sexta-feira, 30 de agosto de 2013

É soda! o carapááálida só vê o qui o outro carapááálida qué, resultado: dois carapááálida qui tem gosto em odiá

A médica da Folha e a semana de 128 horas

Revista Forum


É difícil saber se essa polêmica do Mais Médicos está fazendo mais estragos na reputação dos médicos ou na dos jornalões brasileiros.

Por André Borges Lopes (*), na Carta Maior

Profissionais estrangeiros do Mais Médicos que participam do curso de preparação (Elza Fiuza/ABr)

Hoje (30) – não por coincidência – dois jornalões (Folha e O Globo) dão destaque à triste história da Dra. Junice Maria Moreira, médica do programa Saúde da Família, que estaria sendo sumariamente demitida para “dar lugar a um cubano” em Murici, povoado da cidade de Sapeaçu, BA. A denúncia foi plantada na imprensa pelo CRM da Bahia.

Os links:

Folha: “Disseram que eu tinha que dar lugar a um cubano

O Globo: Prefeituras substituem médicos por profissionais do programa do governo.

Muito bem. Aí a gente acessa o serviço CNESNet da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde e pede uma busca pelo nome da doutora Junice Maria Moreira .

Descobre-se que a essa médica tem quatro vínculos empregatícios ativos, dois deles de 40 horas no Programa de Saúde da Família e mais dois de 24 horas cada como médico clínico (tela anexa). Total de 128 horas semanais (improváveis 18 horas e meia por dia, de segunda a segunda). Com um detalhe: os vínculos públicos são com prefeituras de três cidades diferentes (Murici, Queimadas e Jiquiriçá no interior baiano) distantes 357 km entre si, 4h40 de viagem segundo o Google Maps.

Com essa carga de trabalho insana e atendendo em três municípios distantes é de se supor que a Dra. Junice encontrasse dificuldades para cumprir seus horários contatados. Pois foi exatamente isso que constatou a repórter Louise Lobato do jornal Correio ao seguir o princípio básico de dar voz ao outro lado (relegado ao mero registro de um desmentido formal nas matérias da Folha e d’O Globo).

Da matéria da Louise:

“O secretário de Saúde da cidade, Raul Molina, desmentiu as alegações. ‘Ela disse que está sendo substituída por um médico estrangeiro, mas isso não é verdade. A demissão aconteceu não para economizar recursos da prefeitura, e sim porque esta médica não está cumprindo o contrato. Ela se recusa a cumprir a carga horária determinada, de 40 horas, e ao invés disto, trabalha somente durante um turno, duas vezes na semana. Ou seja, apenas 12 horas’, afirmou. ‘Há três meses, nós comunicamos para a cooperativa que ela não estava cumprindo a carga horária, e pedindo a substituição. Contudo, a cooperativa disse que não tinha nenhum outro médico disponível para substituí-la. Por causa disso, demos entrada no pedido para participar do Mais Médicos’, relata o secretário Molina.”

Bem, se a Dra. Junice é uma amostra do tipo de profissional da saúde pública que está sendo trocado pelos médicos cubanos, continuo achando que o Brasil está fazendo um excelente negócio em trazer los hermanos.

(*) André Borges Lopes é professor universitário e produtor gráfico. Texto publicado originalmente na página do Facebook do autor.
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e o inquérito 2474 no STF? o gavetão!


Supremo Tribunal ignora prova da inocência de Pizzolato no mensalão

publicado em 28 de agosto de 2013 às 13:56

Viomundo



Gurgel” troca” tipo de Fundo, Britto estatiza a Visanet, Joaquim Barbosa diz que dinheiro do Fundo Visanet é do BB, a Visanet diz que é dela

por Conceição Lemes

O Supremo Tribunal Federal (STF) prossegue, nesta quarta-feira 28, o julgamento dos embargos dos réus da Ação Penal 470 (AP 470), o chamado mensalão.

A viga mestra da denúncia apresentada, em 2006, pelo então procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, é o desvio de dinheiro público: 1) R$ 73.851.356,00 do Fundo de Incentivo Visanet, considerados como propriedade do Banco do Brasil, 2) teriam sido desviados pelo seu diretor de Marketing, Henrique Pizzolato, 3) para beneficiar a DNA Propaganda, 4) que não havia prestado qualquer serviço em prol dos cartões Visa.

Em julho de 2011, Roberto Gurgel, que sucedeu Antônio Fernando, bate na mesma tecla nas alegações finais da AP 470, encaminhadas ao STF:

“Henrique Pizzolato, na condição de Diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, desviou, entre 2003 e 2004, o valor de R$ 73.851.000,00 (setenta e três milhões e oitocentos e cinquenta e um mil reais) oriundo do Fundo de Investimento da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento – Visanet. O valor, constituído com recursos do Banco do Brasil, foi desviado em proveito dos réus Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach”.

“O valor que compõe o Fundo de Investimento Visanet é público, de propriedade do Banco do Brasil”.

“…as empresas do Grupo Visanet não têm e nunca tiveram qualquer relacionamento contratual direto com a empresa DNA Propaganda. Os repasses foram feitos por determinação do Banco do Brasil”.

Durante o julgamento, em 2012, os ministros, em seus votos, corroboram Gurgel, inclusive reproduzindo o nome Fundo de Investimento Visanet.

Em seu voto, Joaquim Barbosa, ministro-relator da AP 470, sustenta:

“Ainda assim, não se pode desconhecer que os recursos oriundos do Fundo Visanet, de que agora se trata, eram propriedade do Banco do Brasil”.

“O Banco do Brasil como acionista do Fundo Visanet era proprietário de 32,03% desses recursos, como também salientou o laudo 2828/2006 (Apenso 142. folhas 77/119, parágrafo 182)”.

“No caso, os depósitos de R$ 73.851.536,18 na conta da DNA Propaganda só ocorreram porque assim determinou o réu HENRIQUE PIZZOLATO, responsável maior pela verba de marketing e publicidade do Banco do Brasil, em razão do cargo que ocupava (está no acórdão)”.

“Assim, HENRIQUE PIZZOLATO agiu com o dolo de beneficiar a agência representada por MARCOS VALÉRIO, que não havia prestado qualquer serviço em prol dos cartões do Banco do Brasil de bandeira Visa, tampouco tinha respaldo contratual para fazê-lo. De fato, o contrato entre a DNA Propaganda e o Banco do Brasil não fazia qualquer alusão à Visanet (fls. 45/71, Apenso 83, vol.10.)”

Ricardo Lewandowski, ministro-revisor da AP 470, usa argumentos semelhantes:

”Ainda que assim não fosse, convém assentar que os recursos direcionados ao Fundo VISANET, além de serem vinculados aos interesses do Banco do Brasil, saíram diretamente dos cofres deste, segundo demonstrado no item 7.1.2 do relatório de auditoria interna realizada pelo próprio Banco [fl. 5.236, vol.25, parte 1], conforme se vê abaixo:” [cita item 7.1.2 da auditoria interna BB]”.

” Quanto à natureza privada ou pública dos recursos, o argumento, em si, ainda que acolhido, não afastaria a caracterização da prática criminosa”.

“Noutras palavras: se o agente público (no caso, o Diretor de Marketing do Banco do Brasil) desviou, em proveito próprio ou alheio, dinheiro ou valor de que tem a posse (ou detenção) em razão do cargo, está configurado o peculato, independentemente de o dinheiro ou valor apropriado ou desviado ser público ou particular”.

“As ações de publicidade da CBMP [Companhia Brasileira de Meios de Pagamento] , no entanto, contavam com a ingerência direta dos diretores e funcionários do Banco do Brasil, especialmente de HENRIQUE PIZZOLATO, na qualidade de Diretor de Marketing e Comunicação”.

“Assim, a argumentação desenvolvida pela defesa, quanto à natureza dos recursos administrados pelo VISANET (se público ou privado), não possui, a meu ver, nenhuma importância para efeitos penais, pois o crime de peculato fica caracterizado toda vez que for comprovado que o desvio de bem móvel, qualquer que seja a sua natureza (pública ou privada), foi levado a efeito por funcionário público, no exercício de sua função”.

O ministro Gilmar Mendes faz esta peroração:

“Quando eu vi os relatos se desenvolverem, eu me perguntava, presidente: O que fizeram com o Banco do Brasil? Quando a gente vê que com operações simples, singelas, se retira da instituição 73 milhões, sabendo que não (era) pra fazer serviço algum… Eu fico a imaginar como nós descemos na escala das degradações. É realmente um fato extremamente grave e que faz com que nós nos tornemos reflexivos”.

Tanto que, no resumo do acórdão, publicado em 22 de abril de 2013, no Diário Oficial da Justiça, a posição unânime do Supremo, que aparece na página 50, é esta:



Curiosamente uma prova importante contradiz essas acusações. Esta prova está nos autos do processo (Apenso 356 fls 9648 a 9640): o Regulamento do Fundo de Incentivo Visanet (FIV).

O Regulamento/Contrato, editado pela Visanet, é o instrumento legal que estabelecia as regras para utilização do dinheiro desse fundo pelos 25 bancos associados à Visanet, entre os quais o Banco do Brasil. É esse Regulamento/Contrato que regia as relações entre o Fundo Visanet e os bancos parceiros.

A divergência entre o Regulamento/Contrato e as acusações é tão marcante que passa a impressão de que os ex-procuradores-gerais e os ministros talvez não leram o Regulamento do Fundo de Incentivo Visanet. E se leram, não o consideraram.

Do contrário, o ex-presidente do STF, ministro Ayres Britto, não teria, ao vivo, para todo o Brasil, estatizado a Visanet. Nem comparado a Companhia Brasileira de Meios de Pagamento/Visanet à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e dito que, pelo fato de usar a palavra brasileira, já indicava que era público.

Eu tive a curiosidade de consultar as demonstrações contábeis do Banco do Brasil, Ministro Joaquim Barbosa, no período sob investigação, e constatei, e verifiquei que a Companhia Brasileira de Meios de Pagamento figurava no Ativo Permanente do Banco do Brasil.

E, aliás, o próprio nome Companhia Brasileira de Meios de Comunicação, já sinaliza ou sugere que se trata de empresa integrante do setor Público, embora como toda companhia estatal dotada de personalidade jurídica de Direito Privado. Basta lembrar a EMBRATEL, a EMBRAER, a EMBRAPA.

Quando essas companhias, no seu próprio nome mercantil oficial, ostentam essa referência ao próprio País, companhia brasileira, isso já sinaliza que se trata de empresa integrante do setor Público, ou da Administração Pública indireta…

Assim como Gurgel e os ministros não teriam chamado erradamente (em documentos e falas) o Fundo de Incentivo Visanet de Fundo de Investimento Visanet, como se fossem sinônimos, quando não são em hipótese alguma.

Essa “troca” é grave. Altera completamente o caráter jurídico do fundo. O fundo de investimento é para aplicar/aportar dinheiro e lucrar. Já o de incentivo é um fundo de marketing/despesa. Era um dinheiro aportado pela Visanet (apenas por ela) para ser utilizado em propaganda, promoção de eventos.



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O REGULAMENTO QUE REGIA AS RELAÇÕES ENTRE O FUNDO VISANET E OS 25 BANCOS PARCEIROS



Até 1995, os bancos que vendiam cartões de crédito – Visa, Mastercard, Dinners, American Express – tinham que ir a cada estabelecimento comercial para fazer um convênio. De forma que cada loja, por exemplo, era obrigada a ter várias maquininhas (cada banco tinha uma própria) para passar os vários cartões.

Foi, aí, que a Visa Internacional, operadora americana de cartões com a bandeira Visa, propôs a 25 bancos a criação de uma empresa em conjunto.

Nascia a Companhia Brasileira de Meios de Pagamento (CBMP), cujo nome fantasia era Visanet. Objetivo: unificar a administração e operacionalização dos cartões de crédito Visa no Brasil.

A Visa entrou com o dinheiro e o “trabalho braçal”. Além de tecnologia (uma única máquina online, fornecida pela Visanet, para todos os bancos parceiros) e custos operacionais, ela é que ia a cada estabelecimento comercial providenciar o convênio.

Aos bancos coube o fornecimento das suas carteiras de clientes, ou seja, a listagem dos seus consumidores.

Nenhum banco gastou um só centavo. O compromisso deles era aumentar a venda de cartões com a marca Visa e, assim, todos lucrarem mais.

A Visa Internacional, para incentivar a parceria, deu a cada banco associado uma porcentagem de ações da CBMP/Visanet. E para manter o acordo, cada banco tinha de cumprir as metas de venda estabelecidas pela Visa Internacional.

Em 2001, a CBMP/Visanet decidiu criar um fundo de marketing e destinar-lhe 0,1% dos seus ganhos com cartões. Surgia aí o Fundo de Incentivo Visanet.

Tais recursos destinavam-se exclusivamente à divulgação/propaganda da marca Visa. Decidiu-se que cada um dos 25 bancos – afinal, eram todos concorrentes – fariam suas próprias campanhas publicitárias dos cartões, colocando sempre a marca Visa.

A CBMP/Visanet aprovou então um Regulamento/Contrato, estabelecendo as regras para utilização do dinheiro do fundo. Todas as regras valiam para todos os bancos associados, inclusive para o Banco do Brasil.

O DINHEIRO SEMPRE FOI DA VISANET, NUNCA DO BANCO DO BRASIL

As nove páginas do Regulamento do Fundo de Incentivo Visanet são bastante objetivas (na íntegra, no final).

Para começar, diferentemente do que os ministros afirmam e a mídia alardeia, os recursos financeiros do Fundo Visanet nunca pertenceram aos 25 bancos associados, muito menos ao Banco do Brasil.

Basta ler a cláusula que diz respeito à origem e à propriedade do dinheiro. O valor aportado para o Fundo de Incentivo Visanet era aprovado pelo Conselho de Administração da Visanet. Em fevereiro de 2004, por exemplo, ele designou para aquele ano R$ 156 milhões.

O Regulamento é taxativo: A Visanet sempre se manterá como a legítima proprietária do Fundo de Incentivo Visanet.




Aliás, o Banco do Brasil forneceu essa informação diretamente ao ministro-relator. Foi em resposta ao ofício nº 5.118/R, de 2 de junho de 2009 (Volume 143 fls 30769 a 30776).






Conclusão 1: O dinheiro do Fundo de Incentivo Visanet pertencia integralmente à CBMP/Visanet. Portanto, eram recursos privados e não houve desvio de recurso público pertencente ao Banco do Brasil.

BB NUNCA FOI DONO DE DINHEIRO DO FUNDO, NEM ERA ACIONISTA

O Fundo Visanet não tinha nada a ver com o capital da Visanet.

Em 2004, por exemplo, o Conselho de Administração da Visanet disponibilizou R$ 156 milhões para o Fundo.

A Visanet estabeleceu uma regra para disponibilizar o dinheiro do FIV para os bancos. Para cada banco associado, o dinheiro do FIV era disponibilizado proporcionalmente ao tamanho da carteira de clientes.

O Bradesco, o maior banco à época, ficou em primeiro lugar, cabendo-lhe 39% das ações.

O Banco do Brasil, que tinha o segundo maior número de postos de distribuição (é o nome que os bancos usam para agências), ficou em segundo, com 31,99% das ações.

Agora, cabia a cada banco associado decidir se utilizaria ou não o dinheiro do Fundo. Ao concordar em utilizá-lo, estava sujeito às regras do regulamento.

O banco associado tinha até data para utilizá-lo: 31 de dezembro de cada ano fiscal sob pena de perda de direito ao dinheiro.

Se decidisse não utilizá-lo por qualquer razão, perderia também o direito ao dinheiro. O valor permaneceria no Fundo e poderia ser ou não redistribuído novamente para os outros bancos.

Além disso, os bancos associados não dispunham livremente sobre esse dinheiro do Fundo de Incentivo Visanet. Os recursos do FIV ficavam sempre em poder da CBMP/Visanet, em conta bancária em nome desta empresa.




– Mas o ministro Joaquim Barbosa não disse que o Banco do Brasil era dono dos recursos do Fundo de Incentivo Visanet?

Realmente, disse. E em seu voto publicado à página 738 do acórdão integral, Barbosa repete:





A convicção dele baseou-se no Laudo 2828/2006, do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, que diz exatamente o que está no parágrafo abaixo grifado:





O laudo 2828/2006 não diz que o BB era acionista do Fundo Visanet, mas diz que era detentor de 31,99% do capital da Visanet. Daí talvez a confusão.

É possível que se o ministro tivesse levado em consideração a íntegra do Regulamento do Fundo de Incentivo Visanet, talvez percebesse que tais conclusões não procedem. No mínimo, as questionaria.

Conclusão 2: Os bancos associados, inclusive o Banco do Brasil, nunca foram acionistas do Fundo de Incentivo Visanet.

O próprio regulamento, repetimos, tornava isso impossível: A Visanet sempre se manterá como a legítima proprietária do Fundo de Incentivo Visanet.

Além disso, como os bancos, inclusive o Banco do Brasil, poderiam ser acionistas do Fundo, se NUNCA puseram um tostão sequer nele? O dinheiro era todo da Visanet.

Conclusão 3: O Banco do Brasil não era dono sequer de 0,1% dos recursos do Fundo, muito menos dos 32% citados pelo ministro-relator e repetidos pelos seus pares.

PIZZOLATO NUNCA TEVE PODER PARA ORDENAR TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS

Como já dissemos mais atrás, os ministros do STF concluíram que o ex-diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, desviou, entre 2003 e 2004, R$ 73.851.000,00 do Fundo de Incentivo Visanet para a DNA Propaganda, de Marcos Valério.

A alegação dos ministros é que Pizzolato, por ser diretor de Marketing do Banco do Brasil, é quem mandava a Visanet depositar dinheiro na conta da DNA Propaganda.

Os ministros afirmaram ainda que, mesmo que o dinheiro fosse privado (pertencente à Visanet), Pizzolato é quem tinha poder para mandar pagar à DNA.

Só que, com base no regulamento do Fundo, isso não corresponde à verdade dos fatos.

O Regulamento/Contrato determinava que cada banco parceiro, caso quisesse utilizar os recursos do Fundo Visanet, deveria indicar um representante, um gestor. Para isso, o banco deveria apresentar uma carta formalmente indicando-o.

O gestor era a única pessoa responsável e com poderes para apresentar propostas de ações de incentivo — campanhas publicitárias — e solicitar que o Fundo Visanet efetuasse pagamentos às agências de publicidade e fornecedores.

O Banco do Brasil ao indicar o gestor, conferiu a ele poderes para gerir os recursos do Fundo Visanet, tanto no ambiente Visanet, quanto no ambiente Banco do Brasil.







Pois bem, de 2002 a 2005, o Banco do Brasil indicou como seu representante no Fundo Visanet, Léo Batista dos Santos, gerente-executivo da Diretoria de Varejo do BB.

