A república do Galeão serrista
O comportamento de José Serra e o dos seus áulicos, titulares de importantes – cada vez menos, felizmente – colunas e blogs na grande imprensa, em tudo recorda o comportamento dos segmentos golpistas incrustrados na Aeronáutica nos episódios que, em 1954, levaram à morte do Presidente Getúlio Vargas.
Ali, como agora, exigem apuração em rito sumário, fora do devido processo legal e, como então, não admitem em nenhuma hipótese que qualquer ato criminoso não seja – como não era – responsabilidade pessoal e direta do então Presidente da República. Antes de investigar, julgam. Antes de julgar, condenam.
Agem babujando seu ódio, dizendo-se moralmente indignados, encapuzando-se com a bandeira da democracia quando, na verdade, é só o poder – e o poder contra o povo – o que lhes interessa. Aqueles “democratas” do Galeão, depois de levarem à morte Getúlio, tentaram em dois golpes – Jacareacanga e Aragarças – derrubar o presidente Juscelino Kubistchek, legítima e caudalosamente eleito pelo povo.
As vestais do Galeão tentariam de novo em 61, mas a ditadura militar que pretendiam implantar foi esmagada pela união do povo com militares que honravam suas fardas e seus compromissos constitucionais.
Triunfaram, é verdade, em 64. E deram ao país uma noite de horror, violência, tortura e morte que levou gente honrada e corajosa como Dilma Rousseff a enfrentá-la ao risco de suas próprias vidas.
É irônico que 46 anos depois daquele arreganho autoritário estes propósitos golpistas se encarnem numa figura que, naquela época, ainda não tinha sido tomada pelo mal e pela ambição.
José Serra é uma alma penada do golpismo antitrabalhista de 64. Vagará, com seus gemidos e gritos, cada vez mais só e desesperado. Agora há luz. E com a luz, essas fantasmagorias se esvanescem, se dissolvem, desaparecem.
Se o golpismo policialesco do tucanato se assemelha àquela República do Galeão, há porém, uma circunstância muito diferente. Já não existe o mundo da Guerra Fria; já não existe o medo do comunismo “ateu e apátrida” para engambelar pessoas inocentes. Já não existem o Chateaubriand, o Marinho, o monopólio que restringia a informação a uma pequena camada da população e Serra é uma versão revista e piorada do lacerda que saiu da esquerda para ser o corvo da direita.
E há agora, sobretudo, um líder popular na plenitude de suas energias, reconhecido pelo povo como Getúlio foi, a quem esbanja forças para enfrentar o golpe e a quem não resta apenas o gesto heróico que sobrou como última arma para Vargas.
Há, sobretudo, um povo esclarecido e que já tomou posição. A força do povo já se tornou um escudo intransponível para defender a democracia brasileira.
A esta gente, mais do que a vergonha e o estigma que cobriu os golpistas do passado, restará apenas o destino que a história reserva aos que se opõe à sua inexorável marcha.
O povo brasileiro é mais forte que qualquer manobra, que qualquer golpismo, que qualquer indignidade. Porque este povo, esta gente, que tem, mesmo inconscientemente as lições de sua história pulsando na veias, não mais, por Deus, não mais será escravo de ninguém.
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