MP denuncia ex-chefe de gabinete de Yeda, sargento e coronel por espionagem e violação de sigilo
O Ministério Público de Canoas ofereceu denúncia hoje (14) contra o sargento César Rodrigues de Carvalho, o ex-chefe de gabinete da ex-governadora Yeda Crusius (PSDB), Ricardo Luís Lied, e o tenente-coronel da reserva da Brigada Militar, Frederico Bretschneider Filho, ex-assessor do gabinete de Yeda. Os três denunciados estão envolvidos no caso do acesso ilegal de dados sigilosos de políticos, parentes de políticos, advogados, delegados de Polícia, oficiais da Brigada e jornalistas, por meio do Sistema de Consultadas Integradas da Secretaria Estadual de Segurança. O promotor Amilcar Macedo (foto) tornou pública a denúncia, que descreve dois fatos delituosos. O sargento da Brigada foi denunciado pelo crime de concussão – exigir vantagem indevida – e o ex-chefe de gabinete e o ex-assessor de Yeda pelo crime de violação de sigilo funcional. O processo transcorre em segredo de justiça, mas o Promotor de Justiça de Canoas entrou com pedido de revogação do decreto de sigilo.
César Rodrigues de Carvalho, que atuava na Casa Militar, chegou a ser preso preventivamente, mas atualmente se encontra em liberdade. As investigações apuraram que, em pouco mais de um ano, ele realizou mais de 96 mil consultas ao Sistema de Consultas Integradas. Segundo o MP, várias delas foram feitas por determinação dos outros dois denunciados “com finalidades não condizentes com as de sugerir medidas de prevenção e proteção à integridade física da Governadora e de seus familiares”. O sargento também é investigado por extorquir contraventores de máquinas caça-níqueis na Região Metropolitana. Ele foi detido durante a Operação Agregação, composta pela Promotoria Criminal de Canoas, Núcleo de Inteligência do MP e Sessão de Inteligência do Comando de Policiamento Metropolitano.
Ricardo Lied é alvo de várias acusações
O ex-chefe de gabinete de Yeda Crusius já está sendo processado por violação de sigilo. Em setembro de 2009, a Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Porto Alegre ajuizou ação civil pública de responsabilidade por atos de improbidade administrativa contra Ricardo Lied e dois delegados de Polícia do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico, por violação do sigilo profissional. No dia 14 de julho de 2009, eles informaram ao então Diretor-Presidente do Detran, Sérgio Luiz Buchmann, que iriam realizar busca e apreensão na residência de seu filho. Para a Promotoria, “os três colocaram em risco o resultado da diligência futura”.
Relembrando o caso. No dia 14 de julho de 2009, o então chefe de gabinete de Yeda procurou Buchmann em sua residência, no bairro Menino Deus, acompanhado pelo Superintende de Serviços Penitenciários Mário Santa Maria e pelo delegado Luiz Fernando Martins Oliveira, do Denarc. Buchmann relatou que recebeu a comitiva no portão do edifício e Lied, antes de dizer qualquer coisa, certificou-se de que não havia câmeras no local. Depois de escorar o portão com o pé, perguntou se Buchmann tinha um filho chamado Flávio. Diante da resposta positiva, Lied informou que o rapaz estava prestes a ser preso por tráfico e pediu que Buchmann ligasse para ele avisando da ação policial.
A inusitada sugestão causou desconfianças no presidente do Detran que, na época, havia questionado uma suposta dívida da autarquia com a empresa de guinchos Atento, e estava sofrendo pressões do governo (da própria Yeda, inclusive) para pagar a dívida. Quando ouviu o “aviso” de Lied, Buchmann pensou estar diante de uma cilada.
Lied também foi acusado pelo ex-ouvidor da Secretaria Estadual de Segurança, Adão Paiani, de ter usado o aparato de segurança do Estado para espionar o ex-deputado Luis Fernando Schmidt (PT), candidato a prefeito de Lajeado, em 2008. Documentos revelados após a prisão do sargento César Rodrigues de Carvalho, confirmaram o envolvimento de Lied no caso. Ele também foi flagrado em conversas suspeitas com o ex-presidente da Câmara Municipal de Lajeado, Márcio Klaus (PSDB), preso antes da eleição de 2008 sob a acusação de compra de votos. Numa dessas conversas, ele discutia com o vereador a substituição do delegado regional da Polícia Civil e do comandante da Brigada Militar na região que atuaram na prisão em flagrante de Klaus.
O ex-chefe de gabinete de Yeda só deixou o cargo no final de 2010 para trabalhar na coordenação da campanha da ex-governadora.
Foto (Amilcar Macedo): Marco Aurélio Nunes (Ministério Público Estadual)
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