matérias encontradas que vinculam o cardeal Bergoglio aos militares, a sequestros..:
O cardeal Bergoglio e os trinta anos do golpe na Argentina
12/5/2006
Eis de novo em evidência a Igreja católica da Argentina, uma das mais conservadoras, senão reacionária da América Latina e cuja cumplicidade durante os atrozes anos da ditadura militar, entre 1976 e 1983, escandalizaram o mundo.
Quem traz para a superfície a memória daquele período nefasto, cravejado de 30 mil desaparecidos, é Horácio Verbitski, jornalista e escritor argentino que foi nestes 22 anos de democracia um dos mais próximos companheiros das Mães da Praça de Maio.
Agora, com Kirchner, o vento mudou e são disse Verbitski “ao menos 200 os militares na prisão” e 1.400 as causas judiciárias pela violação dos direitos humanos. A notícia é do Il Manifesto, 10-5-06.
Segundo o Il Manifesto, Verbitski é autor de quinze livros, entre eles O Vôo que relata o testemunho do capitão da marinha Adolfo Scilingo sobre os vôos da morte, nos quais detentos vivos eram jogados dos aviões no Rio da Prata.
Agora, Verbitski – afirma o jornal italiano – lança na Itália o seu livro A Ilha do Silêncio no qual desenvolve uma implacável acusação contra o papel da Igreja na ditadura argentina.
Em A Ilha do Silêncio, que se lê como um romance de fato e atroz, diz o Il Manifesto, comparecem todos os nomes notáveis da Igreja na Argentina, os cardeais Caggiano, Aramburo e Pimatesta, os bispos e vigários castrenses Tortolo, Bonamin e Grasseli, e o habitual núncio Pio Laghi. Mas também o nome do atual cardeal Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, que poderia ter se tornado o primeiro papa latino-americano no conclave após a morte de Wojtyla, vencido por Ratzinger.
De acordo com Il Manifesto, “uma vitória do jesuíta Bergoglio teria sido uma desgraça não menor daquela do pastor alemão”. E Verbitski, segundo o jornal, explica e documenta o porque.
Esclarecedor e demolidor, em particular, é o acontecimento dos dois padres jesuítas, Orlando Yorio e Francisco Jalics, que fizeram o erro de trabalhar nas favelas de Buenos Aires e por isto foram traídos e entregues aos militares por Bergoglio (que obviamente nega), diz o jornal a partir de relatos do jornalista.
Verbitski contou estes fatos na Universidade de Roma, apresentando o livro, acompanhado pelo vice-reitor Maria Rosalba Stabili e pelo professor Cláudio Tognonato. Eles três e outros inumeráveis participantes falarão hoje e amanhã da “Argentina; trinta anos do golpe. O Exílio na Itália” destaca o Il Manifesto.
.oOo.

BERGOGLIO – NOVOS TESTEMUNHOS SOBRE BERGOGLIO E A DITADURA ARGENTINA

O papel do agora cardeal Bergoglio, da Argentina, no desaparecimento de sacerdotes e o apoio à repressão ditatorial é confirmado por cinco novos testemunhos. Falam um sacerdote e um ex-sacerdote, uma teóloga, um integrante de uma fraternidade leiga que denunciou noVaticano o que acontecia na Argentina em 1976 e um leigo que foi sequestrado junto com dois sacerdotes que não reapareceram.
A reportagem é de Horacio Verbitsky, publicada no jornal Página/1218-04-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Cinco novos testemunhos, oferecidos de forma espontânea a partir da notícia “Seu passado o condena”, confirmam o papel do agora cardeal Jorge Bergoglio na repressão do governo militar sobre as fileiras da Igreja Católica que ele hoje preside, incluindo o desaparecimento de sacerdotes. As testemunhas são uma teóloga que durante décadas deu catequese em colégios do bispado de Morón, o ex-superior de uma fraternidade sacerdotal que foi dizimada pelos desaparecimentos forçados, um integrante da mesma fraternidade que denunciou os casos ao Vaticano, um sacerdote e um leigo que foram sequestrados e torturados.
