De volta com o trabalho sujo
by Iván Marrom
As conversas iniciais foram mirabolantes; os momentos de glória foram poucos, e nem muito passíveis de forte orgulho. A essa altura, pensávamos que estaríamos engatilhados com demais blogues e jornais alternativos da capital. Estávamos certos de que o jornal impresso estaria nas ruas. Hoje nem sabemos se queremos. Éramos seis, como no romance de Maria José Dupré, e acabamos em apenas dois – quiçá três. Eis o Chapéu do Sol, um trabalho alternativo, coerente, oriundo da libertinagem cotidiana daqueles que preservam a figura original do jornalista boêmio.
Estivemos parados, sim. Verdade. A culpa talvez seja da própria boemia, ou da desilusão perante o inoperante e caquético serviço de comunicação social, que abocanha tudo para si e impede um sistema comunicativo verdadeiramente popular. As discussões sobre tal tema também sofrem distorções e mostram-se – por diversas vezes – enfadonhas e improdutivas. Grosso modo, a prática jornalística de qualquer teor acaba por sucumbir diante de problemas de índole e ideologia. Pra quem, afinal, serve o jornalismo, inclusive esse nosso?
Enriquecemo-nos com conhecimento, balanceamos nossas ideias e, cada vez mais (embora não pareça) conseguimos ponderar discurso – e quando não o fazemos, os argumentos são ao menos plausíveis. Essa evolução intelectual talvez traga prejuízos em termos “mercadológicos”. Afinal, Raul Seixas já cantou que “eu não preciso ler jornais, mentir sozinho em sou capaz” – e nessa linha de pensamento seguimos, de fato que os tablóides não nos apetecem mais de tal maneira que não conseguimos nem mais lê-los com calma para analisar friamente. O Chapéu do Sol não propõe ser um canal de teoria bruta, mas se encaminha.
Enfim, voltamos. Certamente com sangue no olho, mas sem afobações. A Zero Hora do último sábado, dia 12, apresentou (na página 31) uma das matérias mais exemplares em termos de showrnalismo. Uma página inteira dedicada ao assassinato de um jovem pugilista em Osório, por parte de um PM, que não diz nada com nada. Ninguém aqui tem mais saco para análises profundas, ainda mais de uma reportagem antiga. Se um jornal, que se diz o melhor do sul do Brasil, apresenta uma matéria de página inteira, com duas fotos e uma tripinha de texto que não explica absolutamente nada, o problema não pode estar conosco. Não pode. Não podemos crer.
Tentaremos a todo custo fazer um trabalho digno de crítica, sem sensacionalismo e mentira. Queremos disseminar ideias não para fixá-las, mas para colocá-las em discussão em ampliá-las. Nenhuma faculdade de jornalismo se propõe a fazer isso. Pelo contrário, cada vez mais se acercam do mercado, e muitos docentes assim o fazem com a sincera sensação de estarem fazendo um bem. De fato, aquela figura mística do jornalista não existe. O jornalista é um ser inanimado. Que as fortes palavras penetrem com fúria e aticem sentimentos de revolta. As palavras conseguem.
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