quinta-feira, 24 de março de 2011

se concordar, pode

Proibido debater, só concordar

Quando temas polêmicos são abordados na mídia, os meios de comunicação tendem a buscar apenas especialistas ideologicamente confiáveis. Assim, o objetivo nunca é suscitar discussões ou confrontar visões diferentes sobre o assunto, mas reafirmar a posição hegemônica: a ideologia dita “”neutra e imparcial”" (com duas aspas mesmo) da grande mídia. E a questão das drogas talvez seja o  que melhor demonstre isso. Basta ver os veículos regionais. Ora, por trás de campanhas como “Crack: Nem Pensar”, está uma forte ideia de criminalização do consumo e do usuário, obscurecendo todo um contexto muito maior e mais complexo. Afinal, a demanda por esses tipos de substância não surge do nada – na verdade, estão atrelados a uma rede de circunstâncias construídas histórica e socialmente.

Claro, a mídia  tradicional prefere agir como se fosse a guadiã dos valores morais. É mais simples e confortável, além de não exigir grandes contestações. São raros os momentos de descuido dessa patrulha midiática, mas acontecem. A entrevista abaixo, conduzida pela jornalista Leilane Neubarth,  é um exemplo perfeito do que ocorre quando a. Para comentar um estudo que mostra que quase metade dos universitários brasileiros já usou drogas, a Globo News trouxe aos seus estúdios a pesquisadora  e pedagoga Gilberta Acselrad, que conhece esse debate a fundo, sem se prender a preconceitos. O confronto estava armado. Seus argumentos eram contrários ao moralismo da rede de televisão, que não estava preparada para ouvir o outro lado.

O que se segue é uma verdadeira aula. Tanto de como não entrevistar (ora, perde-se boa parte da entrevista ouvindo comentários inúteis de Leilane) quanto sobre o que o Estado poderia fazer em relação às drogas. Gilberta consegue colocar as coisas em uma perspectiva histórica, afirmando que a humanidade sempre fez uso de alguma substância que altere os sentidos. Por isso, segundo ela, não há motivos para fazer tamanho alarde com essas cifras, algo que só serve para justificar um rígido aparato repressivo. Porém, a jornalista entendeu que a entrevistada é a favor da descriminalização e, portanto, é uma pessoa moralmente questionável. “Então, a senhora é a partidária daquele grupo que é a favor da liberação?“, chega a perguntar, com uma forte entonação nas palavras, em determinado momento do vídeo.

É uma pena que professora Gilberta não consiga expor todo seu conhecimento, pois é interrompida sucessivas vezes. Ainda que seja uma pequena conquista ter conseguido esse breve espaço na mídia conservadora,  o fato é que a imprensa, em geral, não quer que certos intelectuais falem demais. Afinal, pensar e divergir é muito perigoso.

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