Teóloga de minissaia
Dois meses depois do golpe militar de 1976, o bispo de MorónMiguel Raspanti, tentou proteger os sacerdotes Orlando Yorio e Francisco Jalics porque temia que fossem sequestrados, mas Bergoglio se opôs. Assim indica a ex-professora de catequese em colégios da diocese de Morón, Marina Rubino, que nessa época estudava teologia no Colégio Máximo de San Miguel, onde Bergoglio vivia. Por essa circunstância, ela conhecia a ambos. Além disso, ela havia sido aluna de Yorio e Jalics e sabia do risco que eles corriam. Marina decidiu dar seu testemunho depois de ler a nota sobre o livro de descargo de Bergoglio.
Marina Rubino vive em Morón desde sempre. No Colégio do Sagrado Coração de Castelar, ela dava catequese às crianças e formava os pais, o que lhe parecia mais importante. “Uma vez por mês, nos reuníamos com eles. Era um trabalho muito bonito. Essa experiência durou 15 anos”. Também deu cursos de iniciação bíblica “em todos os lugares não turísticos da Argentina. Tínhamos uma publicação, com comentários aos textos dos domingos. Queríamos que as comunidades tivessem elementos para pensar”. Desde que se aposentou, dá aulas de tecelagem em centros culturais, sociedades de fomento ou em casas.
Ela não quis ingressar no seminário de Villa Devoto porque não lhe interessava a formação tomista, mas sim a Bíblia. Em 1972, começou a estudar teologia na Universidad del Salvador. A carreira era cursada no Colégio Máximo de San Miguel. No primeiro ano, teve como professor Francisco Jalics e, no segundo, Orlando Yorio. Enquanto estudava, coordenava a catequese no colégio Sagrado Coração de Castelar, onde também estava a religiosa francesa Léonie Duquet. “Eram tempos difíceis. Por fazer no colégio uma opção pelos pobres levando a sério oConcílio Vaticano II e a reunião do Celam de Medellín, perdemos a metade dos alunos. Mas mantivemos essa opção e continuamos formando pessoas mais abertas à realidade e ao compromisso com os mais necessitados, defendendo que a fé tem que fortalecer essas atitudes, e não as contrárias”.
O bispo era Miguel Raspanti, que então tinha 68 anos e havia sido ordenado em 1957, nos últimos anos do reinado de Pio XII. Era um homem bem intencionado que fez todos os esforços para se adaptar às mudanças do Concílio, do qual participou. Depois do “cordobazo” de 1969, repudiou as estruturas injustas do capitalismo e estimulou o compromisso com a “libertação de nossos irmãos necessitados”. Mas o problema mais grave que ele pôde identificar em Morón foi o aumento dos impostos sobre o pequeno comerciante e o proprietário da classe média. “Muitas vezes, foi preciso discutir e defender essas opções no bispado, e Dom Raspanti costumava terminar as entrevistas dizendo-nos que, se acreditávamos que era preciso fazer esta ou aquela coisa, se estávamos convencidos, ele nos apoiava”, lembra Marina. Suas palavras são acompanhadas com atenção por seu esposo, Pepe Godino, um ex-padre de Santa María, Córdoba, que integrou o Movimento de Sacerdotes para o Terceiro Mundo.
Marina cursava teologia em San Miguel das 8h30min às 12h30min. Não haviam lhe dado a bolsa, porque era mulher, mas, como era a coordenadora de catequese em um colégio do bispado, Raspanti intercedeu e obteve que uma entidade alemã se encarregasse dos custos dos seus estudos. Também não quiseram lhe dar o título quando se formou em 1977. O diretor da teologia,José Luis Lazzarini, lhe disse que havia um problema, que não haviam se dado conta de que ela era mulher. Marina partiu em busca de quem a havia recebido ao ingressar, o jesuíta Víctor Marangoni:
- Quando você me viu pela primeira vez, você se deu conta de que eu era mulher ou não?
- Sim, claro, por quê? – respondeu atordoado o vice-reitor diante dessa forte mulher de minissaia.
- Porque Lazzarini não quer me dar o título.
Marangoni se encarregou de reparar essa absurdo. Marina tem seu título, mas a entrega oficial nunca ocorreu.
