De um lado o asfalto, de outro o chão de terra
Posted on 21/03/2011 by Iván Marrom
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As desnecessárias brigas...
As discussões acerca de democracia e autoritarismo vêm bastante a calhar. Sem medo da degola, assumi por diversas vezes visões que questionam conceitos de democracia já enraizados na sociedade. Democracia até pode ser o livre pensar, assim de forma ligeira. A manipulação escancarada, porém, a favor de uma simples opinião, é uma atitude anti-democrática e digna do quê? Do jornalismo, evidentemente. E eis que surge mais um mote discursivo para as mesas de bares de reputação duvidosa ou cadeiras de poucas faculdades por aí que não sejam de comunicação social.
Um ou dois dias antes do evento, este blogue publicou um artigo – de autoria do meu companheiro Daniel Legal Marcilio – que propagandeou um debate a ser realizado na faculdade de comunicação da PUCRS. Não tínhamos nada a ver com isso, e recebemos um release sobre através da nossa caixa de e-mail. Quem nos forneceu o material de divulgação foi um colega, que recebe nossa admiração e já nos ajudou com o Chapéu do Sol enviando dois ótimos textos – um deles diretamente de Cuba.
Pois bem. Fato é que estive presente no debate, bem como este rapaz, um dos organizadores, no horário da aula de Cinema II. Posterior a isso, fui entrevistado por um sujeito cujo nome esqueci, para um portal que também não lembro qual é (se ele estiver lendo isso, que faça contato). A entrevista se deu justamente por causa do contraponto que fiz questão de profanar nas cadeiras azuis do auditório. Na chegada em casa, com fome e um problema pessoal extremamente fodido, escrevi uma pequena matéria informe-opinativa sobre como tinha sido a minha visão do bagulho.
Admito que o artiguinho ficou uma merda. Mas lembram da divagação que fiz no primeiro parágrafo desse próprio texto? “A manipulação escancarada, porém, a favor de uma simples opinião, é uma atitude anti-democrática”. E venho aqui, então, divulgar a matéria sobre o mesmo assunto que saiu publicada na página oficial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul. Meu objetivo é instigar comparação fixando-se no pensamento de que de um lado temos um artigo chinelo e vagabundo, feito por mim, jornalista não diplomado (ainda), e de outro uma matéria que, me desculpem, mentiu até no título: “Debate sobre diploma de Jornalismo desperta interesse dos estudantes”.
Mentira é uma palavra forte. Verdade mesmo é que não tomem como mentira – apenas omissão, manipulação ou então jornalismo preguiçoso. É o nível miserável das grandes redações entranhado no site daqueles que promovem um discurso tão bonito (e que eu concordo) sobre a problemática educacional brasileira e a mercadologia ou mercantilização da mídia. É o jornalismo dos diplomados em jornalismo. É a tecnicidade retumbante que não diz nada com nada e informa por informar. É o não feder e nem cheirar. Onde está a contribuição intelectual que tanto dizem defender?
Vez que outra, falo do reacionarismo da esquerda. Assim como podemos – e devemos – discutir conceitos de democracia, também o fazemos com o reacionarismo. Não falo daquele reacionarismo tradicional, oriundo de mentes conservadoras e ideias da direita. Isso é o reacionário padrão – é que nem aquele senhor que escreve os editoriais do Jornal do Comércio. Falo da capacidade de se fechar em opiniões que podem muito bem serem discutidas ponderadamente, a fim de uma mescla e uma disseminação maior de teorias. Defender a obrigatoriedade do diploma pode ser uma ideia de esquerda, que se foda. Mas excluir quem discorda disso é uma atitude de reaça. Marx era um reacionário quando discutia com Bakunin.
Em suma, não posso julgar. Segregação existe até no mundo anarquista dos espaços libertários. A situação é que escrevi um texto ruim, apertado com o tempo e com o coração a mil. Mesmo assim, e aqui chegamos ao ponto, trouxe uma notícia, opinei sobre as falas e, mesmo que eu tenha tido pequenos problemas com contradições, não houve manipulação. Isso é análise legítima, assim como é legítimo criticar. Bem como é legítimo defender o diploma e promover um evento só pra isso. Mas a proposta era debater ou ficar defendendo?
Os textos estão todos aí. A conclusão fica a cargo de quem ler. E, num ato democrático, segue como citação texto do estudante de jornalismo – e grande pessoa – Guilherme de Oliveira, endereçado a mim para o e-mail do Chapéu do Sol, assinado e intitulado “Palavras pomposas, discurso vazio”. Tomei a liberdade de corrigir alguns erros de digitação.