Aliás, desde 2001, ano de criação do Fundo, até 2005, quando foi extinto, o gestor sempre foi indicado pelo Diretor de Varejo do BB.




Assim, de 2003 a 2005, período em que Pizzolato era diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, todos os documentos enviados à Visanet foram assinados por Léo Batista dos Santos e seu representante, Douglas Macedo.

Enquanto gestor do Banco do Brasil no Fundo Visanet, Léo Batista tinha as seguintes responsabilidades:

*Preparar, assinar e encaminhar à Visanet as propostas de Ações de Incentivo.

*preparar memorando e documentos solicitando o pagamento ou reembolso de despesas.

*Colher todas as aprovações necessárias de acordo com a Política Interna do próprio Incentivador.

*Prestar oficialmente os esclarecimentos pedidos quando da análise da Ação de Incentivo pelo Comitê Gestor;

Ou seja, todas as ORDENS para que a Visanet pagasse à DNA foram dadas pelo gestor Léo Batista dos Santos. Não há nenhum documento recebido ou enviado à Visanet, assinado por Pizzolato.

O próprio Laudo 2828/2006, resultado de perícia realizada pela Polícia Federal na CBMP/Visanet, mediante ação cautelar para busca e apreensão, afirma que o gestor

“…indicado pelo Banco (do Brasil), como única pessoa responsável,…, para cuidar dos assuntos relacionados às Ações do Fundo de Incentivo”, no período de 19/08/2002 a 19/04/2005, era Léo Batista dos Santos.

Conclusão 4: Henrique Pizzolato não tinha nenhuma relação com o Fundo Visanet. Nunca foi gestor do Fundo nem encaminhou/assinou qualquer documento solicitando que a Visanet efetuasse pagamentos à DNA.

REGULAMENTO DO FUNDO VISANET INOCENTARIA HENRIQUE PIZZOLATO

A rigor, o Regulamento/Contrato do Fundo de Incentivo Visanet põe por terra uma das vigas mestras do mensalão: o desvio de dinheiro público pertencente ao Banco do Brasil.

Por que será que Regulamento/Contrato não foi considerado?

Seria por que o Regulamento/Contrato demoliria ou, no mínimo, reduziria a denúncia do mensalão?

Durante a CPI dos Correios, pelo menos, vários executivos do Banco do Brasil foram citados, inclusive o gestor do Fundo Visanet, Léo Batista, o presidente do BB à época, Cássio Kasseb, o Diretor de Varejo, Fernando Barbosa de Oliveira, o Gerente Executivo de Varejo, Douglas Macedo. Nenhum deles foi denunciado ao STF na Ação Penal 470. O único que foi penalizado foi Henrique Pizzolato.

Seria por que Pizzolato era o único petista, enquanto os demais eram oriundos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?

Estranhamente, a Visanet nunca foi chamada a depor na CPI dos Correios. Por quê?

Aliás, desde 2005 2009, a Visanet trocou de nome. É Cielo.

Por que Daniel Dantas também não foi chamado a depor? Afinal, ele está no inquérito 2474, apelidado de “gavetão”, que tem tudo a ver com o mensalão, embora o ministro Joaquim Barbosa, que era seu relator, diga que não.

O inquérito 2474 está há quase sete anos em segredo de Justiça determinado pelo próprio Joaquim Barbosa. Em 1º de agosto deste ano, o ministro Luís Roberto Barroso substituiu Barbosa. Mas na semana passada Barroso pediu para ser substituído.

Será que o secretíssimo 2474 vai sumir no STF, como aconteceu com o mensalão tucano?

O que tem o inquérito 2474 de tão bombástico para ficar tanto tempo em segredo de Justiça?

Seria por que incrimina figuras importantes da República? Ou seria por que guarda provas importantes que poderiam inocentar alguns réus do mensalão, como Henrique Pizzolato?

Regulamento Fundo de IncentivoVisanet by Conceição Lemes



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Desmontando a “pegadinha” da Folha



Enviado por Miguel do Rosário on 30/08/2013 –


O Fernando Brito já escreveu alguma coisa sobre a nova farsa da Folha, cuja manchete hoje é nada mais que um ataque político rasteiro à iniciativa do governo federal de ampliar o número de médicos por habitante no país. Mas O Cafezinho também fez pesquisas sobre o tema e levantou informações interessantes.



Em primeiro lugar, o ministro da Saúde avisou há tempos que o prefeito que demitir médico estará violando o acordo com o governo federal, visto que o objetivo do programa é ampliar o número de médicos no país. E a prefeitura acabará perdendo dinheiro porque o governo cancelará o convênio com a prefeitura que fizer isso. Agora, um programa dessa magnitude, num país com 5.500 municípios, necessariamente implicará em fatos dessa natureza. Se não há médico brasileiro querendo ir ao interior, é natural que haja médicos brasileiros no interior querendo sair, ou trabalhando de má vontade, sem cumprir expediente.

Entretanto, o problema me parece ainda mais grave que isso. Fui pesquisar, individualmente, todos os exemplos citados pela Folha, de prefeitos que estão, supostamente, demitindo médicos para substituí-los pelos profissionais enviados pelo Ministério da Saúde. E descobri que a Folha conseguiu escolher a dedo.

Vamos lá.

1) Coari.

O primeiro caso citado é o da cidade de Coari, no interior profundo do Amazonas. A reportagem da Folha diz o seguinte:

Um exemplo é Coari, no Amazonas, a 421 km de barco de Manaus, onde a prefeitura paga R$ 25 mil para médicos recém-formados e R$ 35 mil para os especialistas.

“Somos obrigados a pagar esse valor ou ninguém aceita. Vamos tirar alguns dos nossos médicos e colocar os profissionais que chegarão do Mais Médicos”, diz o secretário da Saúde, Ricardo Faria.

A prefeitura diz que vai demitir um médico de seu quadro para trocá-lo por outro que chegará já na primeira fase do programa federal.

Pois bem, fui pesquisar o prefeito de Coari, Adail Pinheiro, e quase me arrependi de tê-lo feito. O homem é o principal acusado da Operação Vorax, concluída pela Polícia Federal há alguns anos.

Leia esse trecho, extraído de matéria da Agência Brasil de junho de 2008;

Adail Pinheiro é apontado pela PF como o chefe do esquema responsável pelo desvio de, pelo menos, R$ 49 milhões dos cofres públicos. Segundo o delegado, não restam dúvidas sobre a participação dele no esquema de corrupção. Pinheiro foi indiciado pela PF pelos crimes de peculato, corrupção ativa, formação de quadrilha, favorecimento à prostituição, atentado violento ao pudor, sonegação fiscal e fraude em documento público. A organização criminosa é acusada de direcionar licitações, superfaturar obras e simular prestação de serviços para se apropriar de recursos repassados pelo governo federal e pela Petrobras referentes à exploração de petróleo e gás em Coari.

Ou seja, o prefeito entrevistado pela Folha é useiro e vezeiro em desviar recursos do governo federal, coisa que pretendia fazer agora com Mais Médicos.

Mas a coisa é ainda mais barra pesada. Pinheiro também se tornou o principal suspeito de chefiar uma organização voltada à exploração sexual de crianças. Como resultado paralelo da Operação Vorax, descobriu-se em Coari um sinistro esquema de pedofilia, e a Câmara dos Deputados criou uma CPI, presidida pela deputada federal Erika Kokay (PT-DF).

Mais notícias aqui. Dê um google com o nome do prefeito e “exploração sexual de crianças”, para vocês verem o nível do primeiro exemplo trazido pela Folha de prefeitos espertalhões que pretendem demitir médicos da cidade para substituí-los pelos oferecidos pelo Ministério da Saúde.

2) Lábrea.

Trecho da matéria da Folha:

“Plano igual ao de Lábrea (a 851 km de Manaus), que tem seis médicos. “Pago R$ 30 mil para cada um deles. [Substituí-los] diminuiria os gastos da prefeitura”, diz o prefeito Evaldo Gomes (PMDB).”

Outra cidade encravada no sertão amazônico. O prefeito Evaldo Gomes, do PMDB, só está no cargo por uma liminar provisória, depois de ter sido acusado de vários crimes eleitorais.

A denúncia do TSE descreve os seguintes fatos:

a) Denúncia de eleitores indígenas ludibriados por Mesários; b) Problemas técnicos na urna da Seção Eleitoral n° 002; c) Violação do lacre da urna da Seção Eleitoral n° 73 e o deslocamento da urna ao local de votação 4 (quatro) dias antes da data do pleito bem como fornecimento de alimentação a eleitores pelo Presidente da referida Mesa Receptora de votos para captar ilicitamente sufrágio em favor dos investigados; d) Entrega pelo Chefe de Cartório Eleitoral de mais de 300 (trezentos) títulos eleitorais a servidor municipal no mês de agosto/2012 para distribuição; e) Irregular parceria entre o Chefe de Cartório Eleitoral e o Prefeito Municipal; f) Reunião entre o Chefe de Cartório, o Prefeito Municipal e o primeiro investigado no dia 02.10.2012; g) Entrega irregular de 300 (trezentos) títulos eleitorais na região sul de Lábrea; h) Irregularidades consistentes no fato de terceiros votarem em lugar de eleitores.

E muitos outros.

3) Sapeaçu.

O exemplo desta cidade ocupa a maior parte da matéria da Folha. Trecho da matéria:

O prefeito de Sapeaçu, Jonival Lucas (PTB), confirma a demissão de Junice e a chegada de um profissional do Mais Médicos para substituí-la.