A desproteção
Em um meio-dia, ao sair de seus cursos, “encontrei Dom Raspanti de pé no hall da entrada, sozinho. Não sei por que o mantinham ali esperando. Estava muito silencioso. Perguntei se estava esperando por alguém, e ele me disse que sim, o padre provincial Bergoglio. Tinha o rosto desfigurado, pálido, acreditei que estava mal de saúde. Cumprimentei-o, perguntei se ele se sentia bem e o convidei a passar para uma salinha que havia no hall”.
- Não, não me sinto mal, mas estou preocupado – respondeu Raspanti.
Marina diz que tem uma memória fotográfica daquele dia. Ela fala com voz calma, mas se percebe o apaixonamento em seus olhos grandes e expressivos. Pepe a olha com ternura.
“Me impressionou ver Raspanti sozinho, ele que sempre ia com o seu secretário”, diz. Marina sabia que seus professores Jalics e Yorio e um terceiro jesuíta que trabalhava com ela no colégio de Castelar, Luis Dourron, haviam pedido para passar para a diocese de Morón. Yorio, Jalics, Dourron e Enrique Rastellini, que também era jesuíta, viviam em comunidade desde 1970, primeiro em Ituzaingó e depois no Barrio Rivadavia, junto à Gran Villa do Bajo Flores, com conhecimento e aprovação dos sucessivos provinciais da Companhia de JesusRicardo Dick O’Farrell e Bergoglio.
“Eu lhe disse que Orlando e Francisco haviam sido meus professores e que Luis trabalhava conosco na diocese, que eram irrepreensíveis, que não duvidasse em recebê-los. Todos estávamos inclinados para que pudessem vir para Morón. Nenhum dos que conheciam a situação se opunha. Raspanti me disse que era sobre isso que vinha falar com Bergoglio. Já havia recebido Luis, mas precisava de uma carta na qual Bergoglio autorizasse a passagem de Yorio e Jalics”.
Marina entendeu que era uma simples formalidade, mas Raspanti lhe esclareceu que a situação era mais complicada. “Com as más referências que Bergoglio havia mandado, ele não podia recebê-los na diocese. Estava muito angustiado porque, nesse momento, Orlando e Francisco não dependiam de nenhuma autoridade eclesiástica e me disse:
- Não posso deixar dois sacerdotes nessa situação, nem posso recebê-los com o relatório que ele me mandou. Venho para lhe pedir que simplesmente os autorize e que retire esse relatório que dizia coisas muito graves.
Qualquer um que ajudasse a pensar era guerrilheiro, comenta Marina. Acompanhou seu bispo até que Bergoglio o recebeu e depois foi embora. Ao sair, viu que o carro de Raspanti também não estava no estacionamento. “Deve ter vindo de ônibus, para que ninguém o seguisse. Queria que a coisa ficasse entre eles dois. Estava fazendo o impossível para dar-lhes proteção”.
A teóloga acrescenta que a angústia de Raspanti lhe impressionou, porque, “mesmo que ele não pudesse ser qualificado de bispo progressista, sempre nos defendeu, defendeu os padres questionados da diocese, levava a dormir na casa episcopal aqueles que corriam mais risco e nunca nos proibiu de fazer ou dizer algo que considerássemos fruto do nosso compromisso cristão. Como bom salesiano, se comportava como uma galinha choca com seus padres e seus leigos, abrigava, cuidava, mesmo que não estivesse de acordo. Eram pontos de vista diferentes, mas ele sabia escutar e aceitava muitas coisas”.
Um desses padres é Luis Piguillem, que havia sido ameaçado. Ele voltava de bicicleta quando se topou com uma barreira policial que impedia a passagem. Insistiu que queria passar, porque sua casa ficava no bairro, e um policial lhe disse:
- Você vai ter que esperar porque estamos fazendo uma operação na casa do padre.
Piguillem deu meia volta com sua bicicleta e se afastou sem olhar para trás. Dali, foi para o bispado de Morón, onde Raspanti lhe deu refúgio. Os militares disseram que ele havia se escondido debaixo das saias do bispo. Mas não se atreveram a ir buscá-lo ali.
- Raspanti era consciente do risco que Yorio e Jalics corriam?