Iván, li teu texto e confesso que achei muito fraco de argumentos. Assumiste o papel do revoltado sem bandeira, sem causa ou ideologia. O que questionas? Qual a solução que tu apresentas? Um estudante de jornalismo que se propôs a debater, ou melhor, a questionar, se prender nas miudezas do debate ao invés de falar sobre os fundamentos deste. Afirmaste que era uma falta de censo dizer que os que não tem diploma não tem responsabilidade. Eu afirmei durante a minha fala que na esfera dos que tem diploma, iremos encontrar um maior numero de profissionais que informam para formar do que na esfera dos que não tem diploma. Isso avaliado sobre o potencial conhecimento, tu questionaste com base na especulação, que sem sombra de dúvidas provoca a possibilidade dos profissionais saberem sobre o que e como eles realizam o seu trabalho. Talvez nem todos consigam aproveitar a oportunidade, mas irão ter mais chances do que aqueles que nunca tiveram esta oportunidade, por exemplo, jornalistas semi-analfabetos. Afinal como disse o Nunes, qualquer um que nascer vivo no Brasil pode ser jornalista.
Escreveste que muita desatinação marcou o discurso acalorado dos presentes da mesa”, só argumentando com o fraco argumento já citado sem nada justificar o “desatinado” para os demais da mesa. Colocaste que temos uma contradição “defendem o diploma com unhas e dentes, mas se esquecem que o próprio curso não propicia qualquer alijamento do sentido comercial do jornalismo que eles tanto recriminam.” Caso tu não tenhas escutado, defendemos também a reformulação no currículo. O Nunes falou sobre mais cadeiras teóricas, eu falei sobre o estágio obrigatório nas comunidades e o fortalecimento do trabalho nos meios de comunicação popular.
Criticas por criticar, brincas com as palavras como uma criança com brinquedos novos. “As excelentes falas, em suma, ficaram dispersas no ar diante da fala enfadonha, clichê e equivocada da exarcebação da academia.” Solta palavras sem justificá-las compondo um texto sem fundamento. Generalizas sem medo, como alguém que conhece todos os estudantes de jornalismo e das ciências humanas, “O fato, apesar, é que estudantes de qualquer área das ciências humanas acabam por discutir com maior qualidade a situação midiática do que os de jornalismo. E isso é experiência própria.” Tornas como fato tuas próprias experiências.
“reacionarismo por parte de setores da esquerda (filiados ou ex-filiados ao PSOL) que se fecham numa ideia e partem até para o absurdo quando querem defender.”
Se existe algo que eu fiz questão de afirmar no debate foi o combate aos reacionários que hoje se posicionam contra o diploma, ou seja, contra a educação para todos. Reacionarismo é militar pela manutenção da falta de acesso a educação no Brasil e não pela sua democratização e qualificação. Reacionarismo é afirmar que “o discurso do diploma é batido e inoperante.” Pois isso é como afirmar que discurso sobre educação para todos é batido e inoperante. Assim como tu, os corruptos e exploradores deste país também acham o diploma de jornalismo e a educação para todos um debate “batido e inoperante” a não ser que seja pra vocês. Podes ter certeza que à esquerda, e nisto eu me incluo com toda a minha convicção, pois ao contrário de muitos eu me posiciono e manifesto meus argumentos, milita pela ampliação e aperfeiçoamento da educação e não pela sua extinção ou descredenciamento. Por não existir para beneficio próprio é que o NES foi se expor hoje pra dizer que o discurso do diploma é atual, assim como os 90% dos brasileiros que não conseguem chegar em uma universidade. Quem tu é Iván e o que tu defende? Tu és um jornalista que defende que o jornalismo deve ser feito pelos alunos das ciências humanas? Que pena uma pessoa que parece ter tantas idéias, ser tão limitado nas suas soluções.
“fala enfadonha, clichê e equivocada da exarcebação da academia.”, “reacionarismo por parte de setores da esquerda (filiados ou ex-filiados ao PSOL) que se fecham numa ideia e partem até para o absurdo quando querem defender.” Enquanto a educação neste país for para poucos e as decisões do STF tiverem como justiça as ordens dos políticos corruptos e dos grandes empresários deste país, eu continuarei sendo reacionário e dono de um discurso enfadonho pra ti, assim como, um problema e um louco para os reacionários deste país que querem o Brasil cada vez mais desigual e sem compromissos sociais. Eu sei o meu lado e quem esta comigo, faltas tu descobrir o teu.
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