Lucas afirma que a médica deixará o cargo por não cumprir a carga horária estabelecida e que o substituto será um profissional brasileiro que já atuou naquela região do interior da Bahia.

“Já estávamos procurando outro para assumir o lugar dela”, diz o prefeito do município, que fala em “uma série de vantagens para o município” com o Mais Médicos.



Esse é um caso interessante, porque envolve a Coofsaúde, uma cooperativa de médicos que atua no interior da Bahia. As prefeituras contratam a Coofsaúde para fornecer médicos aos hospitais municipais. É uma terceirização lamentável do serviço médico, mas tudo bem. Acontece que, procurando na internet, descobri uma série de denúncias contra a Coofsaúde justamente por pagar supersalários a diretores de hospital municipais que fizeram convênio com a cooperativa.

Em Jeremoabo, houve denúncia de que o Hospital Municipal da cidade, apesar dos péssimos serviços oferecidos, e da falta de médicos, pagava quase 100 salários mínimos ao diretor da instituição. Foram publicados os contracheques do diretor.




A imagem está apagada, mas dá para ver que a “taxa da cooperativa” é quase R$ 2.000/ mês. No site da Coofsaúde, informa-se que a instituição surgiu em “agosto de 2005, fruto da união de um grupo de profissionais de saúde , com a finalidade de prestar serviços ,de forma legal e justa, atendendo aos princípios do cooperativismo e assumindo a responsabilidade na gestão de seus contratos junto ao poder público. Atualmente a nossa cooperativa possui mais de 1000 (mil) cooperados, mais de 30 (trinta) contratos com Prefeituras Municipais”

É óbvio que a Coofsaúde é uma parte totalmente interessada no fracasso do programa “Mais Médicos” do governo federal, visto que ele concorre diretamente para reduzir os lucros da instituição. Fui conferir na cartilha da Coofsaúde e descobri que a entidade não tem “fins lucrativos”, mas tem “sobras”:

O que são sobras? A cooperativa tem lucro?
O que em uma empresa comum é chamado de lucro, nas cooperativas chama-se de sobras. Ao final de cada exercício fiscal é levantado o balanço financeiro da sociedade e, em caso de haver sobras, estas devem ser distribuídas igualitariamente aos sócios.

A cartilha informa ainda que o “cooperado” não tem nenhum direito trabalhista garantido. Não tem décimo-terceiro, FGTS, aviso prévio, férias remuneradas. Nada.

O autônomo cooperado tem direito a férias, 13° salário, aviso prévio e FGTS?
O prestador de serviço que aderir à cooperativa e, por estatuo da mesma, adquirir o status de cooperado, não é caracterizado como empregado, conforme artigo 442 da CLT, adiante reproduzido:

“Qualquer que seja o ramo da atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de serviços daqueles”. Dito isto, fica claro que o cooperado não tem os mesmos direitos de um trabalhador celetista como as férias remuneradas, 13º salário, aviso prévio e FGTS.

Segundo o site Congresso em Foco, Jonival Lucas, agora prefeito de Sapeaçu, “foi um dos deputados denunciados pela CPI dos Sanguessugas. Responde ao processo 13226-30.2007.4.01.3600 na Justiça Federal de Mato Grosso pelos crimes de quadrilha ou bando, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.”

Em entrevista dada há pouco para o site Bahia Recôncavo, Jonival reafirma que Junice foi demitida por negligência, por não cumprir a carga de horário. E reforça que ela não vai ser substituída por nenhum cubano, mas por um brasileiro que já trabalhou na região, do programa Mais Médicos.

Neste caso, a fonte desqualificada nem é tanto o prefeito, e sim a médica entrevistada.

Nas redes sociais, internautas denunciam Junice: ele teria 3 vínculos públicos e 128 horas semanais de trabalho, o que provaria, naturalmente, que ela não está cumprindo efetivamente a carga horária de suas obrigações médicas.






4) Camaragibe.

“Dos quatro profissionais do Programa Mais Médicos a que Camaragibe, na região metropolitana do Recife, terá direito, apenas dois são novos. Os outros já estão na cidade e vão deixar de receber pela prefeitura para ter o salário pago pelo governo federal.”

A Folha informa, por fim, que a prefeitura de Camaragibe, Bahia, também vai substituir médicos próprios por profissionais contratados pelo governo federal. O prefeito da cidade é o Jorge Alexandre, do PSDB. Os servidores municipais tem acusado o prefeito de estar promovendo uma série de cortes de direitos adquiridos há muito tempo, e contratando pessoal sem concurso. O seu sindicato conseguiu que o Ministério Público publicasse uma recomendação ao prefeito para respeitar o plano de carreiras do município.

Me parece, portanto, que a prefeito Jorge Alexandre, é suspeito duas vezes nessa “pegadinha” da Folha. É de um partido adversário do governo federal, interessado portanto em desgastar a iniciativa do Ministério da Saúde. Tem um histórico de querer “economizar” cortando direitos dos funcionários, e agora vemos, também empregos, contrariando a orientação expressa do Ministério da Saúde, pela qual as prefeituras que demitirem médicos para receberem profissionais do programa serão cortadas do convênio.








os médicos brasileiros que querem trabalhar são bem-vindos... revalide o ato de pensar!


Blog entrevista o líder do grupo que vaiou médicos cubanos

Posted by eduguim on 28/08/13 • Blog da Cidadania




O presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (SimeC) é o médico e ex-vereador José Maria Pontes. Ele liderou o protesto contra médicos cubanos ocorrido na terça-feira (27) em Fortaleza. Cobrado pela violência do ato, vem dizendo que “Ninguém vaiou médico cubano, mas quem estava com eles”. E que a vaia só ocorreu porque “Não dava para não misturar se estava todo mundo junto”.

O sindicalista ainda garantiu à imprensa que “A vaia, na verdade, foi para aquelas pessoas que tiveram a ideia absurda de trazer esses médicos para cá, inclusive com trabalho escravo sem nenhum compromisso a não ser com o compromisso ideológico do Partido dos Trabalhadores”.

A declaração de Pontes se deu no âmbito de críticas aos médicos, militantes políticos e sindicalistas cearenses que vaiaram os médicos cubanos, críticas que foram feitas por entidades médicas e sindicais do próprio Ceará, pela imprensa e pelas redes sociais.

Diante de fato como esse, o Blog decidiu entrevistar o presidente do SimeC. Este blogueiro encontrou Pontes em seu celular, em Brasília, preparando-se para voltar ao Ceará. Confira, abaixo, a conversa (gravada) com a pessoa que liderou a manifestação que xingou médicos cubanos negros de “escravos” e “incompetentes”.


*

Blog da Cidadania – Senhor José Maria Pontes, o senhor é presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, certo?

José Maria Pontes – É.

Blog da Cidadania – Sr. José Maria Pontes, sobre esse caso do ato do seu sindicato contra os médicos cubanos, o senhor deu uma declaração de que as vaias e tudo mais que foi feito ali não teria sido contra eles.

José Maria Pontes – Não, na realidade, pra que as pessoas entendam, nunca ninguém teve intenção de atingir os médicos, porque naquela manifestação os médicos cubanos que chegaram ao Ceará foram recepcionados pelo Ministério da Saúde. O Odorico, que é representante do Ministério, é cearense.

O ato foi feito contra essa postura [do Ministério da Saúde] de trazer os médicos cubanos sem o Revalida. A nossa manifestação tinha uns 70, 80 médicos. Inclusive barraram a nossa entrada na Escola de Saúde Pública e nós ficamos do lado de fora com carro de som, fazendo manifestação e quando eles [os médicos cubanos] saíram, realmente levaram uma bruta vaia.

Quer dizer, não os médicos, né… Foi direcionado ao Odorico, porque ele saiu cercado por médicos [cubanos], como se estivesse protegido. E tudo foi direcionado a ele. Inclusive, né, a…

Blog da Cidadania – Quando fala em Odorico, o senhor se refere a quem?

José Maria Pontes – Odorico Monteiro é o representante do Ministério da Saúde. É cearense e é uma das pessoas responsáveis por essa situação…

Blog da Cidadania – Senhor José, desculpe-me por interrompê-lo, mas há uma foto que circulou muito na internet e na imprensa em que um desses médicos cubanos está sendo vaiado por jovens médicas do seu sindicato. Elas estão gritando com as mãos na boca perto do rosto dele.

Havia, também, gritos de que os médicos seriam escravos. Foram ouvidos reiteradamente durante o protesto. Inclusive…

José Maria Pontes – Vamos, vamos, vamos…

Blog da Cidadania – Um minutinho, senhor José, deixe-me só terminar essa pergunta, porque as pessoas estão querendo entender o que de fato aconteceu.

Então veja, os manifestantes gritaram que os médicos cubanos seriam “escravos”. As vaias foram gravadas em vídeo e o que se vê nesse vídeo é que foram dirigidas diretamente aos médicos.

O que o senhor pode me dizer sobre essa contradição? O senhor afirma que as vaias não foram dirigidas aos médicos cubanos, mas o vídeo mostra outra coisa.

E ainda há um outro componente um pouco doloroso nisso tudo, senhor José Maria, porque havia muitos médicos cubanos negros, ali, e chamá-los de “escravos” é uma associação que muitas pessoas viram como racismo…

José Maria Pontes – Então deixa eu contar.

Blog da Cidadania – Pode falar, por favor.

José Maria Pontes – Quando nós estivemos lá, fazendo manifestação, eles [os médicos cubanos e o representante do Ministério da Saúde] fecharam a porta e foram fazer a manifestação deles lá dentro…

Blog da Cidadania – Perdão, mas não estavam fazendo “manifestação lá dentro”, estavam recebendo treinamento…

José Maria Pontes – Nós ficamos lá fora fazendo manifestação contra eles. Uma das coisas que foi mais debatida, lá, foi a história do trabalho escravo, né, no sentido de eles não terem direito a férias, 13º salário, a hora-extra e não ter direito a casar nem a namorar no Brasil

Blog da Cidadania – Epa! Proibição de se relacionar com brasileiros?

José Maria Pontes – É, porque…

Blog da Cidadania – Perdão de novo: de onde o senhor tirou essa informação?

José Maria Pontes – Essa informação todo mundo sabe, circula, porque é o seguinte, só pra você entender: se o médico tiver um filho com brasileiro ele adquire, naturalmente, a nacionalidade [brasileira] e o que se comenta – que parece que é verdade – é que eles querem que os cubanos voltem pra lá, porque se eles [os cubanos] pedirem asilo político no Brasil eles [o governo] não vão dar…

Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria, mas espere aí: como é que se vai impedir alguém de ter relacionamentos amorosos, por aqui? Suponhamos que um médico vê uma brasileira bonita na rua, começa a namorá-la, ela engravida… Enfim, como é que o governo brasileiro ou o cubano vão impedir que isso aconteça?

José Maria Pontes – Pois é, é isso que estou falando…

Blog da Cidadania – Então não pode existir essa proibição…

José Maria Pontes – Eles não querem que o médico cubano tenha filho com a mulher brasileira porque aí adquire nacionalidade e os médicos vão acabar ficando aqui…

Blog da Cidadania – Mas, repito, de onde o senhor obteve essa informação, senhor José Maria?

José Maria Pontes – Ah, essa informação circula há muito tempo, né…

Blog da Cidadania – Mas, aí, não significa que seja verdadeira…

José Maria Pontes – Eeehh… Inclusive na Venezuela, tá! Isso aí [a suposição] aconteceu [sic] porque os médicos venezuelanos, com essa história de não poder sair a partir das 18 horas – e se tiver que sair tem que prestar contas pra uma pessoa de Cuba –, faz a gente pensar assim…

Mas eu vou lhe responder a outra pergunta, né. O médico, o que ficou colocado foi essa questão do trabalho escravo. Até, ontem, a Fenam [Federação Nacional dos Médicos] entrou com uma representação, né, no Ministério Público do Trabalho sobre a questão trabalhista.

Eles [os médicos cubanos] vão ser utilizados para trabalho escravo. E o que aconteceu, então, não foi no sentido pejorativo, de chamá-los de negros. O que ficou colocado é que a gente estava dizendo para eles que eles iam exercer trabalho escravo…

Blog da Cidadania – Mas senhor José Maria… Primeiro que chamá-los de negros, tudo bem. Afinal, eles são negros mesmo e ser negro não é “pejorativo”.

José Maria Pontes – O que foi chamado [sic] é que eles querem associar a um sentido pejorativo, mas foi no sentido de ter o trabalho dele não do jeito que vem, porque do jeito que eles estão postulando… Porque, veja bem, os médicos que vêm da Argentina vão receber, diretamente, dez mil reais, que não é salário, é bolsa. Então eles [os médicos cubanos] não têm nenhum direito trabalhista.

Blog da Cidadania – Desculpe interrompê-lo, mas eu não consigo entender. Se eu chamo alguém de escravo, estou xingando. Porque se chamassem o Odorico [representante do MS] de feitor de escravos, até se poderia entender que o insulto foi para ele, mas quando chamam os médicos cubanos de escravos, isso é um insulto. Além disso, o escravo não tem culpa de ser escravo. Não pode ser vaiado por sua escravidão…

José Maria Pontes – Não, não, não foi nesse sentido. Foi no sentido de chamar a atenção…

Blog da Cidadania – Deles?!

José Maria Pontes – Não, não foi nesse sentido…

Blog da Cidadania – Vou reformular a pergunta: o senhor não se ofenderia se chegasse em um determinado local e uma pequena multidão o chamasse de escravo?

José Maria Pontes – Eu quero te garantir que o que foi colocado foi não aceitar que essas pessoas sejam usadas em trabalho escravo.

A nossa orientação, do sindicato, foi nesse sentido, que os manifestantes chamassem a atenção para a questão do trabalho escravo.

Foi, então, uma palavra de ordem, não no sentido pejorativo. Foi pra chamar a atenção deles de que iam exercer o trabalho escravo.

Blog da Cidadania – Isso o senhor já me explicou. Mas fico com uma dúvida quando o senhor fala em trabalho escravo. Pelo seguinte: o acordo feito entre o governo brasileiro e o governo cubano é semelhante aos acordos que a Organização Pan-americana de Saúde – a entidade de saúde mais antiga do mundo – fez com 58 países.

Não fica uma coisa meio estranha que 58 nações e mais o governo brasileiro estejam promovendo o trabalho escravo? Além do que, trabalho escravo, pelo que se entende, depende de condições degradantes de alojamento, alimentação, pagamento e, até agora, não existe nenhuma evidência de que isso esteja acontecendo.

Minha questão, portanto, é: 58 nações, mais o governo da República Federativa do Brasil, mais a organização de saúde internacional mais antiga do mundo (fundada em 1902) iriam promover o trabalho escravo no Brasil e no mundo, senhor José Maria?

José Maria Pontes – Estranho, né? Mas é verdade.

Blog da Cidadania – Estranho, não: fantástico.

José Maria Pontes – Quando você diz que a pessoa vai trabalhar, ela tem direito a salário. Eles [os médicos cubanos] vão receber uma bolsa. Não vão ter 13º salário, não vão ter direito trabalhista nenhum, porque é bolsa, né…

Quando você limita para que ele [o médico cubano] não possa sair de determinada área… Foi assim que aconteceu com os médicos cubanos na Bolívia e na Venezuela. Há depoimentos. E eles também não podem trazer a família deles.

Eu vi a entrevista de uma médica da Espanha, ela pode trazer a família dela. Eles [os médicos cubanos] não podem.

Quer dizer, quem está dando as ordens não é o governo brasileiro, é o governo cubano.

E essa coisa da OPAS foi só uma coisa… Uma bijuteria, foi só pra enfeitar, para dizer que foi uma coisa oficial, tal…

Blog da Cidadania – Ora, mas não é “para dizer que foi uma coisa oficial”. O acordo foi feito entre o governo brasileiro, o cubano e a OPAS. Não é uma “bijuteria”, é um acordo formal. Inclusive, o portal UOL publicou esse acordo, um tipo de acordo que é feito com a entidade por dezenas e dezenas de nações do mundo inteiro e o regime legal pelo qual esses médicos trabalharão no Brasil, até o momento, recebeu todo o aval da Justiça.

Então eu lhe pergunto: se a Justiça e o Ministério Público não encontrarem qualquer irregularidade nesse acordo, como é que fica uma manifestação e um discurso que GARANTEM a todos que está sendo implantando o trabalho escravo na medicina brasileira?

Ficaríamos assim: o governo brasileiro, a Justiça brasileira, o Ministério Público brasileiro, a OPAS e mais 58 nações estariam envolvidos com exploração de trabalho escravo, senhor José Maria? Isso não lhe parece uma sandice?

José Maria Pontes – É porque, até agora, ninguém teve acesso ao acordo do Brasil com a OPAS e o governo cubano. E estamos pedindo ao Ministério Público do Trabalho para que analise esse contrato, né, para ver se não existe trabalho escravo…

Blog da Cidadania – Sim, mas querer saber...

José Maria Pontes – Deixa eu falar, senão você fala, fala e não vai entender…

Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria. Pode falar, então.

José Maria Pontes – O que estou querendo dizer é que nós não temos nada contra os médicos. Foi uma manifestação contrária ao representante do ministério da Saúde. Eles [o governo Dilma] utilizou aquilo ali politicamente, para tirar proveito porque eles são poderosos, eles têm dinheiro, eles têm o poder da máquina estatal, mas não somos contra a vinda de médicos cubanos.

Não saiu em imprensa nenhuma, mas nós colocamos, várias vezes, que os médicos cubanos são bem vindos ao Brasil, mas queremos que eles tenham todas os direitos trabalhistas e tenham liberdade de ir vir. Mas ao governo não interessa, né, divulgar essas coisas.

Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria, mas a forma dessa manifestação não me parece correta. Eu lhe pergunto uma coisa: se o senhor fosse um daqueles estrangeiros e, chegando ao Brasil, encontrasse uma turba gritando, chamando-o de escravo, o senhor se sentiria bem vindo?

José Maria Pontes – Veja bem, quando se colocou essa questão não foi com a conotação que querem dar. Dissemos escravos foi no sentido inclusive de defender os interesses deles…

Blog da Cidadania – Espere aí: então a manifestação que foi feita com vaias e chamando-os de escravos foi para defendê-los?! De quem, deles mesmos? Porque, até onde se sabe, eles estão de acordo com tudo.

José Maria Pontes – Não, não foi a questão de defendê-los, foi para defender as condições de trabalho deles…

Blog da Cidadania – Mas o senhor não acha que a opinião deles também conta? Essas pessoas estão fora do país delas e, se estivessem sendo submetidas a trabalho escravo, poderiam muito bem, estando em território estrangeiro, denunciar e pedir asilo político dizendo ao governo brasileiro “Olha, estou sendo escravizado, me dê asilo”…

Eu digo isso, senhor José Maria, porque nunca vi um escravo que gostasse de ser escravo.