- Sim. Disse que tinha medo de que desaparecessem. Dois sacerdotes não podem ficar no ar, sem um responsável hierárquico. Poucos dias depois, soubemos que eles os haviam levado.
De Córdoba a Cleveland
Outro testemunho recolhido a partir da publicação do domingo é o do sacerdote Alejandro Dausa, que, na terça-feira 03 de agosto de 1976, foi sequestrado em Córdoba, quando era seminarista da Ordem dos Missionários de Nossa Senhora de La Salette. Depois de seis meses nos quais foi torturado pela polícia cordobesa no Departamento de Inteligência D2, ele pôde viajar para os Estados Unidos, aonde o responsável do seminário já havia chegado, o sacerdote norte-americano James Weeks, por quem o governo de seu país se interessou. Neste ano, irá se realizar em Córdoba o julgamento daquele episódio, cujo principal responsável é o general Luciano Menéndez. Agora, Dausa vive na Bolívia e conta que tanto
Ao chegar aos EUA, soube por órgãos de direitos humanos que Jalics se encontrava em Cleveland, na casa de uma irmã. Dausa e os outros seminaristas, que estavam iniciando o noviciado, convidaram-lhe para dirigir dois retiros espirituais. Ambos foram realizados em 1977, um em Altamont (Estado de Nova York) e outro em Ipswich (Massachusetts). Dausa lembra: “Como é natural, conversamos sobre os sequestros respectivos, detalhes características, antecedentes, sinais prévios, pessoas envolvidas etc. Nessas conversas, ele nos indicou que Bergoglio os havia entregue e denunciado”.
Na década seguinte, Dausa trabalhava como padre na Bolívia e participava dos retiros anuais da La Salette na Argentina. Em um deles, os organizadores convidaram Orlando Yorio, que nessa época trabalhava em Quilmes. “O retiro foi em Carlos PazCórdoba, e também nesse caso conversamos sobre a experiência do sequestro. Orlando indicou o mesmo que Jalics sobre a responsabilidade de Bergoglio”.
Os assuncionistas
Yorio e Jalics foram sequestrados no dia 23 de maio de 1976 e conduzidos à Esma [Escola de Mecânica da Armada], onde um especialista em assuntos eclesiásticos que conhecia a obra teológica de Yorio lhes interrogou. Em um dos interrogatórios, perguntou-lhe sobre os seminaristas assuncionistas Carlos Antonio Di Pietro e Raúl Eduardo Rodríguez. Ambos eram colegas de Marina Rubino no curso de teologia de San Miguel e desenvolviam trabalhos sociais no bairro popular La Manuelita, de San Miguel, onde viviam e atendiam à capela Jesus Operário. Dali, foram sequestrados dez dias depois que os dois jesuítas, no dia 04 de junho de 1976, e levados para a mesma casa operativa que Yorio e Jalics. Na metade da manhã, Di Pietro telefonou para o superior assuncionista Roberto Favre e lhe perguntou pelo sacerdote Jorge Adur, que vivia com eles em La Manuelita.
- Recebemos um telegrama para ele e temos que lhe entregar – disse.
Desse modo, conseguiu que a Ordem se pusesse em movimento. O superior Roberto Favreapresentou um recurso de habeas corpus, que não obteve resposta. Adur conseguiu sair do país, com a ajuda do núncio Pio Laghi, e se exilou na França. Voltou de forma clandestina em 1980, convertido em capelão do autodenominado “Exército Montonero” e foi preso-desaparecido no trajeto para o Brasil, onde procurava se encontrar com o Papa João Paulo II.
O mesmo caminho do exílio foi seguido por um dos detidos na batida policial do bairro La Manuelita, o então estudante de medicina e hoje médico Lorenzo Riquelme. Quando recuperou sua liberdade, a Fraternidade dos Irmãozinhos do Evangelho lhe deu hospitalidade em sua casa portenha da rua Malabia. Em comunicações desde a França com quem era então o superior dos Irmãozinhos do Evangelho, Patrick Rice, Riquelme disse que quem o denunciou foi um jesuíta do Colégio de San Miguel, que era por sua vez capelão do Exército. Ele está convencido de que esse sacerdote presenciou as torturas que lhe foram aplicadas, em Campo de Mayo, acredita ele.
