Carta desencantada de uma professora
Juremir Machado da SilvaCARTA DESENCANTADA DE UMA PROFESSORA
Senhor Jornalista:
venho, por meio desta missiva, apelar para que sua abençoada missão de dar voz aos anseios populares publique, ao menos uma parte, desta mensagem que apelidei “Carta Desencantada de uma Professora.”
Fui professora estadual por 45 anos, sempre no município de Piratini onde, hoje, aposentada, integro, há seis anos, sem qualquer gratificação monetária, o Conselho Municipal de Educação, como presidenta reeleita.
Passei por inúmeras dificuldades profissionais. Aos quinze anos, comecei a trabalhar como educadora, em uma escola arranjada na sala da casa dos meus pais, no interior de Piratini, onde ensinava, no mesmo espaço e tempo, a trinta e cinco crianças de 1ª à 5ª séries.
Formei-me em Pedagogia e Pós-Graduação em Psicopedagogia em uma faculdade da cidade de Bagé, o que me obrigava a viajar de 2ª à 6ª feira, de ônibus, de Piratini àquele município - eu, que já era, então, mãe de dois filhos.
Participei, ativamente, do CPERGS do qual fui representante no município. Não perdia nenhuma assembleia, tanto regional quanto estadual. Tinha, enfim, o encanto de que nossa luta como trabalhadora da Educação daria, um dia, bons frutos na forma de justiça por nossa árdua e necessária missão.
No entanto, é com tristeza que leio os jornais sobre o possível projeto do Governo Tarso Genro para alterar o pagamento de RPVs. Ora, a fim de obter meu direito, obriguei-me a ajuizar uma ação para o cumprimento da Lei Britto, a qual foi procedente e se acha em fase de execução.
Enfim, se tal proposição se tornar lei, poderá ser frustrado o pagamento acima de vinte salários mínimos, o que é um absurdo pois há anos eu já contava com tal numerário que pode significar maior conforto em minha vida de mulher com 67 anos de idade e diabética.
Como se não bastasse a morosidade da Justiça no andamento de tal processo, agora, justamente no Dia Internacional da Mulher, recebo, com tristeza e desencanto, essa ameaça a um direito que é de uma classe.
É por isso que lanço esta denúncia em forma de carta, um verdadeiro e legítimo grito de uma professora aposentada que clama por respeito aos tantos anos de trabalho.
Meu nome é JALUZ. Sim, é verdade: não é pseudônimo pois, felizmente, conquistamos, também como educadores, um país onde se pode, com liberdade, manifestar o pensamento. Assim, não tenho motivos para ocultar qualquer dado que me identifique publicamente.
Meu nome tem a sílaba “luz” e, sem falsa modéstia, tenho certeza que iluminei muitos espíritos, alfabetizadora que fui. E os demais professores – meus colegas - de outros nomes, também foram e são lâmpadas para os caminhos da cidadania e do saber.
Ainda com esperança num Estado e num País que valorize, de fato, a educação, despeço-me com um pensamento de Paulo Freire:
“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”
Da sempre Professora
JALUZ ANDRADE D’ÁVILA
Postado por Juremir Machado da Silva - 09/03/2011 10:56 - Atualizado em 09/03/2011 10:57
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