Aliás, muito pelo contrário, os médicos cubanos têm dado declarações no sentido de que estão muito satisfeitos por estarem aqui, de que não visam somente dinheiro porque o Estado cubano lhes deu a formação que têm, deu assistência médica, educação, moradia, alimentação a eles e às suas famílias. Então, trata-se de uma realidade diferente da nossa.

A questão que surge, portanto, é sobre como pode o sindicato do senhor querer defender os médicos contra a própria vontade deles.

José Maria Pontes – É, mas, veja bem, não é defender os médicos, é a questão do trabalho escravo independentemente da vontade de quem está sendo submetido a trabalho escravo.

Cuba é um país extremamente pobre. Ora, pra você formar um médico é difícil e Cuba exporta milhares de médicos para Venezuela, para a Bolívia… No Brasil, no segundo país que mais forma médicos, você não tem condição de formar tantos médicos para exportar.

Blog da Cidadania – Mas acontece, senhor José Maria, que, em Cuba, o ensino é gratuito. É difícil formar médicos no Brasil porque as faculdades privadas custam uma fortuna e para entrar nas públicas tem que estudar em escolas caras, cursinhos caros e poucos têm condições.

José Maria Pontes – É que precisa uma escola equipada, com bons profissionais…

Blog da Cidadania – E o senhor acha que não tem isso em Cuba? Porque seus indicadores de saúde são muito superiores aos nossos. Expectativa de vida, mortalidade infantil… Aliás, a mortalidade infantil em Cuba é menor do que a dos Estados Unidos.

José Maria Pontes – Veja bem, eeehh… Em Cuba você não tem a violência que tem no Brasil e o trabalho que eles fazem, que todo mundo comenta, é que esses profissionais não são médicos, eles são formados num nível intermediário para trabalhar no interior…

Blog da Cidadania – Ah, o senhor me desculpe, mas os currículos desses médicos foram divulgados. A maioria é versada em mais de uma especialidade. Todos têm mais de uma década de experiência na profissão. Como não são médicos?

José Maria Pontes – Não, não, eles não são médicos de verdade, eles são formados em atenção básica…

Blog da Cidadania – Qual é a fonte da sua informação, porque diverge do que vem divulgando o Ministério da Saúde.

José Maria Pontes – Não, não, eles são só médicos de atenção básica…

Blog da Cidadania – Então agora são médicos? E apesar de seus currículos dizerem que não são formados só em atenção básica… Até porque, mesmo o maior especialista de Cuba é formado, também, em atenção básica, ou em saúde da família. É a lei de lá.

José Maria Pontes – Olha, eu vou ter que viajar. Meu avião está saindo.

Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria Pontes.



*


Assista, abaixo, ao vídeo da manifestação que José Maria Pontes liderou na última segunda-feira em Fortaleza.






3minutos de boa informação!


GLOBO CENSURA REPÓRTER
QUE ELOGIA MEDICINA DE CUBA


Site da GloboNews prefere a Tacanhêde… Qual a novidade ?

Conversa Afiada




Pontual: problema do Dr CRM é com o Che Guevara ...


Navegante do Tijolaço recupera destemida intervenção de Jorge Pontual, da Globo Overseas, em Nova York.

Não vai durar muito lá …

Quem manda dizer que a medicina em Cuba, comunitária, preventiva, resulta em índices melhores que os americanos …

O Gilberto Freire com “i” (*) jamais o perdoará !

Quem vai longe na Globo Overseas é a Tancanhêde.

Já, já assume o “Entre Caspas”.



GLOBONEWS “APAGA” PONTUAL E DEIXA SÓ CANTANHÊDE FALAR DE CUBA


O internauta que visitar a página do programa Em Pauta, da Globonews, só vai ouvir falando sobre a questão dos médicos de Cuba a comentarista Eliane Cantanhêde que, claro, desce a lenha no governo cubano, que vai se loucupletar co o trabalho daqueles pobres escravos.

Claro, a colunista da massa cheirosa, não podendo fazer outra coisa, entra na linha dos “pobres cubanos”, caçados a laço para estudar medicina e mandados sob chIcote, em aviões negreiros, para trabalhos forçados no Brasil.

Não puseram um segundinho do jornalista Jorge Pontual que, em lugar de ficar de chororô, prefere falar de como renasceu e com que características se desenvolveu a liderança de Cuba em atenção médica, que faz com que uma pequena ilha possa estar mandando médicos para um país enorme como o Brasil.

Pontual não vai ao ar na página da GloboNews, mas vai aqui, porque o internauta Felix Rigoli gravou e colocou no YouTube, de onde fomos pegar para colocar no Tijolaço. Vale a pena porque são três minutos de boa informação, com dados e explicações sobre o tema, em lugar de politicagem hipócrita sobre os médicos.

A gente posta aí embaixo o que a GloboNews sonegou na internet.

Diante da repercussão negativa, o canal da GloboNews, publicou no inicio da noite o vídeo do jornalista Jorge Pontual. Menos mal, que continue assim.





(*) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de antropólogo e sociólogo com o livro “Não somos racistas”, onde propõe que o Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto Freire com “ï”. Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um Gilberto Freire com “i”.

é preciso ficarmos atentos ao corporativismo(intolerância?) dos médicos


Entidades da saúde comemoram manutenção dos vetos ao ato médico




A aprovação da lei com a manutenção dos vetos presidenciais em pontos que geraram polêmica foi comemorada por diferentes categorias como psicologia, enfermagem e biomedicina | Foto: Bruno Spada/ABr


Nícolas Pasinato no SUL 21


Após 11 anos de tramitação, a Lei do Ato Médico foi aprovada pelo Congresso na última quarta-feira (28). Além da longa tramitação para ser ratificada, a norma também sofreu forte resistência de profissionais de outras áreas da saúde que se sentiram ameaçados de terem o seu campo de atuação invadido. Por essa razão, a aprovação da lei com a manutenção dos vetos presidenciais em pontos que geraram polêmica foi comemorada por diferentes categorias como psicologia, enfermagem e biomedicina.

O item da lei que mais causava incômodo entre os profissionais de outras categorias estava no artigo 4°, que teve nove pontos vetados, entre eles o inciso 1°, que atribuía exclusivamente aos médicos a formulação de diagnósticos de doenças. No campo da psicologia, por exemplo, os profissionais não poderiam mais diagnosticar transtornos mentais, conforme explica o conselheiro do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Celso Tondin.

Tondin ressalta a importância da manutenção dos vetos. “A manutenção dos vetos foi positiva para o desenvolvimento das políticas de saúde do país, visto que garantiu o exercício da medicina ao mesmo tempo que o exercício das demais profissões da saúde. As profissões têm hoje preservadas a sua autonomia, além de garantir as políticas públicas vigentes no SUS”, celebra.

Outros artigos vetados diziam respeito à indicação de próteses e órteses e até a aplicação de injeções. Ao justificar a razão do veto relacionado à aplicação de injeções, o governo explicou que condicionar o procedimento à rescrição médica pode causar impacto no atendimento dos estabelecimentos privados e nas políticas públicas do SUS, como as campanhas de vacinação.




A biomedicina foi uma das categorias que se posicionou criticamente ao Ato Médico | Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Os enfermeiros, que possuem a aplicação de injeções como uma de suas atribuições, também comemoraram a permanência dos vetos. Logo após a maioria dos 458 deputados e 70 senadores, que participaram da sessão da última quarta-feira (28) acatarem os vetos do Palácio do Planalto o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) divulgou nota afirmando que “os parlamentares tomaram o remédio da lógica e da razão”. O presidente da entidade, Osvaldo Albuquerque, destacou que deputados e senadores “votaram em favor do modelo de saúde consolidado como o melhor do mundo, ao favorecer a integralidade da saúde nos princípios da universalidade e equidade, respeitando a multidisciplinaridade e o cuidado interdisciplinar”.

A biomedicina foi uma das categorias que se posicionou criticamente ao Ato Médico. Situados numa área de intersecção entre a biologia e a medicina, os biomédicos reivindicavam o direito de continuarem realizando os exames anatomopatológico e citológico, que buscam identificar doenças através da retirada de tecidos e células do corpo, respectivamente.

Também em comunicado, os biomédicos demonstraram satisfação com o desfecho da lei. “Mais do que representar o poder de voz das mobilizações, os vetos da Presidente Dilma, aceitos pelos congressistas, significam um sonoro ‘não’ ao retrocesso de pensamento. Revelam a consciência de que o bem-estar físico e emocional das pessoas demanda um intrincado de ações (procedimentos técnicos e comportamento gerencial) integradas dos profissionais que compõem o sistema de atendimento à saúde, seja do ponto de vista da prevenção, do tratamento ou da reabilitação”, diz a nota.

Procedimentos invasivos

Outro aspecto contestado do projeto que acabou sendo vetado era o de limitar aos médicos a realização de procedimentos invasivos. Nesse caso, o governo justificou a sua ação, pois entendeu que essa determinação da lei colocaria a acupuntura como serviço privativo dos médicos. Outro veto significativo foi do artigo que dizia que seria função exclusiva da classe médica ocupar cargos de chefia e direção de serviços médicos. O governo alega que carece de definição o termo “serviços médicos”.




Rogério Wolf: “A avaliação sobre a conclusão do Ato Médico é mais positiva do que negativa” | Foto: Divulgação/Cremers


Entre os trechos da norma mantidos estão os que cabem apenas às pessoas formadas em medicina a indicação e intervenção cirúrgicas, além da prescrição dos cuidados médicos pré e pós-operatórios; a indicação e execução de procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo acessos vasculares profundos, as biópsias e as endoscopias. Também será de exclusividade médica a sedação profunda, os bloqueios anestésicos e a anestesia geral.

