Sofia, prefeita de Porto Alegre
Criança não tem muita noção de espaço mesmo. Lembro de quando eu era bem pequeno, quando frequentava ainda os Jardins de Infância e as séries iniciais da escola. Mesmo de carro – o Fusca 73 da minha mãe e depois a Parati 94 – era um martírio descambar do Passo D’Areia, onde eu morava, até o bairro Petrópolis. Uma farmácia na esquina de uma rua arborizada era o sinal de que chegávamos na R. Carazinho, e estávamos perto da casa da Sofia. Ali passei grande parte da minha infância, jogando bola com o guri dela, meu amigo, de mesma idade que eu. Eram bons tempos e momentos. Me lembro também de muita festa, reunião, comício, cerimônia, assembleia e o escambau com a petezada.
Pois bem, Sofia Cavedon Nunes foi eleita vereadora – três vezes –, e, agora presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, assumiu como prefeita da cidade até o dia 16 de janeiro, quando José Fortunati retorna das suas férias. Fortunati, aliás, conseguiu realizar o seu maior sonho. Quando petista, sempre se candidatava nas prévias do Partido dos Trabalhadores para ser o candidato do partido ao posto. Sempre ficava em último lugar. Os preferidos? Normalmente Raul Pont e Tarso Genro, que fez a cagada de largar a prefeitura para se candidatar ao governo do Estado. Desde então, nunca mais se viu PT no topo. Não que o PT seja o meu partido preferido (como se eu tivesse um partido predileto), mas é inegável o bom trabalho deste.
Prefeito é isso: tem que sair pra rua, fiscalizar a cidade e os cidadãos, ver com os próprios olhos os erros e acertos, estar sempre junto. De nada adianta ser o prefeito do gabinete, ficar em quatro paredes não resolve problema da cidade. É mais ou menos como um bom jornalista. Aí se vê a diferença: existem aqueles que saem pra rua, conversam com as pessoas, etnografam os problemas e – ao seu limite – fazem o que lhes é cabível. Também existem uns por aí, que adoram o ar-condicionado da redação do jornal, a linha de telefone ao seu dispor e a internet banda larga. Jornalista de mentira, assim como muitos políticos de mentira infestam as cadeiras de couro das assembleias. Sofia não é assim. É apenas a prefeita em exercício, sabe que em seguida sairá do cargo, mas se faz presente.
Disse a minha mãe, amiga da Sofia, que a prefeita se levantou de madrugada esses dias pra acompanhar a coleta de lixo da cidade. Uma conferida nos jornais e, para o meu não espanto, “Sofia inspeciona recolhimento de lixo” era a matéria da página 9 do Correio do Povo do dia 11 de janeiro. Pra quem não sabe, alguns bairros de Porto Alegre vêm sofrendo com a irregular coleta de lixo, como o distante Parque dos Maias, na divisa com Alvorada. Um prefeito de verdade acompanha a situação, se reúne com o diretor do DMLU (Mário Monks) e coloca a empresa responsável na parede. Assim fez Sofia, que também não isenta as pessoas que jogam lixo em locais proibidos de culpa. Dois ou três dias depois de toda essa função, o que acontece? Sustentare, a empresa responsável (que já levou 27 multas do DMLU), se vê obrigada a esclarecer os problemas. Mais do que isso, obrigada a resolvê-los, o que esperamos que aconteça em breve – de preferência antes do retorno do prefeito de férias Fortunati.
Aquela rótula desnecessária, localizada ao lado da Praça da Encol, na Av. Nilo Peçanha, finalmente entra em processo de desmontagem. É uma obra longa e complicada, verdade. Talvez faça o trânsito no local congestionar ainda mais. Mas é preciso – a rótula só atrapalhava. Nem sei quanto tempo até ficar tudo pronto, imagino que deva levar um semestre inteiro. Os trabalhos começaram no período matinal do dia 11. Quem estava lá para acompanhar? Sofia. Daqui três dias ela começa seu trabalho como presidente da Câmara, atualmente no comando do vereador petebista DJ Cassiá. Reproduzo, para finalizar, um artigo seu publicado na página 2 do Correio do Povo de 3 de janeiro:
2011 é o ano do Partido dos Trabalhadores na presidência da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, e nosso mandato tem a honra e a responsabilidade de representá-lo.
Esta presidência é resultado de escolhas da cidadania que por três vezes garantiu meus mandatos de vereadora e que constituíram boas bancadas do PT na Câmara. Estarão assumindo comigo as professoras, os funcionários públicos, as crianças, os trabalhadores, os movimentos sociais, as comunidades, os artistas, os educadores populares, as lideranças comunitárias. Parece pretensão, mas não, é reconhecimento. É o compromisso dos eleitos de representar e não substituir quem os elegeu.
A Lei Orgânica da Capital traduz a Constituição dizendo em seu artigo primeiro: todo poder emana do povo porto-alegrense, que o exerce por meio de seus representantes ou diretamente. Para isto, aprofundaremos a participação popular, o acesso dos cidadãos às decisões, à informação dos processos e de seus direitos previstos nas leis.
Nossa lei máxima explicita em texto literal quais são eles: “o direito à cidadania, à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, ao usufruto dos bens culturais, à segurança, à previdência social, à proteção da maternidade e a infância, à assistência dos desamparados, ao transporte, à habitação e ao meio ambiente equilibrado”. Estas são, na verdade, as pautas cotidianas da Câmara, de intenso trabalho que, para obter soluções efetivas, precisa superar a forma fragmentada, pulverizada na maioria das vezes, reativa e episódica.
Na gestão da Câmara, vamos dar ênfase, a partir destes direitos, à dimensão mediadora entre a sociedade e o executivo, numa metodologia que implicará em informação e educação, mobilização dos atores e das instituições responsáveis, aprofundamento teórico, verificação da realidade e valorização de experiências positivas e exitosas. E, por fim, a construção de resultados, pactos, processos, métodos e compromissos que avancem na transformação de leis em realidade.
Ser uma presidente mulher, apenas a terceira em 237 anos de existência da Câmara, aumenta a responsabilidade, pois apesar de toda a luta e do momento extraordinário que o Brasil vive com a primeira mulher presidente da república, somos ainda tão poucas nos espaços de poder e temos muitos direitos diariamente violados pela condição de gênero!
Nossa maneira de desejar feliz Ano-Novo será à altura da esperança que a democracia carrega: resultar em mais igualdade, dignidade, direitos!
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