Peça de Izaías Almada debate questão dos desaparecidos políticos
por Juliana Sada
Nesta quarta-feira, tem início a 20ª edição do Festival de Teatro de Curitiba, um dos mais importantes eventos de artes cênicas do Brasil. Com duração até dez de abril, o Festival reúne mais de quatrocentas atrações, entre teatro, música, circo, stand-up comedy, dança e cinema. O dramaturgo e escritor Izaías Almada, colunista deste Escrevinhador, terá sua peça “Pai” encenada pela Cia Nuvem da Noite.
O texto inédito de Almada, adaptado e dirigido por Gilson Filho, conta a história de uma família que encontra o corpo de seu pai, um desaparecido da ditadura militar brasileira. A ossada é encontrada junto a outras centenas durante uma busca no Cemitério de Perus, em São Paulo. O enrendo foca na chegada desta informação na família e como isto transforma a delicada relação entre mãe e filha, reavivando lembranças e revelando sentimentos abafados.
A peça será encenada nos dias 4, 5, 6 e 7 de abril, na Casa Hoffman, no centro de Curitiba. Mais informações podem ser encontradas no site do Festival.
Izaías Almada conversou com o Escrevinhador e nos contou mais sobre a sua peça.
A peça foi escrita baseada em alguma história em particular, algum episódio real?
Não foi propriamente uma história em particular, mas foi a partir da notícia da descoberta de ossadas em um cemitério da periferia de São Paulo, ainda no governo da prefeita Luiza Erundina. Havia suspeitas de que algumas dessas ossadas pudessem ser de prisioneiros políticos da ditadura que desapareceram. Como tive amigos nessa situação, em especial o Eduardo Leite, o Bacuri, e o ex-marinheiro Raimundo Costa, quis fazer uma homenagem a eles e a outros companheiros desaparecidos.
O objetivo do texto é sensibilizar o público frente a questão dos desaparecidos políticos? Ele tem como finalidade provocar um debate entre o público?
Sim, o objetivo da peça é sensibilizar o público para esse problema, mostrando que aqueles “terroristas” eram pessoas como qualquer um de nós, cujas as circunstâncias da luta política na época os transformou em opositores clandestinos, já que não havia alternativas para um pensamento oposicionista no país depois do golpe de 64. Mas a sensibilização ultrapassa esse primeiro patamar, pois também – nos dias de hoje – deve chamar a atenção para a efetivação e os trabalhos da Comissão da Verdade. E se isso provocar debates com o público após as apresentações, melhor ainda.
Qual a relevância do teatro abrir espaço para esse debate político?
No meu entender, o teatro, o cinema, a literatura, as artes de um modo geral, mas principalmente aquelas que mantém contato com um número maior de pessoas, devem estar sempre sintonizada com o que se passa à sua volta.
E qual é, na sua opinião, a importância de se debater esses temas?
Debater a questão dos direitos humanos será sempre importante, em qualquer época. Como o homem ainda não aprendeu a viver numa sociedade mais justa e efetivamente pacífica, nunca será demais tentar, através da arte, sensibilizar as pessoas para determinadas questões: a melhor distribuição da riqueza é uma delas. A luta contra a tortura e a violência policial é outra. A questão da soberania nacional será uma terceira. E por aí eu poderia nomear várias questões relevantes para se debater. Hoje e, pelo visto, sempre…
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