O amolecedor
Também em consequência da notícia do domingo, um fundador da fraternidade leiga dosIrmãozinhos do Evangelho Charles de FoucauldRoberto Scordato, aceitou narrar seu conhecimento do caso. Entre o fim de outubro e o começo de novembro de 1976, Scordato se reuniu em Roma com o cardeal Eduardo Pironio, que era prefeito da Congregação para os Religiosos do Vaticano, e lhe comunicou o nome e o sobrenome de um sacerdote da comunidade jesuíta de San Miguel que participava das sessões de tortura em Campo de Mayocom o papel de “amolecer espiritualmente” os detidos.
Scordato pediu-lhe que transmitisse ao superior geral Pedro Arrupe, mas ignora o resultado de sua gestão, se é que teve algum. Consultado para esta nota, Rice, que também foi sequestrado e torturado nesse ano, disse que isso não teria sido possível sem a aprovação do padre provincial. Rice e Scordato acreditam que esse jesuíta tinha o sobrenome González, mas, a 34 anos de distância, não lembra com certeza.
Fúria
Como todas as vezes em que seu passado o alcança, Bergoglio atribui a divulgação de seus atos ao governo nacional. Nesta semana, ele reagiu com fúria durante a homilia que pronunciou em uma missa para estudantes. Naquilo que seu porta-voz descreveu como “uma mensagem para o poder político”, ele disse que “não temos direitos a mudar a identidade e a orientação da Pátria”, mas sim a “projetá-la para o futuro em uma utopia que seja continuidade com aquilo que nos foi dado”, que os jovens não têm outro horizonte do que comprar drogas e que os dirigentes procuram ascender, aumentar o caixa e promover os amigos.
Com esse ânimo irascível, ele inaugurará em San Miguel a primeira assembleia plenária do Episcopado de 2010.
.oOo.
Os conservadores argentinos sonham com um papa próprio
Como em 2005, quando Ratzinger foi eleito, os conservadores argentinos voltam a sonhar em ter um homem seu no Vaticano: o cardeal Jorge Bergoglio. Mas o papel desempenhado pela Igreja argentina e pelo cardeal na ditadura militar (1976-1983) torna quase impossível a escolha de um personagem com semelhante currículo.
Oscar Guisoni
Buenos Aires – “Quando João Paulo II morreu todos nos iludimos com a possibilidade de que nosso cardeal Bergoglio assumisse como papa. Mas não aconteceu. Oxalá desta vez ocorra”, exclama sem ruborizar uma conhecida jornalista local em uma das tantas transmissões improvisadas da televisão argentina surpreendida, como o resto do mundo, com a renúncia de Bento XVI. “Deus não o permita”, responde o colunista Fernando D’Addario, no Página/12.
Como ocorreu em 2005, quando foi eleito o Papa Joseph Ratzinger, os conservadores e ultramontanos argentinos voltam a se iludir com a possibilidade de colocar seu homem no Vaticano: o cardeal Jorge Bergoglio. Mas o papel desempenhado pela Igreja argentina e pelo citado cardeal em particular durante a última ditadura militar (1976-1983) torna quase impossível que o Vaticano opte por habilitar com a “fumaça branca” um personagem com semelhante currículo. Salvo que “assim como nos anos 80 escolheram Karol Wojtyla para canalizar religiosamente a luta do povo polonês (isto é, a do mundo ocidental e cristão) contra o totalitarismo soviético”, sustenta D’Addario com acidez, “agora escolham um papa argentino para salvar-nos do populismo gay e favorável ao aborto que se expande como uma peste por estes pampas”.
A polêmica, que em apenas algumas horas voltou a impregnar grande parte da imprensa argentina, trouxe à tona de novo a triste memória do papel desempenhado pela Igreja local durante a última ditadura militar e suas implicações no presente. Assim, enquanto o setor mais conservador e católico da classe média local volta a sonhar em ter seu próprio Papa, os organismos de Direitos Humanos e as associações que agrupam os familiares dos 30 mil detidos desaparecidos na última ditadora recordam que a Igreja não só colocou uma venda nos olhos diante da matança organizada pelo Estado, como se fez de distraída inclusive frente o assassinato de seus próprios sacerdotes, comprometidos com a “opção pelos pobres’ e com a Teologia da Libertação que havia iluminado o Concílio Vaticano II.
