Conversa AfiadaA Veja trocava informação entre o MP e o crime (clique na imagem para assistir ao vídeo)
A partir do
R7:
“Eu não deveria ter de volta o meu mandato?”, pergunta Fernando Collor em entrevista
Vinte anos depois da queda, ele admite que foi “arrogante” na presidência
Vinte anos após deixar a Presidência da República por suspeita de corrupção, o hoje senador por Alagoas Fernando Collor de Mello (PTB) concedeu uma entrevista a Paulo Henrique Amorim na Record News em que fala abertamente sobre o assunto. Ele diz que o poder “subiu à cabeça” de seu então tesoureiro Paulo César Farias, o PC Farias; admite que foi “arrogante” no poder e que perdeu o mandato porque ignorou o Congresso Nacional. Inocentado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 1994, ele questiona: “Eu não deveria ter de volta o meu mandato? É uma questão. É uma pergunta a ser respondida”.
Acusado pelo crime de corrupção passiva, Collor renunciou ao mandato, mas o Congresso ignorou seu pedido e votou pelo impeachment, o que lhe retirou os direitos políticos por oito anos. Dois anos após seu afastamento, em 1994, o STF (Supremo Tribunal Federal) arquivou o processo contra ele “por falta de provas”. Para Collor, sua recondução à cadeira presidencial é uma questão a ser debatida no Brasil.
— Do afastamento ao julgamento foram dois anos em que minha vida foi investigada de cima a baixo. [...] O STF me inocentou de todas as acusações que me foram feitas. Aí vem uma pergunta: se eu perdi o meu mandato com base na suposição de que as denúncias que me faziam eram verdadeiras, onde está o meu mandato que eu perdi quando a mais alta corte de Justiça do País decidiu que aquelas acusações eram falsas? Eu não deveria ter de volta o meu mandato? É uma questão. É uma pergunta a ser respondida.Sobre seu trabalho na CPMI, Collor volta a dizer que o Procurador-Geral Roberto Gurgel e sua mulher Claudia Sampaio cometeram um crime de improbidade, chegando até a um crime de prevaricação.
Clique aqui para ver o vídeo com o pronunciamento de Collor da tribunal do Senado.
Reagiu também à denúncia feita pela Folha (*) de que estaria perseguindo a mulher de Gurgel porque ela o processa no STF.
Eu nem sabia que ela me processava, disse: “o argumento (da Folha) é tão tosco quanto o português de quem escreveu.”
Paulo Henrique Amorim perguntou o que ele achava da acusação de Gurgel de que os que o acusavam estava preocupados com uma condenação no mensalão.
- Eu, perguntou Collor surpreso ? Eu não visto essa carapuça, ele disse.
Collor repete que a Veja se associou a uma organização criminosa.
Que a Veja e seu dono, Roberto Covita sabiam perfeitamente que lidavam com uma organização criminosa.
Que Roberto Civita é um um analfabeto: “é isso que o doutor Civita é.”
Collor descreveu o modus operandi de Policarpo Junior.
Ele trocava informações que obtinha no Ministério Público com as que obtinha com Carlinhos Cachoeira e nesse intercâmbio a Veja se munia de um poder inadmissível numa sociedade democrática.
Paulo Henrique Amorim relembrou que o Globo publicou celebre editorial –
“Roberto Civita não é Murdoch” – para defender a liberdade de imprensa.
E perguntou a Collor se, como proprietário de uma rede comunicação em Alagoas – afiliada da Globo – ao acusar a Veja ele não se sentia, também ameaçado, como o Globo ?
Collor diz que é um incansável defensor da liberdade de expressão.
E que a Veja e seu dono não se beneficiam disso, porque estão acumpliciados ao crime organizado. É outra coisa.
A queda
Relembrando os momentos que antecederam sua queda, Collor admite um erro crucial no auge da crise. Em um discurso para taxistas no Palácio do Planalto, ele pediu que os brasileiros saíssem às ruas em sua defesa vestindo verde e amarelo.
— Na reunião com taxistas [...] eu disse que não iria falar. Terminou o evento e os taxistas começaram a gritar “fala Collor, fala”. Eu me senti estimulado a falar, voltei e falei. E foi quando eu pedi – um erro de avaliação – que no domingo seguinte todos saíssem às ruas de verde e amarelo para mostrar que a democracia no Brasil era maior do que qualquer tentativa de golpe contra o primeiro presidente eleito pelo voto direto depois de 30 anos. E minha solicitação não foi atendida; todos saíram às ruas vestidos de preto.
Collor admitiu que a “arrogância” o fez ignorar o Congresso Nacional e que foi essa falta de apoio a verdadeira razão para sua queda.
— O que na realidade causou a minha saída da presidência da forma como se deu foi a falta de sustentação política no Congresso Nacional. Embora sendo de uma família uma parte política outra parte de diplomatas… Mas na questão política eu não havia aprendido uma coisa: que era o respeito e atenção que o chefe do Poder Executivo deve ter com o Poder Legislativo.Clique aqui para assistir à primeira parte da entrevista completa.
