Engrenagens do poder
CPI da Delta ou CPI da Veja? Kotscho sugere: por que não as duas?
publicada quinta-feira, 24/05/2012 às 10:36 e atualizada quinta-feira, 24/05/2012 às 10:28
Escrevinhador
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho
A revista Veja e seus aliados na oposição e na imprensa, abrigados no Instituto Millenium, o clube dos barões da imprensa montado para defender sua própria “liberdade de expressão”, querem porque querem transformar a CPI do Cachoeira na CPI da Delta, a empreiteira que tem como seu maior cliente as obras do PAC do governo federal.
De outro lado, setores do PT e da imprensa, que não fazem parte do clube, querem fazer da CPI do Cachoeira a CPI da Veja para investigar as relações da revista com o contraventor goiano reveladas pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal.
Por que, então, não investigar, ao mesmo tempo, tanto a Delta de Fernando Cavendish como a Veja de Roberto Civita? Afinal, as empresas de ambos aparecem nas investigações sobre o capo do crime organizado, que fez parcerias nas mais variadas áreas, da polícia ao judiciário, das empreiteiras à imprensa, sempre com a ajuda do seu braço político, o quase ex-senador Demóstenes Torres.
Já está mais do que provado que, assim como os negócios de Cachoeira com a Delta não se limitavam ao centro-oeste, o alvo da CPI, as relações da equipe do contraventor com o diretor de Veja em Brasília, Policarpo Júnior, iam muito além do que habitualmente ocorre entre fonte e repórter.
Havia interesses comuns: o “empresário de jogos” usava a revista para plantar notícias contra quem pudesse prejudicar seus negócios, e o repórter se aproveitava do aparato de arapongas de Cachoeira para fazer suas matérias “investigativas” contra membros do governo petista, o eterno alvo de Civita.
Dos dois lados, bombeiros entraram logo em ação para limitar as investigações e blindar governadores, políticos em geral, empresários e jornalistas. “Você é nosso e nós somos teus” — como escreveu Vaccareza, o Cândido, para o governador Sérgio Cabral, aquele da turma do guardanapo — é a frase que melhor resume o momento político do País.
Apenas um mês depois de instalada, a CPI do Cachoeira começou a fazer água e os dois protagonistas do início da história, o “Doutor” e o “Professor”, correm o risco de virar figurantes de um espetáculo mambembe que ameaça terminar antes mesmo de começar.
Como disse o marqueteiro João Santana, em encontro de comunicação do PT, semana passada, em Porto Alegre, “política é teatro, mas não ficção”. Há controvérsias. Nem o mais alucinado ficcionista, é verdade, seria capaz de criar uma história tão mirabolante com personagens tão inverossímeis como estes que desfilam na chamada CPI do Cachoeira, dirigidos por advogados da melhor qualidade, que só trabalham para clientes inocentes, como já disse um deles.
Que diferença faz, a esta altura do campeonato, se Carlinhos Cachoeira vai ou não sair da cadeia para comparecer à CPI, na tarde desta terça-feira, se vai ou não abrir a boca? Depois de todos os crimes denunciados com provas no inquérito da Polícia Federal, tanto o “Professor”, como seu amigo “Doutor”, que ainda passeia como um fantasma pelo Congresso Nacional querem apenas ganhar tempo, aproveitando-se das brechas do Código Penal, das prerrogativas constitucionais e dos regimentos da Câmara e do Senado.
Para ir mais fundo e revelar como funcionam as engrenagens do poder no Brasil, os interesses que ligam personagens de diferentes setores da sociedade com o crime organizado e qual o papel de cada um deles nesta história, a CPI teria que acabar com todas as blindagens, convocar quem tiver que ser convocado para prestar depoimentos e encaminhar suas conclusões para as devidas providências do Poder Judiciário.
Quem ainda acredita nisso? Talvez esta desesperança esteja na raiz de um clima de mal estar generalizado, um sentimento difuso que se espalha em diferentes ambientes, no momento em que o STF se prepara para colocar em julgamento o processo do mensalão, a inflação e o dólar sobem, o PIB cai, a Comissão da Verdade já começa dividida e falando demais, os militares voltando ao noticiário, a crise sem fim da Grécia que ameaça levar o mundo junto — e ainda tem esta danada da gripe que não vai embora…
Se o caro leitor tiver uma notícia boa para espantar o baixo astral, por favor conte para a turma do Balaio. Estamos precisando.
