domingo, 20 de março de 2011

se controla a inflação fazendo o país crescer, aumentando a oferta de bens e serviços

O PIBão, a inflação e a jabuticaba

Sul 21

A presidenta Dilma Rousseff disse hoje, em Uberaba (MG), que não negocia com a inflação e que não é preciso frear o desenvolvimento econômico do país para conter a escalada de preços. Segundo suas palavras, o Brasil não pode ter um crescimento semelhante a “um vôo de galinha”, que é curto e nunca ganha altura. Quando maior for o crescimento do país, mais equilibrado ele será, afirmou a presidenta.

Tais afirmações contradizem o entendimento de grande parte dos economistas brasileiros, que juram que um crescimento continuado do PIB do país superior a 4% ao ano gera inflação e leva ao caos a economia nacional. Segundo eles, não temos capacidade produtiva instalada. As plantas industriais estão no seu limite e não há condições de expandi-las em tempo suficiente para atender à demanda crescente por bens e produtos. A infraestrutura de transporte e logística está esgotada e em colapso: faltam boas rodovias e ferrovias, faltam portos de alto calado, falta energia. Nessas condições, o aumento da demanda gera, inevitavelmente, inflação, pois é inevitável o aumento dos preços dos produtos escassos.

Tal como a jabuticaba, que só existe no Brasil, a inevitabilidade da inflação quando ultrapassado o limite de crescimento do PIB de 4% ao ano é um fenômeno restrito à realidade brasileira, ironizam os economistas que ousam discordar do pensamento econômico dominante e que têm interpretação semelhante à expressa pela presidenta Dilma Rousseff. Sem dúvida que não existe inevitabilidade da inflação nem impedimento absoluto ao crescimento continuado do PIB brasileiro, afirmam estes economistas.

Segundo as análises destes economistas, algumas condições precisam ser observadas, no entanto, para que o crescimento possa ocorrer em níveis elevados sem provocar transtornos inflacionários e colapsos econômicos de longo prazo. É preciso, por exemplo, que exista investimento público constante em infra-estrutura, financiamento à produção e ao consumo, solidez do sistema financeiro, além de uma política monetária que facilite tanto o comércio exterior quanto o mercado interno e, sobretudo, uma política econômica de longo prazo que incentive o desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas produtivas.

O Brasil passou por décadas de ausência de investimentos em infraestrutura produtiva, com o consequente sucateamento das estradas, vias férreas, portos e aeroportos, além da expansão insuficiente da geração e distribuição de energia para a produção de bens de consumo e de capital. A crise econômica internacional, de um lado, e os altos juros praticados no Brasil, de outro, provocaram uma valorização irreal da moeda nacional, elevando o Real e derrubando o dólar, o que gerou o barateamento dos produtos importados e o encarecimento dos produtos exportados pelo país. Abortou-se, assim, a possibilidade de expansão continuada da capacidade produtiva do país, pois os empresários deixaram de investir no aumento das plantas físicas de suas empresas e o governo deixou de investir nos meios que possibilitam a produção e o consumo.

Nos anos recentes, com a inclusão de milhões de novos brasileiros ao mercado consumidor, promovida pelo governo por meio de suas políticas de recuperação salarial, de renda mínima e de financiamento do consumo, aumentou enormemente a demanda por produtos de consumo. Sem investimentos significativos em infraestrutura, sem incentivos à expansão das plantas produtivas e sem a adoção de uma política que promova a geração de novas tecnologias não só ocorrerá o retorno da inflação como também acontecerá o sucateamento da produção nacional de bens sofisticados e de alto valor agregado, que será sufocada pelos produtos importados, de menor preço e de melhor qualidade.

Tem razão a presidenta Dilma Rousseff quando afirma que não há hipótese de negociar com a inflação e que “se controla a inflação fazendo o país crescer, aumentando a oferta de bens e serviços”. É isto o que a sociedade brasileira espera e a economia nacional necessita. Não é possível, no Brasil de hoje, controlar a inflação estancando o crescimento. Pelo contrário, é necessário que se promova o desenvolvimento equilibrado e constante para que se eliminem, de modo efetivo, os fatores geradores da inflação.

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