A leitora que se encantou com a Al Jazeera
Viomundo
Prezado Azenha,
Sou fã do seu site que comecei a acompanhar desde as últimas eleições presidenciais. À partir do seu site cheguei no link da TV Al Jazeera que passei a assistir online. Achei excelente. Precisamos da Al Jazeera no Brasil para termos acesso á uma mídia independente. Será que o seu site não pode fazer uma campanha pró-Al Jazeera no Brasil?
Atenciosamente,
Ana Teles da Silva
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Cara Ana,
Conheci o impacto da Al Jazeera (clique aqui para ver ao vivo, em inglês) durante minhas viagens ao Oriente Médio e à África. A emissora árabe tem duas versões, em árabe e em inglês. Ficou conhecida por mostrar imagens que outras emissoras não mostraram da invasão do Afeganistão, do Iraque e dos ataques de Israel aos palestinos. Diferentemente das emissoras ocidentais, que reproduzem o mind set de Washington, Londres e Paris, a Al Jazeera assume abertamente que fala em nome da “rua árabe”.
Os padrões de excelência jornalística da Al Jazeera resultam de alguns fatos: dinheiro quase à vontade, uma equipe herdada da BBC britânica e ênfase na reportagem. Trocando em miúdos, a Al Jazeera expandiu sua cobertura internacional num momento em que outras grandes redes, especialmente dos Estados Unidos, reduziam sua presença global para se ajustar a cortes de gastos. É por isso que o telejornalismo da Al Jazeera se destaca tanto em comparação com o de outras emissoras. A emissora vai até onde outras emissoras não vão.
A emissora árabe não foge da notícia e não repete as emissoras ocidentais na crença de que basta não falar em um assunto para fazer com que ele desapareça. A Al Jazeera cobre o Hamás e o Hizbollah tanto quanto a Autoridade Palestina e o governo Obama. Os escritórios da Al Jazeera foram atacados pelo Pentágono no Afeganistão e no Iraque; o sinal da emissora acaba de ser bloqueado na Líbia; jornalistas da Al Jazeera foram presos no Egito e sedes da emissora em territórios palestinos foram atacados depois que a Al Jazeera divulgou os chamados “Palestinian Papers”, demonstrando que negociadores palestinos estavam dispostos a fazer importantes concessões a Israel para chegar a um acordo de paz.
Os governos temem a Al Jazeera, mas o povo nas ruas ama. No interior do Quênia, por exemplo, vi um restaurante batizado com o nome da emissora. No passado, nos países onde se fala inglês na África, a informação independente era obtida através das emissões radiofônicas da BBC. Hoje, na TV, a Al Jazeera ocupou este espaço. E com a transmissão do sinal da emissora via satélite e pela internet, nos momentos de crise as pessoas do norte da África e do Oriente Médio correm para a Al Jazeera.
Neste momento específico, por exemplo, a Al Jazeera expõe mais uma vez a hipocrisia dos governos ocidentais, que até agora não se manifestaram contra a repressão da polícia política do regime de Muammar Gaddafi, na Líbia. A Líbia tem as maiores reservas de petróleo da África e é um importante fornecedor para a União Europeia e os Estados Unidos (o governo brasileiro tem se mantido estranhamente calado para quem agora enfatiza, na política externa, a defesa dos Direitos Humanos).
De qualquer forma, cara Ana, se há algo que distingue a Al Jazeera de outras emissoras ocidentais é o fato de que ela incorpora plenamente a ideia de que o poder se desloca lentamente do Ocidente para a Ásia. Ou seja, de que o mundo também é das grandes massas árabes e asiáticas. Se você olhar no mapa, vai notar que Doha, no Qatar (sede da Al Jazeera) aos poucos vai se tornando um importante ponto de entroncamento entre o Ocidente e o Oriente. Já é um importante centro financeiro. Não é por acaso, portanto, que o emir do Qatar abriu o cofre para financiar a emissora.
PS do Viomundo: Na Venezuela, onde estive recentemente, a Telesur (clique aqui para ver ao vivo) vem fazendo um trabalho muito interessante na cobertura da América Latina. É difícil entender a timidez do Brasil em apresentar a versão dos fatos a partir do olhar brasileiro, o que não fazemos nem mesmo em português!
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