Atchiiiim!
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publicada quinta-feira, 24/05/2012 às 10:36 e atualizada quinta-feira, 24/05/2012 às 10:28
Escrevinhador
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho
A revista Veja e seus aliados na oposição e na imprensa, abrigados no Instituto Millenium, o clube dos barões da imprensa montado para defender sua própria “liberdade de expressão”, querem porque querem transformar a CPI do Cachoeira na CPI da Delta, a empreiteira que tem como seu maior cliente as obras do PAC do governo federal.
De outro lado, setores do PT e da imprensa, que não fazem parte do clube, querem fazer da CPI do Cachoeira a CPI da Veja para investigar as relações da revista com o contraventor goiano reveladas pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal.
Por que, então, não investigar, ao mesmo tempo, tanto a Delta de Fernando Cavendish como a Veja de Roberto Civita? Afinal, as empresas de ambos aparecem nas investigações sobre o capo do crime organizado, que fez parcerias nas mais variadas áreas, da polícia ao judiciário, das empreiteiras à imprensa, sempre com a ajuda do seu braço político, o quase ex-senador Demóstenes Torres.
Já está mais do que provado que, assim como os negócios de Cachoeira com a Delta não se limitavam ao centro-oeste, o alvo da CPI, as relações da equipe do contraventor com o diretor de Veja em Brasília, Policarpo Júnior, iam muito além do que habitualmente ocorre entre fonte e repórter.
Havia interesses comuns: o “empresário de jogos” usava a revista para plantar notícias contra quem pudesse prejudicar seus negócios, e o repórter se aproveitava do aparato de arapongas de Cachoeira para fazer suas matérias “investigativas” contra membros do governo petista, o eterno alvo de Civita.
Dos dois lados, bombeiros entraram logo em ação para limitar as investigações e blindar governadores, políticos em geral, empresários e jornalistas. “Você é nosso e nós somos teus” — como escreveu Vaccareza, o Cândido, para o governador Sérgio Cabral, aquele da turma do guardanapo — é a frase que melhor resume o momento político do País.
Apenas um mês depois de instalada, a CPI do Cachoeira começou a fazer água e os dois protagonistas do início da história, o “Doutor” e o “Professor”, correm o risco de virar figurantes de um espetáculo mambembe que ameaça terminar antes mesmo de começar.
Como disse o marqueteiro João Santana, em encontro de comunicação do PT, semana passada, em Porto Alegre, “política é teatro, mas não ficção”. Há controvérsias. Nem o mais alucinado ficcionista, é verdade, seria capaz de criar uma história tão mirabolante com personagens tão inverossímeis como estes que desfilam na chamada CPI do Cachoeira, dirigidos por advogados da melhor qualidade, que só trabalham para clientes inocentes, como já disse um deles.
Que diferença faz, a esta altura do campeonato, se Carlinhos Cachoeira vai ou não sair da cadeia para comparecer à CPI, na tarde desta terça-feira, se vai ou não abrir a boca? Depois de todos os crimes denunciados com provas no inquérito da Polícia Federal, tanto o “Professor”, como seu amigo “Doutor”, que ainda passeia como um fantasma pelo Congresso Nacional querem apenas ganhar tempo, aproveitando-se das brechas do Código Penal, das prerrogativas constitucionais e dos regimentos da Câmara e do Senado.
Para ir mais fundo e revelar como funcionam as engrenagens do poder no Brasil, os interesses que ligam personagens de diferentes setores da sociedade com o crime organizado e qual o papel de cada um deles nesta história, a CPI teria que acabar com todas as blindagens, convocar quem tiver que ser convocado para prestar depoimentos e encaminhar suas conclusões para as devidas providências do Poder Judiciário.
Quem ainda acredita nisso? Talvez esta desesperança esteja na raiz de um clima de mal estar generalizado, um sentimento difuso que se espalha em diferentes ambientes, no momento em que o STF se prepara para colocar em julgamento o processo do mensalão, a inflação e o dólar sobem, o PIB cai, a Comissão da Verdade já começa dividida e falando demais, os militares voltando ao noticiário, a crise sem fim da Grécia que ameaça levar o mundo junto — e ainda tem esta danada da gripe que não vai embora…
Se o caro leitor tiver uma notícia boa para espantar o baixo astral, por favor conte para a turma do Balaio. Estamos precisando.
Atchiiiim!
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