Jornalismo B
A manchete de capa da última edição da Caros Amigos não representa satisfatoriamente o que foi a entrevista da revista com a filósofa Marilena Chauí. Mesmo as perguntas incisivas e críticas não conseguiram tirar da petista críticas ao governo Lula ou ao que se avizinha como marcos do governo Dilma. Quando o assunto foi mídia, principalmente, Chauí escapou pela tangente de mil e uma maneiras. A frase “Sem comunicação não há democracia”, que dá título à entrevista e é a manchete da revista, aparece deslocada em meio a uma crítica torta da mídia brasileira.
A lista dos entrevistadores é longa: Bárbara Mengardo, Baby Siqueira Abraão, Cecília Luedermann, Débora Prado, Gabriela Moncau, Hamilton Octavio de Souza, Lúcia Rodrigues, Otávio Nagoya, Renato Pompeu, Tatiana Merlino e Wagner Nabuco. Resolvi citar todos os nomes porque compraram uma briga das boas: fazer Marilena Chauí comentar os desvios pelo caminho do governo Lula. Incansável, a entrevistada refutou um a um, mas, incansáveis, os repórteres insistiram.
A questão da comunicação é chave. Quando perguntada sobre a cobertura das eleições pela mídia, a filósofa desenvolveu longos parágrafos criticando a mídia hegemônica por fazer campanha para o candidato do PSDB, José Serra. Esqueceu-se, porém, de citar a parte dessa mesma mídia dominante que defendeu a candidatura de Dilma Rousseff sem declarar esse apoio. Esqueceu-se também de que a mídia não se resume apenas às grandes corporações, mas também à mídia alternativa, ignorada na resposta. As críticas de Chauí à cobertura da grande imprensa são válidas, corretas e passam perto do que foi muitas vezes escrito aqui neste blog. Porém, o que se viu nessa resposta, a primeira da entrevista, foi apenas uma defesa chorosa do PT e de sua candidatura.
Por outro lado, quando perguntada sobre a outra direção da relação entre governo e mídia, a entrevistada foi renitente e evasiva. Fica tudo no “é, é difícil”. É necessário regular a mídia, mas é difícil. É necessário que se fortaleçam os veículos da esquerda, mas é difícil. E as dificuldades vão virando desculpas para a absoluta imobilidade do governo petista no que diz respeito à comunicação. As Conferências Nacionais são exaltadas (“73 Conferências Nacionais com 70 mil pessoas participando para decidir sobre todos…”), mas a resposta é interrompida para que se coloque a questão: “Mas, no caso da Comunicação, as 672 propostas não saíram do papel até agora”. E novamente a entrevistada escapa pela tangente.
A entrevista foi muito bem conduzida, como costuma ser na Caros Amigos. Crítica, questionadora, abordou temas como reforma agrária, alianças partidárias, capital financeiro, aborto e arquivos da Ditadura (os dois últimos apenas de forma superficial, é verdade). Respostas fugidias foram rebatidas com perguntas mais objetivas, mais incisivas.
Marilena Chauí é uma importante pensadora, e seu pensamento sobre mídia costuma encontrar grande respaldo na esquerda brasileira. Porém, a defesa intransigente e quase publicitária do PT parece a ter desviado da crítica mais abrangente. Uma entrevista que tinha tudo para trazer um grande painel da comunicação e, por que não?, da sociedade brasileira sob o governo Lula, perdeu-se em perguntas sem respostas. Os questionamentos foram feitos, mas o entrevistado também precisa questionar.
Postado por Alexandre Haubrich
Siga www.twitter.com/jornalismob e www.twitter.com/alexhaubrich
A lista dos entrevistadores é longa: Bárbara Mengardo, Baby Siqueira Abraão, Cecília Luedermann, Débora Prado, Gabriela Moncau, Hamilton Octavio de Souza, Lúcia Rodrigues, Otávio Nagoya, Renato Pompeu, Tatiana Merlino e Wagner Nabuco. Resolvi citar todos os nomes porque compraram uma briga das boas: fazer Marilena Chauí comentar os desvios pelo caminho do governo Lula. Incansável, a entrevistada refutou um a um, mas, incansáveis, os repórteres insistiram.
A questão da comunicação é chave. Quando perguntada sobre a cobertura das eleições pela mídia, a filósofa desenvolveu longos parágrafos criticando a mídia hegemônica por fazer campanha para o candidato do PSDB, José Serra. Esqueceu-se, porém, de citar a parte dessa mesma mídia dominante que defendeu a candidatura de Dilma Rousseff sem declarar esse apoio. Esqueceu-se também de que a mídia não se resume apenas às grandes corporações, mas também à mídia alternativa, ignorada na resposta. As críticas de Chauí à cobertura da grande imprensa são válidas, corretas e passam perto do que foi muitas vezes escrito aqui neste blog. Porém, o que se viu nessa resposta, a primeira da entrevista, foi apenas uma defesa chorosa do PT e de sua candidatura.
Por outro lado, quando perguntada sobre a outra direção da relação entre governo e mídia, a entrevistada foi renitente e evasiva. Fica tudo no “é, é difícil”. É necessário regular a mídia, mas é difícil. É necessário que se fortaleçam os veículos da esquerda, mas é difícil. E as dificuldades vão virando desculpas para a absoluta imobilidade do governo petista no que diz respeito à comunicação. As Conferências Nacionais são exaltadas (“73 Conferências Nacionais com 70 mil pessoas participando para decidir sobre todos…”), mas a resposta é interrompida para que se coloque a questão: “Mas, no caso da Comunicação, as 672 propostas não saíram do papel até agora”. E novamente a entrevistada escapa pela tangente.
A entrevista foi muito bem conduzida, como costuma ser na Caros Amigos. Crítica, questionadora, abordou temas como reforma agrária, alianças partidárias, capital financeiro, aborto e arquivos da Ditadura (os dois últimos apenas de forma superficial, é verdade). Respostas fugidias foram rebatidas com perguntas mais objetivas, mais incisivas.
Marilena Chauí é uma importante pensadora, e seu pensamento sobre mídia costuma encontrar grande respaldo na esquerda brasileira. Porém, a defesa intransigente e quase publicitária do PT parece a ter desviado da crítica mais abrangente. Uma entrevista que tinha tudo para trazer um grande painel da comunicação e, por que não?, da sociedade brasileira sob o governo Lula, perdeu-se em perguntas sem respostas. Os questionamentos foram feitos, mas o entrevistado também precisa questionar.
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