Avaliação que temos hoje é mais positiva do que negativa, diz presidente do Cremers

Durante o tempo em que acontecia a discussão em relação à lei que regulamentava a medicina, os médicos sustentavam a posição de que a norma não avançaria sobre outras áreas e que possuíam o direito de organizar a única profissão carente de uma regulamentação nacional na área da saúde. Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Rogério Wolf de Aguiar, atualmente, a avaliação sobre a conclusão do Ato Médico é mais positiva do que negativa.

“Foram vetados alguns itens da lei, mas a relação do exercício da medicina com as demais profissões de saúde que estavam se opondo a regulamentação da lei não mudou. Nada foi acrescentado às demais profissões da saúde. E aquilo que os médicos vêm fazendo como diagnóstico e prescrição de medicamentos segue como era antes. Então resta uma avaliação de que os médicos não tinham uma lei e agora tem”, analisa Aguiar.

No entanto, o presidente do Cremers não esconde a frustração com a manutenção dos vetos. “A avaliação no primeiro momento foi de muita decepção pela manutenção dos vetos, uma vez que poucas semanas antes o próprio Senado tinha acabado de aprovar um projeto de lei quase que por unanimidade depois de 11 anos de tramitação. Agora, depois de um mês, mantem vetos da presidência de vários itens, voltando atrás de tudo aquilo que tinha passado por diversas comissões.”

a parcela microscópica e abastada de seu povo


Política e ideologia conspurcam a imagem do Brasil no exterior

Posted by eduguim on 29/08/13 • Blog da Cidadania




Há mais ou menos uns dois meses, a filha Gabriela, que reside há quatro anos na Austrália a fim de estudar, vendo na tevê de lá as cenas de vandalismo que ocorriam por aqui durante a onda de protestos que tomava o país, enviou-me mensagem via Facebook relatando a sua tristeza decorrente da deterioração da imagem do Brasil naquele país.

De país visto como em franco desenvolvimento, que resgatava a sua imensa dívida social, que economicamente vinha se destacando por gerar empregos em quantidades industriais enquanto o resto do mundo chafurdava no desemprego, o Brasil começava a ser visto como uma nação decadente e sem rumo.

O relato de Gabriela, então, somava-se a tantos outros feitos por brasileiros expatriados que vão constatando, envergonhados, a deterioração da imagem de um país que era visto como dotado de um povo alegre, hospitaleiro e como uma potência emergente e que, agora, estava gerando uma onda internacional de decepção.

Até junho último, a intensa campanha de desmoralização do país empreendida pela grande imprensa local não produzia efeitos. A opinião pública internacional entendia que essa imprensa brasileira estava em uma campanha política e, assim, atinha-se aos fatos, aos indicadores econômicos ao avaliar o nosso país.

As cenas de guerra que o país exportou, porém, criaram a falsa impressão de que, de fato, a situação por aqui era muito ruim. De junho para cá, outros factoides políticos vêm contribuindo para macular a imagem do Brasil.

As cenas de hostilidade aos médicos estrangeiros que estão chegando no âmbito do programa Mais Médicos se espalharam internacionalmente e chegaram à Austrália, o que fez a minha filha enviar-me, de novo pelo Facebook, sua tristeza com mais um factoide que está ajudando o mundo a ver o nosso país com maus olhos.




Médicos estrangeiros são bem vindos em incontáveis nações. Na Austrália, a maioria dos médicos é composta por estrangeiros, sobretudo asiáticos, como relata a minha filha. Ela, inclusive, disse não se lembrar, ao longo dos quatro anos em que reside naquele país, de ter se consultado com um médico australiano.

As cenas patéticas com gritos de “escravos” vertidos por médicos brasileiros brancos contra médicos cubanos negros ou as cenas de violência e até de xenofobia durante a Copa das Confederações estão, inclusive, induzindo o mundo a enxergar o Brasil como um país mal-humorado, intolerante e até preconceituoso, o que é um absurdo em um país em que a maioria do povo é negra.

Uma ansiosa blogueira amiga que viaja com frequência ao exterior, inclusive, não só referendou o que disse a minha filha Gabriela como ainda diagnosticou que “O que Lula construiu [em termos da boa imagem do país] está sendo destruído” por essa luta político-ideológica sem limites, sem juízo e sem rumo.

Pobre do país que tem uma elite porca, mesquinha e corrupta como a nossa, capaz de enlameá-lo, de literalmente destruir a sua imagem para lucro de grupos políticos e para satisfazer idiossincrasias e interesses particulares. O Brasil não merece essa parcela microscópica e abastada de seu povo que trata de difamá-lo.

e aí, carapááálida, até onde vai sua indignação? a indignação do carapááálida tem data pra começar... 2002

Livro conta tramóia da reeleição tucana
Palmério revela o Príncipe da Privataria: FHC pode olhar nos olhos do “Senhor X”?


publicada sexta-feira, 30/08/2013 às 06:54 e atualizada sexta-feira, 30/08/2013 às 06:54


Escrevinhador






“Olha, Fernando, quando você conversar comigo, por favor, nivele teus olhos aos meus” (quem foi o homem que acusava FHC de ser um príncipe esquivo e escorregadio?) “Rameira, ponha-se daqui para fora” (quem disse essa frase principesca, após um ataque de cólera dentro do Senado Federal?)

por Rodrigo Vianna

Quem conhece a história recente do Brasil (e também o passado ‘republicano’ de nossas elites – com Convênio de Taubaté, Encilhamento etc…) sabe bem que o tal “mensalão do PT” está longe de ter sido o “maior escândalo da história política brasileira” – como pretendem augustos, mervais e outros quetais do jornalismo elitista. Mas quem ainda tinha dúvidas ganha, agora, mais uma chance para desfazê-las: o novo livro do jornalista Palmério Dória.

Se Amaury Ribeiro Jr (com “A Privataria Tucana“) já havia lançado luzes sobre a vertente serrista do tucanismo, Palmério agora vai ao centro do esquema: “O Príncipe da Privataria” (Geração Editorial) traça, em quase 400 páginas de texto saboroso, o perfil de um homem vaidoso, simpático, com fama de mulherengo, e que dirigiu o Brasil com o propósito declarado de “enterrar a Era Vargas”. Fazia parte do pacote tucanista vender estatais a preços ridículos e, se fosse preciso, mudar as regras do jogo democrático usando todos os artifícios possíveis. FHC foi o presidente que fez o Real? Não. Este foi Itamar Franco. Mas FHC foi o presidente que quebrou o Brasil, vendeu nosso patrimônio público e transformou o Congresso Nacional numa feira de mascates.

Esse é o ponto alto do livro: a feira da reeleição. Em 1997, o repórter Fernando Rodrigues produzira uma série de reportagens históricas publicadas pela “Folha de S. Paulo”: nelas, um certo “senhor X” apresentava gravações de reuniões em que deputados federais falavam abertamente sobre a venda de votos para aprovar a reeleição de Fernando Henrique no Congresso. O preço do voto: 200 mil reais.

O “senhor X” entregou as gravações ao Fernando Rodrigues, mas jamais mostrou o rosto. Palmério Dória agora mostra quem é o “senhor X”. Ele tem nome, sobrenome e 16 anos depois dos fatos aceitou dar entrevista de peito aberto. Narciso Mendes, 67 anos, é empresário no Acre, e na época da reeleição de FHC era deputado federal. Por isso tinha acesso às reuniões em que se deu a tramóia.

Narciso Mendes recebeu o jornalista Palmério Dória, e relembrou toda a história – incluindo a forma como a base tucanista (no Congresso e na imprensa) conseguiu frear uma CPI para investigar a compra dos votos denunciada em 97:


“Nem Sérgio Motta queria CPI, nem FHC queria CPI, nem Luis Eduardo Magalhães queria CPI, ninguém queria porque sabiam que, estabelecida a CPI, o processo de impeachment ou no mínimo de anulação da emenda da reeleição teria vingado, pois seria comprovada a compra de votos“, disse Narciso a Palmério Dória.

O fim dessa história qual foi? CPI jamais foi instalada. O MPF jamais investigou nada. Havia um relato escandaloso, com gravações e tudo: pelos menos seis deputados do Acre teriam vendido seus votos pela reeleição. A classe média indignada não moveu uma palha. Nada se fez…

Numa conversa recente entre Palmério Dória e alguns blogueiros sujos, um observador maldoso chegou a afirmar: “200 mil reais era o preço pelo voto acreano, imagine quanto não deve ter custado o voto de um deputado de São Paulo ou Minas para aprovar a reeleição?” Quanto? Quanto? Sergio Mota talvez pudesse esclarecer. Mas levou para o túmulo o segredo de polichinelo…

Nunca antes na história desse país, a não ser em ditadura, um presidente mudou as regras do jogo eleitoral de forma tão escandalosa. Um atentado contra a Democracia. Documentado. Como se sabe, FHC obteve o segundo mandato, quebrou o país, tentou vender todo o patrimônio público e – ao fim – saiu do poder com o rabo entre as pernas. Nem Serra em 2002, nem Alckmin em 2006 tiveram coragem de defender o legado fernandista. Hoje, o ex-presidente tem coragem de sair por aí a dizer o que os tucanos devem ou não fazer na próxima eleição. Serra deve se remoer. Sabe bem quem é o ex-presidente que posa de príncipe de Higienópolis. Terminados os oito anos de FHC, o neoliberalismo estava em frangalhos na América Latina: Fujimori foi preso no Peru, Salinas exilado do México, Menem jogado no lixo da história argentina. FHC tinha virado um príncipe. O livro de Palmério mostra que de príncipe ele tem muito pouco.

O livro também volta às privatizações, relembra a venda (ou doação?) da Vale, debruça-se sobre meandros e transações tenebrosas na telefonia… Mas a obra não é uma coleção de fatos e notícias do octanato fernandista. Não. O jornalista costura a crônica política (e financeira) com o perfil privado do marido de Dona Ruth. Fofocas? Também não.

Por que o Brasil não ficou sabendo que FHC era apontado – já ao chegar ao poder – como pai de uma repórter da TV Globo? Que favores FHC ficou devendo à família Marinho (e ao grupo seleto de políticos que lhe deu ‘cobertura’ na história do filho) quando a Globo aceitou “exilar” a tal repórter num posto sem importância em Lisboa (e depois na Espanha)?

“Rameira, ponha-se daqui para fora”? Quem disse essa frase principesca, após um ataque de cólera dentro do Senado Federal?

“Olha, Fernando, quando você conversar comigo, por favor, nivele teus olhos aos meus.” Quem foi o homem que acusava FHC de ser um príncipe esquivo e escorregadio?

Não são meros detalhes. Dezesseis anos depois de ter aparecido como “senhor X”, Narciso Mendes ressurge e confirma que a reeleição foi comprada. FHC pode “nivelar os olhos” e encarar Narciso de frente? Parece que não. E o Brasil, FHC pode encarar de frente? Leiam o livro do Palmério antes de dar a resposta definitiva.




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terça-feira, 27 de agosto de 2013

xenofobia e racismo dos coxinhas médicus(?)

a lógika do capital não consegue(?) entender os médicos cubanos... a consulta não vai custar R$500,00

Eles chegaram
Médicos cubanos: quem são?


publicada segunda-feira, 26/08/2013 às 14:50 e atualizada segunda-feira, 26/08/2013 às 14:50


Escrevinhador



por Luiz Carlos Pinto na Carta Maior


Millar Castillo, Milagros Gardenas, Natasha Sanches, Wilma Salmora Louis, Rodovaldo Santos e até um Nelson Rodrigues. Os primeiros profissionais da saúde cubanos a pisar em solo brasileiro para trabalhar no programa Mais Médicos, do governo federal, possuem um perfil muito definido. Os médicos que atenderão amplas parcelas da população pobre brasileira têm entre 41 e 50 anos, possuem filhos adultos empregados ou fazendo algum curso superior em uma das instituições de ensino cubanas, mais de 16 anos de carreira médica, mestrado ou pós-graduação concluídos – inclusive na área de administração hospitalar –, experiência em zonas de conflito ou de países com baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) na América Latina, África e Ásia. São características de um perfil que também contraria certa expectativa por médicos jovens, filhos ou netos de outros profissionais da saúde – uma tradição presente na cultura brasileira, por exemplo. Nenhum dos doutores com os quais Carta Maior conversou é filho ou neto de médicos.

Esse é o perfil dos médicos cubanos que atenderão à maior parte dos 701 municípios que não despertaram interesse de médicos brasileiros ou de outras nacionalidades. O que também chama a atenção é a variedade das localidades de onde os cubanos são originários – nenhum dos seis entrevistados (de um total de 96 que ficam acomodados nas próximas duas semanas em Recife) é da mesma cidade ou província. Assim, se pode intuir como a formação médica na ilha atinge de forma mais homogênea moradores do país, o que é fator de distribuição do atendimento, mesmo nas regiões distantes da capital Havana.

Um ideal que o modelo brasileiro, por circunstâncias naturais (grandes distâncias), mas principalmente por determinações históricas, ainda está longe de ser alcançado. Os locais onde atuarão os médicos de Cuba têm os piores índices de desenvolvimento humano do país – IDH muito baixo e baixo, segundo PNUD –, e 84% estão no interior do norte e nordeste, em regiões com 20% ou mais de sua população vivendo em situação de extrema pobreza.

Bandeira na mão – Durante todo o tempo em que permaneceu no aeroporto de Recife para a entrevista coletiva com a imprensa, no último sábado (23), a médica da família Milagres Cardena (24 anos de profissão) não soltou a bandeira de um metro e meio por 50 cm de seu país, que trazia estendida à frente do corpo por onde passasse. Na mão esquerda, segurava uma bandeirola do Brasil, e tinha na ponta da língua uma afirmação que parece condensar o sentimento comum dos colegas de vôo. “Viemos para ajudar, colaborar, complementar, aprender com os médicos brasileiros no atendimento básico da população carente desse grande país”.

Quando perguntada se se sentia explorada, como sugerem setores liberais da imprensa brasileira, por não receber diretamente o salário pago pelo governo brasileiro, a resposta gentil e segura foi dada por outro colega da senhora Cardena, a seu lado. “Não estamos aqui para ganhar dinheiro. Nossa missão é humanitária, estamos aqui por solidariedade”, afirmava Nelson Rodrigues.

A colocação, endossada pelos companheiros, era reforçada pelo entendimento de que essa ação faz parte de uma relação entre nações. O nacionalismo, aliás, é um elemento presente na fala de todos os médicos entrevistados.

A afirmação deu o tom das primeiras reportagens baseadas na entrevista coletiva publicadas nos jornais do domingo (25). Mas o mesmo questionamento sobre a forma de pagamento e a possibilidade de serem explorados voltaria à pauta na entrevista, quando mais uma grupo com 66 médicos cubanos desembarcou no Recife

A frase do médico, 45 anos, 21 anos de profissão, expressa o que parece ser um elemento comum e poderoso do perfil do profissional da saúde formado na escola cubana. “A base de nossa formação é humanista. É esse o caráter de nossa formação. A atenção ao indivíduo como forma de tratá-lo como ser humano integral é um elemento forte em qualquer processo de cura”. Tendo passado por programas semelhantes no Haiti e Venezuela, o médico reiterava a experiência de todos os médicos de Cuba que chegam ao Brasil: a atuação em países com baixos níveis de IDH e comumente em más condições de trabalho.

“Mas sabemos que o seu país é grande, com grandes recursos humanos e econômicos”, lembrava Natasha Romero Sanches, epidemiologista nascida em Pillar del Rio, a província mais a oeste de Havana. A frase solta, quase displicentemente, pareceu ter um alvo bem claro: a ideia plasmada de que as condições de trabalho dos profissionais da saúde no Brasil é ruim, natural e indefinidamente – o que acomoda as possibilidades e espaços de reivindicação por melhores condições de atendimento nas unidades de saúde.

Filha de um oficial russo e de uma cubana, Natasha, 22 anos de profissão, também segurava sua bandeirola brasileira. Usava brincos verdes compridos, que o jaleco alvíssimo evidenciava – todos os médicos cubanos, aliás, diferentemente de espanhóis, argentinos e portugueses, viajam a caráter. E a saudade de casa, como fica? “Meu filho é um adulto, está terminando o curso de medicina em Havana, onde moram meus pais – eu moro em minha província. Todos são saudáveis e estão bem, não há ruptura ou trauma no afastamento. Isso não é novo, pois todos já estivemos trabalhando em outros países”, afirmava entre um sorriso e outro.

“Meus filhos já estão todos criados, emendava Milagres Gardenas, que com experiência médica no Paquistão, Honduras e Colômbia é uma das mais experientes do primeiro grupo a chegar ao Brasil. “Essa iniciativa do governo brasileiro é muito positiva. Penso que todos vão sair ganhando. Vamos aprender com nossos colegas brasileiros. O mesmo temos feito em países com situações muito problemáticas, na Ásia e na América Latina. Penso que isso será benéfico para o povo pobre que requer atenção médica e atenção primária adequadas. Vamos trata-los e fazer todo o possível. O mesmo fizemos em outros lugares”.

Dificuldades econômicas – Quando perguntados se as dificuldades econômicas do Estado cubano prejudicam a formação dos médicos no país caribenho, a resposta – “Cuba hoje forma médicos de todo o mundo” – é acompanhada de um complemento. “Nosso país tem uma situação difícil, mas nós compartilhamos o que temos. Penso que isso, como o povo brasileiro, vai ser sumamente positivo, vitorioso”, complementava Nelson Rodrigues.

O ponto de vista foi reforçado por Wilma Salmora Louis, que no domingo explicava como via os reflexos das medidas liberalizantes que vem sendo implementadas por Raul Castro. “Não acredito que essas medidas vão intensificar a diferença social entre as classes em meu país. São medidas muito aguardadas no mundo todo, e que precisam ser tomadas para mudar o que está mal em Cuba”, disse. “São medidas para melhorar os indicadores da população cubana”, complementou. Com mestrado em gestão hospitalar – 20% dos médicos cubanos do Programa Mais Médicos têm algum tipo de pós-graduação), Wilma Salmora já é uma conhecida do Brasil. Esteve trabalhando no Estado do Tocantins entre 2001 e 2002. Com 45 anos, 23 deles dedicados à medicina, tem dois filhos. “Um deles é professor e vai começar a ensinar no próximo mês; o outro é técnico em computação”, afirma.

Um outro ponto em comum de todos os médicos entrevistados é a admiração ao povo brasileiro e a expectativa em serem bem tratados. “Falem para o povo brasileiro que nós viemos ajudar. E que confiem nos médicos cubanos”, dizia Wilma Salmora. “As críticas que as entidades médicas locais têm feito não nos preocupam. Acho que teremos uma relação positiva com o Brasil e continuaremos a ter, pois viemos para trabalhar juntos”, disse.




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