quarta-feira, 31 de agosto de 2011

a destruição do nosso ecossistema (alguma novidade?)

Ministério Público investiga impacto ambiental causado por extração de areia





O serviço de resposta da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre está funcionando bem. Encaminhei, via site do Ministério Público Estadual, email à Promotoria perguntando sobre a existência de algum estudo ou investigação em curso a respeito da atividade das empresas que extraem areia dos rios da bacia do Guaíba. Anexei solicitação um dos vídeos publicados no youtube e que vêm denunciando esse problema. Recebi hoje pela manhã, atenciosa resposta encaminhada pela promotora de Justiça, Ana Maria Moreira Marchesan, informando que há dois inquéritos civis tramitando a respeito deste tema. Segue vídeo e a íntegra da resposta:


Em atenção a seu e-mail, informamos que tramita nesta Promotoria de Justiça de Defesa do Meio de Porto Alegre os seguintes ICs:

1 – IC 13/2010, para fins de averiguar possíveis impactos ambientais causados pela extração de areia em zona de amortecimento da reserva Biológica do Lami, nesta Capital.

2 – IC 62/2010, para apurar descumprimento de condicionantes da Licença de Operação Expedida pela FEPAM para atividade de mineração de areia em local proibido nos limites de Unidade de Conservação Estadual.

Atenciosamente,
Cartório da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente,
De ordem da Drª. Promotora de Justiça, Ana Maria Moreira Marchesan.

esses gringos... ainda farão a Líbia pagar pela libertação (como é fácil enganar com essa mídia - putz)

Líbia pós-Gaddafi: “colônia disfarçada”



por Juliana Sada

Com o fim do regime de Gaddafi e às vésperas de uma reunião de líderes mundiais para debater a reconstrução da Líbia, o futuro do país começa a se desenhar. Apesar das dificuldades em desenhar o que virá, o cientista político e diretor do Instituto de Cultura Árabe, José Farhat, aponta algumas certezas: “a tal ‘democracia’ e o ‘futuro’ estão sendo desenhados lá fora e impostos ao povo líbio”.

Para Farhat, ação da OTAN na Líbia é um recado aos povos árabes: “quem não ler pela cartilha terá as forças da OTAN contra ele”. Sobre o interesse das potências no petróleo líbio, Farhat afirma que “a rapina do século está em curso”.

Confira a seguir, a íntegra da entrevista ao Escrevinhador.

O próximo governo líbio está em vias de formação, quem deve assumir o poder?

Bem que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) gostaria de assumir diretamente o poder e dirigir sem interferências e intermediações o controle completo do abundante petróleo líbio e dos investimentos bilionários líbios nos quatro cantos do mundo, quase todos já congelados; mas seria vergonhoso demais, até mesmo para esta organização.

Então, a saída seria arranjar uma figura igual ao Hâmid Karzai do Afeganistão para não mandar além da porta de seu palácio, mas também é difícil por falta de uma figura líbia idêntica ao persa e pachto que se fantasia de afegão.

Daí só resta uma junta que a OTAN mal consegue manter unida que é o Conselho Nacional de Transição (CNT). Com o CNT sob mando das Nações Unidas (ONU), inspiração dos Estados Unidos e membros principais da OTAN, a Líbia volta a ser uma colônia disfarçada.

Há na Líbia grupos organizados politicamente? Grupos que sejam capazes de formar partidos e disputar o governo?


Tempos atrás fui perguntado para onde iria a Primavera Árabe depois de Tunísia e Egito. Respondi, percorrendo um longo caminho através dos restantes vinte países árabes,  e ao me deparar com Líbia e Arábia Saudita afirmei que nestes dois países seria muito difícil haver um levante popular porque tinham características comuns consubstanciadas por: grande riqueza, população reduzida e enorme capacidade governamental de corromper os mais velhos, seguidos pelos mais jovens. Havia um dado não levado em consideração: a ganância otaniana pelo petróleo e pelos investimentos líbios.

No entanto, Muammar Kaddafi nem querer justificou a minha tese, pois não há na Líbia qualquer organização partidária ou religiosa ou de qualquer outra natureza que ele não tenha eliminado e cortado pela raiz em seus quarenta e poucos anos de domínio abusivo. Até mesmo o regime tribal que domina a sociedade líbia foi isolado e neste caso ele teve como mestre Saddam Hussein no Iraque; o que não aconteceu no Afeganistão, dada a ausência de um mínimo de influência real de Karzai.

Por tudo isso, não há no curto prazo a possibilidade de formação de agremiações capazes de disputar o governo. Só há uma certeza, a ONU está traçando o futuro da Líbia, inclusive a respeito de formação de partidos.

Nem a ONU ou a OTAN estarão preocupadas em perguntar ao povo líbio o que quer, enquanto avançam com o seu projeto de democracia semelhante àquele que George W. Bush desenhou para o Iraque e está dando no que tem dado.

Muitos analistas afirmam que a participação popular nas lutas contra Gaddafi é pequeníssima. Quem são os “rebeldes” que lutam contra Gaddafi? Há algum traço em comum entre os diferentes grupos? Por que lutam contra Gaddafi?

A participação popular nas lutas contra Kaddafi não é pequeníssima, ela é inexistente. As caras semelhantes à de líbios que se vê repetidas na televisão nada mais são que mercenários egípcios contratados no mercado de locação de forças armadas em Londres, para fingir que os líbios estão lutando contra o regime. Para a luta propriamente dita a OTAN, com a longa duração da luta para derrubar Kaddafi, contrariando o mandato da ONU, acabou contratando mercenários colombianos. Como também não surtiu efeito, forças da própria OTAN entraram nas batalhas finais também por terra.

O traço comum entre os “rebeldes” é que são mercenários estrangeiros e lutam contra Kaddafi como lutou a Blackwater no Iraque, para fazer o “serviço sujo” para a Coalizão ou OTAN, tanto faz. A luta contra Kaddafi, sublinhe-se mais uma vez, é porque ele, a exemplo de Saddam Hussein, ousou querer mudar as políticas para petróleo e investimento.

Que mudanças ele fez? E quem saiu perdendo com elas?

Foi reafirmado o caráter estatal e nacional do petróleo e exigido o pagamento numa cesta de moedas que não sujeitasse o país à dependência do dólar ou euro. Para salvaguardar os investimentos externos, Kaddafi também iniciou uma ação seletiva de onde aplicar, remanejar as aplicações em moedas e países de duvidosos o que foi considerado um perigo no atual ambiente internacional de crise atual. Estas mudanças seriam uma pá de cal para as pretensões das multinacionais do petróleo e dos países dependentes do petróleo líbio e retirar aplicações de certos países para aplicá-los em outros prejudicaria certamente os países receptores dos bilionários investimentos líbios.

E o Conselho Nacional de Transição? O que se pode esperar dele quando possui figuras tão diferentes como o ex-ministro de Justiça de Gaddafi e o filho do último rei da Líbia, derrubado por Gaddafi?


O saco de gatos que é o CNT foi formado exatamente igual àquele que ser formou no exterior às vésperas do ataque e ocupação do Iraque e certamente terá no futuro o mesmo destino dos participantes iraquianos: nenhum deles está hoje no poder, nenhum tinha qualquer base popular dentro do Iraque, como os membros da CNT na Líbia. A OTAN – e os Estados Unidos, para maior precisão –  tem uma tremenda falta de capacidade de arranjar parcerias e os exemplos são inúmeros e em todas as guerras que causaram, frias ou quentes.

Em recente entrevista, o senhor disse que demoraria cerca de cinquenta anos para a democracia se consolidar no país. Que tipo de governo haverá neste intervalo? Quais tarefas devem ser feitas para se alcançar um regime democrático?

Na Tunísia e no Egito ocorreram movimentos populares, desarmado e com uma ideia na cabeça, o povo foi às praças e de lá tem exercido seu poder sobre os governos provisórios. Na Líbia, ao contrário, a tal “democracia” e o “futuro” estão sendo desenhados lá fora e impostos ao povo líbio. Os regimes provisórios que se sucederão na Líbia, e muitos haverá, irão acumular erros que levarão o povo líbio a criar a sua Praça Tahrir e, de lá, dizer o que quer e como quer.

Um dos erros não está somente na falta de consulta ao povo e sim a todas as tribos líbias, além das reivindicações particulares das três províncias líbias: Tripolitânia, Cirenaica e Fezzan. A diferença entre estas –  acentuadas durante as várias ocupações coloniais, não somente do ponto de vista tribal e social, como também econômico –  talvez indique um caminho para a organização da futura Líbia: uma Federação, com representação justa de todas as províncias, uma divisão geográfica que de certa forma corresponde às ocupações tribais, podem garantir uma coesão social na futura Líbia.

Está marcada para esta semana uma reunião entre o CNT, a ONU e alguns países para discutir a “reconstrução” da Líbia. O que está em jogo nessa reconstrução?

Esta reunião é igual a um convite para jantar: o receituário já estava escrito, os pratos preparados e servidos e aos convidados só restava comer. Al Jazeera publicou um documento que vazou detalhando os preparativos para o papel da ONU na Líbia pós-Kaddafi visando, entre outros inúmeros detalhes, como o país será controlado, inclusive com militares espalhados por todo o território líbio (os militares, diz o documento, serão desarmados, mas não escapa a ninguém que as armas estão ao alcance das mãos).

O documento que o CNT terá que engolir, ou não receberá o adiantamento que reivindica, tem 10 páginas e foi elaborado por um time especial da ONU chefiado por Ian Martin, o antigo dirigente da Amnesty International. O documento não menciona o controle do petróleo e nem tampouco dos investimentos líbios, mas isto não precisa publicar, o CNT receberá instruções globais. Lembremos que os países interessados estarão presentes à reunião.

Qual a importância econômica e política da Líbia para os países membros da OTAN?

Interessa sobremaneira à OTAN que os demais países árabes, principalmente a Síria (com a tentativa de derrubada do seu governo apadrinhado indiretamente por Estados Unidos e Israel), o Egito (que está ensaiando dar a Israel o verdadeiro tratamento que merece) e o Iraque (que começa a cobrar o cumprimento do acordo de desocupação e já entrou em rota de coalizão com os Estados Unidos que ensaiam não cumprir com o acordado) ouçam claramente o recado: quem não ler pela cartilha terá as forças da OTAN contra ele.
Dominar a Líbia é um exemplo e uma advertência para quem ousar continuar com a Primavera Árabe verão adentro. Do ponto de vista político é muito mais importante o exemplo aos demais árabes que a questão política propriamente líbia.

Já do ponto de vista econômico é claro que a rapina do século está em curso, são os países consumidores do petróleo líbio que mandarão no petróleo e são os recebedores dos investimentos líbios, atualmente congelados, que darão destino aos investimentos. Vão até fazer a Líbia pagar por sua libertação, como fizeram no Iraque.

Há alguma certeza no incerto futuro da Líbia?

Espero que minha previsão de cinquenta anos, mencionada acima, esteja equivocada e que a Líbia se torne um país livre, independente e democrático, de fato, em muito menos tempo, esta é a esperança.

Leia outros textos de Vasto Mundo

Camila Vallejo: valores políticos de esquerda, como democracia e justiça social


Altamiro Borges: A marcha da UNE em Brasília
 
Viomundo

UNE convoca “marcha dos estudantes”

do Vermelho, via blog do Altamiro Borges


A UNE vai reunir cerca de 20 mil estudantes em Brasília nesta quarta-feira (31), na passeata que ganhou o nome de “Marcha dos Estudantes” e faz parte do “Agosto Verde Amarelo”. A passeata começa com concentração às 9 horas, em frente ao Banco Central, onde está marcado ato de protesto das centrais sindicais contra a medida do Governo Dilma de aumentar o superávit primário. A data coincide com a reunião do Copom que define o reajuste da taxa básica de juros.

A convite da UNE, a líder estudantil Camila Vallejo, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh), vai participar da manifestação. Ela vai falar sobre a situação no Chile e convocar a jornada continental de lutas da juventude latino-americana.

“Falta ousadia para o governo quando a discussão gira em torno dos 10% do PIB para a educação. Existe, claro, uma melhora no setor, mas ainda é tímida. Dessa forma, o Brasil desperdiça uma oportunidade única de investir na juventude e dar um salto significativo na educação”, afirma o presidente da UNE, Daniel Iliescu, convocando para a manifestação.

E acrescenta que “os altos juros também impedem um maior desenvolvimento do país. Por isso, vamos ocupar Brasília neste dia 31 de agosto e pressionar o poder público para que não percamos o bonde da história”.

A passeata sairá da sede do Banco Central e percorrerá toda a Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional. Lá, diretores da UNE pretendem se reunir com lideranças partidárias e entregar à presidente Dilma Rousseff um documento com as reivindicações dos estudantes.

Após a marcha, haverá uma sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara em solidariedade à luta dos estudantes chilenos. A UNE participará também de uma audiência pública na Comissão de Educação do Senado sobre o Plano Nacional de Educação (PNE).

Na pauta dos estudantes está a defesa do investimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação para remuneração dos professores, mais assistência estudantil, melhoria das escolas e de todos os níveis de ensino. Os estudantes também reivindicam 50% do fundo social do pré-sal somente para o setor e a redução imediata dos juros no Brasil.

Jornada continental

No último dia 25 de agosto, o presidente da UNE, Daniel Iliescu, esteve no Chile para levar o apoio e solidariedade dos estudantes brasileiros à onda de protestos que jovens e trabalhadores de lá vem provendo em defesa de uma educação pública e de qualidade. A última passeata no país, que teve a presença do brasileiro, reuniu mais de 250 mil pessoas, com milhares de presos e um estudante morto.

Em Brasília, os dois dirigentes estudantis – Daniel Iliescu e Camila Vallejo – vão lançar a jornada continental de lutas da juventude latinoamericana, uma proposta da UNE durante a visita de Daniel ao Chile. Camila falará também sobre os protestos em seu pais.

Com a “Marcha dos Estudantes”, a UNE encerra o “Agosto Verde Amarelo”, uma jornada nacional de lutas que resultou em série de manifestações, ocupações e atos públicos em diversas regiões do país.

*****

Do site da UNE, entrevista concedida pela líder estudantil chilena a Rafael Minoro e Patricia Blumberg, traduzida por Moises Alves:

Como foi sua aproximação com a política? Como passou a militar no movimento estudantil?


Desde muito jovem, minha família me formou com valores políticos de esquerda, como democracia e justiça social. Com esta sensibilidade à esquerda é difícil manter-se fora da política e dos espaços que permitem fazer a mudança, especialmente em uma sociedade tão desigual e injusta como a do Chile. Foi assim que me interessei em fazer parte da política, desde muito jovem. Tal vontade se acentuou com a entrada na faculdade, de onde, finalmente, veio a adesão à juventude comunista. A partir deste momento, comecei a ser uma parte ativa de um movimento que tem sido gestado com trabalho, empenho e companheirismo.

O movimento que se fortaleceu este ano é herdeiro da Revolução dos Pinguins em 2006? Quais são os elementos de continuidade e diferença?

Eu não o chamaria de um herdeiro, mas, certamente, possuem uma relação. Em 2006, quando eu era caloura na Universidade do Chile, estudantes do ensino médio foram capazes de instalar na agenda política de Bachelet a questão da educação, com demandas que acabaram sendo tão profundas como mudar o modelo educacional que nos foi dado desde a ditadura militar. A principal diferença entre este movimento, é que, agora, podemos ver todos os setores sociais mobilizados. No começo, o movimento surge essencialmente nos setores universitários, depois vai tomando conta e se espalhando por todo país se transformando em uma das maiores mobilizações desde o retorno à democracia no Chile.

Qual é o balanço que você pode fazer como presidente da Fech, a Federação dos Estudantes da Universidade do Chile, especialmente, nos últimos meses? Qual foi o estopim dessa nova onda?

Faria um balanço muito positivo. Por um lado, esta intensa mobilização nos impediu de avançarmos em alguns aspectos do nosso programa interno. Mas, os avanços que tivemos com a Fech são qualitativamente muito superiores ao ano anterior. Retomamos um papel importante para que os estudantes – e nossa Federação – voltassem a ser novamente atores políticos de importância nacional, cujas opiniões têm um impacto real nos debates históricos sobre a sociedade. Desta forma, temos reavaliado o valor da organização dentro de nossa própria universidade, transcendendo as barreiras estudantis e nos permitindo avançar e nos envolver ativamente nos debates. É preciso deixar para trás a ideia de que a política pertence a poucos, e se aproximar rapidamente de um cenário mais democrático a partir do qual poderemos construir e defender propostas pelas transformações que o Chile precisa.


A principal bandeira de luta é a educação de qualidade e gratuita para os jovens, certo? Como você enxerga o cenário ideal, levando em consideração a realidade de hoje no Chile?

É claro que a educação gratuita é uma ideia política que queremos instalar, mas sabemos que não será uma realidade em curto prazo. Antes de tal transformação, é necessário promover uma reforma tributária que impeça que a diferença socioeconômica entre ricos e pobres, hoje no Chile, se aguce. No entanto, lutamos contra um modelo essencialmente neoliberal, que vê a educação como um bem de mercado – como diz o próprio presidente do Chile – e não como um direito, visão intransigentemente defendida pela direita que chegou ao governo através de [Sebastian] Piñera. Esperamos mudar as raízes de um modelo educacional que nos mantém no subdesenvolvimento.


Neste momento, como estão as negociações com o governo, e quais são as principais conquistas do movimento?

Este governo tem se mostrado intransigente na hora de negociar sobre o modelo educacional que instalaram desde a ditadura militar. Não é só isso, tem se demonstrado disposto a levantar a face mais repressiva, não ouvindo as demandas legitimas e respaldadas por um movimento que as próprias pesquisas mostram ter uma aprovação superior a 80%. Até agora uma das grandes conquistas do movimento tem sido consolidar uma aprovação transversal e unificada na sociedade. Agora, depois de muitas pressões da nossa parte, estamos próximos de sentar à mesa e enfrentar cara a cara um diálogo com o presidente. Esperamos que neste espaço possamos avançar em questões concretas sobre nossas reivindicações. E que não voltem a faltar com respeito ao movimento, com uma soma de dinheiro cheia de ambigüidades, que não nos garante nenhum dos princípios que já defendemos nas ruas há três meses.

Há quanto tempo a Universidade não é mais gratuita no Chile? Explique melhor a questão do endividamento dos alunos.

Desde a ditadura militar, que foi quando mudou o modelo educacional no Chile. O Estado deixou de ser responsável pela educação em todos os níveis e tem um papel meramente subsidiário, deixando o trabalho para o ensino privado, a quem também é concedido o direito de lucrar o dinheiro de todos os chilenos, sob o pretexto de garantir a “liberdade de ensino”. Como hoje a educação não é concebida como direito, mas sim como um bem de consumo, para obtê-la é preciso pagar. E como as universidades públicas não recebem aportes do Estado para a altura dos seus orçamentos, elas têm sido forçadas a se envolver em auto-financiamento, o que significa em palavras simples, que o seu faturamento vem principalmente das taxas pagas pelas famílias. Neste contexto, as quantias necessárias para que as universidades possam realizar seu trabalho é muito mais alta em comparação aos rendimentos recebidos por famílias chilenas. Por isso hoje, basicamente, quem quer estudar tem que se endividar, porque somente uma pequena porcentagem da sociedade tem condições de pagar altos preços pelos estudos.


