José Alencar a PHA:
Não tenho medo da morte, mas da desonra
Publicado em 29/03/2011
Conversa AfiadaEm homenagem ao grande brasileiro José Alencar, o Conversa Afiada republica post de 29 de março de 2010:
José Alencar a PHA: Não tenho medo da morte, mas da desonra
29/março/2010 17:26
O Conversa Afiada re-exibe entrevista que o vice-presidente José Alencar deu a Paulo Henrique Amorim, para o programa Domingo Espetacular.
Abaixo a íntegra da entrevista:
Paulo Henrique Amorim – Dr. José de Alencar, o senhor acaba de sair do hospital.
José de Alencar – É verdade.
Paulo Henrique Amorim – O que o senhor fez lá?
José de Alencar – Eu fiz quimioterapia. Porque eu faço duas semanas e uma não.
Paulo Henrique Amorim – E como é que está a situação?
José de Alencar – Olha, eu digo para você que é um sucesso absoluto. É um sucesso absoluto. É até surpreendente o que está acontecendo porque a gente tem que considerar que trata de um verdadeiro milagre. É uma coisa extraordinária. Graças a Deus!
A Doença
Paulo Henrique Amorim – Essa é uma cena em que os brasileiros já acostumaram José Alencar sai do hospital. Às vezes, de pé. Às vezes, numa cadeira de rodas. Mas, sempre sorridente. E com uma disposição de não se entregar nunca.
Paulo Henrique Amorim – O senhor pode assumir qualquer compromisso de trabalho, de política…
José de Alencar – Bem, eu não parei, eu tenho. Eu passei por quinze cirurgias. Eu parei porque parei de ir na operação. Eu cheguei a sancionar lei da UTI. Eu não parei de trabalhar.
Paulo Henrique Amorim – O senhor vai se aposentar?
José de Alencar – Eu não tenho medo da morte.
Paulo Henrique Amorim – Nenhum medo?
José de Alencar – Não. Eu tenho medo da desonra. Porque o homem honrado, especialmente, o homem que milita na vida pública honrado, ele não morre nunca. Agora, se ele for um camarada desonrado, ele morre em vida.
Paulo Henrique Amorim – José Alencar já fez quinze cirurgias contra o câncer. O primeiro tumor, ele descobriu doze anos atrás. E de lá para cá foi uma guerra. Uma guerra que ele trava com tranqüilidade.
Paulo Henrique Amorim – O senhor não perde uma noite de sono com por causa do câncer?
José Alencar – Não. Nunca perdi um minuto de sono por causa disso.
Paulo Henrique Amorim – O senhor é um dos poucos homens públicos que se tem notícias no Brasil que trata do câncer e da doença sem nenhuma inibição.
José Alencar – Ninguém não tem nada a ver com o câncer do José Alencar. Mas, todos os brasileiros têm a ver com o câncer de um vice-presidente da República. Então, eu tenho o dever de ser transparente. Isso é dever.
Paulo Henrique Amorim – Em 2006, apareceu um novo tumor mais agressivo. E a batalha ficou mais difícil.
José Alencar – Esse câncer que foi descoberto em julho de 2006. Já foram oito operações só este tumor porque ele é recorrente.
Paulo Henrique Amorim – Parece que o senhor já não tem mais tanta certeza… (risos)
José Alencar – Não. Porque ele é recorrente. Só no ano passado foram três.
Paulo Henrique Amorim – Como é que o senhor arruma força para isso?
José Alencar – O trabalho, né. O trabalho é uma coisa muito boa. Eu nunca parei.
Paulo Henrique Amorim – Se o senhor não fosse vice-presidente da República ou empresário, o senhor não teria o acesso de medicina de ponta que o Brasil tem.
José Alencar – De vez em quando me acontece um certo complexo de culpa. Porque eu sou vice-presidente da República e as pessoas não têm, de um modo geral, esse tratamento que eu tenho tido. Será que nós não podemos fazer isso para todo mundo, meu Deus?
O Negociante
Paulo Henrique Amorim – José Alencar Gomes da Silva nasceu em Muriaé, na Zona da Mata de Minas Gerais. Ele começou a trabalhar cedo como vendedor. Saiu de casa e precisou morar num hotel.
José Alencar – E nesse hotel eu morava.. Só que eu não podia pagar o quarto, então eu morava na cama que foi armada para mim no corredor do hotel. Eu morei ali um ano e meio. (risos).
Paulo Henrique Amorim – Era preciso negociar isso com a dona do hotel.
José Alencar – Quanto a senhora vai me cobrar? Ela falou: 280. Não, dona Maria, a senhora pode me fazer um preço melhor. Afinal de contas, eu vou morar no corredor. (risos). Então, ela riu muito e falou: 250. Eu ofereci 200. Ela diz que não: 220. Eu falei está bem. Então, com roupa lavada. (risos).
Paulo Henrique Amorim – O negociante.
José Alencar – Negociante eu sempre fui.
Paulo Henrique Amorim – A fama de melhor vendedor de Muriaé fez com que um comerciante convidasse José Alencar para trabalhar em outra cidade, Caratinga. Ele era menor de idade e precisou pedir ao
José Alencar – O papai concordou que eu fosse. Mas, sempre me recomendando: “Meu filho, cuidado com quem você vai andar. E outra coisa, lembra-se sempre que o importante na vida é poder voltar”. Voltar a uma casa, voltar a uma família, voltar a uma cidade, voltar a uma instituição.
Paulo Henrique Amorim – O senhor montou uma das maiores empresas do Brasil.
José Alencar – Mas, ela não começou assim. Ela começou menor. (risos).
Paulo Henrique Amorim – A empresa de José Alencar é a Coteminas. Uma das maiores empresas do Brasil. E a maior no mundo no setor de tecidos. Uma multinacional que vale um bilhão de dólares. Desde que se tornou vice-presidente, José Alencar deixou a empresa com o filho.
O vice-presidente
José Alencar – Eu toda a vida gostei de política. Eu quando era menino ajudava a escrever os nomes dos candidatos nas porteiras.
Paulo Henrique Amorim – Como é que o senhor conheceu Lula?
José Alencar – Eu conheci Lula como um grande líder sindical. Tanto que votei nele no segundo turno em 1989, mas ele não me conhecia.
Paulo Henrique Amorim – José Alencar e Lula. Os dois se conheceram apenas dois anos antes de Lula se tornar presidente. Foi quando José Alencar comemorou 50 anos de empresário. Ele fez um discurso e Lula estava ao lado. Quando o discurso acabou tinha decidido.
José Alencar – Quando eu terminei de falar. Ele falou com o José Dirceu que estava ao lado dele no plenário. “Olha, eu encontrei a pessoa a quem devo convidar para vice-presidente”.
Paulo Henrique Amorim – E quando Lula chegou e disse assim: “Dr. José Alencar, eu quero o senhor para ser o meu vice”. O senhor tomou um susto?
José Alencar – Não. Para começar, Lula sabia que eu não era doutor. (risos). Então, ele nunca me chamou de doutor. (risos).
Paulo Henrique Amorim – Tá bom. José Alencar…
José Alencar – E, provavelmente, uma das razões pelas as quais que ele me convidou foi essa. (risos). Se eu fosse doutor, ele já ficava na inferioridade. (risos). Assim, a gente ficava mais ou menos empatados. Como ele fala: “Nós dois analfabetos”. (risos).
Paulo Henrique Amorim – O presidente Lula uma vez falou que “eu e José Alencar somos como Pelé e Tostão. A gente nem precisa olhar para o outro que a gente sabe o que o outro está fazendo e está pensando”. É assim mesmo. Pelé e Tostão?
José Alencar – Eu tenho que saber quem é o Pelé. (risos).
O Futuro
Paulo Henrique Amorim – Esta semana José Alencar voltou ao hospital. Desta vez, para receber uma boa notícia. O médico diz que ele reage excepcionalmente bem ao tratamento. A palavra é excepcionalmente.
José Alencar – Então, chegou a menina com o boletim para ele [médico] ver para ele assinar. Então, ele leu e falou assim: “Tudo bem. Mas, vamos adjetivar isso daqui”.
Paulo Henrique Amorim – O fato excepcional é que os tumores, em vez de crescer como costuma acontecer, diminuíram de tamanho. E aí fica a pergunta. O político José Alencar vai ser candidato a quê este ano?
José Alencar – Candidato meu mesmo, eu não serei. Eu poderei ser candidato se for preciso. Qualquer cargo no Legislativo para mim seria muito mais adequado tendo em vista a idade. Não é problema de saúde porque saúde eu estou bem. Há outra coisa, se eu não estiver bem, eu não me candidato de forma alguma.
Paulo Henrique Amorim – José Alencar é uma unanimidade. Quem gosta do presidente Lula, gosta de José Alencar. Quem não gosta do presidente Lula, gosta de José Alencar. O que vai acontecer no futuro, ele não sabe. Mas, José Alencar não se importa. Ele não vai mudar nada.
Paulo Henrique Amorim – Se o doutores chegassem no senhor e dizer assim: “Dr. José Alencar, o senhor está definitivamente curado”. O que o senhor pensa que reagiria?
José Alencar – Tomar um gole para comemorar, não é. Primeira coisa… (risos).
Paulo Henrique Amorim – Tomar um gole?
José Alencar – Para comemorar. (risos).
Paulo Henrique Amorim – Uma cachacinha mineira, não é? (risos). E se o médico chegar e disser assim: “Dr. José Alencar, o senhor tem poucos dias de vida”. E aí?
José Alencar – Eu não acredito nele porque quem sabe é Deus. Eu costumo dizer: se Deus quiser me levar, Ele não precisa de câncer para isso. Se Ele não quiser que eu vá, todavia, não há câncer que me leve. E eu estou desconfiado que Ele não quer que eu vá agora não. (risos).
Paulo Henrique Amorim – Quero votar no senhor. Meu título de eleitor é no Rio de Janeiro, mas precisamos dar um jeito nisso. (risos).
José Alencar – Todas as pessoas do Rio podem votar em Minas. Você sabia o porquê?
Paulo Henrique Amorim – Como?
José Alencar – Porque o Rio é uma das melhores coisas que Minas possui.
Paulo Henrique Amorim – Um momentinho.
José Alencar – No coração.
Paulo Henrique Amorim – Ah, bom. (risos).
José Alencar – Possui no coração. (risos).
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