Uma prova da atualidade da polêmica é a recente decisão judicial do tribunal que julgou na província de La Rioja o assassinato dos padres Carlos de Dios Murias e Gabriel Longueville, ligados ao também assassinado bispo Enrique Angelelli, uma das figuras emblemáticas da “Igreja comprometida” dos anos setenta na Argentina. Nesta sentença inédita anunciada na semana passada fala-se pela primeira vez da “cumplicidade” da Igreja Católica local com os crimes cometidos pelos militares, ao mesmo tempo em que se assinala a “indiferença” e a “conivência da hierarquia eclesiástica com o aparato repressivo” dirigido contra os sacerdotes terceiro-mundistas. Chama a atenção, diz ainda a sentença, que “ainda hoje persiste uma atitude resistência por parte de autoridades eclesiásticas e de membros do clero ao esclarecimento dos crimes”.
Como ocorreu em 2005, enquanto por trás dos muros do Vaticano se escolhia o sucessor de João Paulo II, a discussão pública leva os argentinos a olhar para sua própria Igreja no espelho que mais os envergonha: do outro lado da Cordilheira, a Igreja Católica tem outra cara para mostrar, já que sua atitude frente à ditadura de Augusto Pinochet foi exatamente a oposta à adotada pela hierarquia argentina. A polêmica transcende rapidamente o âmbito religioso e se instala no cenário político cada vez mais radicalizado, que encontra os partidários da política de Direitos Humanos promovida pelo governo kirchnerista no caminho oposto ao dos conservadores que desejam encerrar os julgamentos contra os responsáveis pelos crimes contra a humanidade executados pela ditadura antes que os processos comecem a bater às portas dos cúmplices civis do regime, o que já começou a acontecer.
Enquanto isso, o candidato em questão, o atual arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, sonha em alcançar um papado impossível. Nascido em 1936 e presidente da Conferência Episcopal durante dois períodos (cargo que abandonou recentemente por doenças da idade), é difícil que o Vaticano se arrisque a colocar no trono de Pedro um homem citado em vários processos judiciais por sua cumplicidade com a ditadura e que conseguiu evitar seu próprio julgamento por contra de influências e argúcias de advogados. Nada disso impede, porém, os ultramontanos argentinos de sonhar com a possibilidade de ter um Papa em Roma que os ajude a acabar de uma vez por todas com um governo que consideram o pior inimigo da Igreja Católica desde que o presidente Juan Domingo Perón enfrentou-se de forma virulenta (incluindo a queima de algumas igrejas) com a hierarquia católica no final de seu governo em 1955.

Tradução: Katarina Peixoto
.oOo.
Cardeal Bergoglio denunciado na Argentina por seqüestros durante a ditadura
BUENOS AIRES, 15 Abr (AFP) – O cardeal argentino Jorge Bergoglio, um dos candidatos à sucessão e que participará do Conclave no Vaticano, foi denunciado nesta sexta-feira na Justiça por supostas ligações com o seqüestro de dois missionários jesuítas em 23 de maio de 1976, durante a ditadura, segundo uma fonte judicial do Palácio de Tribunais.
A denúncia foi apresentada pelo advogado e dirigente de organizações defensoras dos direitos humanos Marcelo Parrilli, que pediu ao juiz Norberto Oyarbide que investigue a atuação do cardeal quando um comando da marinha de guerra seqüestrou e fez ‘desaparecer’, durante cinco meses, os dois religiosos.
As vítimas eram Orlando Virgilio Yorio e Francisco Jalics, companheiros de Bergoglio na Companhia de Jesus, cuja congregação fazia trabalhos de ajuda social numa localidade do bairro de Bajo Flores.
Parrilli, segundo a denúncia à qual teve acesso a AFP, se baseou em artigos jornalísticos e no livro ‘Igreja e Ditadura’, escrito por Emilio Mignone, fundador do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS).