quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

as mesmas perguntas e as mesmas respostas, enquanto a violência cresce nos eua

Heloisa Villela: Passou no Wal Mart, comprou munição e matou gente

Viomundo

por Heloisa Villela

Loucura?

Em meio a toda essa sandice, mais uma de tantas explosões aparentemente gratuitas de violência neste país, as perguntas e tentativas de explicação voltam à tona. São sempre as mesmas, recicladas ou não como novidade. E tudo sempre se resume a uma análise “aprofundada” do sujeito da ação. O cara é desequilibrado, tem problemas mentais,  ninguém tomou providência a tempo, etc, etc. Quantas vezes já ouvimos tudo isso?

Pois é, cansa e parece farsa na quarta ou quinta vez. E fica ainda mais evidente que talvez o blá, blá, blá da mídia sirva apenas para calar a verdadeira discussão que esse país aqui se recusa a travar. São várias, na minha muito modesta opinião. E não passa disso: opinião mesmo, de quem mora há mais de 20 anos aqui, não tem curso de psicologia nem de sociologia. Mas ainda assim, são coisas que me martelam a cabeça.

O rapaz do Arizona comprou uma arma, sem problemas, na loja “Sportsman’s Warehouse”, em novembro. Poucas horas antes de matar seis pessoas, entrou em um Wal Mart (esses hipermercados populares) e comprou munição. No táxi, com toda tranquilidade, ele foi para o estacionamento do mercado Safeway, onde acontecia o pequeno comício, ou corpo-a-corpo da deputada Gabrielle Giffords.

Agora, paramos aqui e juntamos: armas acessíveis, munição à vontade e políticos, em geral, cada vez mais odiados pela população. O que acontece com o debate político nesse país? Nada, porque ele não envolve a população. Nas eleições presidenciais, quando um número maior de eleitores participa, o índice de comparecimento fica ali pelos 50%. Ou seja, metade da população não se interessa em sair de casa para votar. Não se sente representada, talvez, por nenhum dos dois partidos majoritários.

Mais recentemente, a decepção com a classe política se aprofundou. A crise financeira, o socorro aos bancos e o total desinteresse pela situação dos que perderam suas casas porque não podiam mais pagar a prestação irritou muita gente. Em seguida, veio a discussão da reforma da saúde, acalorada, lotada de distorções e mentiras.

O presidente Barack Obama foi eleito numa onda de esperança que mobilizou um bocado de gente. Em seguida, foi uma ducha de água fria. Muita gente se sentiu traída porque ele não atacou os problemas com o vigor que se esperava. Não estou dizendo que o sujeito lá do Arizona decidiu matar uma meia dúzia porque estava irritado com o governo. O que me parece é que existe um descolamento total da política, que não diz nada para a vida do cidadão comum, hoje em um clima tenso, de desesperança.

Ao mesmo tempo, o espaço do debate político foi tomado por uma retórica vazia, de acusações falsas e promoção do ódio aos imigrantes, às minorias… O xerife do condado do Arizona, onde aconteceu o massacre, diz que esse discurso político deve ter influenciado o rapaz. Quanto ao acesso às armas, foi mais radical: “Talvez agora eles exijam que todo bebê mantenha uma Uzi no berço”. Alguém, por aqui, ainda pensa.

O Departamento de Segurança Interna, há dois anos, produziu um estudo mostrando que havia um acirramento dos grupos de ódio e de direita radical, alimentado, entre outras coisas, pela eleição de um presidente negro pela primeira vez na história do país. O estudo alertava para a possibilidade de atos isolados e perigosos. Mas o documento foi engavetado depois que os republicanos berraram, especialmente o agora presidente da Câmara, John Boehner, dizendo que não passava de propaganda do governo Obama.
E, mais uma vez, o governo Obama se calou diante da oposição…

Nenhum comentário: