Texto de Juremir Machado da Silva, jornal Correio do Povo em 14/12/2010:
Greenpeace gaudério
Reclamei da falta de um Greenpeace gaudério. Leitores me enviaram generosas mensagens citando movimentos ecológicos gaúchos que mereceriam essa denominação. Não duvido. Tenho certeza de que prestam grandes serviços à natureza. Nosso Greenpeace gaudério mesmo foi a Agapan da época de Lutzemberger. Precisamos de ações espetaculares. Na cúpula do clima de Cancún, a senadora Kátia Abreu recebeu o troféu “motosserra de ouro”, pela sua dedicação inquebrantável à causa da destruição da Amazônia. Ninguém no Brasil de hoje representa tão bem a luta constante pelo desmatamento quanto a obstinada e incansável senadora Kátia Abreu. No passado, Blairo Maggi, outro inimigo jurado da floresta, ganhou o mesmo prêmio, que só é atribuído aos melhores nessa categoria, ou seja, os piores, os devastadores.
Na Europa, os “entortadores” metem torta na cara de quem pisa na bola. Os políticos são os campeões do recebimento de torta na cara. Essa moda já existiu no Brasil. Passou. Maluf terá levado uma torta na cara? Os mensaleiros terão recebido sua dose de merengue no nariz? Arruda, o mensaleiro do Dem, de Brasília, terá experimentado a sensação de asfixia por chantilly? Não creio. Somos muito delicados. E avaros. Não queremos desperdiçar nossas tortas em caras sujas, caras de pau, caras que não são o cara. Eu meteria uma boa torta na cara do Índio da Costa, o vice do José Serra na recente eleição, triste figura da qual ninguém mais se lembra. Meteria uma torta na cara também do Gilmar Mendes (STF). É só uma maneira de falar. Não quero ser acusado de incitação à violência açucarada ou cremosa. Nada disso.
Sinto falta de ações espetaculares. Fico imaginando batalhões de colorados e gremistas fardados com suas camisetas de passeio, amarrados uns aos outros para obstruir a entrada de prefeitos nos seus domínios em cidades onde não há tratamento de esgoto. Fiquei sabendo que os vereadores de Piratini e Canguçu só aprovam a contratação de serviços da Corsan se não contemplar rede de esgoto. Por que não invadir essas cidades com tropas farroupilhas e deixar os cavalos defecando na frente das câmaras de vereadores durante uma semana inteira? Sou um radical. Tenho clara tendência para o fundamentalismo. Ainda bem que não tenho disciplina para ser militante. Em Palomas, eu seria certamente uma espécie de José Bové. Até queijo eu fazia quando criança. Compreendem? Precisamos de ações midiáticas. Sugiro uma Semana Farroupilha Verde. Em vez de sujar beira de rio, limpar.
Não devo estar agradando. É que meus conceitos são bizarros. Radical, por exemplo, para mim é quem em nome da sensatez (dos negócios e dos empregos) acha certo jogar cocô em rio a vida inteira sem qualquer tratamento. Fundamentalista, para mim, é quem acha que está tudo bem. Xiita, para mim, é quem se opõe a qualquer mudança. Penso que a minha interpretação não está muito longe da verdade islâmica. Continuo achando, portanto, que precisamos de um Greenpeace gaudério, que atribua todos os anos o troféu “Penico de Ouro” a quem joga esgoto em rio e não quer saber de tratamento, rede cloacal e coisinhas assim.
JUREMIR MACHADO DA SILVA | juremir@correiodopovo.com.br
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