Quais são as outras questões do debate? Dentro do movimento estudantil estas questões já ultrapassaram a questão educacional?

Um movimento social desta magnitude exige ao governo e ao parlamento governar de acordo com as demandas que estão se defendendo nas ruas. Pode-se notar que a democracia no Chile não dá a possibilidade de se fazer uma sociedade verdadeiramente participativa. Desta maneira, surgem automaticamente demandas por mais democracia e reformas constitucionais relevantes para atingir esse objetivo, por exemplo, que nos permitam deliberar como nação por meio de um plebiscito vinculativo. Lembramos que a Constituição chilena foi feita durante a ditadura e sem o apoio da nação. Uma situação terrível para um país que se diz passar vinte anos vivendo em uma democracia.

Ocorreu no começo de agosto, no Uruguai, o 16 º CLAE, com a participação de milhares de estudantes de todo o Continente. Qual a sua opinião sobre um intercâmbio político mais eficaz entre os estudantes da América Latina?

Entendo que é absolutamente necessário. Os estudantes são atores políticos presentes na América Latina. Por isso, é claro que a nossa política deve convergir no mesmo sentido de que os diferentes países deveriam se alinhar em torno de demandas que, evidentemente, nos convocam por igual, dada as semelhanças de uma região em subdesenvolvimento, produto do capitalismo e da opressão que os EUA geram sobre nós até hoje. Instâncias como OCLAE devem ser muito mais presentes, tanto para estudantes como para todos os tipos de organizações latino-americanas.

A UNE convidou você para a “Marcha dos Estudantes” brasileiros, que irá encerrar o “Agosto Verde e Amarelo”, série de manifestações que defendem que 10% do PIB e 50% do fundo social do Pré-sal do Brasil sejam destinados para a educação. Vocês estão defendendo no Chile algo parecido com isso em relação ao cobre, não é?

Na quarta-feira chego a Brasília. De fato, há semelhanças nas reivindicações. O Chile é um país muito rico em recursos naturais, o que não condiz com os baixos níveis de habitação, saúde e educação, entre outros. Isso se deve, principalmente, à privatização dos recursos naturais, e a enorme condescendência que se tem este setor. Trata-se de compensação tributária. Quando exigimos um aumento substancial dos recursos públicos na educação, nos perguntam frequentemente “e onde obteremos esses recursos?” – do cobre, respondemos. Da nacionalização de nossos recursos naturais.

Sabemos que estuda Geografia. Em que período da formação você está? Você consegue conciliar os estudos e a militância?

Já sou graduada em Geografia e sem dúvida ser presidente da FECH significou um custo acadêmico que, desde a minha nomeação para o cargo, estive disposta a assumir. O trabalho político exige bastante tempo e dedicação, mas não inviabiliza o trabalho acadêmico na medida em que você se organiza. No entanto, a militância é algo que vai muito além do meu tempo na universidade, é um compromisso para a vida, que sempre significará sacrifícios de toda espécie. Obviamente, nem todo mundo está disposto a assumir isso, mas de minha perspectiva comunista, creio que não só vale a pena, como é imprescindível na luta por um país mais justo.

Após os primeiros protestos, a mídia manifestou com mais freqüência ou com maior ênfase, a questão da sua beleza física, em detrimento de suas qualidades e habilidades intelectuais. Isso te incomoda?

Esses tipos de ataques vieram principalmente dos setores de direita, que têm o domínio da grande maioria dos meios de comunicação e, em minha opinião, representam uma estratégia bastante covarde, baixa e, sobretudo, fracassada, para desacreditar um movimento que hoje está mais forte do que nunca. Me parece que ainda há meios essencialmente machistas e misóginos que tentam fazer disto um tema. O movimento, a sociedade e o Chile têm sido capaz de avançar, valorizando muito mais clareza de conteúdo e a transversalidade do apoio, do que aquilo que eles chamam de “um rostinho bonito”. Como eu disse por meio de outros meios, parece-me um despropósito argumentar que, com os níveis de organização, solidez e transversalidade do debate sobre educação e democratização no Chile, a aparência física ainda seja assunto.

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virando a página

Amorim não é Johnbim
e apressa Comissão da Verdade

Johnbim (Defesa de quem?) e Amorim (Defesa do Brasil)

Saiu no Estadão online:


Congresso deve aprovar a Comissão da Verdade em setembro

Expectativa, segundo Celso Amorim, é que o texto enviado por Lula seja aprovado sem alterações


GUSTAVO URIBE – Agência Estado

O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse nesta terça-feira, 30, que acredita que o projeto de lei que cria a Comissão da Verdade será votado no Congresso em setembro. Ele ressaltou que chegou a hora de “virar a página” sobre o tema. A proposta foi enviada em 2010 e tramita desde então na Câmara. A expectativa do Ministério da Defesa é a de que seja aprovado sem alteração o texto enviado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu acho que será em setembro, é importante e nós temos de virar essa página”, afirmou, após participar do 6º Seminário Livro Branco de Defesa Nacional, promovido na capital paulista.


(…)

NAVALHA

Como se sabe, o ex-ministro da Defesa (de quem ?) Nelson Johnbim foi quem vazou para o PiG (*) a versão preliminar da Comissão da Verdade.

O objetivo ele alcançou: tumultuar, atrasar e desidratar a Comissão da Verdade.

O ministro da Defesa do Brasil Celso Amorim sempre se relacionou com o embaixador americano com altivez e em igualdade de condições.

Amorim não é Johnbim.


Paulo Henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

avise seus amigo(a)s: precisam usar o controle remoto

Acordo de metalúrgico da Renault faz urubóloga tomar cicuta

O Conversa Afiada publica sugestão do amigo navegante Afonso, especialista em venenos:

Grande Paulo
Não sei se V. já viu, mas agora a Urubóloga toma cicuta!
Dá uma olhada na visão de futuro da Renault….

Abraço
Afonso


Renault faz acordo recorde, dá aumento de 20% e abono de R$ 62 mil


Dimitri do Valle
Especial para o UOL Economia, em Curitiba

Os metalúrgicos da montadora Renault, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba (PR), aprovaram na tarde desta segunda-feira (29) o maior acordo salarial do setor privado no país.

O aumento real acumulado no salário dos trabalhadores será de 20,19%, além de pagamento de R$ 61,5 mil referentes a abono e PLR (participação em lucros e resultados). Os pagamentos serão parcelados em três anos.

O índice de 20,19% será pago escalonadamente entre 2011 e 2013. Neste ano, serão pagos 2,5% de aumento real mais 100% do INPC acumulado nos últimos 12 meses, aplicados em setembro. O restante será pago em 2012 e 2013. Os R$ 61,5 mil de PLR e abono também serão divididos em três anos (de 2011 a 2013).

De acordo com o Dieese, esse é o maior acordo já feito entre patrões e empregados do setor privado no país. “De fato é o maior acordo de PLR do setor privado no país, superando o da própria montadora Volvo, celebrado em Curitiba neste ano, e que previu PLR de R$ 15 mil para cada trabalhador”, afirmou o economista Cid Cordeiro, do Dieese no Paraná.

Cordeiro lembra que acordos com metalúrgicos da Volvo e Renault estão sendo possíveis diante do “aquecido mercado interno” registrado pelo setor automotivo.

“Um mercado automotivo mantém a produtividade das fábricas em alta. Isso gera um lucro enorme para as montadoras, o que faz com que os sindicatos de trabalhadores se dirijam à mesa de negociações para buscar sua parte nos lucros”, disse Cordeiro.

Haverá uma injeção de R$ 343 milhões na economia paranaense nos próximos dois anos, segundo cálculo do Dieese.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Sergio Butka, disse que a modalidade de acordo na Renault será seguida em outras negociações, sempre prevendo os prazos mais longos.

A Renault emprega 5.700 funcionários e produz na unidade paranaense os modelos Sandero, Sandero Stepway, Logan e Grand Tour. O mercado interno representa 60% do faturamento, e o restante é destinado às exportações.



 
Em tempo: este ansioso blogueiro protesta veementemente contra a redução do espaço da Urubóloga no Bom (?) Dia Brasil. Premida (êpa !) pelo tempo, ela precisa falar muito rápido. Se já não se entendia nada do que ela dizia, imagine agora, às pressas, com duas palavras inseridas em três palavras, na mesma frase. Foi o que aconteceu nesta terça-feira, quando ela analisou o programa “aperta e corta os juros da Presidenta”.

Embora – seja preciso reconhecer – mesmo que ela tivesse todo o tempo do mundo, seria impossível entender o conteúdo. De lugar comum a lugar comum, não vai a lugar nenhum. O pessoal da Record estava felicíssimo quado ela e o Renato Machado entretinham aquele colóquio de 67 minutos por programa.

Em tempo2: Saiu na primeira página do Brasil Econômico: “Homem mais rico do mundo investe R$ 10 bi no Brasil”.

“O mexicano Carlos Slim , controlador da Claro, Embratel e Net, vai ampliar redes e buscar novos mercados”.

Breve, o Slim vai tirar o Bom (?) Dia Brasil da Net …


Paulo Henrique Amorim

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

os caloteiros no Brasil são os senhores que recomendam cortes nos programas sociais...

E quem é o caloteiro, vejam só

Por Fernando Brito no Tijolaço



Todo mês, os jornais publicam que os bancos registram que a taxa de inadimplência aumentou e a todo momento repete que os juros praticados são altos, entre outras razões, porque o “spread” – ferença entre o que pagam pelo dinheiro e o que cobram para emprestar – é alto porque tem de cobrir os prejuízos que sofrem com o calote de maus pagadores.

E só hoje – antes tarde do que nunca – a Folha registra que, caloteiro mesmo, e de bilhões, é o sistema bancário, que “infla” as perdas com inadimplência para reduzir a incidência de importo sobre suas operações. Sonegação, mesmo, é a palavra

Só que sonegação de rico tem outro nome: planejamento tributário. E uma outra palavra incomum: elisão fiscal. As operações ganham contabilmente, nomes e formas para isentarem-se de imposto.

Segundo a Folha, só em 2011, as autuações chegam a R$ 5,9 bilhões, englobando sonegação de impostos em fusões, em aquisições e em empréstimos entre bancos. Em 2010, foram R$ 6,9 bilhões, valor maior do que o dos três anos anteriores somados.

E são estes senhores que nos falam em carga tributária elevada, recomendam cortes nos programas sociais, etc, etc, etc…

1961 - Legalidade

Em 1961 o Rio Grande disse Não

poa resiste

População apoiando o Movimento de Resistência na Praça da Matriz em Porto Alegre - agosto de 1961 - Acervo do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

Hinos que eram executados na “Rede da Legalidade” que funcionava no porão do Palácio Piratini:

Comitê de Resistência publicou jornal mimeografado

Publicação feita na sede do Mata-Borrão chamava a população a participar do movimento
Fonte: Sul 21 – Lorena Paim

Durante o movimento da Legalidade, a mobilização popular foi essencial para sustentar a pregação do governador Leonel Brizola pela solução constitucional, diante da crise política que se instalara no país.
Espontaneamente ou com o apoio de partidos políticos, surgiram locais para centralizar as atividades. O mais importante, em número de voluntários que se alistaram, foi o 1º Comitê de Resistência Democrática, fundado em 27 de agosto de 1961, “às 11,15 horas”, como consta no Resistência, no Mata-Borrão, pavilhão de exposições localizado na Avenida Borges de Medeiros, esquina Andrade Neves, no Centro de Porto Alegre.
Foi nesse Comitê que surgiu o jornalzinho Resistência, inicialmente com duas páginas, em folhas do tipo ofício, mimeografadas. O advogado Victor Nuñez, que era diretor de Propaganda do Comitê, conseguiu localizar o primeiro exemplar da publicação, nos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.

O número 1 tem como data 29 de agosto e traz o apelo: “Aliste-se, Coopere, Contribua, Ajude!”. Nuñez não se recorda como era feita essa publicação, ou quem eram os redatores. Mas sabe que o efeito multiplicador foi enorme, com a tiragem de milhares de exemplares. Como os trabalhadores gráficos integravam a resistência popular, acredita que possam ter providenciado mais exemplares para a distribuição à população. Como o Mata-Borrão recebia doações de todos os tipos – móveis, máquinas de escrever e até mimeógrafos –, ele conclui que a confecção do boletim não foi difícil.



Leia o restante do texto aqui: http://sul21.com.br/jornal/2011/08/comite-de-resistencia-publicou-jornal-mimeografado/

Reprodução da edição número 1 do Resistência
Do Blog Cão Uivador:

 

Campanha da Legalidade – 50 anos

Entre o final de agosto e o começo de setembro de 1961, o Brasil esteve na iminência de uma guerra civil. O presidente Jânio Quadros, no poder há menos de sete meses, renunciou ao cargo no dia 25 de agosto denunciando a pressão de “forças terríveis”. Conforme previa a Constituição de 1946, o vice-presidente João Goulart deveria assumir a presidência. Só que este encontrava-se em viagem oficial à República Popular da China, e os ministros militares iniciaram um movimento golpista que tinha por objetivo impedir o retorno de Jango ao Brasil e, consequentemente, sua posse como Presidente da República.

Texto completo do post “Campanha da Legalidade” do Blog Cão Uivador, aqui:
http://caouivador.wordpress.com/2011/08/28/campanha-da-legalidade-50-anos/

Ainda há tempo para Porto Alegre


“Fifa é uma máquina de corrupção”


Palestra na Câmara Municipal sobre a Copa do Mundo e o desrespeito aos direitos de cidadania com a Relatora da ONU Raquel Rolnik - Foto: Felipe Dalla Valle/CMPA

 

Para relatora da ONU, legado da Copa ainda é secundário em Porto Alegre

Vivian Virissimo (Sul21)

Em visita a Porto Alegre nesta quinta-feira (18) para conhecer a situação das comunidades que serão afetadas pelas obras da Copa do Mundo de 2014, a relatora especial das Nações Unidas para o direito à moradia, Raquel Rolnik, concluiu que um legado socioambiental está longe de ser consolidado em Porto Alegre, já que na maioria dos casos há apenas projetos anunciados pela prefeitura e pelo governo estadual. “A construção de um legado não se apresenta como a questão mais importante, ainda se mostra uma questão secundária”, disse a urbanista, ressalvando que Porto Alegre ainda tem a chance de criar modelos de modernização da cidade que sirvam de exemplo para o Brasil.

Raquel teve audiências com o prefeito José Fortunati e com o governador Tarso Genro, e conheceu a realidade das famílias da Vila Dique, removidas pela expansão do Aeroporto Salgado Filho, e da Ocupação 20 de novembro, que dará lugar ao complexo do Beira-Rio. Ao final do dia de trabalho, a urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP conversou com os jornalistas em uma ocupação urbana transformada em moradia para dezenas de famílias, no centro da cidade.

Na avaliação de Raquel, a disponibilidade de recursos para a Copa do Mundo poderia resultar no cumprimento de propostas históricas como a regularização e urbanização das comunidades, mas há uma inversão de prioridades. “As intervenções da Copa do Mundo estão diretamente ligadas à execução do evento em si: chegar do aeroporto ao estádio, chegar do aeroporto aos hotéis e dos hotéis ao estádio. Essa é a agenda e não de construção de um legado socioambiental”, criticou.

Raquel afirmou que a ampliação do Aeroporto Salgado Filho, por exemplo, resultou na remoção das famílias da Vila Dique de forma irregular, sem a finalização das novas moradias e sem a conclusão de escolas e postos de saúde. “Eu não vejo nenhum sentido da questão da moradia não ter a mesma importância da construção de um aeroporto. Direito à moradia se trata de um direito humano. Andar de avião não é um direito humano”, defendeu a urbanista.


Audiência na Prefeitura com Relatora Especial da ONU para o Direito à moradia adequada, Raquel Rolnik. Foto: Ricardo Giusti/PMPA

 

Porto Alegre ainda tem uma chance

Mesmo considerando que o legado para as cidades ainda é uma questão em segundo plano, a relatora disse que a situação ainda pode ser revertida. “Ainda temos três anos, há tempo para uma agenda e uma pauta de construção de um legado socioambiental, mas a cidade e os cidadãos têm que despertar, mesmo porque não existe nenhum impedimento para que isso possa acontecer”, apontou.

Raquel Rolnik citou os exemplos do Morro Santa Tereza e da avenida Tronco, que dará acesso ao estádio Beira-Rio, como casos que podem resultar em projetos importantes para a cidade. A prefeitura projeta o reassentamento das famílias que moram na avenida Tronco nas imediações da comunidade, utilizando terrenos ociosos do local sem realocar as famílias em pontos isolados da cidade. O caso do Morro Santa Tereza, que é de propriedade do Estado, também poderá resultar num caso de regularização fundiária sem excluir os moradores pobres para outros locais da cidade. “Esses dois projetos jogam um paradigma para o Brasil e para o mundo de que as coisas não são excludentes. É possível fazer este evento de uma outra forma”, defendeu a urbanista, ressalvando que, por enquanto, há apenas anúncios por parte do poder público.

“Se estas duas medidas forem efetivadas, será a oportunidade de Porto Alegre dizer para o Brasil e para o Mundo que aqui o modelo não é esse, que aqui o modelo é de construir um legado, melhor e includente, de uma cidade heterogênea, múltipla, que pode conviver distintos grupos sociais, inclusive na suas áreas mais valorizadas”, defendeu.

Raquel enfatizou que as construções na Copa são dominadas pelo capital corporativo e pelo segmento imobiliário, que transformam os aspectos centrais das cidades-sede, mas criam espaços excludentes. Segundo ela, é preciso construir uma plataforma que não é somente de moradia, mas de um legado socioambiental e de direitos humanos. “São várias agendas, vários atores que também podem se somar no sentido de garantir transparência e controle dos gastos públicos, direito à informação pública, controle social e a proteção dos direitos trabalhistas das obras, entre outras”.

Ela comparou Porto Alegre com outras cidades da Copa que já visitou enquanto relatora da ONU, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Fortaleza e considerou que a situação na capital gaúcha é diferente. “Aqui em Porto Alegre não vi famílias receberam cheque de 3 mil para sair dos locais, nem a pintura de casas de moradores sem nenhum tipo de comunicação prévia ou o caso de uma moradia que foi derrubada com a pessoa dentro pela máquina de uma empreiteira registrado no Rio de Janeiro”, exemplificou.

Segundo Raquel, o que se assemelha em todas as cidades-sede é o caráter de desinformação das comunidades atingidas. “Alguns temas se repetem em todos os lugares, como por exemplo, a questão muito importante que é a informação. Mesmo tendo um diálogo da prefeitura com as lideranças, nem sempre a informação chega nas comunidades. Todos precisam ser informados.”

Raquel ressaltou a importância de que seja estabelecido um pacto federativo de comportamento em relação à Copa, envolvendo municípios, Estados e governo federal. Segundo ela, a iniciativa poderia partir do Rio Grande do Sul. “Porto Alegre é um lugar com tradição no processo de construção democrático participativo, por isso é uma cidade para sair na frente para trazer um protocolo mesmo não envolvendo o governo federal, contemplando as comunidades diretamente atingidas e as organizações de direitos humanos”, disse.

Em dezembro, a relatora encaminhou uma Carta de Alegação ao governo brasileiro com as denúncias de irregularidades apontadas em dossiês elaborados pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública. Segundo Raquel, até hoje o governo brasileiro não respondeu de forma satisfatória. Agora, a relatora deverá elaborar um segundo comunicado até o final de setembro, que será encaminhado novamente para o governo federal.


Prefeito José Fortunati na Audiência com Relatora Especial da ONU para o Direito à moradia adequada, Raquel Rolnik. Foto: Ricardo Giusti/PMPA

 

“Fifa é uma máquina de corrupção”

A representante das Nações Unidas afirmou ainda que existe um protocolo firmado entre governo federal e a FIFA, mas a relatoria não tem acesso ao documento. “A FIFA é uma caixa preta, um máquina de corrupção e de favorecimentos individuais e corporativos, isso não é a relatoria que está afirmando, está na imprensa internacional há vários meses”.

“Começa a se constituir um Estado de exceção, a ideia de que em nome da Copa é possível passar em cima de direitos, de leis, e constitui uma espécie de Estado paralelo, um Estado de emergência que apenas diante de catástrofes e conflitos os países acabam decretando para que as coisas possam acontecer. É o que aconteceu na Africa do Sul, é o que começa a acontecer no Brasil através de decretos e medidas provisórias”, alertou.

“Mas o mais perigoso são os acordos paralelos que a Fifa faz com cada uma das cidades-sede, com suas prefeituras. Esse é ainda mais secreto, com uma série de ingerências que foram percebidas em cidades da África do Sul. Coisas que não estavam no protocolo geral e que a FIFA foi negociando com as cidades, numa espécie de terrorismo promovido pela entidade. A FIFA é um grande perigo e a relatoria espera que esses acordos paralelos não aconteçam com as cidades brasileiras”.

Fonte: Sul21http://sul21.com.br/jornal/2011/08/para-relatora-da-onu-legado-da-copa-ainda-e-secundario-em-porto-alegre/


Governador Tarso Genro em audiência com Raquel Rolnik, Relatora Especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada - Foto: Caroline Bicocchi/Palácio Piratini

Raquel Rolnik, relatora especial das Nações Unidas para o direito à moradia, visitou governo do Rio Grande do Sul. Áudio da Rádio Piratini (do governo estadual):



Palestra sobre a Copa do Mundo e o desrespeito aos direitos de cidadania com a Relatora da ONU Raquel Rolnik - Foto: Felipe Dalla Valle/CMPA

 

Relatora da ONU defende cidadania frente aos interesses da Copa

Na noite desta quarta-feira (18/8), vereadores e sociedade civil acompanharam palestra da relatora especial para o Direito à Moradia da Organização das Nações Unidas (ONU), Raquel Rolnik, na Câmara Municipal de Porto Alegre. A atividade, de iniciativa das comissões de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) e de Transporte, Urbanização e Habitação (Cuthab) foi realizada com o objetivo de discutir as condições dos direitos de cidadania frente à realização da Copa do Mundo. O debate foi coordenado pelos vereadores Maria Celeste (PT) e Pedro Ruas (Psol).

Raquel – que também é arquiteta e urbanista da Universidade de São Paulo (USP) – está em Porto Alegre para produzir um relatório sobre as condições de estrutura, sobre as configurações do espaço urbano e sobre as políticas de moradia da cidade antes da realização do evento em 2014. Segundo a relatora, a moradia é um direito da humanidade e deve ser preservado por todos os governos, independente de eventos esportivos.

Para Raquel, somente através de um modelo de gestão democrática com o objetivo de incorporar a totalidade dos habitantes e moradores em uma condição de cidadania é que as cidades poderão avançar. De acordo com ela, na história dos megaeventos esportivos, o legado urbanístico e socioeconômico configura a exceção, não a regra. “As populações desassistidas se transformam em vítimas de um processo atropelado de remoção e as contas das cidades mergulham no vermelho”, afirmou ao questionar os ganhos que uma Copa do Mundo pode trazer.

Porto Alegre vive uma "embriaguez" da Copa do Mundo

 

Cidade como marca

Para Raquel, o maior interesse da Fifa (organizadora do evento) é estabelecer uma mega estratégia corporativa que concilie o interesse de patrocinadores com abertura das cidades e criação de espaços para atrair investimentos imobiliários internacionais. “A cidade está sendo vendida como uma mercadoria, atraindo e constituindo investimentos corporativos. Muitas garantias e direitos dos cidadãos são suspensos para que a efetivação desses interesses seja alcançada”, argumentou.

A urbanista relatou aos presentes que ouviu de muitas comunidades de Porto Alegre que os processos de reassentamento foram desrespeitosos e sofreram mudanças de rumo. “Porto Alegre precisa trabalhar a questão da moradia de outra forma e não para se enquadrar às regras da Copa. Não se pode reconfigurar a cidade para atender a especulação imobiliária somente”, defendeu.

Existem ganhos pós-copa do mundo, mas o processo público de debate e de intervenção territorial sobre a cidade deve existir independente do evento esportivo. “A copa é apenas uma oportunidade a mais dentro de um caminho para implantar um plano de moradia digna e de urbanização”, ressaltou. Acompanharam a palestra e participaram dos debates, os comitês populares da Copa do Mundo juntamente com os vereadores Carlos Todeschini (PT), Elias Vidal (PPS), Engenheiro Comassetto (PT), Luciano Marcantônio (PDT), Mario Fraga (PDT), Nelcir Tessaro (PTB), Nilo Santos (PTB) e Sofia Cavedon (PT), presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Ester Scotti (reg. prof. 13387)
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A Copa do Mundo já tem seus derrotados

"Ela ainda não é uma estadista, mas se vislumbram qualidades..."

As cartas estão com Dilma Rousseff 

Diário Gauche

 



Até agora me preocupei com os poucos dons de comunicação que Dilma Rousseff demonstrava, comparada com FHC, que entusiasmava a elite, ou Lula, que galvanizava o povo. Mas começo a mudar de ideia. Já achava bom, sim, termos uma dirigente "normal", sem o carisma de seu antecessor. Mas afirmei que ela precisava de um estilo, até para conter o apetite dos políticos, hoje desmedido. Para não dizer que penso só na ameaça Temer, o poderoso vice, lembro a bancada do PT na Câmara querendo indicar o novo ministro de Relações Institucionais. Se o atrevido movimento tivesse êxito, o presidencialismo acabaria naquele dia - e, com ele, a presidente e, claro, seu insano partido.

Mas hoje, apesar das denúncias que chovem, vejo um roteiro melhor para o governo e o país.
Dilma prossegue um projeto que não podia ser interrompido, simplesmente porque enfim deu prioridade às questões sociais na agenda brasileira - algo que Itamar Franco e FHC esboçaram, mas sem ir tão longe quanto Lula. O projeto que os tucanos tinham se completou em dois mandatos federais. Precisa e merece ser revisto. Já o projeto petista é pauta longa e demorada. Centra a mudança do país na priorização do social. Isso ainda exige muito. Cresceram renda e consumo. É preciso complementar com educação e cultura. A aprovação eleitoral desse projeto - cujos fins podem parecer com os dos tucanos, mas cujos meios o cidadão preferiu - dá continuidade, com mudanças, ao que Lula encetou.

Com mudanças. A mais visível é a das alianças para garantir a governabilidade. Quase todos os analistas as deploram; os equilibrados reconhecem que alianças análogas sustentaram FHC. Ora, como tais alianças parecem corromper os costumes políticos, Dilma estaria ante uma necessidade ou possibilidade inédita: reduzir o peso delas. Dilma não deixa apodrecer. Demite. Depois, é certo, nomeia sem audácia. Lula colocou seu próprio vice no ministério da Defesa. Surpreendeu. Dilma não surpreende. Mas age. Se renovar o gabinete, baixando o desperdício de talento e dinheiro, terá dado um grande passo. Inédito.

Outra mudança chama menos a atenção, até porque não entra no truque freudiano de só culpar, por tudo, "o outro". Mas é mais importante. Falo da melhor articulação das ações públicas, que teve exemplo notável, agora, em São Paulo. Dilma elegeu a sede do principal governo de oposição para integrar programas sociais federais e estaduais. Já é difícil articular as ações de uma única esfera de governo. Unir petistas e tucanos, tendo por meta o Brasil sem Miséria, foi notável. Ela ainda não é uma estadista, mas se vislumbram qualidades suas que vão além da gestão e talvez mostrem uma liderança.

Lula foi um presidente audaz. Adorava políticas novas. Deu certo. Apostou no pré-sal, na expansão do ensino federal, nos programas sociais. Mas, assim como o coração abre e fecha constantemente, alternando diástole e sístole, também na política precisam alternar inovação e consolidação. Vejam: a expansão das universidades abriu vagas para estudantes, aproveitou professores doutores sem emprego, ampliou a educação superior no país com docentes que pesquisam. Muito bem. Mas resta fazer cada departamento ou grupo funcionar. Esse é um trabalho inglório. Não se presta a inaugurações. Prefeitos não o aplaudem. Ao contrário: porque nessa hora você não expande nem dá. Corta e cobra. É coisa de chato. Mas são essas super-formiguinhas que fazem a máquina funcionar. Essa é a grande oportunidade de Dilma - como, ironicamente, talvez pudesse ter sido de Serra.

Trabalhei, entre 2004 e 2008, na avaliação da Capes, órgão que afere a qualidade de todos os mestrados e doutorados do Brasil. É a avaliação que faz a pós-graduação ser nosso único nível de ensino de padrão internacional. Mas, fora do mundo da pesquisa, ninguém a conhece. Aos políticos, inclusive no governo, interessa mais um projeto novo, qualquer um, do que a árdua tarefa de centenas de bons pesquisadores, viajando de graça para ajudar a montar um curso de mestrado ou doutorado. Mas é esse trabalho minucioso que maximiza o investimento. Articulando professores e temas, alunos e teses, avança-se mais do que só pondo dinheiro. Aliás, na avaliação da pós, era difícil e inútil saber quem votava no PT ou nos tucanos: todos se uniam pela qualidade. Isso não dá prestígio junto ao político tradicional, mas vai direto na veia da sociedade. O beneficiado é o doutorando, o ensino, a pesquisa, a inovação. A política sai de uma visão subordinada a shareholders, os políticos, que pensam ser seus donos ou proprietários, para outra em que contam os stakeholders, as partes interessadas, isto é, tanto os que põem a mão na massa quanto os que a vão consumir.

Será esse o papel de Dilma na Presidência? Exige muito trabalho, fé enorme e pouca vaidade. Ela parece ter essas qualidades. Elogia Lula (a "herança bendita") e também FHC. Não disputa com eles. Revejo aqui minha tese de que o presidente do Brasil teria de ser um grande comunicador político. Precisamos é do presidente adequado ao momento. Creio que, depois de muitos anos no fragor das batalhas - padecer e derrubar a ditadura, levar um presidente ao impeachment, vencer a inflação, privatizar, consagrar a agenda social - o Brasil talvez possa ter um clima mais tranquilo. Não será fácil. Porém, se a presidente continuar por aí e mantiver o sangue frio, acredito que, o mais tardar no final de 2013, terá ganho a aposta. O que obviamente, em nossa recente tradição, a credenciará para a reeleição e, quem sabe, um segundo mandato com menos hipotecas partidárias. Mas essa é outra história.

Artigo de Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, publicado no jornal Valor Econômico, edição de hoje.

Memórias: na prática, o Estado gaúcho pagou a conta da TV GaÚCHA... (sic)

Histórias da Legalidade: a participação da Guaíba e da Gaúcha, segundo Breno Caldas





A propósito das comemorações dos 50 anos da Legalidade e da relação do episódio com a imprensa gaúcha, Santiago envia um curioso relato de Breno Caldas, falecido proprietário do Correio do Povo e da Rádio Guaíba, na entrevista que concedeu a José Antônio Pinheiro Machado (também conhecido hoje como Anonymus Gourmet), publicada no livro “Breno Caldas – Meio Século de Correio do Povo” (L&PM, 1987). Nessa entrevista, Breno Caldas fala da famosa encampação da Guaíba por Leonel Brizola em 1961 para a transmissão da Campanha da Legalidade e de como teria ocorrido a compra da TV Gaúcha. O depoimento de Breno Caldas:

“No início era só a Guaíba. Só a Guaíba foi requisitada, ou então “encampada”, como disse o Brizola. As outras estações ficaram no ora veja. Aquele fato político da Legalidade teve uma repercussão enorme, as pessoas acompanhavam cada passo, cada lance, a audiência era expressiva. Aí a Rádio Gaúcha resolveu aderir ao negócio, pediu para entrar …e entrou.

Depois de tudo, aconteceu um fato curioso. Um dia apareceu lá na Guaíba um diretor do Banco do Rio Grande e queria me dar dinheiro: disse que estava lá por ordem do governador para fornecer recursos, os recursos que eu precisasse, a título de indenização pela ocupação da rádio. Eu disse que não precisava, que não queria ….ele ficou surpreso: “Mas o que é que eu vou dizer ao governador?” “Diga que eu não quero dinheiro. No fim da ocupação, eu vou mandar uma conta, uma conta detalhada, correspondente exatamente às horas que ele ocupou a rádio.” E, realmente, quando terminou o negócio, nós fizemos lá as contas de quantas horas a rádio ficou no ar a serviço da Legalidade e deu uma coisa ridícula…25 contos de réis … Mandei a conta e eles pagaram.

O nosso Maurício Sobrinho também resolveu mandar a conta da Gaúcha, embora a Gaúcha não tivesse sido requisitada ou encampada, mas sim tivesse aderido à Legalidade. Naquela época, o Maurício tinha comprado a TV Gaúcha do Balvé.. e lhe estava devendo 250 contos pelo período da Legalidade.. Então, na prática, o governo do Estado pagou a aquisição da TV Gaúcha…”

Foto: Memória Correio do Povo

Minha Presidenta: aprimorando a gestão pública


O sentido político da “faxina” de Dilma



Escrevinhador



O sentido político da “faxina” de Dilma


Por Felipe Amin Filomeno, no Outras Palavras

O que a “faxina” que a presidente Dilma Rousseff está realizando nos ministérios tem a dizer sobre a conjuntura social do Brasil contemporâneo? Num sentido amplo, é um fenômeno político implicado na trajetória de crescimento econômico com equidade social promovida desde 2003 pelas administrações do PT. Ao longo desta trajetória, as forças sociais conservadoras foram esvaziadas de um discurso crítico sobre política econômica e social, tendo que concentrar seus esforços em ataques à corrupção. Por outro lado, à medida em que a democracia se fortalece e problemas sócio-econômicos são minimizados, segmentos politicamente conscientes da sociedade tendem a apresentar novas demandas ao Estado, tal como o combate à corrupção.

A novidade de Dilma pode ser a passagem de uma estratégia defensiva para outra de ataque, capaz de enfraquecer ainda mais as forças conservadoras. A “social democracia globalizada” de Lula trouxe aumento da massa salarial e do nível de emprego, redução das desigualdades e incorporação de milhares de brasileiros à classe média. Como estratégia politicamente moderada de desenvolvimento, envolveu a criação de uma ampla coalizão de centro-esquerda, tendo PT e PMDB como componentes principais. Para os intelectuais de esquerda e movimentos sociais mais radicais, a agenda meramente reformista de Lula foi uma decepção. O que estes talvez não tenham percebido é que foi justamente a “moderação” de Lula uma das principais causas de uma grande vitória da esquerda brasileira: a anulação do Democratas, principal representação partidária do neoliberalismo no país. O reformismo de centro-esquerda de Lula atraiu a classe média, trouxe benefícios aos pobres e, num momento de prosperidade, deixou a oposição sem um discurso que veiculasse um projeto alternativo ao país.

Na falta de uma estratégia focada em políticas econômicas e sociais, à oposição restou o ataque à corrupção. Isto não foi fácil. Em primeiro lugar, era preciso convencer a sociedade de que a corrupção era um traço distinto da administração do PT, ao invés de uma prática arraigada no Estado brasileiro que, por séculos, foi comandado por aquelas mesmas forças conservadoras em benefício das elites do país. Em segundo lugar, era preciso que tais ataques enfraquecessem não apenas o governo ou o partido, mas Lula, pessoalmente. Não funcionou. Apesar do mensalão, Lula derrotou Geraldo Alckmin.

Entretanto, não era nem o Democratas, nem o PSDB, o grande articulador da estratégia conservadora focada no ataque à corrupção. Foi a grande mídia tradicional, através de reportagens baseadas em versões e boatos, e de uma cobertura tendenciosa e desproporcional dos fatos. Seja em sua forma partidária ou em sua versão midiática, o ataque conservador à corrupção contribuiu mais para gerar crises de governabilidade do que para combater este terrível problema. Afinal, o ataque era muito mais fruto do oportunismo das forças sociais conservadoras do que de um compromisso com a ética no serviço público. Fosse isto teriam expurgado a corrupção do aparato estatal durante os 500 anos em que governaram o país, certo?

Bom, mas há um lado positivo nisso tudo. À medida em que o brasileiro se acostuma com a democracia, consegue emprego formal, obtém aumento salarial, e alcança um padrão de consumo de classe média, outros problemas – como a corrupção – passam a ganhar mais destaque em sua “agenda de preocupações”. Isso provavelmente aconteceria mesmo sem a pressão da mídia e me remete a algo que o Fernando Henrique chamou uma vez de “pedagogia da democracia”. É a este aspecto do problema que a administração de Dilma deve se voltar. Mais especificamente, é salutar que deixe a estratégia defensiva adotada no governo Lula (de tentar “blindar” o governo sem promover uma “faxina”) para uma estratégia ofensiva (promovendo de fato a “faxina”).

As dificuldades da nova estratégia estão na manutenção do apoio ao governo no Congresso, pois lideranças políticas envolvidas em casos de corrupção acabam afastadas da administração federal, e na perda do foco em outras prioridades do Estado (como o enfrentamento da crise mundial através de ajuste fiscal e política industrial). Por outro lado, seus benefícios estão em satisfazer demandas genuínas do eleitorado contra a imoralidade no serviço público, em aprimorar a gestão pública, e em esvaziar o conservadorismo do único discurso que lhe restou (o do combate a corrupção).

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o vale tudo?


Polícia Federal já está no caso Veja/Hotel Naoum

Viomundo

por Conceição Lemes

O principal cenário da “denúncia” da Veja desse final desse final de semana é o Hotel Naoum, em Brasília. Nele, segundo a revista, José Dirceu tem um “gabinete” instalado, onde “o ex-ministro recebe autoridades da República para, entre outras atividades, conspirar contra o governo Dilma.”

A matéria traz uma sequência de dez fotos tiradas do andar em que fica o apartamento de José Dirceu. Numa delas, aparece o próprio. Nas demais, ministros, deputados, senadores que lá estiveram. Por isso, entrevistei há pouco Rogério Tonatto, gerente geral do hotel.

Viomundo — No seu ramo de negócio, privacidade é vital. A do Naoum, porém, foi quebrada com a reportagem da Veja. O senhor não teme que, por isso, clientes deixem de se hospedar no seu hotel?



Rogério Tonatto — Eu não acredito, não, porque todo mundo conhece a nossa respeitabilidade. O hotel tem 22 anos, é considerado o melhor da cidade. É o hotel que mais recebeu comitivas oficiais em todo o país, da Princesa Diana a Fidel Castro. São mais de 150 comitivas oficiais.

O que foi feito aqui é uma coisa criminosa, que a gente repudia. Nós estamos realmente chocados, pois temos uma história muito forte com a cidade. Não vamos deixar que episódio isolado como esse abale o nome do hotel.



Viomundo – Acha mesmo que não vai ter repercussão na sua clientela? As fotos exibidas na Veja demonstram que a privacidade do seu cliente está em risco.

Rogério Tonatto – A privacidade de clientes está sob risco em qualquer lugar do mundo. O que fizeram no hotel é um crime. Aliás, muitos clientes têm-nos ligado para prestar solidariedade, dizendo que o hotel não merece isso.

Viomundo – O senhor sabe como foram feitas as imagens?

Rogério Tonatto — A gente não sabe ainda com certeza, pois a questão está sob investigação. A nossa suspeita é de que essa câmera foi plantada. Achamos que não saíram do circuito interno do hotel.

Viomundo — Não saíram mesmo do circuito interno?



Rogério Tonatto — Nós estamos investigando. Mas tudo indica que não. Até porque a maioria dos nossos funcionários tem muito tempo de casa, são pessoas comprometidas com o hotel. Eu sinceramente não acredito que possa ter saído de forma inconseqüente do hotel. Nisso, a gente está bem tranqüilo.

Já falamos com todos os funcionários, a começar pelo pessoal de segurança. Está todo mundo muito chateado, muito perplexo. São pessoas que têm um carinho muito grande pelo empreendimento. Você não tem noção do que a gente realmente está passando…

Viomundo – É possível dizer com 100% de certeza que as fotos não foram tiradas do seu sistema de segurança?

Rogério Tonatto – Neste instante, não tenho condições de precisar 100%. A principal hipótese é a de que uma câmera tenha sido plantada no hotel. A gente trabalha mais com essa hipótese.

Viomundo – A sua equipe tem condições de avaliar se as imagens saíram ou não do circuito interno, não tem?

Rogério Tonatto – Tem, sim, e já detectaram algumas diferenças em relação às fotos publicadas. Por exemplo, são horas diferenciadas em relação às presenças das pessoas citadas. Mas isso a Polícia Civil de Brasília e a Polícia Federal estão apurando. Agora, é precipitado eu falar mais coisas. Não quero atrapalhar a investigação. O que eu posso dizer é que vamos apurar todo esse delito até o final.

Viomundo — Tem ideia de quem teria filmado o andar do apartamento do ex-ministro José Dirceu?

Rogério Tonatto — Não temos a menor ideia. Sabemos que um repórter esteve lá, que tentou invadir um dos apartamentos. Prontamente nosso staff não deixou. É um staff bem preparado, conseguiu detectar a tentativa de invasão. Demos queixa na polícia. Enfim, tomamos todas as medidas que medidas que tem de ser adotadas nessas circunstâncias.

Esse é um caso que tem de ser apurado pela polícia especializada, porque a gente não compartilha com esse tipo de conduta, independentemente de quem seja o cliente.

Viomundo – O senhor disse que a Polícia Federal está apurando o caso…



Rogério Tonatto — A Polícia Federal foi acionada, está tomando providências, já está no caso, assim como a Polícia Civil. Elas já estão no encalço de quem cometeu esse crime. Nós estamos trabalhando em todas as frentes para que ele seja solucionado o mais rapidamente possível.

Viomundo — Que medidas o hotel vai tomar em relação à Veja?

Rogério Tonatto – Amanhã às 9 horas da manhã já temos uma reunião agendada com os nossos advogados. Neste momento, não tenho condições de dizer se a gente a vai processar a Veja. Não sou competente na área, preciso de orientação jurídica sobre as medidas a serem tomadas.

Viomundo – Quem vai pagar os prejuízos do hotel, já que a imagem dele foi manchada?

Rogério Tonatto — Nós estamos realmente indignados e preocupados com tudo isso. Mas uma coisa garanto: alguém vai pagar. Não sei lhe precisar quem neste momento, mas alguém vai pagar. Vamos tomar todas as medidas para que esse episódio não fique impune. Nós estamos muito seguros da nossa importância. E o hotel não merece um espetáculo criminoso como este.

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No Fora Teixeira,,, deu empate no GreNal, essas torcidas


Fora Teixeira une todas as torcidas. Mr. Teixeira, did you… ?

Só assim Grêmio e Inter teriam uma só torcida (foto de Jefferson Bernardes/Gazeta Press)

Saiu no R7:

Nos estádios, torcidas pedem saída de Ricardo Teixeira

Movimento contra presidente da CBF toma conta da rodada do Brasileiro

As torcidas prometeram e cumpriram. Neste domingo (28), houve protesto nos estádios do Brasil contra o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Os torcedores dos principais times do Campeonato Brasileiro distribuíram panfletos e levaram faixas e cartazes pedindo a saída do cartola do comando da entidade máxima do futebol nacional.

Todos os clássicos realizados às 16h contaram com manifestações pacíficas contra o dirigente. As torcidas abusara da criatividade. No Gre-Nal, os colorados levaram letras que formaram o pedido de saída de Ricardo Teixeira.

No Engenhão, no duelo entre Flamengo e Vasco, muitos cartazes dos dois lados das arquibancadas apareceram, enquanto em Presidente Prudente, no confronto entre Palmeiras e Corinthians, a torcida alviverde fez lindo mosaico pedindo para que Ricardo Teixeira deixe a presidência da CBF.

(…)

NAVALHA




Como se sabe, repousa na mesa do brindeiro Procurador Geral um pedido do PRB para apurar os crimes atribuídos a Ricardo Teixeira em reportagem de Andrew Jennings, na BBC, e sob julgamento na Suíça.

Jennings denunciou Teixeira e o sogro João Havelange de receber propina e ter de devolver.

Por isso, entrou para a História do Futebol brasileiro (e, portanto, da Globo) a pergunta de Jennings, que fez Teixeira fugir:

Mr. Teixeira, did you accept the bribe ?

Como se sabe, Teixeira é o Murdoch da Globo.

Convém lembrar que a Presidenta mandou o Teixeira para o banco, e escalou Pelé no lugar.



Paulo Henrique Amorim

essa gentititi foi expulsa

Como operava um Civita na Argentina. Um “tramposo”



Amigo navegante que conhece as vísceras da Argentina manda dizer:


Depois do golpe de 1976, o Almirante Emilio Massera, o mais preparado intelectualmente dos três membros da junta militar (e o mais criminoso de todos eles), torna-se padrinho de Cesare Civita (o irmão mais velho de Victor, que fundou a Abril no Brasil, pai de Robert(o), cérebro da Veja.)

Cesare se considerava prejudicado por um ministro da Fazenda peronista, José Ber Gelbard, por ter sido obrigado a vender ao banqueiro David Graiver a empresa Papel Prensa, que detinha e detém praticamente o monopólio do papel jornal na Argentina.

Deposto o regime peronista, Massera interveio a favor de Cesare.

Cesare, de fato, pela mão de Massera, obteve de Martinez de Hóz, o ministro da Fazenda do Governo do general Rafael Videla e da família Rockefeller, uma série de vantagens compensatórias.

Massera é um dos cérebros do regime que matou 36 mil pessoas.

Martinez de Hóz quebrou a indústria Argentina.

Os militares tomaram a Papel Prensa de Graiver e entregaram à Globo de lá (Clarín) e ao jornal La Nación (a Folha (*) de lá).

Cristina Kirchner vai re-estatizar a Papel Prensa.

Na Argentina, o nome Civita é sinônimo de “basura”.

Um embaixador brasileiro em Buenos Aires contou que ouviu de uma autoridade argentina que Cesare Civita não passava de um “tramposo”.

NAVALHA

O amigo navegante ainda procura na estante o livro de memórias de Jacobo Timerman – “Prisioneiro sem nome, cela sem número”.

Cesare Civita lá também aparece, com notável destaque.

A Abril da Argentina fechou.

E Cesare Civita saiu corrido.

Ah, que inveja da Argentina.

Em tempo: a família Rockefeller e seu banco Chase Manhattan estão na origem (visível) dos Civita na América do Sul.


Paulo Henrique Amorim



(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

domingo, 28 de agosto de 2011

"Enquanto isto, nós perdemos o nosso tempo..."

O vaidoso Lars von Trier e o filme Melancolia 

Cristóvão Feil no Diário Gauche

 



Seria relativamente fácil – para um profissional experiente - fazer um filme sobre o tema da melancolia. Vários autores e intelectuais já trataram do assunto, de Shakespeare a Walter Benjamin, de Dürer ao nosso escritor pedestre Moacyr Scliar, e tantos outros, por muitos séculos.

A filosofia, por sua vez, sempre teve a melancolia como objeto de reflexão (Freud pegou a coisa - desânimo/autopunição - já muito analisada/conceituada). Lars von Trier, o cineasta dinamarquês, deixou de lado tudo o que já se escreveu e pensou (mal) sobre a-depressão-como-julgamento-do-mundo, apelando para um tratamento astrológico, digamos assim, no seu filme “Melancolia”. 

Parece que o argumento parte da leitura do horóscopo diário, feito por duas irmãs. Uma delas leva uma vida burguesa ao lado do filho e do marido rico, outra, deprimida, vê no casamento uma fórmula de empanar mais o seu espírito turvo e safar-se do mal que a deprime. Um belo dia - parece - elas lêem no jornal que um planeta chamado Melancolia está prestes a se chocar com a Terra, o que seria o fim do mundo. A burguesa Claire, se decompõe e desaba, a outra (Justine), acha o seu eixo existencial e aceita placidamente o destino astrológico que o caprichoso movimento cósmico lhe reservou. Lars Trier disse em Cannes que o seu filme tem "um final feliz" – o fim do mundo. Disse também entender e simpatizar com Hitler, e que o nazismo era a sua praia, dele, Trier.

Já se vê que o cara é um irresponsável, fanfarrão e mitômano. Não hesita em dizer e fazer disparates para chamar a atenção do público. Assim, “Melancolia” situa-se na mesma linha moral do comportamento político do seu diretor. Um filme assumidamente niilista, sem comprometimento com nada (a não ser com a própria vaidade do autor), enredo pobre e raso, porém pretensioso. O fundo musical wagneriano (prelúdio da abertura de Tristão e Isolda) visa dar ares de complexidade e espessura à farsa e ao embuste da obra final.

O roteiro caótico procura alguma criatividade (sem êxito) ao pontuar pequenos enigmas inúteis ao longo da narrativa quando cria um personagem (pai das duas moças, Justine e Claire) que coleciona colheres de prata no bolso e jovens amigas de nome Betty. Ou quando mostra a mãe das duas atormentadas protagonistas como uma mulher insociável e grosseira. Mas nada disso conta na trama que não leva a lugar algum.
Trier quer contar que nada faz sentido mesmo, nem mesmo o seu próprio filme, que um simples esbarrão de um planeta desorientado pode acabar com tudo neste mundo esvaziado de objeto.

Enquanto isto, nós perdemos o nosso tempo em duas horas de filosofia de botequim de um nazistinha retardatário e boquirroto.

qualquer coisa é admissível pra nossa amnésia seletiva

Falácias, amnésia seletiva e má sociologia da RBS deseducam o “Rio Grande”





Eu quase não acreditei quando enxerguei a manchete do jornal Zero Hora deste domingo (28): “Gosto pelo confronto emperra o Rio Grande”. Ainda isso? Não é possível. Mas o grupo da RBS não desiste de sua tarefa de deseducar a população do Rio Grande do Sul: “Falta de consenso em temas importantes trava o desenvolvimento do Estado, que está ficando para trás em comparação com outras unidades da federação”. Não se trata apenas de uma incursão sociológica equivocada. É uma tese falsa que consegue a proeza de tirar conclusões sobre a situação econômica do Estado sem tratar de economia. Os problemas do “Rio Grande” seriam “uma cultura que valoriza o conflito, a polarização ideológica, a atmosfera de discórdia e a força do corporativismo”.

É verdade. A economia do Rio Grande do Sul vem perdendo terreno no cenário nacional, não acompanhando o crescimento médio registrado no país. Mas não é possível analisar esse problema sem levar em conta dados objetivos sobre a economia do Estado. Chega a ser constrangedor ter que afirmar isso. Até onde minha memória alcança, esse discurso foi inaugurado pela RBS no governo Olívio Dutra (PT) que, do início ao fim, foi caracterizado pelos veículos dessa empresa como um “governo do conflito”. Há um editorial inesquecível de Zero Hora, no dia seguinte à vitória de Germano Rigotto (PMDB), na eleição para o governo do Estado em novembro de 2002: o jornal comemora a derrota do “governo de conflito” e saúda a chegada do “governador pacificador”, que iria recolocar o “Rio Grande” nos trilhos.




Não recolocou. Rigotto fez um governo apático, sem grandes conflitos ou realizações. Há uma amnésia permanente nas matérias editorializadas da RBS sobre o “Rio Grande”. Uma amnésia que anda de mãos dadas com uma postura de tirar o corpo fora. Esses textos “esquecem” que a RBS tomou posições claras nas últimas décadas, defendeu propostas, projetos e determinados governos. Aliás, não só defendeu como participou ativamente dessas escolhas como ocorreu durante o processo de privatizações do governo Britto (PMDB), onde participou da compra da empresa telefônica do Estado. Na época, a RBS prometeu ao “Rio Grande” em seus editoriais que as privatizações, a vinda da GM, a guerra fiscal e a renegociação da dívida do Estado feita pelo governo Britto iriam colocar o Estado em um novo patamar de desenvolvimento. Não deu certo, assim como a pacificação de Rigotto e como o choque de gestão de Yeda Crusius (quando, aliás, um dos fiadores da pacificação de então era o coronel Mendes).

Naquele período, a tese da “mania do conflito” ainda não existia. Ela surgirá com o governo seguinte e, a partir daí, passará a ser afirmada e reafirmada até hoje. O Rio Grande do Sul teria perdido posições em relação a outros Estados por que aqui há um gosto pelo confronto, que teria suas origens na Revolução Farroupilha. A alternância de governos e de projetos é apontada como uma erva daninha, como se, em outros Estados da Federação não houvesse tal alternância. Em três páginas de matéria, não há uma única menção à manutenção de uma matriz produtiva que ignorou as mudanças na economia mundial. O sucateamento do setor calçadista, por exemplo, não tem nada a ver com o “gosto pelo confronto”, mas sim com a concorrência massacrante da indústria chinesa e de outros países asiáticos.

Entrevistei dias atrás, para o jornal Adverso, da Adufrgs Sindical (Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior de Porto Alegre), o professor Luiz Augusto Estrella Faria, técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professor associado da UFRGS nos cursos de pós-graduação em Economia e em Estudos Estratégicos Internacionais. Entre outras coisas, Faria fala sobre a decadência da economia gaúcha e aponta alguns elementos que não frequentam a má sociologia do grupo RBS:

O Rio Grande do Sul vive uma semi-estagnação desde nos anos 80. O Estado teve poucos momentos de crescimento neste período. É verdade que todo o Brasil viveu duas décadas perdidas em termos de crescimento, mas, mesmo assim, isso foi pior no Rio Grande do Sul, na média. Com exceção do início dos anos 2000, quando o Estado teve uma media de crescimento maior que a do Brasil, na década de 90 tinha sido pior e na segunda metade dos anos 2000 voltou a ser pior que a média nacional. Historicamente, o Estado sempre teve algo entre 7 e 8% do PIB brasileiro. Hoje estamos entre 5 e 6%.

A economia do RS não se modernizou neste período e ficou, em larga medida, vinculada a alguns setores tradicionais que passaram a crescer pouco por razões diversas. Durante boa parte desse período, os preços dos produtos agropecuários atravessaram uma fase ruim. Só foram melhorar na segunda metade dos anos 2000. Então, foram cerca de 15 anos com preços ruins para soja, milho, arroz e carne. Isso afetou um setor que, no RS, pesa mais do que a média nacional, que é a agropecuária. Além disso, a nossa indústria é, predominantemente, de pequeno e médio porte e vinculada a setores particularmente vulneráveis à competição da Ásia, principalmente.
 



O maior segmento da indústria gaúcha no início deste período era o calçadista. Hoje, ele praticamente sumiu do mapa, sufocado pela concorrência asiática, que produz o mesmo tipo de calçado, as mesmas grifes tradicionais, em condições de produção muito mais baratas, pois trabalha em uma escala gigantesca. Nós temos aqui pequenas empresas de calçado e lá tudo é mega. Há empresas com dezenas de milhares de trabalhadores fabricando calçado. Esse nível de escala dá um poder de competição gigantesco. Não dá para achar que podemos produzir com uma escala chinesa.

É pedir muito que, em uma matéria que pretende analisar a situação econômica do Estado, se utilize dados econômicos objetivos? Para os editores de ZH, aparentemente é. Mas isso não ocorre por acaso. A má sociologia é alimentada por uma postura arrogante que não reconhece os próprios erros e da “elite” econômica que esse grupo midiático representa. Uma “elite” que foi incapaz de ler as mudanças na conjuntura nacional e mundial e que sempre manteve um discurso hostil ao Estado, a não ser, é claro, na hora de pedir generosas isenções fiscais. A RBS se coloca do lado de fora do jogo, como se fosse um ente a-histórico a pairar sobre o “Rio Grande” e a explicar ao povo gaúcho o que ele deve ou não fazer. Suas escolhas políticas e econômicas permanecem sistematicamente dentro do armário. Isso é fundamental para que volta e meia Zero Hora venha nos alertar para os riscos da “mania de conflito” e do “gosto pelo confronto”. A RBS tem responsabilidade direta sobre várias das escolhas políticas e econômicas feitas no Rio Grande do Sul nas últimas décadas. E, sistematicamente, faz de conta que não tem nada a ver com isso. Talvez seja essa mistura de má fé, amnésia seletiva e má sociologia que esteja emperrando o “Rio Grande”.