sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Paiani: “Yeda e chefe da Casa Civil foram avisados do que ocorria nos subterrâneos do Palácio”

Por Adão Paiani

Nunca, na história do Rio Grande, um governo caminhou para o seu final de uma forma tão vergonhosa quanto este comandado por Yeda Rorato Crusius. E olha que já se viu muita coisa por esses pagos em mais de 200 anos de história.

Nem toda a cumplicidade de uma mídia comprada a peso de ouro – o que agora se comprova em parte com o revelado pela Operação Mercari, da Polícia Federal – é capaz de continuar escondendo uma realidade que há muito é percebida por qualquer um que tenha um mínimo de compromisso com a verdade, decência e ética que devem nortear a condução dos negócios do Estado: o Rio Grande do Sul está nas mãos de uma quadrilha de saqueadores.

Obviamente, o assalto aos cofres públicos não começou com Yeda e sua camarilha, mas por ela foi mantido e ampliado. A Governadora do Estado do Rio Grande do Sul herdou práticas, as aprimorou, e se beneficiou delas. O que houve, em verdade, foi apenas uma troca de comando; os operadores continuaram os mesmos e as práticas adquiriram; sob a condução do tucanato-yedista; uma organização ainda mais empresarial.

Ao dizer isso, não me refiro apenas aos escândalos do Detran ou Banrisul, e a tudo que vem sendo, exaustivamente, denunciado nos últimos quatro anos; mas também às práticas agora mais do que comprovadas de espionagem e utilização das estruturas de segurança do Estado para chantagem e pressão política sobre adversários e até contra aliados políticos. Algo que igualmente já existia, mas ganhou proporções inacreditáveis sob o Governo Yeda.

A prisão, na manhã desta sexta-feira (03) de um sargento da Brigada Militar lotado na Casa Militar do Palácio Piratini, sob a acusação de violação do Sistema de Consultas Integradas e prática de extorsão de operadores do jogo, somente veio comprovar as denúncias que fiz em março de 2009, e que resultaram na minha exoneração do cargo de Ouvidor-Geral da Segurança Pública, por me recusar a compactuar com esse tipo de prática vergonhosa; admitida, incentivada e ordenada pela própria mandatária maior do Estado e realizada por seus agentes. No caso do sargento, mesmo denunciado pela Ouvidoria pela prática de extorsão contra bicheiros e operadores de máquinas caça-níqueis, permaneceu na ativa por ser, também, um dos operadores do sistema de espionagem.

Chega a ser uma afronta, um deboche, para com a sociedade riograndense, que um governo que tenha criado uma Secretaria da Transparência e da Probidade Administrativa tenha permitido que após mais de um ano e meio destes fatos terem vindo a público, os responsáveis pelos crimes que denunciei tenham não apenas permanecido impunes, mas continuado a realizar essas práticas.

A continuação do esquema de espionagem institucional, certamente, explica muito dos resultados na CPI da Corrupção. Muito embora todas as evidências de delitos praticados pela Governadora e seus asseclas, a bancada governista da Assembléia e alguns de seus aliados ocasionais escolheram varrer para debaixo do tapete da impunidade os crimes praticados; mesmo com todo o esforço de uma valente bancada oposicionista, comprometida em esclarecer a verdade dos fatos.

No caso específico da espionagem praticada de dentro do Piratini, os responsáveis, obviamente, não são apenas o sargento, preso esta manhã, ou o major que o comandava, igualmente lotado na Casa Militar, mas a própria Governadora do Estado, Yeda Crusius, seu Chefe de Gabinete, Ricardo Lied, o então Chefe da Casa Civil José Alberto Wenzel e o sub-chefe, hoje Secretário da Transparência e da Probidade Administrativa, Francisco de Assis Cardoso Luçardo – esse último, inclusive, teve o desplante de me processar por crime contra a honra, pelas denúncias que fiz, demonstrando sua conivência com os delitos praticados. Todos eles foram alertados por mim, por diversas ocasiões, no período compreendido entre 25 de fevereiro e 9 de março de 2009 do que ocorria nos subterrâneos do Palácio. Todos silenciaram, foram coniventes e cúmplices, e agindo assim cometeram crimes contra a administração pública.

Não poderia ser mais oportuno o momento destes fatos voltarem à tona. O Rio Grande precisa saber com detalhes as verdades que lhe foram sonegadas ao longo de diversos governos, e não apenas deste; para bem avaliar as opções que lhe estão sendo postas no atual processo eleitoral. Ou encaramos as verdades inconvenientes que nos estão sendo mostradas, ou vamos permanecer espoliados e corrompidos, mais do que em valores, mas em nossa própria honra, auto-estima e dignidade.

A hora da verdade, enfim, chegou.

(*) Advogado, Ex-Ouvidor da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul

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