Abismo vermelho, amarelo e verde
por Luciana Tomasi em 18 de abril de 2011
O Rio Grande do Sul está tentando reerguer-se depois de 8 anos de descaso com a cultura. Tarefa muito complicada que o novo governo tem pela frente. A cultura é um dos fatores responsáveis pela sanidade emocional dos gaúchos. No meu lado B, dou aulas de yoga para dependentes químicos e seus familiares. Nos últimos tempos, também para menores de rua recolhidos para abrigos. Sobre o pobre universo financeiro e social deste segmento, nenhuma novidade. Ainda assim, outro dia, consegui ficar chocada com jovens de 12 anos que nasceram e cresceram em Porto Alegre, cidade com excelente reputação intelectual no Brasil.
- Professora, o que é meditação?
- A meditação é parar com as ondas mentais, parar com os pensamentos. É uma prática nascida na Índia e divulgada no ocidente principalmente pelos Beatles.
- Por quem?
- Pelos Beatles. George Harrison, John Lennon...
- Não conhecemos . São daqui?
- Não, são da Inglaterra. Mas teve o show do Paul McCartney aqui, no ano passado. Vocês não ouviram falar?
- Não ouvimos. Pól o que? MacDonalds?
- McCartney.
Contei um pouco da história dos Beatles. Quando começaram a bocejar, voltei para a meditação. Tinhamos recebido donativos para São Lourenço. Eles se jogaram nos donativos à procura de tênis Nike. No final, vieram mais perguntas:
- Professora, posso escolher uma imagem mental de passarinho?
- Não é legal. Passarinho voa e se mexe muito. Tem que ser alguma coisa estática, e se vocês tiverem um santinho de preferência, coloca o santinho que ajuda.
- Eu tenho. Professora, qual é o nome daquele de braços abertos em cima de um morro?
Pensei: não é possível. Devem estar gozando com a minha cara. Perguntei para o grupo:
- Como é o nome do santo no Rio de Janeiro, com os braços abertos?
Nenhuma resposta. Eles realmente não sabiam. Respondi:
- É o Cristo do Corcovado.
- A senhora pode escrever num papel Cristo do Corcovado para eu não esquecer?
Escrevi. Vou dizer pra minha sogra que, sem querer, talvez tenha ajudado a formar um cristão.
John Lennon disse que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo. Ele morreu sem saber o nível que pode chegar o abismo entre os conectados e os completamente fora da sociedade da informação.
Pelo menos nos abrigos de Porto Alegre, Beatles e Jesus Cristo continuam desconhecidos.
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