O PT e as eleições de 2012 em Porto Alegre
Por Paulo Muzell
Quatorze meses antes do início da campanha das eleições do ano que vem poder-se-ia pensar ser prematuro tratar de tema tão distante. Puro engano. Os primeiros movimentos e negociações com vistas à sucessão de Fortunati começaram há alguns meses, ainda em 2010 e estão em pleno andamento. A inevitável indagação inicial é: que possíveis alterações poderão ocorrer no atual cenário político municipal?
Desde 2005 temos em Porto Alegre na Prefeitura um governo de centro-direita, eleito e sustentado por uma forte coligação de oito partidos que tem uma ampla maioria no Legislativo municipal: 26 das 36 cadeiras. A renúncia de José Fogaça (ex-PPS, atual PMDB) colocou o PDT, com José Fortunati no comando da Prefeitura, originando-se aí o governo Fo-Fo. A oposição tem os restantes dez vereadores: sete do PT, dois do PSOL e um do PSB. A derrota nas eleições municipais de 2004 e o crescimento do PSOL tiveram como conseqüência a redução do número de vereadores do PT que, no entanto, se mantém como a maior bancada na Câmara.
Em linhas gerais, apesar da novidade de uma coligação de centro-direita ocupar a Prefeitura da capital a partir de 2005, a correlação de forças e o espectro de alianças se manteve praticamente inalterado a partir do final dos anos oitenta. Desde 1988, quando o PT venceu as eleições para prefeito temos de um lado o PT e alguns partidos aliados – PC do B e PSB – e no outro o PMDB, o PP, o PTB , o PDT, o PPS (este uma “costela” do PMDB), o PSDB e o DEM (ex-PFL), eventualmente acompanhados por algum pequeno partido que se agrega pela necessidade de gravitar e viver em torno do poder.
A grande novidade a partir do final dos anos oitenta e da década de noventa é o apequenamento do PDT. O PT cresce, ocupa seus espaços e o PDT ruma célere à direita. Como conseqüência, muitos dos seus melhores quadros migram para outros partidos (principalmente o PT) e os resultados eleitorais são cada vez piores. A exceção foi a breve recaída pedetista, em 1999, ao coligar com o PT, ajudou eleger Olívio governador. A “lua de mel” durou pouco: em 2001 a CPI da segurança teve Vieira da Cunha como relator e o deputado pedetista, valendo-se de ampla cobertura da RBS – que tinha como alvo preferencial o então secretário Bisol – dirigiu fortes, fantasiosos e caluniosos ataques ao governo petista. Antes de findar o governo Olívio, o PDT rompe e abandona seu governo.
O governo Fortunati começa muito mal: dois episódios lamentáveis marcam o início de sua gestão: a morte de um estudante, eletrocutado numa parada de ônibus e a de um transeunte numa obra mal sinalizada da Prefeitura. Finda 2010 e inicia 2011 anunciando um leque de grandes obras, a maioria das quais constantes do PAC, ou seja, realizadas com recursos federais. Surfando na onda da Copa 2014 e contando com forte apoio da RBS, consegue uma recuperação da imagem do seu governo, ainda prejudicado pela má qualidade dos serviços municipais, especialmente nas áreas da limpeza urbana e da saúde. Tenta fortalecer sua candidatura e realiza movimentos contraditórios: acena com afagos e tenta se aproximar do PT e concretiza movimentos no sentido aposto ao entregar a SMAM para um ex-deputado do PMDB, claramente identificado com os interesses da especulação imobiliária além de trazer para uma assessoria especial do seu governo uma colaboradora, pessoa próxima da ex-governadora Yeda Crusius.
As perguntas a serem feitas são: terá Fortunati alguma chance de sucesso ao tentar se aproximar e conseguir o apoio do PT? Quais as conseqüências para o PT de uma possível aliança com o PDT na esfera municipal? Afinal, em nível nacional e estadual o PDT integra os governos Dilma e Tarso. Esta aliança terá alguma chance de “vingar” em Porto Alegre?
Dá para perceber que há movimentos contraditórios, que a questão é polêmica e ainda não resolvida no interior do PT. O partido, junto com o PSOL têm ao longo desses pouco mais de seis anos feito oposição e caracterizado o governo Fo-Fo (Fogaça-Fortunati) como privatista, comprometido com os interesses da especulação imobiliária, sobre o qual pesam inúmeras e graves denúncias de corrupção, mau gestor, distanciado dos movimentos populares. Um governo que liquidou o OP, que não tem preocupação e compromisso com a preservação do meio ambiente, que não cumpre seus programas de governo e seus orçamentos, além de estar envolvido em uma série de episódios obscuros que resultaram na anulação de inúmeras grandes concorrências, denúncias não bem esclarecidas no programa Sócio-Ambiental e na abertura de duas CPI, a da saúde e a do Pró-Jovem, esta última pródiga de graves acusações de desvios de recursos e de ameaças de morte, trocadas entre um vereador e uma deputada, ambos do PDT.
Assim, integrar uma aliança com Fortunati na cabeça seria algo como mudar de lado aos “45 do segundo tempo”. Uma aliança a qualquer preço, apenas para ocupar “espaços do poder” seria incoerência do PT, um passo a mais rumo à perda de identidade.
Alguns setores do PT, no entanto, afirmam que uma aliança com o PDT e o apoio a Fortunati seria uma conseqüência natural do quadro político nacional e estadual, de formação de alianças de amplo espectro. Eles vêm Fortunati como um possível “cavalo do comissário”: comanda uma grande prefeitura com um orçamento de 3,5 bilhões de reais, com um “exército de 4 mil CCs e estagiários e a simpatia da mídia, além do benefício das grandes obras federais programadas para a Copa 2014. As duas alternativas restantes ao PT são lançar candidato próprio ou apoio à Manuela já no primeiro turno. Teremos a resposta nos próximos meses.
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