A maior parte das pessoas que aparece nos telegramas do governo norte-americano, divulgados pelo WikiLeaks, reclama que o interlocutor exagerou no registro, que nunca diriam algo tão forte, que não foi bem assim. Devo ser um dos primeiros a inaugurar a seção “O Tio Sam dourou minha pílula”. Pô, meu interlocutor pegou muito leve na transcrição do meu depoimento! Cadê a parte em que eu reclamava das coisas? Minha mãe, se ler isto, vai dizer que não criou um filho para ele parecer um banana.
Como pesquisador da área de trabalho escravo contemporâneo, sou consultado regularmente sobre a situação do problema no país, bem como sobre os sucessos e fracassos da política de enfrentamento. Vez ou outra, representantes de governos ou das Nações Unidas, da sociedade civil, de movimentos sociais e do setor empresarial vêm buscar uma análise sobre o estado das coisas. Menos pela qualidade do que posso acrescentar (eu, particularmente, não me ouviria) e mais pela falta de malucos que tratem dessa área.
O telegrama a que me refiro foi originado de uma entrevista que dei em 2008, em que analisava o combate ao trabalho escravo no país e explicava que a situação na pecuária bovina tem sido, historicamente, pior do que na cana. Contudo, ao mesmo tempo, a cana tem liderado as estatísticas em número de libertados nos últimos anos por necessitar de mão-de-obra em grande quantidade. Em uma única propriedade, centenas podem ser encontrados.
O problema é que, na transcrição, o meu interlocutor deve ter perdido alguma coisa. Há alguns erros. Eu não diria, por exemplo, que o problema é pior nas pequenas plantações, haja vista que o trabalho escravo é apegado a um latifúndio que só vendo. E, sim, cana tem sido uma das culturas mais problemáticas quanto a trabalho escravo nos últimos tempos. E, que eu me lembre, o relato não deu algumas críticas mais contundentes – por exemplo, sobre o controle do Congresso Nacional por parlamentares da bancada ruralista que não se esmeram em aprovar leis que ajudariam no combate a essa maçaroca. Ou sobre a inserção desse tipo de relação de trabalho dentro de nossa economia. Problema que também está inserido na economia deles – ou vocês acham que somos só nós que gostamos de explorar trabalhadores?
O telegrama é mais técnico, sem importância se comparado com outros que já vazaram, e parte dos achados vão na linha do que já se sabe ou já se faz por aqui. E antes que eu esqueça, toda força ao WikiLeaks.
Mas se eu aparecer mais um vez com esses depoimentos leves na boca, além da minha mãe estranhar, haverá gente na representação patronal que vai querer me mandar um mimo de agradecimento. Talvez até um vale-abastecimento de etanol ou umas caixas de açúcar refinado de graça…
Como pesquisador da área de trabalho escravo contemporâneo, sou consultado regularmente sobre a situação do problema no país, bem como sobre os sucessos e fracassos da política de enfrentamento. Vez ou outra, representantes de governos ou das Nações Unidas, da sociedade civil, de movimentos sociais e do setor empresarial vêm buscar uma análise sobre o estado das coisas. Menos pela qualidade do que posso acrescentar (eu, particularmente, não me ouviria) e mais pela falta de malucos que tratem dessa área.
O telegrama a que me refiro foi originado de uma entrevista que dei em 2008, em que analisava o combate ao trabalho escravo no país e explicava que a situação na pecuária bovina tem sido, historicamente, pior do que na cana. Contudo, ao mesmo tempo, a cana tem liderado as estatísticas em número de libertados nos últimos anos por necessitar de mão-de-obra em grande quantidade. Em uma única propriedade, centenas podem ser encontrados.
O problema é que, na transcrição, o meu interlocutor deve ter perdido alguma coisa. Há alguns erros. Eu não diria, por exemplo, que o problema é pior nas pequenas plantações, haja vista que o trabalho escravo é apegado a um latifúndio que só vendo. E, sim, cana tem sido uma das culturas mais problemáticas quanto a trabalho escravo nos últimos tempos. E, que eu me lembre, o relato não deu algumas críticas mais contundentes – por exemplo, sobre o controle do Congresso Nacional por parlamentares da bancada ruralista que não se esmeram em aprovar leis que ajudariam no combate a essa maçaroca. Ou sobre a inserção desse tipo de relação de trabalho dentro de nossa economia. Problema que também está inserido na economia deles – ou vocês acham que somos só nós que gostamos de explorar trabalhadores?
O telegrama é mais técnico, sem importância se comparado com outros que já vazaram, e parte dos achados vão na linha do que já se sabe ou já se faz por aqui. E antes que eu esqueça, toda força ao WikiLeaks.
Mas se eu aparecer mais um vez com esses depoimentos leves na boca, além da minha mãe estranhar, haverá gente na representação patronal que vai querer me mandar um mimo de agradecimento. Talvez até um vale-abastecimento de etanol ou umas caixas de açúcar refinado de graça…
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