Ele afirmou que essa não havia sido a primeira vez em que ignorou o Legislativo. Ele já havia feito o mesmo quando foi prefeito de Maceió e governador de Alagoas.
— Não dei a atenção devida. [...] Saí do governo [estadual], me elegi presidente e aquilo foi sedimentando em mim algo nocivo. A arrogância também [...] um certo sentimento de superioridade em relação aos seus semelhantes, que é um erro terrível ao qual eu me penitencio sempre.Veja X IstoÉ
Collor também nega que a revista Veja o tenha derrubado, apesar da publicação de uma entrevista com Pedro Collor de Mello, em que ele (morto em 1994) acusa o próprio irmão.
— [A revista Veja] acha que foi ela quem causou [meu afastamento], mas não foi, foi a revista IstoÉ. [Foi com a matéria] em que apareceu um motorista que estava lotado no Palácio do Planalto fazendo trabalhos para a minha secretária. Eu não o conhecia, mas foi essa matéria que foi a pedra de toque que levou ao meu afastamento, que mobilizou o Congresso e a população.O que, portanto, segundo ele, não tira a legitimidade do que faz hoje na CPMI: exige a incriminação de Robert(o) Civita , dono da Veja e seu diretor em Brasília, Policarpo Júnior.
Ele não está fazendo um “acerto de contas”, hoje, porque não foi a Veja a responsável por sua queda, mas a IstoÉ.
Lula e PC Farias
— Subiu à cabeça.
Foi assim que Collor se referiu a PC Farias — também inocentado pelo crime de corrupção passiva — sem o qual “não haveria campanha presidencial” que o elegeu.
— Diferentemente do que pintam dele, ele era uma pessoa extremamente cordata, correta, amiga. Teve um momento em que nos afastamos, quando eu tive algumas comprovações de que ele tinha se deixado levar pela notoriedade que havia ganho, mas o fato é que desde o início acreditou no projeto político.
PC – que foi encontrado morto ao lado da namorada Suzana Marcolino em 1996 – e Collor estreitaram relações quando ele ainda governava Alagoas.
— Eu procurei o Paulo César, contei do projeto que eu tinha e se ele poderia me ajudar. Ele disse “acredito porque conheço você, que é determinado, e a linha que o Brasil necessita é essa”. Ele foi para São Paulo, Rio e Minas e fez os contatos para que tivéssemos uma estrutura mínima de campanha. No segundo turno, a situação mudou porque já havia uma notória divisão de forças, Collor versos Lula.
“Não fui leniente com a corrupção”Paulo Henrique Amorim lembrou a Collor que foi o delegado Paulo Lacerda da Policia Federal, então dirigida por Romeu Tuma – nomeado por Collor – quem fez uma minuciosa investigação sobre as atividades de PC Farias.
E que Lacerda localizou doações ilegais de grande grupos – como dos Ermírio de Moraes e da empreiteira Andrade Gutierrez – a PC Farias.
E que Collor pessoalmente teria se beneficiado disso.
Amorim lembrou também que Lacerda localizou uma retribuição que sua ministra Zélia Cardoso de Mello recebeu de uma empresa de transporte interestadual, dias depois de autorizar um aumento nas tarifas de transporte interestadual.
Vinte anos depois, de cabelos brancos, ele não admitiria que foi leniente com a corrupção que existiria em seu Governo e que o próprio irmão, Pedro, denunciou na entrevista à Veja ?
Collor rejeita enfaticamente a possibilidade de ter sido leniente.
Lembra, de novo, que foi absolvido pelo Supremo, que não fez restrições ao trabalho da CPI nem tentou impedir a investigação da imprensa.
Ao contrário, ele sempre quis saber se era verdade o que a imprensa dizia do Governo dele.
De acordo com o senador, a eleição em que ele venceu Luiz Inácio Lula da Silva foi a “a última disputa presidencial em que houve uma nítida diferença de programas entre um candidato e outro”.
— Foi no segundo turno de 1989, em que o Lula pregava a presença do Estado, não à privatização e abertura comercial; e eu do lado oposto. Quando a população decidiu pelo meu nome, ela decidiu a favor de um programa de governo. Depois desta eleição, vamos verificar que, em todas elas, a diferença de discurso dos candidatos se estreitou.
Collor conclui a entrevista lembrando que foi eleito presidente da República muito novo, “aos 40 anos e sete meses…”
— E com medida provisória à minha disposição.Na segunda parte da entrevista a ser exibida na Record News segunda que vem, dia 4 de junho, Collor fala de Fernando Henrique, da privatização – diz que, embora tenha iniciado a desestatização, não venderia a Vale – , elogia o Governo Lula de que foi adversário, fala da Rio+20, ele, que promoveu a Eco-92, diz que voltará na Dilma, se ela for candidata em 2014, e diz como gostaria que o verbete “Presidente Fernando Collor” fosse escrito.
(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.